CAPÍTULO DOIS

Completar dezesseis anos não era tão terrível quanto Ravenna esperava, sua vida continuava a mesma, talvez pudesse dizer que sua fluência em italiano melhorou consideravelmente, a ponto de pegar-se misturando idiomas em momentos de grande excitação ou nervosismo. Desde que viera morar na Inglaterra, dedicara-se a aprender a língua do país onde nascera e vivera na infância. Via essa busca como uma forma de se manter conectada ao lugar que a recebeu em sua primeira noite fora do ventre de sua mãe. Seu pai adorava sua mistura de palavras e seus trejeitos na fala, já sua mãe a achava excêntrica e sempre a lembrava que precisava adequar-se mais ao padrão inglês.

Para muitas jovens, chegar aos 16 anos poderia significar que estavam próximas de serem leiloadas como éguas premiadas à futuros maridos, todavia, para ela, era como completar quinze anos, apenas mais um aniversário. A grande diferença era que agora seu corpo se parecia mais com o de uma jovem mulher do que antes. Não precisava usar roupas provocantes para realçar suas curvas e seu busto, nem poderia, pois seus pais não permitiriam que se exibisse de maneira sensual sendo ainda tão jovem. O mais leve e delicado dos tecidos e o mais sutil dos decotes já eram suficientes para dar a Ravenna um ar sedutor. Por mais que tentasse passar a imagem de mais pura inocência, seus grandes olhos escuros esbanjavam uma irreverente inteligência e autoconfiança. E seu primo, Cameron Stokehouse, ao longo da semana passada em Alnwick, notara o quão bem a jovem dama havia crescido, e ocasionalmente flertava com ela. Era difícil desviar o olhar daqueles seios perfeitamente emoldurados pelo espartilho e a forma como um colar de esmeraldas realçava a beleza daquele busto a cada respiração de Ravenna.

Ravenna sentava-se ao lado de Cameron na grande mesa de madeira nobre no salão de jantar — que a duquesa fizera questão de organizar em todo seu esplendor para o evento daquela noite — e beliscava um pedaço da codorna em seu prato quando notara o olhar malicioso do jovem sobre ela. Ravenna não considerava a si mesma uma dama inocente, alheia aos flertes que aconteciam entre um homem e uma mulher, conversava com as criadas mais experientes e até mesmo com seu pai. Já havia beijado alguns rapazes desde seus quatorze anos e sabia o que acontecia no quarto de um casal. Dera seu primeiro beijo em seu amigo Jaden, em uma tentativa de entender como funcionava aquela complexa dinâmica entre duas pessoas, como vira seus pais fazerem diversas vezes. O cavalariço jamais esquecera tal experiência e a classificava como a mais nojenta de sua vida, o que Ravenna concordava plenamente. Beijá-lo fora como beijar Berlin, o que era tão nojento quanto beijar um porco sujo de lama. Mas ela precisava aprender o que fazer para então cortejar o filho de um dos arrendatários de seu pai, um rapaz dois anos mais velho, loiro de olhos castanhos, orelhas avantajadas e com duas perfeitas covinhas nas bochechas, as quais faziam Ravenna suspirar só em vê-las. O romance terminou em apenas uma tarde após Ravenna beijá-lo e descobrir que o rapaz tinha o hálito de um defunto cremado.

— O que passa pela sua mente, minha doce prima? — Cameron a interrogou com seu sotaque americano, retirando Ravenna de seus pensamentos.

Às vezes Ravenna esquecia que Cameron era, de fato, americano. O primo não era como ela, que nascera na Itália, mas fora criada boa parte da vida na Inglaterra. Sua tia Susannah — irmã gêmea de Marissa — casou-se com Colin Stokehouse, um americano rico e dono de inúmeras fazendas, e mudou-se para a América antes de engravidar. Desde então viera poucas vezes para casa visitar a família.

