Althea não teve escolha.
O Alfa avançou como um vendaval de fúria e sombras, seus olhos dourados ardendo em pura ira.
Os demais lobos uivavam para a Lua de Sangue, como se clamassem por um veredicto divino, mas nenhum ousou interferir. A decisão estava selada no próprio destino.
Thea mal teve tempo de erguer sua lâmina antes que Rhaeven colidisse contra ela. O impacto a lançou para trás, seus pés arrastando-se pela neve. Ela conseguiu firmar-se, ofegante, mas ele não lhe deu trégua.
Outro ataque. Mais rápido. Mais brutal.
Dessa vez, Althea desviou no último segundo, girando o corpo com a agilidade de uma caçadora treinada. Sua espada riscou o ar e encontrou o ombro do Alfa, abrindo um corte superficial.
O cheiro de sangue preencheu o espaço entre eles.
Rhaeven rosnou, mas não recuou.
Pelo contrário.
A ferida apenas atiçou seu instinto predatório.
Ele avançou outra vez, e Thea mal viu quando ele derrubou sua espada com um golpe preciso. A lâmina caiu na neve, e no instante seguinte, o Alfa a segurou pela garganta e a empurrou contra uma árvore.
A casca rugosa arranhou suas costas, e o peso esmagador da presença dele a sufocou.
Os olhos de Althea ardiam, mas ela se recusou a desviar o olhar.
— Você causou isso — ele rosnou, a voz vibrando como um trovão.
Ela tentou responder, mas o aperto ao redor de seu pescoço se intensificou. O calor da respiração dele queimava sua pele.
A dor, porém, era menos assustadora do que a conexão avassaladora que queimava entre eles.
Era absurda.
Devastadora.
Indescritível.
O mesmo poder que os fez compartilhar visões agora os incendiava naquele embate.
E então, como se algo dentro dele quebrasse, Rhaeven hesitou.
Aquela fração de segundo foi suficiente.
Althea cravou os dedos no pulso dele e, com um movimento rápido, usou o próprio peso contra ele. Girou o corpo e o derrubou no chão, imobilizando-o entre suas pernas.
O Alfa grunhiu, mas não se moveu.
Seu peito arfava, e os olhos dourados encaravam Althea como se a vissem pela primeira vez.
Ela sentiu a energia pulsando ao redor deles. Algo primal. Algo além da compreensão.
A lua sangrava.
O destino os uniu.
Mas só um deles permaneceria.
Ela pensou que aquele seria o fim. Tirando uma lâmina de dentro de sua bota, ela finalmente o mataria e daria fim a profecia.
Ele não virou o rosto, não tentou revidar, a encarou como quem encara a morte de braços abertos. Se ela era seu fim, que assim fosse.
Althea parou ali com a lâmina apontada para o pescoço do Alfa humano, prestes a degolá-lo.
— O que foi? Você não tem coragem, amaldiçoada?
— Não me chame assim, monstro! — ela disse entredentes baixando a lâmina até tocar a carne do homem.
— Vamos! Acabe com isso! — ele bradou e ela então começou a rir.
Não um sorriso comum. Um riso de escárnio.
— Que decepção… — sussurrou. — O grande Alfa, que me aterrorizou durante anos, não passa de um covarde!
As palavras escaparam antes que pudesse contê-las. O gosto da raiva e da frustração era amargo em sua boca.
Mas por que se sentia assim?
Por que aquela rendição a enfurecia tanto?
A ira cresceu dentro dela como fogo em um campo seco, queimando tudo em seu caminho. Ela deveria estar feliz. Deveria aproveitar a oportunidade e acabar com a maldição.
Mas…
Por que ele estava desistindo tão fácil?
Rhaeven moveu-se num instante.
Antes que Thea pudesse reagir, o mundo girou ao seu redor e, de repente, ela era a presa.
Ele inverteu suas posições com brutalidade.
Agora, era ele quem a dominava.
O peso do Alfa a imobilizou contra o chão gelado, sua lâmina agora pressionada contra o pescoço dela. Seu corpo queimava contra o dela, sua respiração pesada e quente.
Althea engoliu em seco.
