Na Temporada Seguinte
Depois de muitos meses pensando e elaborando uma proposta decente de compromisso, Ravenna estava pronta para debater com Anthony sobre um possível noivado. Decidira mudar as regras do jogo a seu favor, para que pudesse garantir a si mesma caso seu futuro marido não fosse quem dizia. Esquematizando os tópicos do novo acordo, ela esperava tirar Anthony do eixo e assim fazê-lo desistir do enlace, mostrando que o homem era como todos os outros. Caso ele ainda a quisesse, saberia que falava sério sobre suas preferências.
Optara por montar um contrato a parte do comum, feito pelo pai da noiva e o noivo, e especificar todas as suas vontades. Como por exemplo, Anthony não poderia dormir com mulheres fora da nobreza, não se incomodaria que ele tivesse amantes dentro da nobreza, contanto que fosse seguro e discreto. Seu
Era uma linda manhã de primavera quando Beline entrou no quarto de Ravenna gritando animada para que a jovem acordasse. Jogando-se na cama e puxando as cobertas de Ravenna, ela chamou insistentemente por seu nome, a mulher acordou de mau humor prometendo esganá-la caso não saísse de cima de suas pernas.Agora desperta, Ravenna perguntou a Beline o que dera na cabeça dela para entrar no quarto como se fosse um furacão acordando até mesmo os espíritos de seus antepassados. A jovem ruiva riu por debaixo da confusão encaracolada de seus cabelos, e em um entusiasmo contagiante lhe contou sobre o canal que vira da janela do quarto escolhido para ela.— Oh, sim. Sabia que apreciaria a vista. Aquele é meu quarto, deixei para você já que possui uma das melhores vistas em todo o castelo. Meu bisavô mandou fazer o canal dentro dos limites da propriedade
A noite era fria, a mais fria desde que o outono começara a colorir as folhas das árvores em tons de vermelho. A chuva caía com a força de um dilúvio e os trovões lançavam clarões capazes de anunciar o próprio fim dos tempos. Não havia estrelas ou lua para iluminar a escuridão que pairava em Alnwick, se não fosse pelas poucas velas espalhadas pelo quarto e os raios cortando o céu, seria impossível enxergar qualquer objeto que fosse. As duas mulheres dormiam juntas na mesma cama quando tudo começou. Beline acordara sentindo dores e percebeu que sua camisola estava molhada, no entanto, não conseguiu identificar de onde vinha o líquido. As dores pareciam aumentar de tempo em tempo, a cada minuto de dor a sensação de que estava prestes a ter seu corpo rasgado de dentro para fora a fazia querer urrar. Tentando respirar fundo e acalmar-se para não ass
A manhã seguinte ao nascimento da menina começava a clarear o quarto de James e Marissa, onde Ravenna tentava dormir, mas sem sucesso pois acordara inúmeras vezes durante a noite suada e ofegante, relembrando as horas de terror passadas ao lado de Beline. Ela decidiu, então, levantar da cama e lavar o rosto para checar a bebê que dormia com a criada no andar de baixo. A criada insistira para ficar com a menina mesmo Ravenna determinando que ela precisava descansar. Andando em direção ao lavatório, ela parou sentindo as pernas fraquejarem e repousou a testa na grande porta de madeira escura do quarto de banho. “Era difícil”, pensou, “continuar sem Beline era uma tarefa muito difícil”. A dor não parava de queimar em seu peito, seu coração sempre em constante agonia. O único motivo de segurar as lágri
No primeiro lar para crianças que encontraram, as funcionárias não tinham a menor ideia de quem era Anthony ou a criança. Não recebiam um bebê recém-nascido há meses. Ravenna inspecionou todos os bebês do orfanato e não achou a filha entre eles. Já estavam na estrada há 3 dias, paravam em estalagens para dormir, alimentar-se e trocar os cavalos, e no dia seguinte seguiam viagem até o próximo lugar da lista.Passaram sete dias viajando atrás de todos os orfanatos próximos até chegarem ao orfanato St. Joseph. Ravenna estava exausta e malnutrida, não comia uma refeição decente há mais de duas semanas, não conseguia pregar os olhos a noite e chorava sempre que estava sozinha. Jaden e Meredith eram seu braço direito e esquerdo, e a esperança de encontrar a filha era o que a mantinha de pé ali.
A cidade continuava a mesma de sempre, cinza e suja, cavalos e carruagens empesteando as ruas que, mesmo na baixa temporada, já possuíam um odor característico de Londres. Algumas pessoas andavam pelas calçadas como se não houvesse amanhã enquanto outras sorriam e pensavam estar em algum tipo de passeio pitoresco. Em todos os casos, todas aquelas pessoas eram insignificantes, poderiam cair ao chão sem vida naquele instante e Ravenna acharia algo natural e talvez, até agradável. Ansiava apenas por chegar em casa o mais depressa que pudesse para ver a mãe, a carta não explicava que doença ela havia contraído, apenas dizia que não havia muito tempo, o que deixara Ravenna com o coração apertado de preocupação. A viagem de volta transcorrera sem qualquer agitação, Meredith dormia durante a maior parte da viagem, enquanto Ravenna observava a pai
A aristocracia inglesa não passava de uma grande hipocrisia disfarçada de bons costumes. Os nobres expunham uma vida de moral imaculada, de acordo com a visão da atual soberana, quase passíveis de canonização. Mas por trás das cortinas escondiam toda a sua depravação, imundice e pecados. Governados por alguém que considerava as mulheres inferiores aos homens, a nobreza era um verdadeiro show de horrores para Ravenna. Enquanto divagava perdida em seus pensamentos, ouviu alguém bater à porta e Darcy logo se agitou em seu colo.— Entre — ela ordenou, imaginava que Meredith viria trazer seu chá e checar o novo residente antes de ir dormir.— Milady... — Meredith lhe chamou, a hesitação aparente em sua voz — Nós temos algo importante para lhe falar.Ravenna girou o corpo no
Seymour House. Londres, 1844Killian Harvey Crawford Seymour, Visconde de Combermere, primogênito de Michael Harvey Crawford Seymour e Samantha Harvey Crawford Seymour, era o herdeiro do título de Conde de Beaumont, e único irmão de Hellen.Aos vinte e quatro anos o jovem cavalheiro já visitara quase toda a Europa e também a América. Passava mais tempo pelo mundo do que próximo à família. Killian não sentia-se em casa na Inglaterra e muito menos dividindo a residência com seus pais, por isso os evitava ao máximo.Desde criança aprendera a nunca questionar a autoridade de seu pai — o oitavo Conde de Beaumont era um homem frio como um inverno congelante — e a jamais cometer um erro sequer em sua presença. Michael era o típico nobre inglês que visava apenas a riqueza e a glória. Um
Paris, 1846Dois anos em Paris não servira para amenizar o remorso de Killian, que seguia em sua missão de afogar sua culpa por sua irresponsabilidade indo a festas e se embriagando.Killian voltava para casa ao amanhecer após uma noite inteira regada a mulheres e bebida, seguia cambaleante pelas escadas quase derrubando seu valete ao tentar lhe entregar a bengala e o chapéu. O criado o avisou sobre as correspondências do dia e enfatizou que a condessa enviara uma carta urgente para o filho. Killian desconfiou ao ouvir que sua mãe escrevera para ele, a mulher nunca nem sequer notara a existência do filho, o ignorava bem como ignorava Hellen. Como não estava em condições de interpretar qualquer mensagem escrita por qualquer um, decidiu ler a missiva quando estivesse minimamente sóbrio.Já era quase noite quando Killian, enfim, acordou. A