— Apenas pensando em situações do passado, mio caro. — Ela rebateu, mantendo o tom divertido. — O que está achando do jantar e da ornamentação do salão? Espero que na América façam codornas tão suculentas como aqui.

Cameron abriu um pequeno sorriso de lado, mostrando seus dentes perfeitamente alinhados e, colocando uma mecha de seu cabelo castanho avermelhado atrás da orelha, ele disse:

— Jamais comi uma codorna tão bem preparada como esta, de fato, o molho está divino. O que puseram nele? — O rapaz prolongava o assunto, seguindo as convenções.

— Laranja, mel e algumas especiarias que a adorável Sra. Senfield jamais revelaria. — Berlin, que ocupava o lugar do outro lado de Cameron, introduziu a si mesmo na conversa sem notar que o tópico era um pequeno flerte entre a irmã e o primo.

 — Mamãe mandou pintar o salão nesse tom de verde folha, pois acredita que dará aos convidados a sensação de comer ao ar livre. Nosso pai discordou da ideia, no entanto não a impediu de reformar o ambiente. Mantivemos todos os adornos em ouro e a tapeçaria. Alguns móveis foram substituídos, porém, os mais importantes não foram tocados. Nossa mãe manteve todas as pinturas, ela as considera ícones artísticos — Rindo ele continuou seu relato sobre a mudança no salão sem notar o desinteresse do primo — e alguns de fato o são. Acima da lareira de mármore temos um ícone italiano que nosso pai recebeu de presente enquanto ainda estávamos na Itália.  

Cameron lançou um olhar desdenhoso à Ravenna, mostrando seu desinteresse em continuar um diálogo com Berlin.

 — Claro, eu deveria ter imaginado que havia laranja. Que cabeça a minha... Obrigado por seu incrível relato sobre a reforma, não poderia ter sido mais detalhado.  — Cameron sorriu, fingindo estar envergonhado e então agradecido. O jovem americano tentou manter algum assunto com Ravenna sem que o primo os interrompesse.

  — Soube por sua mãe que aprimorou ainda mais seu dom em pintura. Gostaria que me levasse a um tour para poder apreciar suas obras, o que me diz?

 — Pelo que me lembro, minha mãe mostrou os quadros de Rave a você há alguns dias.  — Berlin parou o garfo com um pedaço da ave no meio do trajeto até a boca, confuso pelo pedido do primo para um segundo tour.

 — Bem lembrado. — Ele respondeu, impaciente com as intromissões do jovem primo. — Mas receio não ter aproveitado o passeio, pois estava com uma terrível dor de cabeça. Acredito que um tour guiado pela autora das obras será muito mais esclarecedor. — Ele olhou para Ravenna e levantou uma das sobrancelhas em tom provocativo — Não concorda, milady?

A jovem sorriu, entendendo que ele gostaria de lhe falar algo em privado e então acenou a cabeça em concordância, explicando a Berlin que não haveria problema algum passear com seu primo por sua sala de pintura na tarde seguinte.

Eva tentou desvencilhar a atenção de Berlin da irmã e iniciou uma conversa com o rapaz sobre alguns livros que lhe foram recomendados. O que prendeu a atenção dele no mesmo instante, dando a Ravenna mais espaço para dialogar e entender as intenções do jovem Stokehouse.

 — Você mudou bastante, Stokehouse. O que originou seu atual interesse por qualquer assunto relacionado a mim? Lembro bem que costumava evitar-me quando vinham nos visitar. — Ela o interrogou, descrente sobre o repentino interesse do primo, mas interessada em saber o que ele responderia.

 — É simples. Antes você era infantil demais para despertar qualquer interesse meu, agora enxergo em você uma mulher formada e quem você se tornou me agrada.  — Ele disse sucinto. 

 — Capisco...  — Ela balançou hesitante o talher no prato. Sem realmente entender se o primo queria dizer que agora estava apaixonado por ela, ou se apenas se tornara interessante. Haviam tantos convidados à mesa que as conversas paralelas abafavam sua conversa com Cameron, o que era ótimo.

