CAPÍTULO 7

Acordei com o corpo um pouco dolorido por estar em uma cama diferente da minha. Apesar de que as duas são parecidas em questão de conforto. A minha só é menor.

Estava sozinha no quarto, nem sinal de Nicolai.

Estranho, ele costuma acordar depois de mim. Será que dormiu em um quarto separado da mesma forma que em casa?        

Eu devia esperar por isso, nunca dividimos o mesmo quarto.

Saio do quarto e ando pelos corredores. Está tudo silencioso, muito diferente de durante a noite.

Espero que aquelas pessoas que estavam pedindo socorro estejam bem.

Encontro as escadas por onde passei ontem e desço. O movimento de ontem não existe mais, poucas pessoas limpando o lugar.

— Com licença — chamo uma moça loira que está com uma vassoura varrendo vidros do chão debaixo de uma mesa.

Ela me olha, vejo seus belos olhos cinza e pergunto:

— Onde encontro a senhora Carmen?

— Ela está dormindo. Só depois das onze da manhã.

O tom da sua voz é meio cantado. Não sei explicar. Sua voz é linda.

— Obrigada! — me viro para ir, mas volto. — A senhorita conhece o Nicolai?

— O eunuco? Sim, todos aqui conhecem ele por causa do Matt. Ele saiu há pouco. Acho que foi embora.

Embora sem mim? Não. Ele deve estar em algum lugar.

Eunuco? Abro a boca para questionar o que significa, mas desisto. Não deve ser importante. Talvez apenas uma forma como o chamam.

Agradeço novamente e fico vagando pelo lugar, depois decido vagar pelos arredores.

Tudo é tão estranho. Mais de uma vez vi pessoas penduradas uma na outra, com os lábios colados. Não entendi nada. Como parecia normal para todos, tratei de ignorar essas cenas hilarias.

Um rapaz tocava flauta em um canto e fui até ele.

A melodia era linda.

Fiquei um bom tempo ouvindo. Fazia tempo que não escutava música assim ao vivo, desde que fui morar com meu marido, apenas ouvia no aparelho som que Nicolai me deu depois de muito insistir. Quando morava na Cidade das Mulheres sempre havia fogueira e música à noite.

Ouvindo esse homem tocar, pensando nas músicas e suas letras, senti como se uma peça de um quebra cabeça se encaixasse em minha mente.

Um beijo... Aquilo de pessoas com lábios colados era chamado de beijo e significava que as pessoas se amavam. As músicas diziam isso, mas nunca entendi.

Nicolai mentiu para mim. Quando questionei sobre o que as músicas diziam sobre o amor ele afirmou que aquilo era fantasia e que se fosse para eu ficar impressionada com essas mentiras tiraria a música de mim.

— Gostou? — o rapaz pergunta após parar. Ele tem o cabelo grande e castanho, amarrado em um rabo de cavalo que destacam suas orelhas pontudas de elfo. É bem magro, mas acho bonito.

Olho o chapéu com algumas notas como as que Nicolai usou ontem e respondo:

— Sim. Mas não tenho dinheiro. Tem problema? — percebi que as pessoas colocavam moedas no chapéu que ele deixou no chão.

— Claro que não. Uma bela mulher como você paga simplesmente por estar na minha frente — ele sorri mostrando dentes alinhados e covinhas no rosto magro.

Devolvo o sorriso. Gosto de sorrir. Gosto de como se formam duas covinhas no meu rosto, parecidas com as que se formam no rosto dele.

— Meu nome é Higor. Qual o seu? — Ele pergunta enquanto guarda suas coisas.

— Rimena.

— Lindo como a dona. Eu vou almoçar agora, mas se quiser um pouco mais de show pode me encontrar aqui em algumas horas.

Almoçar? Nossa! Nem vi o tempo passar.

— Se ainda estiver na cidade. Aproveito e vejo se meu marido tem dinheiro.

Não sei por que, mas sinto uma certa obrigação de dar dinheiro a ele.

— Marido? — não vi mais o sorriso do rapaz. Seu rosto perde um pouco do brilho e alegria.

— Sim. Ele se chama Nicolai.

Ele dá de ombros.

E assim acaba a conversa. Me despeço do rapaz e me perco duas vezes antes de achar o local onde dormi. Já estava entrando em desespero.

— Olá! — cumprimento a senhora Carmen. Ela está atrás de um balcão lendo um pequeno caderno.

— Pensei que tinha fugido — ela diz com seu jeito tranquilo que vi ontem.

Hoje ela está com um vestido verde brilhante. Eu ainda uso o que me emprestou. Está um pouco sujo da minha volta pela cidade.

— Desculpe. Fui dar uma volta para esperar o horário que a senhora acorda e acabei demorando mais do que previa.

— Você nunca veio para o Norte, não é? Nicolai falou algo a respeito.

— Eu vivi com as mulheres do Oeste e depois que me casei nunca sai de casa.

— Agora vai ter muito tempo para conhecer o Norte.

Duvido que Nicolai me traga aqui com facilidade. Se ela soubesse o quanto foi difícil o convencer dessa vez.

— Por que diz isso? — questiono.

Ela faz uma careta.

— Pelo jeito seu marido não lhe contou. Imaginei que o covarde não faria isso. Para apostar a própria mulher...

— Não estou entendendo. — A interrompo confusa.

— Vou ser o mais clara possível. Seu marido apostou e perdeu a senhora.

— Como assim? — Sei que estou parecendo tola questionando a mesma coisa sem parar, mas realmente não entendo.

— Jogos de cartas. Ele costuma ganhar, mas ontem o azar estava ao seu lado. Você vai trabalhar me ajudando na limpeza e cozinha, além de servir as mesas. Se ele pagar, você volta para casa em menos de um mês. Se não pagar... — ela faz uma pausa, me olhando com... com pena. — É melhor que pague. Você não duraria nessa vida.

Me sinto perdida. Eu agora pertenço a essas pessoas? Onde está Nicolai?

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