Dezesseis anos depois
Inglaterra, 1841
Ser filha de um duque trazia inúmeros benefícios e, talvez, algumas liberdades que outras damas inglesas jamais poderiam aproveitar, sem que fossem rechaçadas pelas matronas que regiam quem deveria ser aceito, ou tornar-se pária da sociedade. Junto dos benefícios vinham grandes responsabilidades, já que a imagem da família era um espelho para toda a nobreza. Algumas damas conseguiam tornar-se em duquesas, o que daria uma certa autonomia para as felizardas, mas não uma real liberdade, pois mesmo estando abaixo apenas da realeza, nem todos os duques possuíam grande influência na sociedade. Alguns estavam afundados em dívidas devido à má administração de suas heranças, ou pela falta de adaptação às mudanças advindas da modernização, seja na agricultura ou nas minas.
O que muitos não entendiam, era que ser filha de um duque não bastava para que uma jovem como Ravenna tivesse toda a liberdade que desejava, qualquer duque inglês não seria suficiente para seu espírito. A única maneira de conseguir viver suas aventuras e realizar seus sonhos, era ter nascido filha de James Prescott Russel Aldwin Osborne, o sexto Duque de Northumberland. Um dos maiores diplomatas de sua época. Um homem que entendia a complexidade do sexo feminino, acolhia e incentivava o senso crítico de seus dois filhos, educando ambos igualmente e os preparando para lutar pelo que acreditavam.
Quando Ravenna nasceu, seu pai ainda não dispunha do título de duque, porém, semanas após Ravenna completar sete anos de vida, o irmão de James, John, morrera precocemente ao ser catapultado por seu cavalo e ter o pescoço e a coluna quebrados em vários pontos. O falecimento de John fora uma tragédia inesperada para toda a sociedade que o tinham em alta estima, o que causou tamanha comoção a ponto de dias depois levar o quinto duque, avô de Ravenna, para o túmulo. Deixando assim, todo o extenso ducado nas mãos de James, que preferia ser tudo, menos um duque. Joseph, o irmão caçula, odiava a ideia de assumir a responsabilidade, preferindo viver uma vida de aventuras explorando cidades perdidas em outros países. O caçula Osborne detestava o pai então nem se deu ao trabalho de voltar à Inglaterra para o velório, parabenizou o irmão através de uma carta sincera e continuou com suas viagens. Depois dessa terrível tragédia, James retornou à Inglaterra com a família para assumir o lugar de seu pai e de seu irmão.
Na semana anterior ao seu aniversário de dezesseis anos, Ravenna decidira cavalgar com sua melhor amiga, Eva, e uma prima da parte de sua mãe que viera para seu aniversário. Como suas propriedades eram vizinhas, podiam encontrar-se sempre que desejassem. Eva, ou senhorita Mela, como Ravenna costumava chamá-la, era considerada como membro honorário da família Osborne, autorizada a chamar o duque e a duquesa de “tio James” e “tia Mary” — o que era uma honra e tanto considerando a posição social em que estava — e a chutar a canela do herdeiro ducal quando este resolvia importunar as jovens com suas histórias sobre grandes filósofos e um tal de Platão. Eva era um ano mais velha do que Ravenna, considerava os Osborne como parte de seu lar e amava a dinâmica familiar que os pais da amiga decidiram adotar. A amizade dos Osborne e dos O’Hara surgira anos antes do nascimento de suas filhas, James sempre investira em novas indústrias e resolvera investir na fábrica O’Hara, o que o aproximou de Dominic, criando um forte laço de amizade entre os dois homens. A amizade da geração anterior prolongou-se até as filhas, que formaram uma dupla inabalável composta pelas duas personalidades mais distintas da Inglaterra.
— Eu decidi que este ano dedicarei mais tempo à leitura. — Disse Ravenna, enquanto trotava suavemente pelo campo.
Eva a olhou atônita pela revelação feita pela amiga e disse:
— Você? Dedicando-se à leitura mais do que antes? — Eva riu e rebateu em tom debochado — Acho mais fácil você pintar vinte quadros em dois dias do que passar uma tarde agarrada a um livro.
