Quando Paolo ameaçou sair do carro, Luísa recuou rapidamente. Seu tamanho reduzido fazia com que o sobretudo dele parecesse um vestido em seu corpo franzino. Ele jamais imaginou que um dia gostaria de ver uma mulher usando sua roupa daquela maneira.— Você quer voltar para a prisão? — indagou em tom seco, quase brusco.A ameaça velada a fez parar imediatamente, os ombros tensos e o olhar hesitante denunciavam sua relutância. Respirou fundo, como se tentasse reunir coragem, mas permaneceu imóvel, o medo evidente em sua postura retraída. A experiência de uma noite na cadeia aparentemente não havia sido tão suportável quanto ela talvez tivesse previsto.— Entre logo! — ordenou entre dentes, esforçando-se para conter a raiva e não deixar que seu estresse explodisse sobre ela.Sem replicar, ela se acomodou na poltrona. Moveu-se um pouco para o lado, criando mais espaço entre os dois, e suspirou profundamente, exausta. Manteve o olhar fixo no chão.Ele observou o rosto amedrontado dela e, e
— Claro que vou! — Don Morano finalmente quebrou o gelo do silêncio.Enquanto o motorista conduzia o carro pelas avenidas movimentadas, Paolo continuou olhando para ela.— Não! — Luísa respondeu prontamente, quase em um sobressalto. — Só quero te lembrar de que você está me devendo.— O quê?— Paguei a sua fiança, Luísa… — Ele salientou. — Você foi presa por porte ilegal de arma e por tentativa de assassinato. Esqueceu?Ao se dar conta, ela apertou os lábios. Enquanto isso, os olhos dele examinavam cada detalhe das marcas deixadas pela violência de seu marido. — Você pode trabalhar para mim… — Paolo deixou escapar. — E eu posso dar uma lição no maledetto que te agrediu.Meia aturdida, Luísa começou a alisar as articulações dos dedos de forma metódica, como se isso pudesse acalmá-la. — Não será necessário, senhor. — A sua voz estava incrivelmente serena quando o rejeitou. — Vou arrumar o dinheiro para lhe pagar. Prometo.A tranquilidade dela o desarmou momentaneamente. Ele se pergun
Durante a noite, o sono foi constantemente interrompido pela preocupação de que algo pudesse ser roubado. A cada ruído vindo da rua ou das paredes finas do abrigo improvisado, Luísa se sobressaltava, temendo que alguém pudesse invadir seu espaço.Enquanto o cansaço físico a puxava para a inconsciência, sua mente se recusava a descansar. Pensava no filho, nas decisões que a levaram até aquele momento, e em como conseguiria reverter sua situação. Cada pensamento era uma âncora que a mantinha acordada. Ela mal conseguia pensar em outra coisa senão no filho.Na manhã seguinte, Luísa despertou antes do sol. O seu coração inquieto continuava pulsando em ritmo acelerado. Ela se levantou da cama improvisada, calçou os sapatos desgastados e apanhou a bolsa que continha seus poucos pertences. Do lado de fora, ergueu os olhos ao céu e viu as nuvens cinzentas encobrindo o horizonte. O ar estava denso e frio, prenunciando um temporal. A escola de Enzo ficava a algumas quadras dali, por ruas estrei
Luísa permaneceu deitada no chão frio, observando os pequenos feixes de luz que atravessavam as frestas da cama. Finalmente, os passos se afastaram, diminuindo gradualmente até desaparecerem no corredor. Por um momento, Luísa sentiu o coração ainda pulsar descompassado, como se aguardasse um som inesperado que pudesse desfazer sua precária sensação de segurança. Sua mente se enchia de perguntas: O que Fiorella estava fazendo no quarto de seu filho? E por que ela estava falando com o tio do senhor Morano? Inspirou profundamente, tentando acalmar o tremor em suas mãos enquanto reunia coragem para sair do esconderijo. Luísa aguardou mais alguns segundos, contando mentalmente para se certificar de que Fiorella não voltaria. Com extremo cuidado, rastejou para fora debaixo da cama. Seus joelhos doíam, mas ignorou o desconforto enquanto se levantava devagar. Abriu a janela com movimentos deliberados, evitando qualquer ruído, saltou para a parte de trás da casa, aterrissando com um leve impa
