A Garota Cega e o Delegado
A Garota Cega e o Delegado
Por: Júlia Rabelo
Capítulo 1

Lídia Martín

O vento batia pela minha pele, meu cabelo ruivo em um coque se desmanchava aos poucos por conta do vento forte.

Sentada em uma pedra lendo um livro, vejo meu pai William de longe brincando na areia com minha irmã Dafne, os dois riam e estavam muito felizes.

Admirei por uns segundos o mar, aproveitava o dia ensolarado em Newport pois era difícil dias quentes.

Continuei lendo o livro, viro pra trás ouvindo uma movimentação, vejo um carro preto e uns homens vestidos de preto saindo dele, olhei de volta ao mar e me deparo com minha irmã sozinha.

Comecei a andar em sua direção e quando faltava alguns passos, ouço um barulho alto e reconheço como tiro.

Procuro com o olhar para todos os lados meu pai mas não o encontro, e quando viro pra minha irmã eu paraliso, deparo com minha irmã caída no chão e ensanguentada.

Ouço outro tiro e dessa vez ele me atingiu, uma lágrima escorre lentamente e caio no chão.

Acordo chorando e assustada, percebo que era só mais um dos meus pesadelos.

Escuto passos vindo em em minha direção e ouço a voz da freira Maria.

ㅡ Querida, está tudo bem? Ainda são 5:00 manhã.

ㅡ Estou bem Maria, já vou voltar a dormir.

Fecho meus olhos, mas não consigo dormir.

Horas se passam e o despertador toca, que indica que são 7:00 da manhã.

Me levanto e pego minha bengala, que está ao lado da minha cama. Vou para o banheiro e faço minha higiene matinal.

Hoje é o dia que vou embora de onde as freiras me acolheram com muito amor, desde que me tornei uma garota orfã, desde que minha vida nunca mais foi a mesma.

Hoje faço meus sonhados 18 anos, e que começo a seguir minha vida por mim mesma e com independência.

Saio dos meus pensamentos e decido me vestir.

Vou em direção ao meu guarda roupa. As freiras arrumam ele de um jeito que eu possa decorar, onde estão cada peça e cores.

Na primeira gaveta está as calças jeans, na segunda minha blusas, e na terceira meus casacos de frio. E cada cor é indicada com papéis de texturas diferentes.

Sim isso é tudo que eu tenho, aqui em Newport é muito frio então isso pra mim já está ótimo e além de eu não ter condição de comprar mais roupas eu não me importo muito com isso. Pelo menos eu tenho um bom casaco de frio.

Pego uma calça jeans simples, uma blusa grossa, e um moletom que indica a cor preta com um papel de textura aspera.

Calço o meu único tênis, e começo a arrumar minha coisas, em uma mala que estava ao lado da minha cama, uma das freiras deve ter colocado pra mim.

Termino de colocar tudo na mala. Na mão esquerda eu seguro a mala e na direita a bengala, que me ajuda muito a andar, é como se fosse meus olhos, me sinto mais segura quando estou ela.

Abro a porta do quarto e ouço várias pessoas gritarem.

ㅡ SURPRESA!

Escuto a voz das freiras Maria, Ana e Benedita. E de outras garotas do Orfanato.

Coloco um sorriso na boca.

Estou muito feliz, de terem lembrando do meu aniversário.

Cada uma delas me dá um abraço longo e me parabenizam.

Maria começa a fazer um discurso.

ㅡ Hoje a minha menina Lídia , está fazendo seus 18 aninhos, está tão cresciada mas eu não consigo aceitar isso, pra mim ela ainda tem seus quase 15 anos de quando chegou aqui, tão inocente e passou por tanta coisa mesmo sendo tão nova.

Sinto lágrima pela minha bochecha, lembrando dos momentos ruins e dos bons. E de como eu fui acolhida por Maria, ela é como uma mãe pra mim.

ㅡ E é por isso minha linda, que eu com lágrimas nos olhos, e ao mesmo tempo feliz por você está seguindo os seus sonhos. Queríamos te dá um presente.

