Rhaeven sofria a cada lua cheia, clamando por sua noiva. Ele não poderia assumir o trono sem antes cumprir a profecia—e para isso, dependia da mulher amaldiçoada. Seu destino como Alfa Supremo estava entrelaçado ao dela.
Os clãs estavam em guerra, e conquistar o poder não era apenas um desejo, mas uma necessidade.
Ele estava deitado em sua cama, cercado por corpos femininos envoltos em lençóis de seda. O cheiro de suor e desejo pairava no ar, mas nenhuma delas despertava nele aquele instinto primitivo e avassalador que apenas o perfume da amaldiçoada conseguia evocar.
Rhae sabia que ela sonhava com ele. Não poderia ser o único atormentado por visões febris nas quais finalmente a tomava para si.
A profecia sussurrava uma promessa incômoda: ela seria sua ruína ou sua redenção. Ele ansiava, com uma fome quase desesperada, que fosse sua redenção.
Nos sonhos, ele a via. Cabelos prateados reluziam à luz da lua, emoldurando um rosto de beleza quase cruel. Ela o encarava, não com medo, mas com uma determinação feroz, como se se recusasse a pertencer a ele.
Será que ela não sabia? Será que ignorava que fora marcada desde o nascimento para ser sua?
O destino os conectava de forma impossível de ignorar. E Rhae tentou—por todos os meios possíveis—contornar a profecia. Mas Bernia, sua doce Nia, sofreu as consequências.
Cada vida gerada em seu ventre fora amaldiçoada à morte. Nenhuma das concubinas do Alfa conseguiu lhe dar um herdeiro, mas Nia… Ela foi a que mais sofreu. Amava Rhaeven com todas as forças e, no entanto, a profecia zombava dela, tornando seu amor uma piada cruel do destino.
O pior é que Rhae tentou fazer de Nia sua rainha. Como punição, foi cruelmente amaldiçoado. O sangue derramado de cada perda clamava por vingança, e a dor dela ecoava na dele. Agora, ele não sabia mais se desejava lutar contra a profecia—mas de uma coisa tinha certeza: não permitiria que a Amaldiçoada fosse sua condenação.
Ele sentia o cheiro dela, ainda que enfraquecido pela magia que a protegia. Era intoxicante, inebriante, enlouquecedor. Como se a maldita possuísse o encanto de uma sereia, e ele fosse um marujo prestes a se afogar nas profundezas daquela maldição.
Seus destinos estavam entrelaçados. Ele ouvia o coração dela acelerar, e quando fechava os olhos, a via.
— Não adianta fugir, Amaldiçoada. — Sua voz ecoava no mundo dos sonhos, separados apenas pelo véu oculto da magia.
Ela sorria. Um sorriso melancólico. Uma única lágrima escorria por seu rosto—como se já sentisse a dor do que estava por vir.
Diziam que ela seria sua ruína. Diziam que poderia ser sua redenção.
O que ela escolheria ser?
De uma coisa, Rhaeven sabia: ela já era o motivo pelo qual ele sempre perdia a hora de acordar.
— Rhae... Rhae... RHAE!
A voz impaciente o arrancou do torpor. Ele abriu os olhos dourados e encontrou Nia ao seu lado. Seus cabelos escuros estavam despenteados, e um sorriso torto brincava em seus lábios. Um sorriso que sempre fora a perdição de Rhaeven.
— Não me diga… — Nia cruzou os braços, revirando os olhos. — Estava sonhando com ela de novo.
Com um suspiro, ela se levantou da cama, espreguiçando-se antes de expulsar as outras mulheres dali.
— Se você quer que eu não diga, então não direi. — Rhae murmurou, um sorrisinho cínico nos lábios.
Nia estreitou os olhos.
O silêncio pesou entre eles antes que ela finalmente se sentasse na beira da cama.
— Você precisa matá-la.
A declaração caiu como uma lâmina afiada.
Rhaeven a encarou, surpreso.
— Se não fizer isso, eu mesma farei.
O Alfa observou a mulher que estivera ao seu lado durante toda a maldição. A mulher que lutou, chorou e sangrou ao lado dele.
Ele lhe devia isso.
Rhaeven decidiu, naquele momento, que quebraria a maldição.
Custasse o que custasse.