Luísa sentiu as pernas bambearem, mas manteve a compostura diante de Don Morano. Os seus olhos piscavam rápido enquanto absorviam a imponência daquele homem. Algo na expressão dele parecia familiar, mas ela não conseguia identificar o motivo. — Desculpe, senhor Morano! — Não suporto atrasos… — Don Morano reclamou com veemência. — Vou ligar para sua supervisora e… — Por favor, não faça isso, senhor. Hoje é o meu primeiro dia e eu preciso desse trabalho. Paolo a observou com intensidade e, depois de um momento de silêncio, ele deu um passo para o lado, permitindo sua entrada. Luísa passou por ele, sentindo o olhar cravado em suas costas. — Prefere fazer faxina a tocar piano? — Ele a julgava com o olhar enquanto inquiria. — É um trabalho justo, senhor Morano! — Se aceitasse a minha proposta, eu… — Já disse que não quero — deu a resposta antes que ele acabasse de falar. Don Paolo caminhou até a porta do escritório e girou a chave, trancando-a com um estalo seco. Ele voltou a ol
O sabor da boca de Luísa era suave, com um toque refrescante de menta, e sua pele exalava um perfume delicado que envolvia o mafioso por completo. Seus lábios se entreabriram lentamente, permitindo que as línguas se encontrassem em um gesto de entrega. Paolo afastou-se ligeiramente, suavizando os beijos, enquanto a barba roçava com ternura na base do seu pescoço. Ele a soltou com relutância, permanecendo ao seu lado, ainda sentindo o calor que envolvia os seus corpos dentro daquele escritório. — O senhor não devia ter feito isso. — Chateada, ela replicou. — Vim aqui para fazer a faxina. — Foi só um beijo! — Ele retrucou. — É melhor eu sair daqui… — Luísa tentou passar por ele, mas Don Morano era bem mais forte. — Quer ser demitida no seu primeiro dia no trabalho? — Ele ressaltou num tom ameaçador. — Não, senhor! — Ainda estava atordoada com o beijo roubado quando sussurrou a resposta. Paolo ajeitou a gravata e endireitou os ombros. Teve um breve vislumbre de seu rosto e de seu
Sem querer, o braço de Luísa esbarrou na xícara, derrubando o café fumegante sobre a mesa. Mais que depressa, ela pegou um pano para secar antes que o líquido caísse no assoalho de madeira. — Vá para cozinha e leve isso com você… — Revoltado, Don Morano apontou para xícara tombada sobre a mesa. — Traga-me um capuccino! — Sim, senhor! — Acatou a ordem e, em seguida, ela saiu com a xícara na mão. Assim que escutou a porta bater, Fausto juntou as sobrancelhas grisalhas. — Está querendo arrumar mais problemas com Stéfano? — O meu tio não manda em mim… — Paolo redarguiu, exasperado. — Você está de casamento marcado com a filha de um dos maiores empresários da rede hoteleira. — Aquela garota não gosta de mim. Eu nunca a beijei e nem toquei nela… — A sua noiva tem princípios… — Não, Fausto! Ela não gosta de homens, Capisci? — Dio mio! — Fausto se jogou na poltrona. — Por isso, você está transando com a sua assistente… — Xiu, fala baixo. Faz alguns dias que evito a Giulia. Recent
A figura imponente de Don Morano continuava bloqueando o seu caminho como um muro intransponível. Luísa continuou olhando para o homem que exalava autoridade. A barba bem aparada conferia um ar de severidade. Os cabelos dele eram moldados por um topete ao topo da cabeça que se direcionava para uma das laterais com fios mais curtos ao redor, brilhavam sob a luz do corredor, e os olhos profundos pareciam atravessar Luísa como se enxergassem além de sua pele. As mãos firmes transmitiam uma força controlada enquanto ele a segurava pelos ombros.— Ali está ela — declarou Giulia, surgindo com pressa. A assistente trazia no rosto uma expressão de triunfo contido, apontando um dedo acusador na direção de Luísa. — Foi ela quem me queimou.As vozes cessaram no corredor. Todos se voltaram na direção da cena, os olhares oscilando entre Luísa e Giulia. O silêncio foi preenchido apenas pelo som das respirações aceleradas. Giulia deu um passo para trás, aguardando pela justiça iminente.— Mas o que