— Os rapazes querem se divertir um pouco, gata! — O grandalhão tocou suas costas.
De repente, um Porsche se aproximou e diminuiu a velocidade.
— Deixem ela em paz. — A ordem veio do homem que estava no carro de luxo.
Gradualmente, os homens recuaram após acatar a ordem do chefe.
— Pianista, entre no carro. — O desconhecido falou.
Como todos naquele bairro sabiam que ela tocava piano? Ela se perguntava enquanto alargava os passos para fugir do carro que a acompanhava.
— Se eu for embora, não vou voltar para impedir que aqueles caras ataquem você… — Paolo a advertiu. — Venha logo, Luísa! — A pouca paciência que tinha exauriu.
— Como sabe o meu nome, senhor? — Estagnou na calçada e fitou o homem com a mandíbula quadrada.
— Todos aqui já te viram tocando piano.
Os lábios de Paolo se mexeram, mas ele não se pronunciou. Tinha poucas semanas que voltou ao país e tudo o que sabia era que a pianista se casou e teve um filho.
— Pare de se fazer de rogada e entre na porra do carro. — Tirou os óculos escuros quando estacionou.
— Não te conheço. — Ela retrocedeu alguns passos, assustada.
— Sou Paolo Morano, o capo desta cidade. — Ressaltou. — Se decidir ficar aqui, não vou poder te salvar.
Olhando de soslaio, Luísa teve um rápido vislumbre dos homens que haviam implicado com ela há pouco. Ela deu alguns passos até o Porsche e entrou.
— Tive duas reuniões extenuantes hoje, — ele puxou conversa enquanto ela se acomodava no banco ao lado. — Estou indo para o escritório no meu Pub. Lá tem um piano e, se você quiser, pode tocar…
Os assuntos não surtiram efeito, já que Luísa continuava quieta.
— Quem fez isso com você? — Paolo estreitou o olhar quando viu a marca levemente roxa em seu rosto. — Foi o seu marido? — Ele tentou tocar em sua bochecha, mas parecia um bichinho acuado quando se encolheu no banco.
— Minha irmã. — Suspirou ao lembrar da traição.
A mão dele começou a abrir e fechar no volante. Já sabia o motivo da briga entre as irmãs, mas fez um esforço para suprimir a vontade de se intrometer naquele assunto de família.
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Quando saiu do escritório no Pub, o homem alto ajeitou as lapelas do blazer preto ao descer as escadas e seguir o som da música clássica que preenchia o ambiente. Os olhos dele acompanharam os da garota, que abaixou o rosto rapidamente, quebrando a conexão. Luísa passou os dedos pelas teclas e continuou tocando Nocturne em ré menor Op. 9 de Frédéric Chopin.
Paolo observou o copo vazio sobre o piano. Um garçom encheu o copo dela novamente. Quando terminou de tocar, ela tomou a bebida de uma vez, sentindo o líquido queimando em sua garganta.
— Quantos copos ela já bebeu? — Olhando para o garçom, Paolo indagou.
— Metade dessa garrafa, Don Morano. O funcionário exibiu o Whisky Hennessy XO.
Inesperadamente, Paolo voltou a olhar para a mulher que começou a tocar a mesma canção do dia em que eles se conheceram, mas desta vez, ela estava desafinando.
— Pare de servir esse uísque, ela está bêbada.
— Sim, senhor! — O garçom se retirou.
Paolo continuou sentado na cadeira. Apenas ele estava assistindo à performance da pianista bêbada.
— Licença, Don Morano, tenho que voltar para casa — disse Luísa após tocar a última música no bar.
Enquanto contemplava a carranca sombria, reparou na maneira como Paolo tocava no lóbulo da orelha. O filho dela fazia o mesmo quando era contrariado.
— Você não vai a lugar algum, bella mia! — O rosto dele endureceu.
— Não posso ficar, senhor, o meu filho está me esperando — ela falou, temerosa. — Por favor, deixe-me ir.
Após anos procurando pelo grande amor de sua vida, ele a encontrou, mas Luísa parecia não se lembrar dele. Talvez fosse por isso que ela seguiu em frente e construiu uma família com outro homem.
— A partir de hoje, você tocará piano só para mim — ressaltou com possessividade.
O mafioso se recusava a deixá-la sair de sua vida outra vez.
Ela empurrou a cadeira com o peso do corpo, ficou em pé, mas cambaleou. Antes que tombasse no chão, Luísa foi amparada pelos braços fortes de Don Morano. Havia recebido a proposta para ser a pianista do mafioso, mas existia uma voz intrusiva em sua mente que insistia para que ela não se envolvesse em uma sinfonia de amor perigosa.