Como uma canção antiga que ecoava no canto da mente de Alhea, a profecia que ela sabia de trás para frente e até hoje não soube desvendá-la de outra maneira que não fosse a qual foi ensinada: Ou ela seria a caça ou seria a caçadora. Era claro para ela que se permitisse, o destino seguir seu caminho, teria a vida ceifada pelo Alfa. Theron a ensinou, a protegeu, a amou quando ninguém a amou. Todos fugiam de perto de Thea como se ela fosse a própria praga. Ela não se importava. Estava acostumada a não ter em quem confiar.— Thea — a voz doce de sua avó chamou sua atenção enquanto ela desenhava com carvão em seu quarto. As pontas dos dedos sempre sujas de preto, manchando os cabelos alvos sempre que se distraía. — Sim, vovó — respondeu prontamente se colocando de pé. Ysolde não era apenas sua avó, era uma Guardiã. Uma mulher sábia a quem viam recorrer em tempos de necessidade e além disso ela havia sido a voz usada para decretar a profecia no momento em que Althea nasceu. — Você está
Althea estava sozinha no interior da floresta. O frio cortava sua pele como lâminas invisíveis, e cada passo sobre a neve acumulada exigia cautela.Acima dela, a Lua de Sangue brilhava intensa, derramando suas lágrimas escarlates, como se lamentasse o destino da jovem. O silêncio da noite foi interrompido pelo som de patas esmagando a neve e o uivo que fez seu coração bater descompassado.Eles estavam ali.Os lobos se aproximavam.O ataque foi rápido demais para que ela reagisse. Uma sombra se lançou contra ela, um corpo ágil e feroz, pronto para arrancar sua garganta.Então, eu não passo de uma ameaça? Apenas uma caça?Por instinto, Thea ergueu o braço, e o bracelete brilhou na escuridão. Os dentes da loba encontraram a prata encantada, e o contato fez a carne da criatura queimar. Um rosnado de dor ecoou, e sangue respingou na neve.Foi então que Althea o sentiu.Uma presença avassaladora.O ar ao seu redor se tornou mais pesado, carregado com uma eletricidade latente. Seu corpo reco
Althea não teve escolha.O Alfa avançou como um vendaval de fúria e sombras, seus olhos dourados ardendo em pura ira.Os demais lobos uivavam para a Lua de Sangue, como se clamassem por um veredicto divino, mas nenhum ousou interferir. A decisão estava selada no próprio destino.Thea mal teve tempo de erguer sua lâmina antes que Rhaeven colidisse contra ela. O impacto a lançou para trás, seus pés arrastando-se pela neve. Ela conseguiu firmar-se, ofegante, mas ele não lhe deu trégua.Outro ataque. Mais rápido. Mais brutal.Dessa vez, Althea desviou no último segundo, girando o corpo com a agilidade de uma caçadora treinada. Sua espada riscou o ar e encontrou o ombro do Alfa, abrindo um corte superficial.O cheiro de sangue preencheu o espaço entre eles.Rhaeven rosnou, mas não recuou.Pelo contrário.A ferida apenas atiçou seu instinto predatório.Ele avançou outra vez, e Thea mal viu quando ele derrubou sua espada com um golpe preciso. A lâmina caiu na neve, e no instante seguinte, o
O impacto foi brutal, como um trovão quebrando o silêncio de uma noite de tempestade.O corpo de Althea afundou no colchão macio quando Rhaeven a lançou sobre a imensa cama de peles no centro de seus aposentos.O quarto do Alfa era espaçoso e imponente, com paredes de pedra escura adornadas por armas ancestrais e tapeçarias que contavam histórias de conquistas sangrentas. Tochas presas em suportes de ferro fundido lançavam sombras dançantes pelos cantos.Seu coração batia selvagem como um pássaro aprisionado contra as grades de sua caixa torácica, cada fibra de seu ser pulsando com o instinto primordial de lutar, de resistir.Antes que pudesse se mover, o Alfa estava sob
Althea encarava os olhos dourados que a mantinham prisioneira não apenas fisicamente, mas de uma forma que não conseguia explicar. Algo primitivo e antigo pulsava entre eles, uma conexão que desafiava a lógica e o ódio que deveriam sentir.— Prefiro morrer do que pertencer a você — ela repetiu, sua voz carregada de determinação.Rhaeven se afastou. Ele circulou a cama como um predador avaliando sua presa, seus olhos nunca abandonando os dela.— A morte seria um fim muito simples para a mulher que trouxe a ruína para mim.Althea se sentou na cama, ajeitando suas vestes rasgadas pela batalha e observando cada passo dele. Ela sentiu a ausência do bracelete em seu pulso como um membro fantasma. Sem sua proteção, estava verdadeiramente vulnerável.— Eu não te obriguei a matar sua própria loba — ela retrucou. — Você fez sua escolha.O rosto de Rhaeven endureceu, músculos se contraindo sob sua pele bronzeada. A menção de Nia abriu uma ferida crua demais.— Não ouse falar dela! — Sua voz trov
"Mamãe!" gritava o pequeno, enquanto as sombras se fechavam ao seu redor. "Mamãe, onde você está?"Althea tentava alcançá-lo. Seus braços se estendiam, seus pés corriam, mas a distância apenas aumentava. Quanto mais se esforçava, mais longe a criança parecia.E então, surgiu a figura.Um homem enorme, de ombros largos e cabelos negros como a noite sem estrelas. Suas mãos fortes ergueram o menino do chão, salvando-o das sombras que quase a devoravam.Rhaeven.Qu
O conforto de sua presença era inegável. O ritmo constante de sua respiração, o calor de seu corpo, a segurança paradoxal que ele proporcionava... tudo conspirava para derrubar suas defesas.— Por que? — Ela perguntou finalmente, sua voz quase sumindo na escuridão. — Por que você se importa com o que eu vi?Rhaeven ficou em silêncio por tanto tempo que ela pensou que ele não responderia. Quando finalmente falou, sua voz estava carregada de uma emoção que ela não conseguia nomear.— Porque também a vi. A criança. Não apenas na visão que compartilhamos, mas em meus próprios sonhos. — Ele hesitou, como se as próximas palavras fossem difíceis de pronunciar. — E ele me chamava de pai.Althea sentiu seu coração falhar uma batida.—
Os primeiros raios de sol infiltravam-se pelas frestas das cortinas pesadas quando Althea despertou. Por um momento, permaneceu imóvel, tentando discernir se a noite anterior havia sido apenas mais um sonho profético ou realidade. O calor que ainda sentia na pele e o aroma de pinho e terra que impregnava os lençóis responderam sua pergunta silenciosa.Virando-se lentamente, encontrou o lado da cama vazio. Rhaeven havia partido, mas sua presença persistia no quarto como uma sombra palpável. Althea tocou seus próprios lábios, ainda sensíveis dos beijos trocados, e um arrepio percorreu seu corpo ao recordar a intensidade do encontro."O que eu fiz?" murmurou para si mesma, sentando-se na cama e abraçando os joelhos contra o peito.Havia se entregado