Don Morano tratava Luísa de uma maneira que não passava despercebida, e isso já começava a incomodar as outras funcionárias. — Olhe, o chefe está segurando aquele sapato horroroso dela. — No corredor, Octávia cochichou para Giulia.— Deve ter saído do pé dela, enquanto fugia do chefe, — a assistente sussurrou a resposta para a colega.Cobrindo a boca com a mão, ambas riram conforme observavam Paolo devolver o sapato para Luísa. Constrangida, a jovem calçou rapidamente o sapato e ajeitou-o com movimentos rápidos e nervosos. Por sua vez, Giulia aproveitou o momento para se aproximar. Levou a mão com cuidado ao local onde sua blusa cobria o curativo.— Don Morano, precisei ir à enfermaria cuidar de uma queimadura — disse, em um tom deliberadamente lento. — Não sei se o senhor foi informado, mas Luísa jogou cappuccino muito quente em mim. — Iniciou sua acusação. Ela fez uma pausa, virando-se para a colega com um olhar que buscava confirmação. — Não é verdade, Octávia? — indagou, com um t
Antes que a boca de Paolo sequer se aproximasse de seu seio, Luísa começou a socar no peitoral dele. — Eu não posso, senhor Morano! — Sua voz soou entrecortada, entre uma respiração acelerada e outra. Luísa mantinha o corpo rígido, com os punhos elevados, tentando afastá-lo. Estava lutando contra um impulso de ceder. Paolo ergueu a cabeça, estudando-a com atenção, enquanto sua expressão permanecia intrinsecamente calma. Sob a luz suave que atravessava as janelas, os seus traços se destacavam como uma obra cuidadosamente lapidada, mas havia algo nos olhos dele, um brilho intenso que parecia carregar mistérios que a deixavam intrigada. Todavia, Luísa desviou o olhar, como se aquele brilho a incomodasse. — Posso te dar o que quiser. — A proposta saiu num quase hipnótico. — Não quero! A frustração era tanta que compeliu Don Gambino a soltá-la. O rosto com maçãs proeminentes ruborizou ao ver que seu sutiã preto estava exposto. Envergonhada, ela começou a abotoar a blusa com moviment
Quando saía do prédio, Luísa parou e deu uma breve olhada para cima. Durante a sua dispersão, ela foi abordada por dois homens que a pegaram pelo braço e a colocaram no carro. Ela tentou abrir a porta, sem sucesso.— Desista, senhora, essa porta só vai abrir quando eu permitir. — Disse o homem que conduzia o veículo pela cidade. — Don Morano mandou levar a senhorita de volta para Splendore.Apesar de estar mortificada de medo, ela parou de se agitar no banco de trás. Sua preocupação passou a ser em como explicaria que não conseguiu fazer o trabalho. Chegou a se arrepender de não ter aceitado aquele cartão de crédito quando viu um restaurante através da janela do carro. Ela recriminou-se por tal pensamento e passou a mão na barriga quando o estômago roncou.“Será que eles ouviram?” Pensou, receosa.Encostando a cabeça no estofado macio, acabou cochilando com o sacolejar do carro. Minutos depois, despertou sobressaltada e puxou o braço ao sentir um toque.— Senhorita, chegamos! — O home
Eram onze horas da manhã quando a recepcionista finalmente a recebeu, avisando que o advogado estava ausente para almoço.Sem alternativa e com o estômago protestando pela fome, permaneceu sentada na sala de espera. Seus olhos voltavam incessantemente para o relógio na parede, enquanto o tempo parecia se arrastar. Quando o ponteiro marcou meio-dia, um homem de cabelos pretos e olhos verdes entrou no escritório. Ele ajeitou a lapela do blazer e ajustou a gravata, enquanto trocava algumas palavras com a recepcionista. O gesto era rápido, mas denotava cuidado e autocontrole.Em determinado momento, seus olhares se encontraram. Ele acenou com naturalidade, um sorriso sutil iluminando o rosto, como se fossem conhecidos de longa data.— O doutor Carlo D'Angelo vai atendê-la. — A recepcionista informou num tom profissional.Levantando-se, Luísa acompanhou o homem alto que segurava a porta, indicando que ela entrasse primeiro.— Sente-se! — Ele indicou a cadeira à frente com um gesto elegant