Seus pais aceitaram seu pedido para que não realizassem um baile em sua homenagem. No entanto, Lady Osborne jamais deixaria o aniversário de sua filha passar sem uma comemoração, trocando o baile por um modesto jantar em família para sessenta pessoas. Ravenna conhecia quase todos que vieram prestigia-la. O Marquês de Riverdale sentava próximo a eles, assim como a marquesa e dois filhos do casal. Seus tios sentavam próximos a sua mãe e Dominic, com quem conversavam fervorosamente sobre negócios. Eram tantas pessoas, pensou. Sentia-se como alguém realmente importante, alguém da realeza — que por sinal também marcara presença enviando um representante que era amigo de James desde a infância. Ravenna dera graças a Deus pela rainha não comparecer. Seu pai era um amigo próximo dos governantes e sua família encontrara-se com a realeza mais vezes do que Ravenna gostaria. Ela não nutria uma amizade pela rainha, as duas possuíam opiniões distintas em tudo, concordavam apenas sobre chá e biscoitos amanteigados. Ravenna não a considerava uma má pessoa, acreditava que a soberana precisava enxergar o mundo sob uma ótica diferente, além dos rigorosos conceitos morais que ela decidira adotar. Mesmo assim, as duas respeitavam suas diferenças e a jovem Osborne seguia estritamente o protocolo quando estava em sua presença. Enquanto debochava de toda a situação em seus pensamentos, é claro.

Erguendo o olhar e buscando seu pai, que ocupava a cadeira na ponta da mesa, lhe deu um pequeno sorriso. James piscou um dos olhos para ela e ergueu levemente uma taça de vinho em sua direção, saudando a filha pelo seu dia.    

O jantar havia terminado e Ravenna decidira passar algum tempo sozinha na varanda de seu quarto, observando as estrelas depois de suas amigas partirem. Adquiriu este hábito quando criou maturidade o bastante para entender o que significava a morte, e que sua irmã mais velha havia morrido sem que Ravenna jamais a tivesse conhecido. Seus pais diziam que ela possuía o mesmo cabelo escuro como azeviche de Ravenna e os olhos claros de James, diferente de seus próprios intensos olhos castanho-escuros. Ela sabia que seus pais sempre depositavam uma rosa branca sobre a lápide de Paris todo ano no aniversário de sua morte, para lembrá-la do quanto a amavam. Fora uma decisão fácil para ambos a escolha de realizar o translado de Paris para o jazigo da família na Inglaterra para que ficassem próximos. Não conseguia sequer imaginar o que sentiam por lamentar a morte de uma filha em um dia e na manhã seguinte comemorar o nascimento da outra.

Enquanto contemplava as estrelas, Ravenna sentiu uma pedrinha acertá-la em cheio na testa. Soltando alguns impropérios em italiano, ela se debruçou sobre a sacada para olhar quem seria condenado à morte ao amanhecer.

 — Olá novamente, Lady Osborne. — Cameron abriu um sorriso sedutor.  — Acredito que não está tarde para um passeio no jardim, ou está?

Ravenna não ligava para formalidades no geral, muito menos entre familiares. Então ignorou a polidez de seu primo e dirigiu-se a ele por seu nome de batismo.

 — Cameron! Acertou uma pedra na minha testa em uma tentativa de me cortejar? — Massageando o local atingido com a ponta dos dedos, ela continuou — É assim que cortejam as damas na América? Lembre-me de levar comigo algum chapéu para me proteger de jovens românticos como você.  — Ela bufou em tom jocoso.

 — Ora, minha prima. Peço perdão se a machuquei. Por que não desce aqui para que eu possa analisar a ferida mais de perto, e massagear onde estiver dolorido?

 — Oh, lo faro’. Sim, eu farei..., mas não para isso. Espero que esteja pronto para explicar um olho roxo ao duque amanhã.  — Ela debochou e então voltou para seu quarto para pegar um casaco antes de descer.

