O impacto foi brutal, como um trovão quebrando o silêncio de uma noite de tempestade.
O corpo de Althea afundou no colchão macio quando Rhaeven a lançou sobre a imensa cama de peles no centro de seus aposentos.
O quarto do Alfa era espaçoso e imponente, com paredes de pedra escura adornadas por armas ancestrais e tapeçarias que contavam histórias de conquistas sangrentas. Tochas presas em suportes de ferro fundido lançavam sombras dançantes pelos cantos.
Seu coração batia selvagem como um pássaro aprisionado contra as grades de sua caixa torácica, cada fibra de seu ser pulsando com o instinto primordial de lutar, de resistir.
Antes que pudesse se mover, o Alfa estava sobre ela, seu corpo bloqueando qualquer rota de escape. O ar entre eles parecia carregado de eletricidade, como o momento antes de um raio partir o céu.
Seu corpo era uma parede de calor impenetrável, esmagador, insuportavelmente próximo. O cheiro dele — terra molhada após chuva, pinho e algo selvagem, indefinível — invadiu suas narinas, tão intenso que Althea sentiu uma tontura momentânea. A pele bronzeada dele reluzia sob a luz trêmula das tochas, cada cicatriz em seu torso contando histórias de batalhas e vitórias que construíram sua reputação temida. Músculos definidos tensionavam-se sob a pele, como cordas de um instrumento afinado para tocar uma melodia de dominação.
Ele a imobilizou com uma mão no pulso, seus dedos longos circundando facilmente o osso delicado, prendendo-a contra o colchão com uma força que beirava a dor, mas sem ultrapassá-la — como se soubesse exatamente quanto pressão aplicar. A outra mão deslizou pelos próprios cabelos desgrenhados, negros como ébano, que caíam em mechas rebeldes sobre sua testa, como se tentasse conter algo dentro de si, alguma fera que lutava para ser libertada.
Althea se recusou a desviar o olhar, mesmo quando sentia todo seu corpo tremer sob o dele. Seus próprios cabelos brancos como a neve espalhavam-se sobre as peles escuras da cama.
Os olhos dourados dele brilhavam na penumbra do quarto como os de um predador noturno, não apenas com desejo ou raiva — mas com algo ainda pior, algo que fazia seu estômago se contorcer e sua garganta secar.
Domínio.
Posse.
O peso daquelas emoções sobre ela era sufocante, mais que o próprio corpo dele pressionando o seu. Era como se cada célula dele emitisse uma mensagem primitiva, antiga como o próprio tempo: minha.
— Não se engane, amaldiçoada. — A voz de Rhaeven saiu rouca, áspera como pedras arrastadas sobre areia, carregada de algo sombrio que arrepiou cada pelo do corpo dela.
Sua respiração quente acariciou o rosto de Althea, trazendo consigo o leve aroma de vinho forte e especiarias. Os lábios dele, cheios e marcados por uma cicatriz fina no canto direito, curvaram-se em algo que não era exatamente um sorriso, mas uma promessa.
— Você pertence a mim agora. E eu farei com você o que eu quiser.
Cada palavra saiu lenta, deliberadamente articulada, como se ele quisesse que o significado penetrasse fundo, até os ossos, até a alma.
Ela riu. Um riso seco, áspero, repleto de escárnio e desafio. O som reverberou pelas paredes de pedra, quase sobrenatural em sua intensidade.
— É mesmo? Pois eu prefiro morrer. — Cada sílaba saiu carregada de veneno, seus olhos de um azul quase violeta cintilando com um fogo interior que nem mesmo a situação desesperadora conseguia apagar.
O sorriso dele foi feroz, repleto de perigo, como o primeiro rachar do gelo fino sob os pés de um viajante desavisado. Seus dentes brancos e perfeitamente alinhados, exceto pelos caninos ligeiramente mais longos e afiados, brilharam na penumbra como armas polidas.
— Isso seria um presente para você. Eu quero que sofra. Quero que me peça misericórdia, e quando pedir, eu negarei.