— O senhor disse que me deixaria em paz! — Luísa falou ao entrar no carro e ver o homem com uma postura intimidante.— Que porra você fez para ser demitida?“Como ele soube disso tão rápido?” Os cílios espessos batiam um contra o outro enquanto se questionava. Se contasse que foi à Octávia, ele poderia puni-la. Tinha ciência de como os mafiosos puniam as pessoas. “Giulia usou aquela pobre mulher”, lembrou a dissimulada assistente do mafioso. “Não vou deixar que ela sofra as consequências”.— Eu quis sair porque arrumei outro emprego. — Temerosa, ela mentiu.— Onde? — Indagou, curioso.— Num restaurante.— Vai insistir em continuar como uma assalariada.— Já disse que não quero sua ajuda. Vou te pagar, mas honestamente.Luísa baixou o olhar para a calça de linho preto que cobria as pernas longas do homem que não parava de sacudir as canelas. Por alguns segundos, reparou nos detalhes dos sapatos de couro preto confeccionados por Stefano Bemer. — Já contratou o advogado? — Ele destruiu
No quarto, Fiorella estava extasiada após fazer sexo com o marido de sua meia-irmã. Ela riu ao lembrar do dia em que Luísa pegou eles transando no escritório de Marcos. Ela parecia estar feliz, mas por dentro, continuava incomodada por saber que Don Paolo tirou sua meia-irmã da cadeia. Fiorella conheceu Luísa no dia em que a mãe dela se casou com um homem que ela se recusou a aceitar como pai. Ela nunca suportou a ideia de ter que dividir os brinquedos, o quarto e muito menos o carinho e o amor de sua mãe. Três anos depois, a mãe de Fiorella faleceu ao lado do pai de Luísa em um dos tiroteios em Bari durante o confronto entre famílias mafiosas. Naquele ano, as duas foram enviadas para o mesmo orfanato. — Você sente falta dela? — Fiorella sussurrou a pergunta enquanto o beijava no pescoço. — Claro que não. A vida com a Luísa era um tormento. — Está falando a verdade? — Levantou uma sobrancelha bem feita. — Você é a única que amo, amore. — O homem de ombros largos sorriu ao se dec
Na noite seguinte, Luísa chegou ao restaurante acompanhada de Milena. Apesar de uma noite mal dormida no quarto inóspito do hotel barato, Luísa exibia um leve sorriso. Os elogios recebidos no vídeo que Milena havia postado, aqueciam-lhe o coração.— Nossa, estou horrível nesse vídeo… — comentou Luísa, franzindo a testa enquanto ajustava uma mecha de cabelo.— Está muito linda! Logo você vai fazer muito sucesso — assegurou Milena, com um sorriso confiante.Do lado de fora, uma voz grave e exaltada ecoava, cortando o burburinho do ambiente. O gerente do restaurante gesticulava de forma enérgica enquanto discutia com um funcionário que mantinha a cabeça baixa. O eco de suas palavras severas prendia a atenção de quem passava por perto.Milena e Luísa se aproximaram para entender o que estava acontecendo. O senhor Donato continuava repreendendo um homem de estatura menor.— Quem é? — Luísa sussurrou para Milena, que deu de ombros, igualmente intrigada.Ao entrar, o gerente bradava, cercado
“O que ele faz aqui?” Os seus cílios tremiam enquanto continuava absorta em seus pensamentos. O olhar dela vagou ao redor. Haviam vários clientes que a observavam cheios de expectativa.— Sente logo no piano e cante! — Exasperado, senhor Donato instruiu entre dentes, mantendo um sorriso forçado para os clientes atentos.Com as faces coradas, ela se acomodou no banquinho diante do piano de cauda. Uma microfonia breve ecoou pelo ambiente quando ajustou o pedestal do microfone à altura de seus lábios. Seu coração batia acelerado, quase escapando do controle.— Já sabe o que vai cantar? — indagou o gerente em tom baixo.— Vou cantar Someone Like You, da cantora Adele. — Luísa respondeu num sussurro.O bar estava lotado de clientes que aguardavam algo para entreter-se enquanto conversavam e saboreavam seus pratos. As palmas das mãos de Luísa suavam, e o nervosismo parecia quase insuportável. Os seus ouvidos captaram cochichos e risos disfarçados entre olhares curiosos e julgadores. Por u