— Dio mio... está me chamando de ignorante, senhorita Mela? — Ravenna a recriminou a chamando por seu apelido que significava maçã em italiano.
Eva caiu na gargalhada ao contemplar o olhar de reprovação de Georgiana, que interveio para tentar amenizar os ânimos das amigas e ainda ofereceu um olhar de reprovação à Eva ela dizendo:
— Rave, acredito que o que ela quis dizer, é que você é uma pessoa dada mais às artes plásticas do que a literatura, o que não é uma ofensa. Não seja tão afetada, querida prima.
Ravenna riu ao observar a prima tentando apaziguar seus ânimos e respondeu:
— Acalme-se, minha querida prima. Eu apenas fingi estar ofendida. — Com um tom de voz desdenhoso ela prosseguiu — Não poderia me ofender sabendo que Mela diz a verdade. Não é mesmo, querida? — Ela enviou um beijo a Eva através do vento e piscou o olho esquerdo em um flerte coquete.
Georgiana balançou a cabeça em sinal de desistência, aquelas duas eram impossíveis. Não conseguia desvendar quando falavam sério ou apenas implicavam uma com a outra.
— Rave, conte-nos o motivo de sua nova devoção ao mundo literário. O que pretende ler? Filosofia ou romances? — A prima questionou.
— Georgie, minha querida florzinha. Não lhe ensinaram que uma mulher em busca de um bom casamento jamais deveria ler filosofia, ou livros que abram os olhos femininos para a verdade de que somos tão humanas e criaturas de Deus como qualquer homem? — Ravenna disse em total cinismo. — Jamais leria livros que me impediriam de ser uma mula adestrada por um homem tapado, que ultraje...
Eva soltou uma estridente gargalhada, que logo impulsionou as outras a juntar-se a ela.
—Ravenna, você definitivamente não vale uma libra sequer, quem dirá um xelim. — Eva disse, secando as lágrimas dos olhos. — Não sei como acreditei em sua dedicação à leitura por um breve momento, talvez seja porque tio James vive pedindo para que você leia pelo menos alguns textos esclarecedores. Há uma quinzena ele lhe entregou alguns livros sobre modernização da agricultura, e lembro de você tê-los esquecido “acidentalmente” na sala privativa de tia Marissa.
— Sim, eu sei. Não pense que não dou ouvidos às palavras de papà. — Ajeitando uma mecha de cabelo rebelde que escapava de sua trança ela continuou:
— Eu leio todos os livros que ele me pede, apenas demoro mais do que uma pessoa habituada a ler diariamente. No último mês li Oliver Twist graças a grande importunação de meu irmão. Não posso negar o quão excelente é a narrativa e como ele consegue mostrar a realidade da nossa sociedade através de um romance.
As duas jovens contemplaram Ravenna como se estivessem surpresas por ela sequer conhecer Charles Dickens, e mais ainda por ter gostado de um de seus livros.
— O que foi? Realmente acham que não possuo sequer um pequeno conhecimento literário? — Bufando ela desmontou de seu cavalo e atrelou as rédeas a um galho baixo próximo ao rio.
— Perdoe-me, Rave. Não sabia que vinha dedicando-se aos livros, achei que gastasse seu tempo livre pintando ou cavalgando. — Georgiana deu de ombros, relembrando a preferência da amiga por atividades ao ar livre — Não passo tanto tempo com vocês como gostaria. Sabe que minha mãe prefere que eu fique em casa bordando e praticando canto.
As amigas seguiram o exemplo de Ravenna e desceram de suas montarias para aproveitar a brisa leve e a sombra.
— Esquecem que li todos os livros publicados de Austen? Até mesmo meu irmão emocionou-se ao saber que eu concordava com sua opinião a respeito do Sr. Darcy. — Deitando na grama ela concluiu sua defesa — Vocês me envergonham ao subestimar minha capacidade de dedicação à leitura.
Eva deitou ao lado de Ravenna e a abraçou para consolar a amiga, enquanto a outra dama sentou na grama educadamente.
