Capítulo 4

Dylan Hale

Já entrevistei cinco garotas, mas até agora não estou satisfeito com nenhuma, duas delas não sabem nada de assistente e as outras só vieram pra dar em cima de mim, até que eu gostei, mas eu preciso de alguém que realmente me ajude e não me atrapalhe.

A secretária Marisa me avisou que temos mais uma opção, mas já não estou muito animado.

Enquanto espero a garota chegar, resolvo terminar de preencher umas fichas que eu tinha que entregar ainda hoje.

Alguns minutos se passam e ouço alguém bater na porta. Creio que seja a garota.

ㅡ Entra.

Falo em um tom alto.

Continuo a preencher as fichas.

Escuto a porta abrir.

ㅡ A senhorita pode se sentar.

Falo enquanto termino a última palavra que falta na ficha.

ㅡ Oi, vim pra entrevista de emprego.

Escuto uma voz doce e delicada.

E meus olhos desviam das fichas até a porta.

Ela, a garota de cabelos ruivos e olhos verdes, a mesma que vi no shopping, está agora no meu escritório.

Depois de segundos a encarando, ela nem me olhou nos olhos.

Ela começa a andar em minha direção e percebo que usa uma bengala.

Oh droga eu sou muito burro, a garota é deficiente visual!

Quando vou me levantar pra ajudá-la, ela já chega a cadeira e se senta nela.

ㅡ Er... Eu não imaginava que...

ㅡ Que eu fosse cega?

Ela fala normalmente.

Resolvo mudar de assunto, já estou mais que constrangido.

ㅡ Enfim, qual o seu nome?

Tento manter a postura, afinal essa é uma entrevista de emprego.

ㅡ Lídia Martin.

O nome é mais que perfeito, acho que nunca vi ninguém chamada assim, é um nome o tanto peculiar.

ㅡ Então Lídia, acha que é apta para este trabalho?

Vejo sua expressão mudar pra raiva.

ㅡ O senhor acha que por eu ser cega eu não consiga trabalhar? Saiba que está muito errado se pensa assim, e outra é capaz de eu ter trabalhado muito mais do que muitas pessoas " normais".

ㅡ Eu não quis dizer isso.

Falo em um tom de raiva.

A minha paciência é simplesmente zero.

Vejo que ela tem a língua afiada.

ㅡ Eu sei que quis, enfim já estou acostumada.

Ela suspira.

ㅡ Você já trabalhou na área de assistente?

ㅡ Sim, eu já fui assistente da Madre Superiora, por uns 2 anos.

ㅡ Hum, eu preciso de alguém que me ajude a me organizar melhor, e que me ajude a não me atrasar e esquecer coisas que tenho que fazer, com tanto trabalho acabo sendo esquecido e perco compromissos muito importantes.

ㅡ Se esse for o problema, nem precisa se preocupar, sou muita boa em memorizar as coisas, nem preciso anotar. E tenha certeza que sou super organizada.

ㅡ Você memoriza facilmente?

Pergunto com desdém.

Só pode ser brincadeira.

ㅡ Sim, quer que eu prove?Leia um texto agora mesmo.

Sério isso? Não tô acreditando que estou perdendo o meu tempo.

Procuro um livro qualquer, e abro em uma página aleatória.

ㅡ “Aprenda a lidar com a solidão. Aprenda a conhecer a solidão. Acostume-se a ela, pela primeira vez na sua vida. Bem-vinda à experiência humana. Mas nunca mais use o corpo ou as emoções de outra pessoa como um modo de satisfazer seus próprios anseios não realizados.“

Olho para ela e vejo sua expressão pensativa.

Claro que ela não vai conseguir falar as mesmas palavras, só pode tá de brincadeira com a minha cara.

ㅡ Tá eu acho que você já pode ir...

ㅡ “Aprenda a lidar com a solidão. Aprenda a conhecer a solidão. Acostume-se a ela, pela primeira vez na sua vida. Bem-vinda à experiência humana. Mas nunca mais use o corpo ou as emoções de outra pessoa como um modo de satisfazer seus próprios anseios não realizados.“

Ela repete tudo perfeitamente.

ㅡ Como é possível?

ㅡ É nem eu mesma sei como é possível.

ㅡ Precisarei enviar emails e você terá que ter um computador, como que...

ㅡ Ah isso não é um problema, com a ajuda de um programa que lê em voz alta cada palavra escrita numa página de internet eu posso fazer qualquer coisa, e eu era a melhor aluna na matéria de informática no ensino médio. E trabalhei no escritório da minha escola também por alguns meses.

ㅡ Está bem, eu acho que você é a única opção que tenho, você está contratada.

ㅡ Sério mesmo?

Ela me pergunta surpresa.

ㅡ Sim, você pode falar com a Marisa minha secretaria, para você assinar o contrato.

ㅡ Ok, muito obrigada.

ㅡ Posso ir?

ㅡ Precisa de ajuda?

ㅡ Não, eu já memorizei o caminho.

ㅡ Pode ir, te vejo amanhã às 8:00.

Ela se levanta e sai sendo guiada pela bengala.

Quando ela fecha a porta, solto o ar, acho que segurei minha respiração por muito tempo.

Eu nunca imaginei que a garota do shopping não enxergasse, estou até agora chocado. E ela me pareceu a mais clalificada pro cargo mesmo sendo deficiente visual. Ela me trouxe confiança, espero não ter errado a minha escolha.

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