Jean olhava para o azul do mar contemplando as ondas que se formavam lá longe, o homem cantarolava uma canção antiga que a falecida esposa costumava sussurrar em seu ouvido todas as noites antes de dormir. Dornelia era uma mulher simples e cativante e Jean a amara por isso, fora seu primeiro e único amor. Depois da morte precoce da esposa após ser confundida com uma criminosa em sua terra natal, o cantor decidiu partir e nunca mais voltar. Levou toda a família junto dele, família esta que se resumia em suas três irmãs.
A idade começava a cobrar o preço da solidão e em seus quase trinta e sete anos, Jean sentia falta de ter alguém consigo todas as noites, de ter uma pessoa para dividir o fardo da vida, assim como a alegria de suas conquistas. Sentia falta de uma certa dama inglesa que o deixara a ver navios, fazendo com que Jean se sentisse empertigado toda vez que lembrava a forma como f
Copyright © 2021 Rachel Raya Registro: Fundação Biblioteca Nacional Capa: Tomaz Lopes Revisão e diagramação: Ana Zarpelon Rachel Raya. ― 2ªed ― Publicação independente 2021. 1. Literatura brasileira 2. Romance de época A autora desta obra detém todos os direitos autorais registrados perante a lei. Em caso de cópia, plágio e/ou reprodução completa e/ou parcial indevida sem a autorização, os direitos do mesmo serão reavidos perante à justiça. "Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.” Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. ____________________________________________________________________________________________________
Dezesseis anos depoisInglaterra, 1841Ser filha de um duque trazia inúmeros benefícios e, talvez, algumas liberdades que outras damas inglesas jamais poderiam aproveitar, sem que fossem rechaçadas pelas matronas que regiam quem deveria ser aceito, ou tornar-se pária da sociedade. Junto dos benefícios vinham grandes responsabilidades, já que a imagem da família era um espelho para toda a nobreza. Algumas damas conseguiam tornar-se em duquesas, o que daria uma certa autonomia para as felizardas, mas não uma real liberdade, pois mesmo estando abaixo apenas da realeza, nem todos os duques possuíam grande influência na sociedade. Alguns estavam afundados em dívidas devido à má administração de suas heranças, ou pela falta de adaptação às mudanças adv
Completar dezesseis anos não era tão terrível quanto Ravenna esperava, sua vida continuava a mesma, talvez pudesse dizer que sua fluência em italiano melhorou consideravelmente, a ponto de pegar-se misturando idiomas em momentos de grande excitação ou nervosismo. Desde que viera morar na Inglaterra, dedicara-se a aprender a língua do país onde nascera e vivera na infância. Via essa busca como uma forma de se manter conectada ao lugar que a recebeu em sua primeira noite fora do ventre de sua mãe. Seu pai adorava sua mistura de palavras e seus trejeitos na fala, já sua mãe a achava excêntrica e sempre a lembrava que precisava adequar-se mais ao padrão inglês.Para muitas jovens, chegar aos 16 anos poderia significar que estavam próximas de serem leiloadas como éguas premiadas à futuros maridos, todavia, para ela, era como completar quinze anos,
O dia ainda não havia amanhecido quando Ravenna acordou e notou o espaço vazio deixado por Cameron ao seu lado. A noite anterior fora um grande sonho, Ravenna a descreveria como fenomenal. Sentira dor no início, mas após alguns instantes sentia-se no paraíso e Cameron proporcionara a ela uma primeira noite repleta de paixão e prazer. Sentando no colchão, ela se perguntou onde estaria seu futuro noivo. Como se tivesse sido invocado pelos pensamentos de Ravenna, Cameron abriu a porta e entrou no quarto completamente vestido com um traje de viagem. Achando estranho que o homem estivesse pronto para partir do castelo quando, na verdade, deveria estar deitado nu ao seu lado, ela usou o lençol para cobrir-se e colocou um uma mecha de cabelo atrás da orelha. Sentindo um frio percorrer seu estômago e sua espinha, ela disse:— Por que está usando um traje de viagem? Aconteceu alguma c
Londres era uma das cidades mais famosas de todo o mundo, o ponto principal de todo o Reino Unido e, por consequência disto, o covil da aristocracia britânica. Durante a alta temporada a cidade fervilhava de pessoas da nobreza. Eram ofertados centenas de bailes, jantares e saraus a fim de reunir a famosa nata da sociedade para conversar sobre o clima e assuntos dentro das regras de etiqueta — pelo menos era isso que gostariam que acreditassem. Na realidade, tais eventos eram uma excelente oportunidade para saber grandes fofocas, pequenos boatos e mexericos simples que circulavam por entre a nobreza. Era assim que descobriam e decidiam suas vítimas, quais damas e cavalheiros deveriam ser evitados e até mesmo desprezados e relegados ao ostracismo. As damas desfilavam as obras da última moda de boutiques renomadas, enquanto os cavalheiros gastavam milhares de libras apostando em corrida de cavalos, clubes de jogatina e bordéis. Oh sim, havi
Na semana seguinte ao baile, Ravenna caminhava pelo Hyde Park na companhia de Meredith e as duas conversavam sobre a saudade que sentiam de Eva e tio Dom. A amiga não costumava ir a Londres com frequência assim como o pai, e Ravenna lamentava os meses que passava longe da companhia deles. Por algum motivo anormal, este ano sentia-se ainda mais solitária. Parecia até que sua mãe havia jogado uma praga sobre ela.—Esta temporada está tão tediosa que eu preferia ouvir Berlin recitar poesia do que comparecer aos eventos — Ela disse frustrada. — Era para ser uma temporada mais animada agora que Georgie juntou-se a mim, mas ao contrário disso, não a vejo há semanas.— O Lorde misterioso não apareceu outra vez? — Meredith perguntou.— Não. Não sei o que ele pretendia, mas não per
Na Temporada SeguinteDepois de muitos meses pensando e elaborando uma proposta decente de compromisso, Ravenna estava pronta para debater com Anthony sobre um possível noivado. Decidira mudar as regras do jogo a seu favor, para que pudesse garantir a si mesma caso seu futuro marido não fosse quem dizia. Esquematizando os tópicos do novo acordo, ela esperava tirar Anthony do eixo e assim fazê-lo desistir do enlace, mostrando que o homem era como todos os outros. Caso ele ainda a quisesse, saberia que falava sério sobre suas preferências.Optara por montar um contrato a parte do comum, feito pelo pai da noiva e o noivo, e especificar todas as suas vontades. Como por exemplo, Anthony não poderia dormir com mulheres fora da nobreza, não se incomodaria que ele tivesse amantes dentro da nobreza, contanto que fosse seguro e discreto. Seu
Era uma linda manhã de primavera quando Beline entrou no quarto de Ravenna gritando animada para que a jovem acordasse. Jogando-se na cama e puxando as cobertas de Ravenna, ela chamou insistentemente por seu nome, a mulher acordou de mau humor prometendo esganá-la caso não saísse de cima de suas pernas.Agora desperta, Ravenna perguntou a Beline o que dera na cabeça dela para entrar no quarto como se fosse um furacão acordando até mesmo os espíritos de seus antepassados. A jovem ruiva riu por debaixo da confusão encaracolada de seus cabelos, e em um entusiasmo contagiante lhe contou sobre o canal que vira da janela do quarto escolhido para ela.— Oh, sim. Sabia que apreciaria a vista. Aquele é meu quarto, deixei para você já que possui uma das melhores vistas em todo o castelo. Meu bisavô mandou fazer o canal dentro dos limites da propriedade