Ao chegar ao jardim, Ravenna o encontrou próximo à um dos bancos de pedra lapidado em arabescos, segurando uma rosa vermelha. Cameron era um homem muito bonito, seu rosto exalava sensualidade e a cada sorriso dado, fazia com que Ravenna quisesse beijá-lo desesperadamente. A maturidade fizera muito bem a ele, pensou. A pele bronzeada pelo sol, os olhos verdes que seduziriam até mesmo uma freira, a boca reta e os lábios maliciosos. Cameron era uma tentação aos bons costumes, e Ravenna estava certa de se perder em toda aquela malícia.

 — O que quer comigo a essa hora, Cameron? Não me diga que não conseguiu seduzir alguma de nossas criadas e agora tenta seduzir sua inocente prima?  — Ela pôs a mão sobre o peito, em sinal de decepção.

Abandonando a etiqueta ele responde:

 — Ravenna, sabe que eu jamais seduziria uma criada, não estão à minha altura. Confesso que não consegui tirar os olhos de você o jantar inteiro, nunca vi uma mulher tão tentadora. Seu irmão é um bobalhão sem igual, entretanto, até mesmo ele conseguiu perceber a atração que sinto por você.  — Cameron se aproximou, colocando um dedo delicadamente sob o queixo de Ravenna. — Como um homem tão inútil pode ter uma irmã tão perfeita?

Ravenna desviou a mão do homem e andou em direção ao caminho de cascalhos que os levaria a um labirinto de arbustos.       

  

 — Se planeja conseguir algo de mim sugiro não insultar meu irmão em minha presença. Apenas eu tenho o direito de dizer qualquer coisa que seja de Berlin, e o advirto que sou bastante protetora com calúnias vinda de outros. Meu irmão não percebeu suas intenções, nem chegou a notar que você praticamente me despia com os olhos. Ele apenas queria conversar conosco.

Percebendo que Ravenna e Berlin gostavam um do outro, ele decidiu mudar a abordagem:

 — Perdoe-me por minhas infelizes palavras. Estou acostumado a meus irmãos e esqueço que nem todos são insuportáveis. Ser o irmão mais velho tem suas desvantagens. — Entregando a rosa a dama ele prosseguiu. — É para você. Não posso evitar compará-la a uma perfeita rosa vermelha desabrochando em pura sensualidade.

Ravenna pegou a flor e a aproximou do nariz, deliciando-se com o suave perfume que exalava.

 — Grazie. Desculpe-me se fui muito incisiva em minhas palavras. Não gosto quando pessoas que não conhecem Berlin de verdade, falam sobre sua personalidade. — Mudando o foco do assunto ela tentou voltar ao flerte inicial passando os dedos suavemente em uma mecha de seu próprio cabelo.  — Diga-me, o que mudou para que você, enfim, me notasse?

Passando os dedos pela mesma mecha solta do cabelo de Ravenna, Cameron se aproximou quase colando seu corpo ao dela.

 — Você está linda. Seu corpo é a pintura do pecado e eu sou o maior dos pecadores por admirá-la tão intensamente. Seus lábios incitam qualquer homem a começar uma guerra em seu nome, eu iria contra a Coroa para satisfazer qualquer desejo seu. Mal consigo conter-me neste momento, tamanha é a minha vontade de provar o sabor de seus lábios sensuais. Não consigo tirá-la da minha mente e...  — Sorrindo sedutoramente ele continuou seu flerte. — Confesso que não tenho intenção em fazê-lo. Eu a desejo com todo meu corpo.

