Início / Lobisomem / A Noiva do Lobo / Capítulo 3 - O Presente
Capítulo 3 - O Presente

Como uma canção antiga que ecoava no canto da mente de Alhea, a profecia que ela sabia de trás para frente e até hoje não soube desvendá-la de outra maneira que não fosse a qual foi ensinada: Ou ela seria a caça ou seria a caçadora. 

Era claro para ela que se permitisse, o destino seguir seu caminho, teria a vida ceifada pelo Alfa. Theron a ensinou, a protegeu, a amou quando ninguém a amou. Todos fugiam de perto de Thea como se ela fosse a própria praga. Ela não se importava. Estava acostumada a não ter em quem confiar.

— Thea — a voz doce de sua avó chamou sua atenção enquanto ela desenhava com carvão em seu quarto. As pontas dos dedos sempre sujas de preto, manchando os cabelos alvos sempre que se distraía. 

— Sim, vovó — respondeu prontamente se colocando de pé. 

Ysolde não era apenas sua avó, era uma Guardiã. Uma mulher sábia a quem viam recorrer em tempos de necessidade e além disso ela havia sido a voz usada para decretar a profecia no momento em que Althea nasceu. 

— Você está pronta, menina? 

Althea demorou alguns instantes para entender o que a avó queria dizer com aquilo. Mas então olhou para as marcas na parede onde marcava os ciclos da lua. 

A Lua de Sangue anuncia um novo ciclo, um início e um fim.

— Estou. — respondeu confiante tirando a espada da parede. A lâmina de prata que serviria para matar o Alfa. Forjada com uma gota de seu sangue seria o suficiente para dar o fim na profecia. 

— Menina ingênua… — a mulher mais velha sorriu.  — Theon está aqui, te trouxe um presente.  

Os olhos dourados de Althea brilharam com a notícia. 

— Espere — pediu Ysolde — Também tenho algo para te dar, menina. 

Thea se conteve e então encarou a mulher com um olhar ansioso. Como se testasse a paciência da jovem, a mais velha esperou por um longo momento até finalmente dizer: 

— Poderia te dar o mundo, este seria meu desejo. Ou talvez uma vida livre de maldições. Mas o destino a escolheu e seria tolo exigir de você mesma ir contra o seu coração. — ela tocou no rosto de Althea com carinho e por fim disse:

— Quando chegar a hora, não ouça a razão. Seu coração saberá o que fazer. 

A jovem de cabelos brancos como os da mulher, suspirou e sorriu. 

— Obrigada, vovó. — ela ainda não sabia, mas aquelas palavras voltariam para assombrá-la.

Finalmente, Ysolde liberou a neta para que fosse até a sala. 

Thea usou o peso do próprio corpo para girar sobre os calcanhares, escapando da investida de Theon no último segundo. Seu movimento foi fluido, como uma dança bem ensaiada, e no instante seguinte, ela deslizou para trás dele, aproveitando a brecha para lhe desferir um golpe no abdômen com o punho fechado.

Theon recuou um passo com o impacto, mas se recuperou depressa. Ele sorriu de lado.

— Você já foi melhor.

Thea estreitou os olhos, um brilho travesso cruzando seu olhar dourado.

— Ou talvez você já tenha sido pior.

Sem lhe dar tempo para reagir, ela avançou, desferindo uma sequência rápida de ataques: um chute na lateral da perna, um soco que ele mal conseguiu bloquear e, por fim, um golpe certeiro no peito, empurrando-o para trás.

Theon cambaleou, mas no último instante segurou o pulso dela, puxando-a consigo.

Os dois rolaram pelo chão em uma confusão de membros e risadas contidas, até Theon conseguir prendê-la debaixo de seu peso, bloqueando seus movimentos.

— Rápida, mas previsível.

Thea bufou, tentando se soltar.

— Pesado, mas arrogante.

Ela revirou os olhos e, em um golpe baixo, fincou o joelho no abdômen dele.

— Maldição, Thea!

Ele rolou para o lado, gemendo, e ela aproveitou para se erguer de um salto, um sorriso vitorioso nos lábios.

— Eu sempre ganho, Theon.

Mas antes que pudesse se vangloriar, Theon agarrou seu tornozelo e a puxou de volta ao chão, fazendo-a cair sobre ele.

Os dois se encararam, os rostos próximos demais, a respiração entrecortada pelo esforço. A tensão elétrica entre eles era palpável.

— Saiam já daqui! — a voz de Ysolde explodiu como um trovão, quebrando o momento.

Thea e Theon se separaram às pressas, levantando-se em um segundo e correndo porta afora antes que a avó dela decidisse jogar algo neles.

Thea riu, ainda ofegante.  

— Acho que foi um recorde. Nem dois minutos e já conseguimos irritá-la.  

Theon cruzou os braços, inclinando a cabeça de lado, observando-a com um brilho travesso nos olhos.  

— Eu não fiz nada, você que começou.  

— Mentiroso.  

Ele riu, e por um instante, Thea sentiu uma leveza rara em seu peito. Mas logo a realidade voltou a se impor.  

A Lua de Sangue.  

A profecia.  

O Alfa.  

Ela desviou o olhar para o presente que ele trouxera, ainda embrulhado em um pano de linho escuro.  

— E então, o que é?  

Theon estendeu o pacote para ela. 

— Achei que precisaria de algo que a protegesse melhor.  

Thea franziu o cenho enquanto desamarrava o tecido, e seus olhos se arregalaram ao ver o que estava ali dentro: um bracelete de prata com símbolos entalhados à mão.  

— Isso é…?  

— Feito especialmente para você. Prata pura misturada com o meu próprio sangue. Se algum lobo se aproximar demais, ele vai sentir isso. — Theon sorriu, mas havia algo mais profundo em seu olhar. 

— Você colocou seu sangue nisso?  

— É um vínculo.  

Ela ficou em silêncio, os dedos passando pelo metal frio. Era um presente valioso, não apenas pelo material, mas pelo significado.  

— Obrigada, Theon.  

— Só me prometa uma coisa. 

Ela ergueu os olhos para ele.  

— Não morra hoje. 

Thea forçou um sorriso.  

— Eu sou a caçadora, lembra?  

Ela deslizou o bracelete no pulso e fechou os dedos ao redor da empunhadura de sua lâmina.  

O Alfa estava à sua espera. 

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App