Os olhos dourados de Rhaeven ardiam como brasas, fixos nela com um misto de ódio e… algo mais. Algo que a fazia prender a respiração.
— Maldita. — A voz dele saiu como um sussurro grave, tão próximo que ela sentiu o calor de seus lábios roçando os dela. Intenso. Letal. — Devia ter me matado quando teve a chance.
Os lobos ao redor uivavam em êxtase, sedentos pela vingança.
Mas Rhaeven os ignorou.
Ele sentia o eco da matilha dentro de si, as vozes sussurrando em sua mente. Mate-a. Mate-a. Mate-a.
Mas não seria tão fácil.
Não.
Ela precisava pagar.
Apenas matá-la seria um presente. Seria misericórdia.
— Ela precisa sofrer. — O Alfa decretou, sua voz ressoando como uma sentença. — Precisa pagar pela morte de Nia. Se eu simplesmente a matar, será fácil demais.
Althea arregalou os olhos.
Não.
Ele não ia matá-la.
Ele queria algo muito pior.
O pânico subiu por sua garganta, mas antes que pudesse reagir, ele arrancou o bracelete de prata de seu pulso e o atirou para longe.
Althea gritou quando sentiu sua conexão com a proteção se romper.
Rhaeven grunhiu quando o metal queimou sua mão, mas não recuou. A dor era insignificante diante da fúria que rugia dentro dele.
Antes que ela pudesse recuperar o fôlego, ele a puxou do chão, segurando-a pelo pescoço.
A força do Alfa era esmagadora.
O ar escapou dos pulmões de Althea, sua visão ficando turva enquanto ela se debatia, tentando se libertar. Mas os dedos dele eram uma garra implacável, apertando cada vez mais.
Ela chutou, arranhou os braços dele, tentou atingir seu rosto, mas era inútil.
O rosnado de Rhaeven ressoou como um trovão.
— Ela me pertence. — declarou, sua voz carregada de autoridade e algo primitivo.
O uivo dos lobos ecoou na floresta.
Concordância.
Althea se debateu com o resto de sua força. O desespero cresceu dentro dela.
Ela não podia morrer ali.
Mas Rhaeven não parecia disposto a matá-la.
Não ainda.
Ele faria dela sua prisioneira.
E o pior de tudo…
Parte dela temia que, no fundo, isso já tivesse acontecido.
O impacto foi brutal, como um trovão quebrando o silêncio de uma noite de tempestade.O corpo de Althea afundou no colchão macio quando Rhaeven a lançou sobre a imensa cama de peles no centro de seus aposentos.O quarto do Alfa era espaçoso e imponente, com paredes de pedra escura adornadas por armas ancestrais e tapeçarias que contavam histórias de conquistas sangrentas. Tochas presas em suportes de ferro fundido lançavam sombras dançantes pelos cantos.Seu coração batia selvagem como um pássaro aprisionado contra as grades de sua caixa torácica, cada fibra de seu ser pulsando com o instinto primordial de lutar, de resistir.Antes que pudesse se mover, o Alfa estava sob
Althea encarava os olhos dourados que a mantinham prisioneira não apenas fisicamente, mas de uma forma que não conseguia explicar. Algo primitivo e antigo pulsava entre eles, uma conexão que desafiava a lógica e o ódio que deveriam sentir.— Prefiro morrer do que pertencer a você — ela repetiu, sua voz carregada de determinação.Rhaeven se afastou. Ele circulou a cama como um predador avaliando sua presa, seus olhos nunca abandonando os dela.— A morte seria um fim muito simples para a mulher que trouxe a ruína para mim.Althea se sentou na cama, ajeitando suas vestes rasgadas pela batalha e observando cada passo dele. Ela sentiu a ausência do bracelete em seu pulso como um membro fantasma. Sem sua proteção, estava verdadeiramente vulnerável.— Eu não te obriguei a matar sua própria loba — ela retrucou. — Você fez sua escolha.O rosto de Rhaeven endureceu, músculos se contraindo sob sua pele bronzeada. A menção de Nia abriu uma ferida crua demais.— Não ouse falar dela! — Sua voz trov