O silêncio subsequente foi preenchido apenas pelos sons distantes da fortaleza — guardas caminhando pelos corredores de pedra, o ocasional tilintar de metal contra metal, o sussurro do vento entre as frestas das janelas.
As palavras foram um golpe que se cravou fundo na alma de Althea, como uma adaga envenenada encontrando o caminho entre as costelas. O corpo dela estremeceu involuntariamente, não de medo, mas de reconhecimento da verdade contida naquela promessa sombria.
Ela sabia que ele não estava apenas ameaçando. Podia sentir isso no modo como os músculos dele se tensionavam contra ela, no calor febril que emanava de sua pele, na intensidade quase palpável de seu olhar.
Ele falava sério.
E, no entanto, não sentia medo.
Sentia algo muito pior. Algo que se enrolava em seu ventre como uma serpente calorosa, algo que a fazia consciente de cada ponto onde o corpo dele tocava o seu, algo que fazia seu sangue correr mais rápido e sua pele formigar com uma sensação que se recusava a nomear.
O Alfa deslizou os dedos pela curva do pescoço dela, onde sua pulsação pulsava frenética como asas de um beija-flor. A pele dele era áspera, calejada por anos de lutas e caçadas, em contraste com a suavidade da pele dela. O toque deixou um rastro de calor, como se ele marcasse um caminho em sua pele.
— Você sente isso? — murmurou, seus lábios tão próximos que ela sentia o calor de sua respiração misturando-se com a dela. — O destino nos conectou. Está gravado em nossos ossos. Você pode resistir o quanto quiser, pode me odiar, mas isso não muda nada.
Os dedos dele pressionaram um pouco mais forte, não o suficiente para machucar, mas o bastante para lembrá-la de quem detinha o poder físico naquele momento. A pele dela ardia sob o toque dele, como se seu corpo se rebelasse contra sua vontade, reconhecendo algo que sua mente se recusava a aceitar.
— Eu sou o Alfa. — Ele abaixou o rosto, até que seus narizes quase se tocassem, enchendo o ar com o aroma de floresta selvagem e tempestade iminente que emanava dele. Seus olhos dourados consumiram toda a visão dela, como um eclipse engolindo a luz. — E você... é minha.
Althea encarava os olhos dourados que a mantinham prisioneira não apenas fisicamente, mas de uma forma que não conseguia explicar. Algo primitivo e antigo pulsava entre eles, uma conexão que desafiava a lógica e o ódio que deveriam sentir.— Prefiro morrer do que pertencer a você — ela repetiu, sua voz carregada de determinação.Rhaeven se afastou. Ele circulou a cama como um predador avaliando sua presa, seus olhos nunca abandonando os dela.— A morte seria um fim muito simples para a mulher que trouxe a ruína para mim.Althea se sentou na cama, ajeitando suas vestes rasgadas pela batalha e observando cada passo dele. Ela sentiu a ausência do bracelete em seu pulso como um membro fantasma. Sem sua proteção, estava verdadeiramente vulnerável.— Eu não te obriguei a matar sua própria loba — ela retrucou. — Você fez sua escolha.O rosto de Rhaeven endureceu, músculos se contraindo sob sua pele bronzeada. A menção de Nia abriu uma ferida crua demais.— Não ouse falar dela! — Sua voz trov
"Mamãe!" gritava o pequeno, enquanto as sombras se fechavam ao seu redor. "Mamãe, onde você está?"Althea tentava alcançá-lo. Seus braços se estendiam, seus pés corriam, mas a distância apenas aumentava. Quanto mais se esforçava, mais longe a criança parecia.E então, surgiu a figura.Um homem enorme, de ombros largos e cabelos negros como a noite sem estrelas. Suas mãos fortes ergueram o menino do chão, salvando-o das sombras que quase a devoravam.Rhaeven.Qu
