Kaira se aproximou novamente, seu cajado de madeira antiga batendo ritmicamente contra o chão de pedra.
— A criança das visões... — Ela murmurou, mais para si mesma do que para os outros. — Uma ponte entre dois mundos.
Bran folheou rapidamente um livro antigo que trazia consigo, seus dedos enrugados traçando linhas de texto amarelado.
— Há uma parte da profecia que raramente mencionamos. — Ele disse, sua voz grave ecoando no salão silencioso. — 'Da união do impossível nascerá aquele que unirá os reinos divididos. Da destruição virá a criação'.
Elara ofegou, sua mão apertando a marca em seu rosto.
Althea permanecia acordada, sentada na beira da janela de seu novo aposento, observando a lua. Seus dedos traçavam distraidamente a marca da profecia em seu pulso, uma cicatriz que parecia pulsar com vida própria sob o toque suave da luz lunar.— Não consegue dormir? — A voz grave de Rhaeven preencheu o espaço.Althea balançou a cabeça, voltando seu olhar para a janela.— Como poderia? Sou uma humana em um ninho de lobos que sonham com minha morte.Rhaeven aproximou-se, mantendo uma distância respeitosa, mas próximo o suficiente para que seu calor a alcançasse.— Nem todos sonham com sua morte. — Seu olhar seguindo o dela para a lua. — Alguns sonham com possibilidades.Um sorriso
Althea hesitou apenas por um momento antes de aceitar sua mão e levantar-se. Juntos, moveram-se silenciosamente pelos corredores de pedra, seus passos ecoando suavemente na quietude da noite. Rhaeven a guiou através de passagens cada vez menos frequentadas, descendo até que o ar se tornasse mais frio e úmido.— Onde estamos indo? — Ela perguntou, sua voz baixa respeitando o silêncio que os envolvia.— Ao coração da alcateia. — Ele respondeu enigmaticamente, seus olhos brilhando com um conhecimento antigo.Finalmente, chegaram a uma porta circular de madeira antiga, entalhada com símbolos que Althea não reconhecia. Rhaeven pousou a mão sobre ela, murmurando palavras em uma língua que ela nunca havia ouvido antes. A porta se abriu com um rangido de protesto, revelando uma câmara circular iluminada por tochas de chama
"Se eu não o caçar, serei caçada."As palavras reverberavam na mente de Althea Duvrai, um sussurro da própria lua, uma sentença cravada em sua alma desde o nascimento. Seu coração martelava contra as costelas, o ritmo acelerado ecoando na floresta, pulsando junto ao chamado inevitável.Seus dedos envolviam o cabo frio da lâmina de prata—uma arma forjada por suas próprias mãos, selada com magia e com uma única gota de seu sangue.O sangue amaldiçoado.O sangue pelo qual a lua clamava.O sangue da profecia.A Lua de Sangue estava próxima.Ela podia senti-la nas marés invisíveis que corriam sob sua pele, no arrepio gélido que subia por sua espinha, na brisa cortante que sussurrava seu nome entre os galhos retorcidos da floresta.Naquela noite, a caçada começaria.Nem mesmo sua capa vermelha, tecida com encantamentos antigos para ocultar seu cheiro, seria capaz de protegê-la agora. O véu da maldição havia sido rasgado. E ele sabia.Ele sentia.Em algum lugar entre as sombras e os uivos qu
Rhaeven sofria a cada lua cheia, clamando por sua noiva. Ele não poderia assumir o trono sem antes cumprir a profecia—e para isso, dependia da mulher amaldiçoada. Seu destino como Alfa Supremo estava entrelaçado ao dela.Os clãs estavam em guerra, e conquistar o poder não era apenas um desejo, mas uma necessidade.Ele estava deitado em sua cama, cercado por corpos femininos envoltos em lençóis de seda. O cheiro de suor e desejo pairava no ar, mas nenhuma delas despertava nele aquele instinto primitivo e avassalador que apenas o perfume da amaldiçoada conseguia evocar.Rhae sabia que ela sonhava com ele. Não poderia ser o único atormentado por visões febris nas quais finalmente a tomava para si.A profecia sussurrava uma promessa incômoda: ela seria sua ruína ou sua redenção. Ele ansiava, com uma fome quase desesperada, que fosse sua redenção.Nos sonhos, ele a via. Cabelos prateados reluziam à luz da lua, emoldurando um rosto de beleza quase cruel. Ela o encarava, não com medo, mas co