Ela diz com a voz chorosa.

Isso aperta meu coração.

ㅡ Eu não preciso de nenhum presente, só de ter todas vocês na minha vida, já foi um presente mais que perfeito.

Falo.

Maria coloca algo em minha mãos, e com meu tato consigo sentir que é um envelope.

ㅡ Oque é isso?

Pergunto confusa.

ㅡ É um envelope com um dinheirinho que todas nós juntamos para ajudar você com as despesas pelos menos nos dois primeiros meses morando sozinha.

A freira Benedita diz.

Eu inclino o envelope pra frente.

ㅡ Nada disso, esse dinheiro é de vocês, e eu já tenho umas economias, vou conseguir um emprego também.

ㅡ Minha querida, aceite por favor, não nos deixe mais preocupada do que já estamos.

Maria diz me abraçando.

ㅡ Está bem, eu aceito. Mas quando eu conseguir um emprego eu vou devolver tudo pra vocês. Está bem?

ㅡ Ok querida, já que você diz. Mas saiba que nós não nos importamos com o dinheiro.

A freira Ana diz.

ㅡ Acho que está na hora de eu partir.

Falo triste.

ㅡ Saibam que amo todas vocês com todo o meu coração e que eu irei visitar vocês.

Abraço todas novamente e vou pra fora com a ajuda da Maria onde o táxi já está me esperando.

Maria me dá um beijo na testa antes de eu entrar no carro.

Depois de uns 30 minutos no carro, o taxista fala que eu cheguei no local onde será a minha casa.

Ele sabendo da minha deficiência, desce do carro e me conduz.

Desço do carro, e começo a decorar quantos passos até a minha casa.

15 passos do carro até a frente do prédio, da porta do prédio são 6 passos até a escada, subo 3 andares, viro pra direita ando mais 12 passos e chego na porta da minha casa.

Tenho muita habilidade em decorar as coisas, acho que isso é um dom.

Fica muito mais fácil pra me locomover.

ㅡ Muito obrigada por ter me ajudado.

Agradeço o taxista.

ㅡ Não foi nada. Tchau.

ㅡ Tchau pra você também.

Aceno.

Ouço os passos dele se afastando até não ouvir mais nada.

Eu vou morar em um apartamento pequeno junto com uma colega de quarto. Vamos morar juntas pra dividirmos as despesas, assim será mais fácil. Eu ainda não a conheço.

Foi a Maria que combinou tudo em relação a onde vou morar.

Procuro no bolso da minha calça a chave e a encontro.

Passo a mão pela porta procurando o local de colocar a chave. Encontro, coloco a chave e a giro.

Abro a porta e está tudo em silêncio.

A garota não está em casa, deve estar no trabalho. Chega por volta das 16:00.

Entro no apartamento fechando a porta em seguida.

Deixo minha mala no chão e uso a bengala pra não bater em nada.

Ando uns 4 passos e sinto um sofá, passo uma mão por ele, e é muito confortável.

Passo pro lado e creio que seja um rack com uma TV.

Mais na direita entro em um local, logo descubro que é uma cozinha pois sinto o cheiro de Strogonoff, minha comida favorita. E também por que acabei batendo em uma geladeira.

Saio da cozinha e vou andando passando as mãos na parede.

Sinto que passei a mão e uma porta ando mais a diante e sinto mais duas portas. Provavelmente são dois quarto e um banheiro.

Acho melhor esperar a garota chegar e me falar qual é o meu quarto, não vou invadir a privacidade dela.

Sento no sofá esperando ela chegar.

Acabo pegando no sono por não ter dormido direito na noite anterior.

ㅡ Aí que droga, que mala é essa na frente da porta!

Acordo assustada e me levanto rapidamente.

ㅡ Quem está aí?

Pergunto.

ㅡ Oque você tá fazendo na minha casa?

A garota com voz alterada pergunta.

ㅡ Aí desculpa, sou a Lydia, vou dividir a casa com você.