— Venha, vou te dar uma carona! — Pegando-a no colo, ele a carregou por entre as mesas espalhadas do bar até o Porsche. — Vou te levar para casa, amore mio.
No meio do caminho, o olhar escrutinador avaliou a mulher adormecida no banco ao seu lado e tocou no rosto oval com traços delicados. O dedo indicador deslizou pela marca vermelha. Recolhendo a mão, Paolo pôs no volante novamente. Ao recalcular a rota, ele decidiu levá-la para o hotel onde estava hospedado.
Numa ampla suíte da cobertura do hotel Mercure Villa Romanazzi Carducci Bari, uma mulher jovem se remexeu na cama. A cabeça de Luísa latejava enquanto massageava as têmporas e lutava para abrir os olhos. Com esforço, abriu as pálpebras e, ao virar a cabeça, estreitou os olhos para enxergar o homem sentado na poltrona. Assustada, ergueu o torso e puxou o lençol para cobrir o corpo.“Cadê a minha roupa?” pensou, engolindo em seco ao fitar Paolo novamente. Ele usava apenas uma calça de moletom com o cós abaixo da cintura. “O que foi que eu fiz?” Forçando a memória, ela tentou recordar o que ocorreu no bar após a última música que tocou, mas sua mente estava fragmentada.O homem a observava com uma postura fria, sem qualquer emoção aparente. Paolo se levantou, revelando um físico impecável, com ombros largos e o abdômen trincado por músculos. Quando chegou mais perto, ela sentiu o cheiro da fragrância ambarada. A proximidade fazia o seu coração bater mais forte.— Como cheguei aqui? — A
Inerte, Luísa olhava para o líquido vermelho que escorria em suas mãos.Um misto de horror e incredulidade a consumia enquanto seu coração pulsava em um ritmo desenfreado. A visão do sangue parecia distorcer o tempo, e pensamentos confusos atropelavam-se em sua mente: “Oh, Deus, o que foi que eu fiz?” Seus dedos tremiam, incapazes de conter o choque que dominava seu corpo. Atordoada, não acreditava que tinha sido capaz de usar aquilo. Tremendo, Luísa colocou a pistola sobre a mesinha de centro, enquanto Marcos gemia de dor no outro sofá. Seus movimentos eram hesitantes, a respiração descompassada denunciava o estado de choque.— Vocês estão bem? — Uma vizinha gritou do outro lado da porta. — Não sei o que está acontecendo, mas eu já chamei a polícia!Sem experiência, Luísa permanecia estática, incapaz de processar a gravidade do momento. Seus pensamentos giravam em um redemoinho de confusão e medo: “O que devo fazer agora?” O som dos gritos parecia distante, abafado pelo pulsar intens
Ao entardecer, uma policial chamou pelo nome de Luísa, ordenando que ela se juntasse às outras detentas. O grupo foi conduzido para a sala de visitas, um espaço simples, mas funcional, com mesas alinhadas em fileiras. Luísa caminhou hesitante, os olhos varrendo o ambiente em busca de quem poderia estar ali para vê-la.— Vá logo! — disse a policial, empurrando-a pelas costas para apressá-la.Seus ombros estavam tensos, e ela apertava as mãos, tentando conter a ansiedade que lhe apertava o peito. Ainda assim, reuniu forças e continuou andando, com o olhar fixo no chão. Quando finalmente ergueu o olhar, encontrou Fiorella sentada à sua frente. O sorriso arrogante que curvava os lábios da mulher acendeu uma raiva intensa em Luísa. — Olá, irmãzinha! — proferiu Fiorella, a voz transbordando sarcasmo enquanto se inclinava para frente com o olhar desafiador.Luísa semicerrou os olhos, cruzando os braços como se tentasse conter a revolta que subia pelo peito.— O que você faz aqui, Fiorella?