— Não fique assim, minha amiga. Nós a amaríamos mesmo que fosse estúpida feito uma porta, o que não é o caso já que você se destaca por sua brilhante mente maquiavélica. — Tirando um embrulho de um dos bolsos de sua saia Eva entregou uma pequena caixa a Ravenna contendo uma pulseira de prata, com um pingente retangular preso nas laterais pela fina corrente. Aproximando o pingente Ravenna consegue enxergar as iniciais “R.E.” gravadas na parte interior enquanto uma rosa adornava a frente.
— Eva! Esse... — com os olhos cheio de lágrimas e a voz embargada Ravenna tentou continuar — Oh mia cara amica! Esse é o presente mais lindo que já ganhei! Não precisava comprar nada, sabem que a única coisa com a qual me importo é a presença de vocês.
Eva estica o braço direito na direção da amiga e a pulseira reluz em seu pulso robusto.
— Também tenho um. Achei que seria um presente digno de nós, para honrar a amizade e o carinho que temos uma pela outra.
Georgiana contempla a demonstração de carinho entre as duas e sente-se feliz pela prima, por ter encontrado alguém como a senhorita O’Hara para compartilhar uma amizade.
— Estamos todas crescendo, não é? Logo estaremos casadas e com filhos. — Georgiana suspirou. Ravenna riu e levantou, depositando um beijo na testa de sua prima.
— Fale por você, Georgie. Eu não acredito que casarei logo. Se bem que... — Ravenna abriu um sorriso de lado e começou a enrolar uma mecha de seu cabelo — Tia Susannah virá para meu aniversário e trará nossos primos dessa vez. Quem sabe Cameron não está mais bonito ainda e propenso a um casamento entre família? — Ela debochou.
— Casaria com nosso primo? — Georgiana questionou, surpresa pelas afirmações da prima. — Não seria estranho, já que somos parentes diretos?
— Non. O que nos impediria? Não somos irmãos. Muitos primos casaram-se no Livro Sagrado. Por que não poderíamos fazer o mesmo? — Acenando despreocupadamente na direção da prima, ela continuou. — Não se preocupe. As chances de acontecer algo entre nós dois são tão grandes quanto as de Jaden casar-se com Meredith.
As três riram outra vez pois sabiam que Jaden, o cavalariço de Ravenna, nutria sentimentos até então não correspondidos pela criada.
— Ora, não seja tão cruel com Jaden, quem sabe algum dia Meredith se rende aos encantos daquele belo jovem alto e atraente... ele é um cavalariço e tanto. — Eva disse, relembrando a vez em que o viu tomando banho no lago sem roupa alguma. — Que sorte sua criada tem por Jaden ser completamente apaixonado por ela...
— Eva O’Hara! Não acredito que está suspirando pelo criado de Ravenna! Conhecemos Jaden desde crianças. — Georgiana empertigou-se, achando cômico que qualquer uma delas pudessem olhar para o rapaz daquela forma.
— Georgiana, se tivesse visto o que eu e Rave vimos no último verão, não pensaria dessa forma. Aliás, posso afirmar que a maturidade fez muito bem ao nosso amigo. — Eva a informou sem nenhuma timidez e Ravenna acenou em concordância.
— Não consigo enxergá-lo dessa maneira, porém, admito que o tempo fez bem a ele. — Ravenna disse, dando crédito à Eva.
— Por falar no rapaz, aquele não é Jaden correndo em nossa direção? — Georgiana apontou, estreitando os olhos para tentar enxergar melhor o jovem que se aproximava.
— Ra-v-ven! P-p-precisa v-voltar i-m-media-t-tamente! — O rapaz conseguiu dizer ao se aproximar o suficiente para ser ouvido. — Lady S-s-susannah cheg-g-gou antes do p-previsto e a aguarda no c-c-castelo.
Ravenna levantou do chão em um pulo surpresa pelas notícias, e limpou a grama de suas calças.
— Tia Susan já está em Alnwick? Dio mio! Por que não me avisaram antes?
Passando uma mão no cabelo castanho claro desgrenhado enquanto apoiava a outra na cintura, o jovem esguio disse:
— E-e-eu não c-c-consegui achá-la antes. — E então ele abriu um belo sorriso envergonhado.