"Mamãe!" gritava o pequeno, enquanto as sombras se fechavam ao seu redor. "Mamãe, onde você está?"Althea tentava alcançá-lo. Seus braços se estendiam, seus pés corriam, mas a distância apenas aumentava. Quanto mais se esforçava, mais longe a criança parecia.E então, surgiu a figura.Um homem enorme, de ombros largos e cabelos negros como a noite sem estrelas. Suas mãos fortes ergueram o menino do chão, salvando-o das sombras que quase a devoravam.Rhaeven.Qu
O conforto de sua presença era inegável. O ritmo constante de sua respiração, o calor de seu corpo, a segurança paradoxal que ele proporcionava... tudo conspirava para derrubar suas defesas.— Por que? — Ela perguntou finalmente, sua voz quase sumindo na escuridão. — Por que você se importa com o que eu vi?Rhaeven ficou em silêncio por tanto tempo que ela pensou que ele não responderia. Quando finalmente falou, sua voz estava carregada de uma emoção que ela não conseguia nomear.— Porque também a vi. A criança. Não apenas na visão que compartilhamos, mas em meus próprios sonhos. — Ele hesitou, como se as próximas palavras fossem difíceis de pronunciar. — E ele me chamava de pai.Althea sentiu seu coração falhar uma batida.—
Os primeiros raios de sol infiltravam-se pelas frestas das cortinas pesadas quando Althea despertou. Por um momento, permaneceu imóvel, tentando discernir se a noite anterior havia sido apenas mais um sonho profético ou realidade. O calor que ainda sentia na pele e o aroma de pinho e terra que impregnava os lençóis responderam sua pergunta silenciosa.Virando-se lentamente, encontrou o lado da cama vazio. Rhaeven havia partido, mas sua presença persistia no quarto como uma sombra palpável. Althea tocou seus próprios lábios, ainda sensíveis dos beijos trocados, e um arrepio percorreu seu corpo ao recordar a intensidade do encontro."O que eu fiz?" murmurou para si mesma, sentando-se na cama e abraçando os joelhos contra o peito.Havia se entregado
Rhaeven observava a alcateia se reunir no Grande Salão, seu rosto uma máscara impassível que ocultava a tempestade interior. Sentado em seu trono de madeira antiga entalhada com símbolos lobos, ele parecia a própria imagem da autoridade.Mas por dentro, estava despedaçado.A noite com Althea havia mudado algo fundamental nele. Não era apenas desejo — embora isso estivesse presente, ardendo sob sua pele como uma febre — mas algo mais profundo, mais perturbador. Uma conexão que desafiava tudo que ele acreditava sobre seu destino como Alfa, sobre a profecia, sobre a mulher de cabelos brancos que deveria trazer destruição.— Os Anciãos estão prontos, meu senhor. — A voz de Thorn, seu Beta e conselheiro mais pr&oac
Murmúrios de ultraje percorreram a multidão, mas foram novamente silenciados pelo olhar severo de Rhaeven.— Continue. — Ele ordenou, sua voz mais suave do que pretendia.— Mas agora... — Althea hesitou, algo vulnerável passando por seus olhos. — Agora não tenho mais certeza. As visões que compartilhei com Rhaeven... elas sugerem um destino diferente.Foi a vez de Elara se manifestar, aproximando-se com a graça fluida que caracterizava a vidente.— Que visões são essas? — Ela perguntou, sua curiosidade claramente despertada.Rhaeven sentiu-se tenso. Estava prestes a interromper, a proteger aquele segredo íntimo que haviam
Kaira se aproximou novamente, seu cajado de madeira antiga batendo ritmicamente contra o chão de pedra.— A criança das visões... — Ela murmurou, mais para si mesma do que para os outros. — Uma ponte entre dois mundos.Bran folheou rapidamente um livro antigo que trazia consigo, seus dedos enrugados traçando linhas de texto amarelado.— Há uma parte da profecia que raramente mencionamos. — Ele disse, sua voz grave ecoando no salão silencioso. — 'Da união do impossível nascerá aquele que unirá os reinos divididos. Da destruição virá a criação'.Elara ofegou, sua mão apertando a marca em seu rosto.Último capítulo