Como uma canção antiga que ecoava no canto da mente de Alhea, a profecia que ela sabia de trás para frente e até hoje não soube desvendá-la de outra maneira que não fosse a qual foi ensinada: Ou ela seria a caça ou seria a caçadora. Era claro para ela que se permitisse, o destino seguir seu caminho, teria a vida ceifada pelo Alfa. Theron a ensinou, a protegeu, a amou quando ninguém a amou. Todos fugiam de perto de Thea como se ela fosse a própria praga. Ela não se importava. Estava acostumada a não ter em quem confiar.— Thea — a voz doce de sua avó chamou sua atenção enquanto ela desenhava com carvão em seu quarto. As pontas dos dedos sempre sujas de preto, manchando os cabelos alvos sempre que se distraía. — Sim, vovó — respondeu prontamente se colocando de pé. Ysolde não era apenas sua avó, era uma Guardiã. Uma mulher sábia a quem viam recorrer em tempos de necessidade e além disso ela havia sido a voz usada para decretar a profecia no momento em que Althea nasceu. — Você está
Althea estava sozinha no interior da floresta. O frio cortava sua pele como lâminas invisíveis, e cada passo sobre a neve acumulada exigia cautela.Acima dela, a Lua de Sangue brilhava intensa, derramando suas lágrimas escarlates, como se lamentasse o destino da jovem. O silêncio da noite foi interrompido pelo som de patas esmagando a neve e o uivo que fez seu coração bater descompassado.Eles estavam ali.Os lobos se aproximavam.O ataque foi rápido demais para que ela reagisse. Uma sombra se lançou contra ela, um corpo ágil e feroz, pronto para arrancar sua garganta.Então, eu não passo de uma ameaça? Apenas uma caça?Por instinto, Thea ergueu o braço, e o bracelete brilhou na escuridão. Os dentes da loba encontraram a prata encantada, e o contato fez a carne da criatura queimar. Um rosnado de dor ecoou, e sangue respingou na neve.Foi então que Althea o sentiu.Uma presença avassaladora.O ar ao seu redor se tornou mais pesado, carregado com uma eletricidade latente. Seu corpo reco
Althea não teve escolha.O Alfa avançou como um vendaval de fúria e sombras, seus olhos dourados ardendo em pura ira.Os demais lobos uivavam para a Lua de Sangue, como se clamassem por um veredicto divino, mas nenhum ousou interferir. A decisão estava selada no próprio destino.Thea mal teve tempo de erguer sua lâmina antes que Rhaeven colidisse contra ela. O impacto a lançou para trás, seus pés arrastando-se pela neve. Ela conseguiu firmar-se, ofegante, mas ele não lhe deu trégua.Outro ataque. Mais rápido. Mais brutal.Dessa vez, Althea desviou no último segundo, girando o corpo com a agilidade de uma caçadora treinada. Sua espada riscou o ar e encontrou o ombro do Alfa, abrindo um corte superficial.O cheiro de sangue preencheu o espaço entre eles.Rhaeven rosnou, mas não recuou.Pelo contrário.A ferida apenas atiçou seu instinto predatório.Ele avançou outra vez, e Thea mal viu quando ele derrubou sua espada com um golpe preciso. A lâmina caiu na neve, e no instante seguinte, o
O impacto foi brutal, como um trovão quebrando o silêncio de uma noite de tempestade.O corpo de Althea afundou no colchão macio quando Rhaeven a lançou sobre a imensa cama de peles no centro de seus aposentos.O quarto do Alfa era espaçoso e imponente, com paredes de pedra escura adornadas por armas ancestrais e tapeçarias que contavam histórias de conquistas sangrentas. Tochas presas em suportes de ferro fundido lançavam sombras dançantes pelos cantos.Seu coração batia selvagem como um pássaro aprisionado contra as grades de sua caixa torácica, cada fibra de seu ser pulsando com o instinto primordial de lutar, de resistir.Antes que pudesse se mover, o Alfa estava sob