Não vou casar com ninguém

Luísa caminhava cabisbaixa, observando o piso de madeira lustrosa que refletia as luzes amareladas do lustre. O quarto, decorado com sofisticação, exalava um ar de exclusividade. No centro, um balde de gelo com champanhe sobre uma mesa de canto chamava sua atenção. Ela se deteve por um instante, mas o som da porta fechada com firmeza a fez estremecer.

— Quer beber para relaxar? — A voz rouca de Paolo ressoou pelo ambiente.

De costas para ele, Luísa meneou a cabeça negativamente. Ela usava um vestido azul de comprimento modesto, coberto por um casaco branco desgastado que parecia destoar do brilho e da elegância ao seu redor.

Os passos eram abafados pelo tapete espesso no instante em que ele se aproximou devagar. Paolo se aproximou de suas costas, afastou suas mechas pretas e sedosas e, então, os lábios dele tocaram em seu pescoço. Luisa permaneceu imóvel, rígida, mas ele a puxou para mais perto, suspirando contra a sua nuca até ouvir um choramingo escapar de seus lábios.

— Por favor, deixe-me ir, senhor Morano! — A voz tremida suplicou. — Minha meia-irmã disse que vim aqui apenas para tocar piano. Fiorella não falou que eu teria que ficar a sós com os clientes.

— Não se preocupe, não vou te machucar — ele respondeu, girando-a gentilmente para encarar seu rosto.

— Então, eu posso ir embora, senhor? — Insistiu, sem esconder o desespero.

— Ainda não terminei o que quero fazer com você. — O homem turrão reclamou. 

Luísa desviava o olhar, fixando-o no chão como quem buscava um ponto de fuga. Suas mãos enxugaram as lágrimas que escorriam livremente por seu rosto.

— Pode apagar a luz? — pediu, quase num sussurro.

— Não! Quero ver o seu corpo.

— Nunca fiz isso antes — murmurou. — Não sou experiente como as outras garotas.

— Não se preocupe, serei paciente — respondeu, afundando-se no colchão e cruzando as mãos sob a cabeça. — Venha para cá, vamos conversar um pouco.

Um pouco sem graça, Luísa sentou-se na cama e puxou os pés para cima, colocando a mão sobre a barriga. Ele a observava enquanto ela respirava rápido, com o peito subindo e descendo.

— Há quanto tempo toca piano? — Rompendo a quietude, ele a questionou.

— Desde o orfanato — ela respondeu em voz baixa.

— Você toca muito bem. Agora quero saber se também é boa em outras coisas…

— Por favor, não me machuque. — O seu rosto foi tomado por uma expressão de pânico quando implorou. — Deixe-me ir!

— Não vai a lugar nenhum — disse, levantando-se de supetão e apoiando os braços ao lado do rosto dela. — Sua pele é tão macia… — comentou, deslizando o nariz pelo pescoço da jovem.

Ela estremeceu, cerrando os olhos enquanto as lágrimas continuavam a brotar no canto de seus olhos. Paolo pousou os lábios em sua bochecha, sentindo o gosto salgado do choro.

Com cuidado, ele começou a abrir os botões de seu casaco. Pouco a pouco, Paolo foi removendo as suas peças de roupas, beijando-a devagar. Puxou o lóbulo de sua orelha entre os dentes e rosnou perto de seu ouvido. O carinho era um pouco diferente, mas o contato despertava um calor que se alastrava por cada centímetro de seu corpo. Ela estremeceu e permitiu que ele prosseguisse. Finalmente, Luísa se remexeu na cama. O seu coração batia mais rápido, e o desejo se tornava incontrolável.

Gradualmente, as peças de roupas caíram no chão. Cada uma das carícias ávidas atiçava a chama da paixão que inflamava o seu corpo. Paolo continuava beijando-a com sofreguidão até que, finalmente, ele conseguiu o que tanto almejava. As costas de Luísa afundaram sobre o colchão quando arqueou o corpo, recebendo-o com ardor.

Estar com a pianista foi o melhor presente que ele já teve naquele aniversário. Uma onda de calor tomou conta de seu corpo. Ele segurou o seu rosto e encarou os seus olhos semicerrados. Os corpos continuavam em um ritmo crescente que parecia não ter fim. Luísa abafou um gemido ao pôr a mão na frente da boca. Ambos estavam imersos no ápice do prazer quando os seus corações bateram com ferocidade. 

— Luísa? — Paolo acariciou o seu rosto. — Você está bem?

Ela apenas assentiu com um sorriso, arquejando.

— Não sabia que era tão bom! — respondeu, ofegante.

— Farei você se sentir assim mais vezes.

Ela continuou deitada enquanto o belo homem afagava as suas mechas. Luísa suspirou com o carinho em seus cabelos. Lentamente, Paolo estava ganhando a confiança da pianista.

De repente, um forte chute na porta interrompeu o momento. A madeira cedia com os golpes furiosos. Do lado de fora, o pai de Paolo discutia com Stefano. No segundo chute, a porta foi arrombada.

— Saia de perto dessa meretriz! — Indignado, Francesco falou com Paolo. — Você sabe que vai casar com a filha do senador.

— Não vou casar com ninguém, pai! — Paolo saltou da cama e começou a vestir as calças.

Sobre a cama, Luísa se cobriu com o lençol, tentando esconder a nudez.

— Não devia enganar sua noiva com essa prostituta. — Francesco berrou.

— Sou pianista, senhor. — Luísa protestou.

— Se trabalha aqui, é uma meretriz como as outras. — Francesco a censurou. 

A gritaria se misturou aos estampidos dos tiros quando pessoas começaram a correr desesperadas pelos corredores.

— Vista-se e ajude essa garota a sair daqui! — O pai de Paolo ordenou com urgência.

Ele fechou a porta de maneira abrupta, deixando para trás os dois seguranças que ainda trocaram tiros com os invasores. 

— Depressa, meu filho! — Francesco proferiu, visivelmente nervoso. — Desça pela escada de incêndio.

Paolo teve tempo apenas para ver Luísa vestindo a roupa debaixo dos lençóis. Logo depois que ela calçou os sapatos, ele tocou sua mão e a puxou. Eles saíram pela janela e começaram a descer pelos degraus. No momento em que estavam quase no fim, um traçante passou rapidamente por Paolo, e ele sentiu o ombro queimando. A mancha vermelha aumentava em sua blusa branca. Em meio ao desespero, Luísa segurou o braço dele para ajudá-lo.

— Fuja, ragazza!

— Não… você está ferido. — Ela fitou o rosto lívido. — Venha! 

Suportando o peso do homem grandalhão, ela o levou para um beco no distrito da luz vermelha de Bari.

— Esconda-se aqui! — Luísa abriu a tampa e apontou para a lata de lixo de plástico injetado.

— E quanto a você? — Inquiriu ao ver que ambos não caberiam ali.

— Sou apenas uma moradora desse bairro, mas o senhor é um Morano… eles vão continuar te perseguindo e vão matar nós dois se nos virem juntos.

Por um lado, Luísa tinha razão. Ela poderia sucumbir ao lado dele se alguém os encontrasse. Com certa dificuldade, Paolo entrou na lixeira e se agachou.

— Logo, encontrarei você, ragazza. — Disse ele antes que Luísa colocasse a tampa de volta.

Ao ouvir o som da intensa rajada de tiros, Luísa correu o mais rápido que podia. Estava saindo do beco quando uma pancada forte a atingiu e, de imediato, ela mergulhou na silenciosa escuridão.

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