Ao entardecer, uma policial chamou pelo nome de Luísa, ordenando que ela se juntasse às outras detentas. O grupo foi conduzido para a sala de visitas, um espaço simples, mas funcional, com mesas alinhadas em fileiras. Luísa caminhou hesitante, os olhos varrendo o ambiente em busca de quem poderia estar ali para vê-la.— Vá logo! — disse a policial, empurrando-a pelas costas para apressá-la.Seus ombros estavam tensos, e ela apertava as mãos, tentando conter a ansiedade que lhe apertava o peito. Ainda assim, reuniu forças e continuou andando, com o olhar fixo no chão. Quando finalmente ergueu o olhar, encontrou Fiorella sentada à sua frente. O sorriso arrogante que curvava os lábios da mulher acendeu uma raiva intensa em Luísa. — Olá, irmãzinha! — proferiu Fiorella, a voz transbordando sarcasmo enquanto se inclinava para frente com o olhar desafiador.Luísa semicerrou os olhos, cruzando os braços como se tentasse conter a revolta que subia pelo peito.— O que você faz aqui, Fiorella?
Quando Paolo ameaçou sair do carro, Luísa recuou rapidamente. Seu tamanho reduzido fazia com que o sobretudo dele parecesse um vestido em seu corpo franzino. Ele jamais imaginou que um dia gostaria de ver uma mulher usando sua roupa daquela maneira.— Você quer voltar para a prisão? — indagou em tom seco, quase brusco.A ameaça velada a fez parar imediatamente, os ombros tensos e o olhar hesitante denunciavam sua relutância. Respirou fundo, como se tentasse reunir coragem, mas permaneceu imóvel, o medo evidente em sua postura retraída. A experiência de uma noite na cadeia aparentemente não havia sido tão suportável quanto ela talvez tivesse previsto.— Entre logo! — ordenou entre dentes, esforçando-se para conter a raiva e não deixar que seu estresse explodisse sobre ela.Sem replicar, ela se acomodou na poltrona. Moveu-se um pouco para o lado, criando mais espaço entre os dois, e suspirou profundamente, exausta. Manteve o olhar fixo no chão.Ele observou o rosto amedrontado dela e, e
— Claro que vou! — Don Morano finalmente quebrou o gelo do silêncio.Enquanto o motorista conduzia o carro pelas avenidas movimentadas, Paolo continuou olhando para ela.— Não! — Luísa respondeu prontamente, quase em um sobressalto. — Só quero te lembrar de que você está me devendo.— O quê?— Paguei a sua fiança, Luísa… — Ele salientou. — Você foi presa por porte ilegal de arma e por tentativa de assassinato. Esqueceu?Ao se dar conta, ela apertou os lábios. Enquanto isso, os olhos dele examinavam cada detalhe das marcas deixadas pela violência de seu marido. — Você pode trabalhar para mim… — Paolo deixou escapar. — E eu posso dar uma lição no maledetto que te agrediu.Meia aturdida, Luísa começou a alisar as articulações dos dedos de forma metódica, como se isso pudesse acalmá-la. — Não será necessário, senhor. — A sua voz estava incrivelmente serena quando o rejeitou. — Vou arrumar o dinheiro para lhe pagar. Prometo.A tranquilidade dela o desarmou momentaneamente. Ele se pergun
Durante a noite, o sono foi constantemente interrompido pela preocupação de que algo pudesse ser roubado. A cada ruído vindo da rua ou das paredes finas do abrigo improvisado, Luísa se sobressaltava, temendo que alguém pudesse invadir seu espaço.Enquanto o cansaço físico a puxava para a inconsciência, sua mente se recusava a descansar. Pensava no filho, nas decisões que a levaram até aquele momento, e em como conseguiria reverter sua situação. Cada pensamento era uma âncora que a mantinha acordada. Ela mal conseguia pensar em outra coisa senão no filho.Na manhã seguinte, Luísa despertou antes do sol. O seu coração inquieto continuava pulsando em ritmo acelerado. Ela se levantou da cama improvisada, calçou os sapatos desgastados e apanhou a bolsa que continha seus poucos pertences. Do lado de fora, ergueu os olhos ao céu e viu as nuvens cinzentas encobrindo o horizonte. O ar estava denso e frio, prenunciando um temporal. A escola de Enzo ficava a algumas quadras dali, por ruas estre