Tentei explicar.

ㅡ Meu Deus! Eu tinha esquecido completamente, eu sou muito esquecida. Desculpa.

Ela fala e ouço os passos dela em minha direção.

ㅡ Vamos começar do jeito certo. Oi, meu nome é Júlia!

Ela diz entusiasmada.

ㅡ E o meu é Lídia.

Falo sorrindo.

ㅡ Seu nome é muito lindo, e o seu cabelo é incrível, é ruivo de verdade?

ㅡ É sim, mas tem gente que não acredita.

ㅡ Por que você não me olha nos olhos?

Ela pergunta.

Droga, eu pensei que a Maria já tinha falado que eu sou cega.

ㅡ Ah é que eu não enxergo.

ㅡ Nossa me desculpa mesmo, não fazia idéia!

ㅡ Tudo bem, a Maria divia ter te avisado.

ㅡ Mas isso não tem nenhum problema, eu adorei você.

ㅡ Eu queria saber onde é o meu quarto. Você pode me ajudar?

ㅡ Claro que sim, venha.

Ela envolve seus braços no meu e me leva até o quarto.

ㅡ Essa primeira porta é o meu quarto, a segunda banheiro, e por fim o seu quarto.

ㅡ Nele tem uma cama, guarda roupa e uma escrivaninha. Você pode decorar como você quiser, eu posso te ajudar.

ㅡ Muito obrigada!Mesmo que eu não possa ver eu quero muito deixar ele bonito e confortável. Amanhã a gente pode decorar?

ㅡ Sim. Amanhã estou de folga do restaurante aí a gente arruma tudo direitinho.

ㅡ Você trabalha com oque?

Pergunto.

ㅡ Sou garçonete em um restaurante, pra pagar o aluguel do apê. E faço faculdade de moda. E você?

ㅡ Meu sonho é me tornar advogada, vou começar minha faculdade semana que vem. E eu preciso de um emprego urgente.

ㅡ Nossa que incrível. Eu posso te ajudar a conseguir um emprego. Qualquer coisa eu falo você.

ㅡ Nossa muito obrigada.

ㅡ Agora é melhor você organizar suas coisas e se acomodar, vou te deixar sozinha, qualquer coisa é só me chamar.

ㅡ Ok.

Entro no quarto e fecho a porta.

A Julia é simplesmente incrível, ela é bem extrovertida e adorável, fiquei com medo de morar com alguém que não gostasse de mim ou visse minha deficiência como um problema, estou tão feliz!

Arrumo minha roupas no guarda roupa, e troco os cobertores da cama.

Estou cansada, já faz um tempo que estou organizando. Quando termino de arrumar tudo, ouço batidas na porta.

Abro a porta.

ㅡ Lídia, fiz uma janta de boas vindas pra você.

ㅡ Sério?

ㅡ Sim! Espero que você goste, quer ajuda?

ㅡ Não, eu já sei onde fica cada lugar e coisas.

ㅡ Uau.

Ela fica impressionada.

Ando até a cozinha e a Julia indica onde tenho que sentar.

ㅡ Eu fiz arroz, salada de tomate e macarrão ao molho branco. Espero que goste!

ㅡ Minha boca está salivando.

Ela ri.

ㅡ Pode comer, já fiz o seu prato.

ㅡ Está uma delícia!Acho que nunca comi um macarrão tão bom assim.

ㅡ Eu tenho uns dons de culinária.

Eu solto uma risada.

Depois que nós comemos eu lavei a louça já que a Julia já tinha feito toda a comida. Ela não quis que eu lavasse mas eu consegui convencer ela.

Nós combinamos de sair 10:00 da manhã para shopping comprar umas coisinhas pra decorar o meu quarto.

Depois de tomar um banho e escovar os dentes, visto meu pijama e vou direto pra cama.

Amanhã será um dia bem longo, estou com um pouco de medo de ir para o shopping e ansiosa ao mesmo tempo, espero que dê tudo certo.

Fecho os olhos e adormeço.

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