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A Noiva do Lobo
A Noiva do Lobo
Por: Ilea Riov
Capítulo 1 - A Caçada

"Se eu não o caçar, serei caçada."

As palavras reverberavam na mente de Althea Duvrai, um sussurro da própria lua, uma sentença cravada em sua alma desde o nascimento. Seu coração martelava contra as costelas, o ritmo acelerado ecoando na floresta, pulsando junto ao chamado inevitável.

Seus dedos envolviam o cabo frio da lâmina de prata—uma arma forjada por suas próprias mãos, selada com magia e com uma única gota de seu sangue.

O sangue amaldiçoado.

O sangue pelo qual a lua clamava.

O sangue da profecia.

A Lua de Sangue estava próxima.

Ela podia senti-la nas marés invisíveis que corriam sob sua pele, no arrepio gélido que subia por sua espinha, na brisa cortante que sussurrava seu nome entre os galhos retorcidos da floresta.

Naquela noite, a caçada começaria.

Nem mesmo sua capa vermelha, tecida com encantamentos antigos para ocultar seu cheiro, seria capaz de protegê-la agora. O véu da maldição havia sido rasgado. E ele sabia.

Ele sentia.

Em algum lugar entre as sombras e os uivos que dilaceravam o céu, Rhaeven Dravenhart esperava.

Althea sabia que não haveria fuga.

Ou ela traria ao fim o reinado do Alfa Supremo…

Ou sucumbiria a ele.

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A lua se erguia, imponente e faminta, tingindo o céu com um vermelho escarlate, a cor do sangue e da maldição. Seu reflexo brilhava nos olhos de Althea Duvrai, tão feroz quanto o destino que a aguardava. A mesma cor de sua capa, que a protegia do frio... e dos lobos.

Seu cheiro era seu maior inimigo.

Por mais que tentasse escondê-lo, sabia que naquela noite tudo mudaria. A Lua de Sangue se aproximava, e ele a sentiria.

Althea havia sido treinada desde a infância por Theon Morvain, o caçador que deveria ter sido seu carrasco, mas que, ao invés disso, a tornou uma guerreira.

Ele a ensinou a matar lobos.

A preparou para enfrentar seu destino.

Mas naquela noite, sob a lua cheia, ela estava distraída.

— Mais rápido, Thea! — A voz de Theon cortou o ar como uma lâmina. — Mais força! Mais precisão!

Ela girou a lâmina, mas não foi o suficiente. Num movimento ágil, ele desarmou seu golpe e a prendeu contra uma árvore, seu corpo pressionado contra o dela.

— Você está descuidada hoje, Thea. — murmurou, os olhos verdes como as profundezas da floresta fixos nos dela.

Althea respirou fundo, afastando do rosto uma mecha de cabelo branco como a neve, expondo o brilho dourado de seu olhar — um brilho que sempre o atraíra mais do que deveria.

A verdade era que Theon deveria tê-la matado.

Ela era um risco. A profecia era clara. Althea Duvrai traria a ruína — para os humanos ou para os lobos. Não havia outra escolha. Não deveria correr o risco.

Mas, desde que a conheceu, nunca conseguiu tirar os olhos dela. Talvez fosse egoísmo. Talvez fosse algo mais profundo, algo que sussurrava para que ele escolhesse a vida, ao invés da morte.

— A Lua de Sangue... — Althea murmurou, a respiração entrecortada pelo esforço. — Está chegando.

Theon ficou em silêncio por um instante. Ele já sabia.

Ele sempre soube.

Ele só não sabia se conseguiria protegê-la... ou se teria que ser ele a pôr um fim na profecia.

Mas, naquele momento, tão perto dela, sentindo seu cheiro, sua pele, sua presença intoxicante, só uma certeza o atravessava como uma lâmina afiada:

Ele não conseguiria deixá-la ir.

— Talvez… devêssemos fugir.  

Não era a primeira vez que ele sugeria aquela alternativa. Irem para o Reino da Neve Eterna ou o Reino da Rosa. Qualquer lugar que os levasse para longe dali. 

— Você sabe que não posso… 

E ela sempre respondia da mesma maneira. Sua avó se recusava a deixar a casa onde havia sido criada. Ysolde queria o melhor para sua neta, é claro, mas como Guardiã ela sabia que não adiantava fugir de seu destino. E Althea sabia o dela desde que aprendera a falar. 

Theon suspirou, afastando-se alguns passos. A distância era uma necessidade cruel, um lembrete constante de que jamais poderia tocá-la como queria. Não sem condená-los.

— Você sempre diz isso — murmurou, cruzando os braços. — Mas não é o destino que está te segurando aqui, é ela.

Althea o encarou, sentindo a verdade naquelas palavras. Sim, sua avó se recusava a partir. Sim, havia um dever a ser cumprido. Mas, no fundo, havia mais. Algo ancestral e inevitável queimando em suas veias, prendendo-a àquele solo como se tivesse nascido para sangrar nele.

— Eu pertenço a este lugar, Theon. — Sua voz saiu mais baixa do que pretendia.

Ele a fitou, os olhos carregados por uma sombra que não era apenas frustração, mas algo mais escuro. Algo próximo do medo.

— E se esse lugar for o seu túmulo?

O silêncio se instalou entre eles. Apenas o uivo distante dos lobos cortava a noite.

Calista apertou os dedos em torno do cabo de sua lâmina de prata, sentindo a pulsação da magia — de seu sangue — vibrar sob sua pele. Ela sabia que ele tinha razão. Desde o momento em que a profecia foi murmurada pela primeira vez, soube que sua vida sempre seria uma contagem regressiva para o inevitável.

— Ele já está vindo, não está? — murmurou, sem encará-lo.

Theon não respondeu. Ele não precisava. O aperto de sua mandíbula e a tensão em seus músculos diziam o suficiente.

Thea sentiu o frio se espalhar por sua espinha. Rhaeven Dravenhart já a estava caçando.

Ela ergueu os olhos para a Lua de Sangue, deixando que seu brilho vermelho incendiasse sua pele. Ele já sabia onde ela estava.

Ela sentia isso.

Ele sentia isso.

E a caçada havia começado.

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