Colocando a mão sobre o rosto do homem à sua frente, Ravenna o puxou para que ele a beijasse, e Cameron obedeceu ao seu chamado beijando-a suavemente para não assustá-la. Ao perceber que Ravenna não era nenhuma leiga no assunto e tomava a iniciativa tanto quanto ele, aprofundou mais o beijo. Seus lábios exigiam mais a cada segundo enquanto suas mãos deslizavam por cima do tecido pela cintura e seios de Ravenna sem o menor pudor. A língua travessa dançava e explorava a boca da dama com insistência, destilando o sabor forte de vinho do porto ao mesmo tempo que a incitava a entregar-se ainda mais, enquanto Ravenna seguia seus passos e retribuía o beijo na mesma intensidade. Cameron a puxou para si colando seu corpo ao dela até onde o vestido permitia, como se necessitasse do calor daquele voluptuoso corpo feminino. Naquele instante, as saias volumosas a impediam de colar todo seu corpo ao dele. “Maldita hora para não estar usando calças”, ela pensou, já que só possuía autorização para usá-las quando não estivesse na presença de convidados. Mas a proximidade que conseguiam já era o suficiente para que ela sentisse o calor que emanava daquele homem diabólico. Sentia os lábios de Cameron deixar sua boca e traçar um caminho até seu pescoço arrancando suspiros de seus lábios e a obrigando a agarrar-se a ele cada vez mais. Ele distribuía beijos por seu decote enquanto ela arfava de desejo. Com uma das mãos, ele tentava abrir os fechos do vestido carmesim para ter acesso àquelas duas preciosidades que o deixaram louco durante todo o jantar.

 — Eu preciso tê-la para mim. Ravenna, seja minha esta noite.  — Cameron disse, entre beijos e suspiros.

 — Cameron... não podemos fazer isso aqui, e não tenho certeza se gostaria de entregar-me a você — ofegante ela tentou por seus pensamentos em ordem. — Não estamos indo rápido demais? Eu... 

 — Sim, é claro meu amor. — Ele a interrompeu, tentando evitar que ela desse lugar à razão. — Eu jamais a trataria dessa forma. Não acredito que me considera esse tipo de homem — Ele franziu o cenho, fingindo estar ofendido. — Estou deslumbrado por você, querida, acredite em mim, você é a mulher mais encantadora que conheci, qualquer homem cederia aos seus encantos. É uma enorme tortura manter-me longe de você. Eu... eu estou enfeitiçado pela sua beleza.  

Ravenna tocou o tecido escuro do colete de Cameron e deslizou as mãos por dentro tocando sua camisa de linho branca. Ele era quente e seu corpo era esbelto, imaginava como seria despi-lo de toda aquela roupa. Ravenna o desejava, queria se entregar a este homem charmoso e sedutor. Conseguia imaginar uma vida divertida sendo esposa de Cameron, eles seriam um casal feliz e despojado. O amor viria com o tempo.

Cameron a puxou para si e Ravenna o abraçou sentindo o corpo relaxar ao inalar a fragrância de sabão e charuto. O coração de Cameron batia tranquilamente, sem sinais de descompasso, ao passo que o seu batia freneticamente em seu peito. Ravenna acreditava que em um momento como este os dois estariam eufóricos, talvez estivesse enganada. “Homens maduros como seu primo, podiam controlar a intensidade das reações físicas que uma mulher gerava em seus corpos, mesmo quando ardiam em desejo” Pensou.

Enquanto abraçava seu maior objeto de desejo, Ravenna pensava sobre a decisão que estava prestes a tomar. Não seria imprudência de sua parte entregar-se a seu primo, ou seria? Eles casariam em pouco tempo, sem dúvidas. Cameron estava apaixonado, ela pensou, e sentia que seu coração seria capaz de entregar-se a ele sem muito esforço. Poderia até arrepender-se depois, mas queria arriscar-se com o primo. O máximo que poderia acontecer era detestar a noite e desistir de casar.   

 — Acho que estou pronta — Ravenna disse, sentido um frio na barriga que a deixava nervosa e ansiosa.  — Eu quero passar a noite com você, mio caro. O que sente por mim é verdadeiro, certo? Eu também possuo sentimentos por você. Acredito que seremos felizes, nós dois combinamos como um casal.