— Paolo, você é o herdeiro do nosso clã e não pode ficar trancado para sempre dentro desta casa. — Stefano falou com o sobrinho. — Precisa casar e fazer alianças. Temos que expandir os negócios da nossa família.— Não vou a lugar algum, tio. — O jovem robusto, com traços marcantes, passou os dedos pelas veias que saltavam nas têmporas e, em seguida, enterrou nos cabelos e jogou os fios lisos para trás. — Preparei uma surpresa para você! — Stefano revelou, tentando ludibriar o sobrinho. — Você não pode faltar à sua festa.— Tenho muita coisa para resolver, tio… — Mas é o seu aniversário.— É só mais uma data como outra qualquer. — Ao rebater, Paolo cerrou o punho sobre a mesa.Naquele mesmo dia, fazia um ano que a mãe dele faleceu. A mente dele ia e voltava para o dia em que escutou a última canção que a mãe reproduziu no piano. Cada nota da missa fúnebre de Réquiem em ré menor ainda ressoava em sua mente.— O seu pai não está na cidade, e querendo ou não, você terá que ir ao evento
Luísa caminhava cabisbaixa, observando o piso de madeira lustrosa que refletia as luzes amareladas do lustre. O quarto, decorado com sofisticação, exalava um ar de exclusividade. No centro, um balde de gelo com champanhe sobre uma mesa de canto chamava sua atenção. Ela se deteve por um instante, mas o som da porta fechada com firmeza a fez estremecer.— Quer beber para relaxar? — A voz rouca de Paolo ressoou pelo ambiente.De costas para ele, Luísa meneou a cabeça negativamente. Ela usava um vestido azul de comprimento modesto, coberto por um casaco branco desgastado que parecia destoar do brilho e da elegância ao seu redor.Os passos eram abafados pelo tapete espesso no instante em que ele se aproximou devagar. Paolo se aproximou de suas costas, afastou suas mechas pretas e sedosas e, então, os lábios dele tocaram em seu pescoço. Luisa permaneceu imóvel, rígida, mas ele a puxou para mais perto, suspirando contra a sua nuca até ouvir um choramingo escapar de seus lábios.— Por favor,
Cinco anos depois…Certa manhã, uma rajada repentina de vento derrubou algumas folhas e arrastou-as pela calçada na frente de uma modesta casa localizada num dos bairros mais perigosos devido à presença de criminalidade na Zona Oeste de Bari.Luísa cerrou os olhos, sentindo a brisa entrando pela janela, enquanto via as cores das notas musicais de uma canção que costumava tocar. Ela tinha algo chamado sinestesia — uma condição que fundia os seus sentidos e se misturavam automaticamente. — Ela continuava absorta na canção que ressoava em sua mente quando o celular vibrou em sua mão. Após abrir as pálpebras, ela olhou para a tela brilhante em vão.Ela havia se empenhado tanto para preparar o jantar para comemorar o aniversário do marido na noite anterior, e até havia deixado o filho com a sogra; no entanto, ele não voltou para casa. Luísa chegou a mandar diversas mensagens para o marido, mas ele sequer respondeu às mensagens ou atendeu às suas chamadas.Afastando-se da janela, suspirou p
— Os rapazes querem se divertir um pouco, gata! — O grandalhão tocou suas costas.De repente, um Porsche se aproximou e diminuiu a velocidade.— Deixem ela em paz. — A ordem veio do homem que estava no carro de luxo.Gradualmente, os homens recuaram após acatar a ordem do chefe.— Pianista, entre no carro. — O desconhecido falou.Como todos naquele bairro sabiam que ela tocava piano? Ela se perguntava enquanto alargava os passos para fugir do carro que a acompanhava.— Se eu for embora, não vou voltar para impedir que aqueles caras ataquem você… — Paolo a advertiu. — Venha logo, Luísa! — A pouca paciência que tinha exauriu.— Como sabe o meu nome, senhor? — Estagnou na calçada e fitou o homem com a mandíbula quadrada.— Todos aqui já te viram tocando piano.Os lábios de Paolo se mexeram, mas ele não se pronunciou. Tinha poucas semanas que voltou ao país e tudo o que sabia era que a pianista se casou e teve um filho.— Pare de se fazer de rogada e entre na porra do carro. — Tirou os ó