— Tem certeza disso? Você guardou este favor durante anos e pretende usá-lo por algo que nem mesmo é para você? — Fitzgerald o encarava sério com suas sobrancelhas ruivas franzidas. Aquela era uma decisão precipitada. Killian tinha alguns favores a cobrar de alguns conhecidos e sempre os guardou para usar em uma ocasião de extrema importância. Era assim que funcionava, você salvava algum cavalheiro imprudente e guardava um contrato de pagamento futuro. Killian não cobrava dinheiro, ele cobrava favores como esse que pedia agora.
— Tenho. Preciso achar essa criança. — Virou o conteúdo do copo de uma vez. Decidira encontrar Matthew no White’s para que a irmã ficasse de fora. Ele sabia que Hellen gostava
A viagem até o galpão desativado fora curta e silenciosa, sem conversas e burburinho, apenas o barulho dos próprios cavalos. Ao chegar ao depósito desativado de uma empresa que fora à falência, ele logo enxergou os dois homens amarrados a uma cadeira com as bocas amordaçadas. Melvin fumava um cigarro encostado na parede, enquanto os homens estavam inconscientes.— Estão há quanto tempo assim? — James perguntou franzindo o cenho.— Algumas horas, milorde. Se jogar um balde de água fria neles, com certeza despertam.— Vamos logo com isso. — James retirou o casaco e, dobrando as mangas da camisa branca, começou a colocar suas ferramentas sobre uma mesa velha, próxima ao local onde os dois homens estavam amarrados. Dash voltou com um balde cheio e jogou a água nos rostos dos prisioneiros, que acordaram assustados, tentando mover-se e emitindo
Jean olhava para o azul do mar contemplando as ondas que se formavam lá longe, o homem cantarolava uma canção antiga que a falecida esposa costumava sussurrar em seu ouvido todas as noites antes de dormir. Dornelia era uma mulher simples e cativante e Jean a amara por isso, fora seu primeiro e único amor. Depois da morte precoce da esposa após ser confundida com uma criminosa em sua terra natal, o cantor decidiu partir e nunca mais voltar. Levou toda a família junto dele, família esta que se resumia em suas três irmãs.A idade começava a cobrar o preço da solidão e em seus quase trinta e sete anos, Jean sentia falta de ter alguém consigo todas as noites, de ter uma pessoa para dividir o fardo da vida, assim como a alegria de suas conquistas. Sentia falta de uma certa dama inglesa que o deixara a ver navios, fazendo com que Jean se sentisse empertigado toda vez que lembrava a forma como f
Copyright © 2021 Rachel Raya Registro: Fundação Biblioteca Nacional Capa: Tomaz Lopes Revisão e diagramação: Ana Zarpelon Rachel Raya. ― 2ªed ― Publicação independente 2021. 1. Literatura brasileira 2. Romance de época A autora desta obra detém todos os direitos autorais registrados perante a lei. Em caso de cópia, plágio e/ou reprodução completa e/ou parcial indevida sem a autorização, os direitos do mesmo serão reavidos perante à justiça. "Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.” Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. ____________________________________________________________________________________________________
Dezesseis anos depoisInglaterra, 1841Ser filha de um duque trazia inúmeros benefícios e, talvez, algumas liberdades que outras damas inglesas jamais poderiam aproveitar, sem que fossem rechaçadas pelas matronas que regiam quem deveria ser aceito, ou tornar-se pária da sociedade. Junto dos benefícios vinham grandes responsabilidades, já que a imagem da família era um espelho para toda a nobreza. Algumas damas conseguiam tornar-se em duquesas, o que daria uma certa autonomia para as felizardas, mas não uma real liberdade, pois mesmo estando abaixo apenas da realeza, nem todos os duques possuíam grande influência na sociedade. Alguns estavam afundados em dívidas devido à má administração de suas heranças, ou pela falta de adaptação às mudanças adv
Completar dezesseis anos não era tão terrível quanto Ravenna esperava, sua vida continuava a mesma, talvez pudesse dizer que sua fluência em italiano melhorou consideravelmente, a ponto de pegar-se misturando idiomas em momentos de grande excitação ou nervosismo. Desde que viera morar na Inglaterra, dedicara-se a aprender a língua do país onde nascera e vivera na infância. Via essa busca como uma forma de se manter conectada ao lugar que a recebeu em sua primeira noite fora do ventre de sua mãe. Seu pai adorava sua mistura de palavras e seus trejeitos na fala, já sua mãe a achava excêntrica e sempre a lembrava que precisava adequar-se mais ao padrão inglês.Para muitas jovens, chegar aos 16 anos poderia significar que estavam próximas de serem leiloadas como éguas premiadas à futuros maridos, todavia, para ela, era como completar quinze anos,
O dia ainda não havia amanhecido quando Ravenna acordou e notou o espaço vazio deixado por Cameron ao seu lado. A noite anterior fora um grande sonho, Ravenna a descreveria como fenomenal. Sentira dor no início, mas após alguns instantes sentia-se no paraíso e Cameron proporcionara a ela uma primeira noite repleta de paixão e prazer. Sentando no colchão, ela se perguntou onde estaria seu futuro noivo. Como se tivesse sido invocado pelos pensamentos de Ravenna, Cameron abriu a porta e entrou no quarto completamente vestido com um traje de viagem. Achando estranho que o homem estivesse pronto para partir do castelo quando, na verdade, deveria estar deitado nu ao seu lado, ela usou o lençol para cobrir-se e colocou um uma mecha de cabelo atrás da orelha. Sentindo um frio percorrer seu estômago e sua espinha, ela disse:— Por que está usando um traje de viagem? Aconteceu alguma c
Londres era uma das cidades mais famosas de todo o mundo, o ponto principal de todo o Reino Unido e, por consequência disto, o covil da aristocracia britânica. Durante a alta temporada a cidade fervilhava de pessoas da nobreza. Eram ofertados centenas de bailes, jantares e saraus a fim de reunir a famosa nata da sociedade para conversar sobre o clima e assuntos dentro das regras de etiqueta — pelo menos era isso que gostariam que acreditassem. Na realidade, tais eventos eram uma excelente oportunidade para saber grandes fofocas, pequenos boatos e mexericos simples que circulavam por entre a nobreza. Era assim que descobriam e decidiam suas vítimas, quais damas e cavalheiros deveriam ser evitados e até mesmo desprezados e relegados ao ostracismo. As damas desfilavam as obras da última moda de boutiques renomadas, enquanto os cavalheiros gastavam milhares de libras apostando em corrida de cavalos, clubes de jogatina e bordéis. Oh sim, havi
Na semana seguinte ao baile, Ravenna caminhava pelo Hyde Park na companhia de Meredith e as duas conversavam sobre a saudade que sentiam de Eva e tio Dom. A amiga não costumava ir a Londres com frequência assim como o pai, e Ravenna lamentava os meses que passava longe da companhia deles. Por algum motivo anormal, este ano sentia-se ainda mais solitária. Parecia até que sua mãe havia jogado uma praga sobre ela.—Esta temporada está tão tediosa que eu preferia ouvir Berlin recitar poesia do que comparecer aos eventos — Ela disse frustrada. — Era para ser uma temporada mais animada agora que Georgie juntou-se a mim, mas ao contrário disso, não a vejo há semanas.— O Lorde misterioso não apareceu outra vez? — Meredith perguntou.— Não. Não sei o que ele pretendia, mas não per