 — Querida, é claro que é verdade — beijando-a com delicadeza ele então, afastou os lábios dos dela e continuou seu discurso não tão paciente e delicado como antes. — Não sabe o quanto a desejo e necessito provar da sua essência. Oh sim, seremos felizes, eu mostrarei a felicidade a você de uma forma que jamais esquecerá — segurando as mãos de Ravenna ele a guiou em direção ao castelo. — Venha comigo, ninguém a descobrirá em meu quarto, ele fica distante dos outros e, pelo visto, os criados não circulam com frequência por aquele corredor.

 — Si, eu irei. Deixe a porta destrancada e eu irei até você. Preciso ir aos meus aposentos para avisar Meredith que demorarei a me recolher; se não a avisar antes, nós teremos problemas e ela acordará a casa inteira para me procurar.

Os dois seguiram de volta e Cameron a puxou para mais um beijo antes de entrarem no castelo. Ele distribuiu pequenas mordidas nos lábios de Ravenna, que a fizeram gemer e instintivamente colou o busto no peitoral de Cameron, que a beijou com ainda mais brutalidade.

Cameron a afastou e pediu que ela fosse antes que ele mudasse de ideia sobre esperá-la em seus aposentos. Ravenna correu em disparada para seu quarto para avisar Meredith que não dormiria em sua cama naquela noite, e também para trocar seus trajes.

Assim que Ravenna desapareceu pelos corredores, Cameron Louis Stokehouse pegou uma garrafa de vinho da despensa e tomou uma taça, antes de seguir para seu quarto e aguardar por sua doce e fogosa prima, que resolvera entregar-se a seu “primo apaixonado” tão rápido quanto uma vadia agarrava um xelim. Ele teria uma adorável noite desvirginando a jovem e a fazendo gritar seu nome. No dia seguinte partiria para o Brasil afim de resolver os assuntos de um novo projeto da família em solo brasileiro, como informara a seu pai no mês anterior.

 — Milady está certa quanto a isso?  — Meredith disse, preocupada com a decisão de Ravenna. — E se ele a estiver enganando? Não acha mais sensato esperar por um noivado pelo menos? Sei como Vossa Graça é um homem à frente de seu tempo e jamais a condenaria por entregar-se, mas acredito que o duque não será tão benevolente com o senhor Stokehouse.

Ravenna vestiu, com a ajuda da criada, sua camisola de verão feita de seda branca com um pequeno decote em V nas costas e bordados de renda lilás na barra e nas alças, e colocou seu roupão azul claro por cima.

 — Eu sei o que estou fazendo, Mery. Cameron está apaixonado por mim, e eu o desejo como nunca desejei um homem antes. Não fique histérica, e sim, nós nos casaremos.

Soltando os cabelos e ajeitando os fios para que não parecessem uma confusão de cachos negros, ela foi até a penteadeira e derramou gotas de perfume pelo pescoço e colo.

  — Mery, eu arcarei com as responsabilidades pelos meus atos. Não sou mais uma criança, muitas mulheres casam e administram casas na minha idade. Eu irei até Cameron, nós teremos uma noite mágica, amanhã ele pedirá minha mão a papà e tudo estará resolvido. E se por um acaso eu decidir não me casar, tenho certeza que meus pais apoiarão a minha decisão. Mamma talvez conteste minhas razões inicialmente, mas depois cederá.

Ravenna saiu do quarto e ao chegar à porta de Cameron, a encontrou destrancada. O quarto estava pouco iluminado e cheirava a charuto. Cameron caminhou lentamente até ela e jogou na poltrona seu casaco e em seguida o colete, aquela sensação de experimentar algo novo a deixava entusiasmada. Saber que passaria uma noite de prazer e sedução com seu futuro marido à deixava tão excitada, que mal podia conter a vontade de arrancar o restante das roupas do homem parado a sua frente. Sabia que sentiria dor, mas acreditava que Cameron saberia como contornar a situação.

 — Enfim à sós — Ele disse, e então trancou a porta do quarto.         

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