— Olá Jaden. Anda tomando muitos banhos no rio? — Eva perguntou em tom de deboche para implicar com o jovem que, ao ouvir aquelas palavras, logo ficou ruborizado ao relembrar o dia que foi apanhado nu pelas duas jovens.
— O-olá senhorita Eva. — O rapaz disse, timidamente. Voltando-se para a outra jovem ele a cumprimenta de igual modo.
— Deixemos as cortesias por ora. — Ravenna olhou para a amiga. — Eva, pare de constranger este pobre jovem inocente. Não corrompa meu amigo se não tem intenções de desposá-lo em seguida.
—Tudo bem, perdoe-me por abusar de tão inocente alma. — Eva riu.
— Minha adorável amiga, agradeço imensamente por esta manhã gloriosa em sua companhia, mas receio ter de partir imediatamente. Aguardarei sua presença para o jantar de meu aniversário e a matarei se não comparecer!
E assim Ravenna partiu de volta ao lar ancestral da família com Jaden a reboque na sela de seu cavalo, e a prima cavalgando em uma sela lateral alguns metros atrás. O rapaz agarrava-se a Ravenna fazendo uma prece para que pudessem chegar vivos ao castelo, enquanto a amiga cavalgava como se estivesse em uma corrida de puros-sangues árabes.
Completar dezesseis anos não era tão terrível quanto Ravenna esperava, sua vida continuava a mesma, talvez pudesse dizer que sua fluência em italiano melhorou consideravelmente, a ponto de pegar-se misturando idiomas em momentos de grande excitação ou nervosismo. Desde que viera morar na Inglaterra, dedicara-se a aprender a língua do país onde nascera e vivera na infância. Via essa busca como uma forma de se manter conectada ao lugar que a recebeu em sua primeira noite fora do ventre de sua mãe. Seu pai adorava sua mistura de palavras e seus trejeitos na fala, já sua mãe a achava excêntrica e sempre a lembrava que precisava adequar-se mais ao padrão inglês.Para muitas jovens, chegar aos 16 anos poderia significar que estavam próximas de serem leiloadas como éguas premiadas à futuros maridos, todavia, para ela, era como completar quinze anos,
O dia ainda não havia amanhecido quando Ravenna acordou e notou o espaço vazio deixado por Cameron ao seu lado. A noite anterior fora um grande sonho, Ravenna a descreveria como fenomenal. Sentira dor no início, mas após alguns instantes sentia-se no paraíso e Cameron proporcionara a ela uma primeira noite repleta de paixão e prazer. Sentando no colchão, ela se perguntou onde estaria seu futuro noivo. Como se tivesse sido invocado pelos pensamentos de Ravenna, Cameron abriu a porta e entrou no quarto completamente vestido com um traje de viagem. Achando estranho que o homem estivesse pronto para partir do castelo quando, na verdade, deveria estar deitado nu ao seu lado, ela usou o lençol para cobrir-se e colocou um uma mecha de cabelo atrás da orelha. Sentindo um frio percorrer seu estômago e sua espinha, ela disse:— Por que está usando um traje de viagem? Aconteceu alguma c
Londres era uma das cidades mais famosas de todo o mundo, o ponto principal de todo o Reino Unido e, por consequência disto, o covil da aristocracia britânica. Durante a alta temporada a cidade fervilhava de pessoas da nobreza. Eram ofertados centenas de bailes, jantares e saraus a fim de reunir a famosa nata da sociedade para conversar sobre o clima e assuntos dentro das regras de etiqueta — pelo menos era isso que gostariam que acreditassem. Na realidade, tais eventos eram uma excelente oportunidade para saber grandes fofocas, pequenos boatos e mexericos simples que circulavam por entre a nobreza. Era assim que descobriam e decidiam suas vítimas, quais damas e cavalheiros deveriam ser evitados e até mesmo desprezados e relegados ao ostracismo. As damas desfilavam as obras da última moda de boutiques renomadas, enquanto os cavalheiros gastavam milhares de libras apostando em corrida de cavalos, clubes de jogatina e bordéis. Oh sim, havi