O conforto de sua presença era inegável. O ritmo constante de sua respiração, o calor de seu corpo, a segurança paradoxal que ele proporcionava... tudo conspirava para derrubar suas defesas.— Por que? — Ela perguntou finalmente, sua voz quase sumindo na escuridão. — Por que você se importa com o que eu vi?Rhaeven ficou em silêncio por tanto tempo que ela pensou que ele não responderia. Quando finalmente falou, sua voz estava carregada de uma emoção que ela não conseguia nomear.— Porque também a vi. A criança. Não apenas na visão que compartilhamos, mas em meus próprios sonhos. — Ele hesitou, como se as próximas palavras fossem difíceis de pronunciar. — E ele me chamava de pai.Althea sentiu seu coração falhar uma batida.—
Os primeiros raios de sol infiltravam-se pelas frestas das cortinas pesadas quando Althea despertou. Por um momento, permaneceu imóvel, tentando discernir se a noite anterior havia sido apenas mais um sonho profético ou realidade. O calor que ainda sentia na pele e o aroma de pinho e terra que impregnava os lençóis responderam sua pergunta silenciosa.Virando-se lentamente, encontrou o lado da cama vazio. Rhaeven havia partido, mas sua presença persistia no quarto como uma sombra palpável. Althea tocou seus próprios lábios, ainda sensíveis dos beijos trocados, e um arrepio percorreu seu corpo ao recordar a intensidade do encontro."O que eu fiz?" murmurou para si mesma, sentando-se na cama e abraçando os joelhos contra o peito.Havia se entregado
Rhaeven observava a alcateia se reunir no Grande Salão, seu rosto uma máscara impassível que ocultava a tempestade interior. Sentado em seu trono de madeira antiga entalhada com símbolos lobos, ele parecia a própria imagem da autoridade.Mas por dentro, estava despedaçado.A noite com Althea havia mudado algo fundamental nele. Não era apenas desejo — embora isso estivesse presente, ardendo sob sua pele como uma febre — mas algo mais profundo, mais perturbador. Uma conexão que desafiava tudo que ele acreditava sobre seu destino como Alfa, sobre a profecia, sobre a mulher de cabelos brancos que deveria trazer destruição.— Os Anciãos estão prontos, meu senhor. — A voz de Thorn, seu Beta e conselheiro mais pr&oac
Murmúrios de ultraje percorreram a multidão, mas foram novamente silenciados pelo olhar severo de Rhaeven.— Continue. — Ele ordenou, sua voz mais suave do que pretendia.— Mas agora... — Althea hesitou, algo vulnerável passando por seus olhos. — Agora não tenho mais certeza. As visões que compartilhei com Rhaeven... elas sugerem um destino diferente.Foi a vez de Elara se manifestar, aproximando-se com a graça fluida que caracterizava a vidente.— Que visões são essas? — Ela perguntou, sua curiosidade claramente despertada.Rhaeven sentiu-se tenso. Estava prestes a interromper, a proteger aquele segredo íntimo que haviam
Kaira se aproximou novamente, seu cajado de madeira antiga batendo ritmicamente contra o chão de pedra.— A criança das visões... — Ela murmurou, mais para si mesma do que para os outros. — Uma ponte entre dois mundos.Bran folheou rapidamente um livro antigo que trazia consigo, seus dedos enrugados traçando linhas de texto amarelado.— Há uma parte da profecia que raramente mencionamos. — Ele disse, sua voz grave ecoando no salão silencioso. — 'Da união do impossível nascerá aquele que unirá os reinos divididos. Da destruição virá a criação'.Elara ofegou, sua mão apertando a marca em seu rosto. Althea permanecia acordada, sentada na beira da janela de seu novo aposento, observando a lua. Seus dedos traçavam distraidamente a marca da profecia em seu pulso, uma cicatriz que parecia pulsar com vida própria sob o toque suave da luz lunar.— Não consegue dormir? — A voz grave de Rhaeven preencheu o espaço.Althea balançou a cabeça, voltando seu olhar para a janela.— Como poderia? Sou uma humana em um ninho de lobos que sonham com minha morte.Rhaeven aproximou-se, mantendo uma distância respeitosa, mas próximo o suficiente para que seu calor a alcançasse.— Nem todos sonham com sua morte. — Seu olhar seguindo o dela para a lua. — Alguns sonham com possibilidades.Um sorriso Capítulo 14 - O Ritual