Quando Paolo ameaçou sair do carro, Luísa recuou rapidamente. Seu tamanho reduzido fazia com que o sobretudo dele parecesse um vestido em seu corpo franzino. Ele jamais imaginou que um dia gostaria de ver uma mulher usando sua roupa daquela maneira.— Você quer voltar para a prisão? — indagou em tom seco, quase brusco.A ameaça velada a fez parar imediatamente, os ombros tensos e o olhar hesitante denunciavam sua relutância. Respirou fundo, como se tentasse reunir coragem, mas permaneceu imóvel, o medo evidente em sua postura retraída. A experiência de uma noite na cadeia aparentemente não havia sido tão suportável quanto ela talvez tivesse previsto.— Entre logo! — ordenou entre dentes, esforçando-se para conter a raiva e não deixar que seu estresse explodisse sobre ela.Sem replicar, ela se acomodou na poltrona. Moveu-se um pouco para o lado, criando mais espaço entre os dois, e suspirou profundamente, exausta. Manteve o olhar fixo no chão.Ele observou o rosto amedrontado dela e, e
— Claro que vou! — Don Morano finalmente quebrou o gelo do silêncio.Enquanto o motorista conduzia o carro pelas avenidas movimentadas, Paolo continuou olhando para ela.— Não! — Luísa respondeu prontamente, quase em um sobressalto. — Só quero te lembrar de que você está me devendo.— O quê?— Paguei a sua fiança, Luísa… — Ele salientou. — Você foi presa por porte ilegal de arma e por tentativa de assassinato. Esqueceu?Ao se dar conta, ela apertou os lábios. Enquanto isso, os olhos dele examinavam cada detalhe das marcas deixadas pela violência de seu marido. — Você pode trabalhar para mim… — Paolo deixou escapar. — E eu posso dar uma lição no maledetto que te agrediu.Meia aturdida, Luísa começou a alisar as articulações dos dedos de forma metódica, como se isso pudesse acalmá-la. — Não será necessário, senhor. — A sua voz estava incrivelmente serena quando o rejeitou. — Vou arrumar o dinheiro para lhe pagar. Prometo.A tranquilidade dela o desarmou momentaneamente. Ele se pergun
Durante a noite, o sono foi constantemente interrompido pela preocupação de que algo pudesse ser roubado. A cada ruído vindo da rua ou das paredes finas do abrigo improvisado, Luísa se sobressaltava, temendo que alguém pudesse invadir seu espaço.Enquanto o cansaço físico a puxava para a inconsciência, sua mente se recusava a descansar. Pensava no filho, nas decisões que a levaram até aquele momento, e em como conseguiria reverter sua situação. Cada pensamento era uma âncora que a mantinha acordada. Ela mal conseguia pensar em outra coisa senão no filho.Na manhã seguinte, Luísa despertou antes do sol. O seu coração inquieto continuava pulsando em ritmo acelerado. Ela se levantou da cama improvisada, calçou os sapatos desgastados e apanhou a bolsa que continha seus poucos pertences. Do lado de fora, ergueu os olhos ao céu e viu as nuvens cinzentas encobrindo o horizonte. O ar estava denso e frio, prenunciando um temporal. A escola de Enzo ficava a algumas quadras dali, por ruas estrei
Luísa permaneceu deitada no chão frio, observando os pequenos feixes de luz que atravessavam as frestas da cama. Finalmente, os passos se afastaram, diminuindo gradualmente até desaparecerem no corredor. Por um momento, Luísa sentiu o coração ainda pulsar descompassado, como se aguardasse um som inesperado que pudesse desfazer sua precária sensação de segurança. Sua mente se enchia de perguntas: O que Fiorella estava fazendo no quarto de seu filho? E por que ela estava falando com o tio do senhor Morano? Inspirou profundamente, tentando acalmar o tremor em suas mãos enquanto reunia coragem para sair do esconderijo. Luísa aguardou mais alguns segundos, contando mentalmente para se certificar de que Fiorella não voltaria. Com extremo cuidado, rastejou para fora debaixo da cama. Seus joelhos doíam, mas ignorou o desconforto enquanto se levantava devagar. Abriu a janela com movimentos deliberados, evitando qualquer ruído, saltou para a parte de trás da casa, aterrissando com um leve impa
Luísa sentiu as pernas bambearem, mas manteve a compostura diante de Don Morano. Os seus olhos piscavam rápido enquanto absorviam a imponência daquele homem. Algo na expressão dele parecia familiar, mas ela não conseguia identificar o motivo. — Desculpe, senhor Morano! — Não suporto atrasos… — Don Morano reclamou com veemência. — Vou ligar para sua supervisora e… — Por favor, não faça isso, senhor. Hoje é o meu primeiro dia e eu preciso desse trabalho. Paolo a observou com intensidade e, depois de um momento de silêncio, ele deu um passo para o lado, permitindo sua entrada. Luísa passou por ele, sentindo o olhar cravado em suas costas. — Prefere fazer faxina a tocar piano? — Ele a julgava com o olhar enquanto inquiria. — É um trabalho justo, senhor Morano! — Se aceitasse a minha proposta, eu… — Já disse que não quero — deu a resposta antes que ele acabasse de falar. Don Paolo caminhou até a porta do escritório e girou a chave, trancando-a com um estalo seco. Ele voltou a ol