Na semana seguinte ao baile, Ravenna caminhava pelo Hyde Park na companhia de Meredith e as duas conversavam sobre a saudade que sentiam de Eva e tio Dom. A amiga não costumava ir a Londres com frequência assim como o pai, e Ravenna lamentava os meses que passava longe da companhia deles. Por algum motivo anormal, este ano sentia-se ainda mais solitária. Parecia até que sua mãe havia jogado uma praga sobre ela.—Esta temporada está tão tediosa que eu preferia ouvir Berlin recitar poesia do que comparecer aos eventos — Ela disse frustrada. — Era para ser uma temporada mais animada agora que Georgie juntou-se a mim, mas ao contrário disso, não a vejo há semanas.— O Lorde misterioso não apareceu outra vez? — Meredith perguntou.— Não. Não sei o que ele pretendia, mas não per
Na Temporada SeguinteDepois de muitos meses pensando e elaborando uma proposta decente de compromisso, Ravenna estava pronta para debater com Anthony sobre um possível noivado. Decidira mudar as regras do jogo a seu favor, para que pudesse garantir a si mesma caso seu futuro marido não fosse quem dizia. Esquematizando os tópicos do novo acordo, ela esperava tirar Anthony do eixo e assim fazê-lo desistir do enlace, mostrando que o homem era como todos os outros. Caso ele ainda a quisesse, saberia que falava sério sobre suas preferências.Optara por montar um contrato a parte do comum, feito pelo pai da noiva e o noivo, e especificar todas as suas vontades. Como por exemplo, Anthony não poderia dormir com mulheres fora da nobreza, não se incomodaria que ele tivesse amantes dentro da nobreza, contanto que fosse seguro e discreto. Seu
Era uma linda manhã de primavera quando Beline entrou no quarto de Ravenna gritando animada para que a jovem acordasse. Jogando-se na cama e puxando as cobertas de Ravenna, ela chamou insistentemente por seu nome, a mulher acordou de mau humor prometendo esganá-la caso não saísse de cima de suas pernas.Agora desperta, Ravenna perguntou a Beline o que dera na cabeça dela para entrar no quarto como se fosse um furacão acordando até mesmo os espíritos de seus antepassados. A jovem ruiva riu por debaixo da confusão encaracolada de seus cabelos, e em um entusiasmo contagiante lhe contou sobre o canal que vira da janela do quarto escolhido para ela.— Oh, sim. Sabia que apreciaria a vista. Aquele é meu quarto, deixei para você já que possui uma das melhores vistas em todo o castelo. Meu bisavô mandou fazer o canal dentro dos limites da propriedade
A noite era fria, a mais fria desde que o outono começara a colorir as folhas das árvores em tons de vermelho. A chuva caía com a força de um dilúvio e os trovões lançavam clarões capazes de anunciar o próprio fim dos tempos. Não havia estrelas ou lua para iluminar a escuridão que pairava em Alnwick, se não fosse pelas poucas velas espalhadas pelo quarto e os raios cortando o céu, seria impossível enxergar qualquer objeto que fosse. As duas mulheres dormiam juntas na mesma cama quando tudo começou. Beline acordara sentindo dores e percebeu que sua camisola estava molhada, no entanto, não conseguiu identificar de onde vinha o líquido. As dores pareciam aumentar de tempo em tempo, a cada minuto de dor a sensação de que estava prestes a ter seu corpo rasgado de dentro para fora a fazia querer urrar. Tentando respirar fundo e acalmar-se para não ass
A manhã seguinte ao nascimento da menina começava a clarear o quarto de James e Marissa, onde Ravenna tentava dormir, mas sem sucesso pois acordara inúmeras vezes durante a noite suada e ofegante, relembrando as horas de terror passadas ao lado de Beline. Ela decidiu, então, levantar da cama e lavar o rosto para checar a bebê que dormia com a criada no andar de baixo. A criada insistira para ficar com a menina mesmo Ravenna determinando que ela precisava descansar. Andando em direção ao lavatório, ela parou sentindo as pernas fraquejarem e repousou a testa na grande porta de madeira escura do quarto de banho. “Era difícil”, pensou, “continuar sem Beline era uma tarefa muito difícil”. A dor não parava de queimar em seu peito, seu coração sempre em constante agonia. O único motivo de segurar as lágri