Seymour House. Londres, 1844
Killian Harvey Crawford Seymour, Visconde de Combermere, primogênito de Michael Harvey Crawford Seymour e Samantha Harvey Crawford Seymour, era o herdeiro do título de Conde de Beaumont, e único irmão de Hellen.
Aos vinte e quatro anos o jovem cavalheiro já visitara quase toda a Europa e também a América. Passava mais tempo pelo mundo do que próximo à família. Killian não sentia-se em casa na Inglaterra e muito menos dividindo a residência com seus pais, por isso os evitava ao máximo.
Desde criança aprendera a nunca questionar a autoridade de seu pai — o oitavo Conde de Beaumont era um homem frio como um inverno congelante — e a jamais cometer um erro sequer em sua presença. Michael era o típico nobre inglês que visava apenas a riqueza e a glória. Um
Paris, 1846Dois anos em Paris não servira para amenizar o remorso de Killian, que seguia em sua missão de afogar sua culpa por sua irresponsabilidade indo a festas e se embriagando.Killian voltava para casa ao amanhecer após uma noite inteira regada a mulheres e bebida, seguia cambaleante pelas escadas quase derrubando seu valete ao tentar lhe entregar a bengala e o chapéu. O criado o avisou sobre as correspondências do dia e enfatizou que a condessa enviara uma carta urgente para o filho. Killian desconfiou ao ouvir que sua mãe escrevera para ele, a mulher nunca nem sequer notara a existência do filho, o ignorava bem como ignorava Hellen. Como não estava em condições de interpretar qualquer mensagem escrita por qualquer um, decidiu ler a missiva quando estivesse minimamente sóbrio.Já era quase noite quando Killian, enfim, acordou. A
Londres, 1846Ravenna adorava visitar a casa da senhorita O’Hara, ou como gostava de chamá-la:srta. Mela.A família O’Hara possuía um grande casarão em uma das ruas mais prestigiadas de Londres, além de uma majestosa propriedade no campo. Ravenna adorava o bom gosto e requinte com o qual tio Dom decorava cada cômodo da casa. A rainha poderia pedir-lhe conselhos sobre moda se não fosse tão esnobe.Ravenna aguardava a amiga em uma sala ampla decorada por quadros de paisagens ao ar livre, alguns retratavam praias e mares de diferentes lugares do mundo. Ravenna sabia da paixão de Eva pelo Brasil e acostumara-se a ver sempre algo na casa que remetia ao país, um dos quadros retratava o que Ravenna imaginava serem as praias do Rio de Janeiro. As paredes eram de um t
— KILLIAN HARVEY CRAWFORD SEYMOUR! — Uma voz irritada e indicando um péssimo humor, o berrou enquanto sacodia o corpo de Killian, que sentiu a claridade invadir o cômodo segundos depois.Mas qual cômodo? Killian pensou.— Eu não ficarei aqui a manhã toda, seu bêbado miserável! COMO PÔDE VOLTAR PARA CASA, EXPULSAR NOSSA MÃE E NEM SEQUER VIR FALAR COMIGO? — A garota continuava berrando aos quatro ventos fazendo até com que Pierre, o valete, fizesse cara de quem estava prestes a ter os tímpanos estourados.— Hellen, por favor não grite ou você me matará antes mesmo que eu consiga levantar desta cama. — Killian respondeu e abriu os olhos relutante inspirando profundamente.— Não estaria assim se não tivesse bebido até desmaiar! Seus amigos precisaram carregar voc&e
Crawford House, 1849Após três longos anos residindo no campo, Killian e a irmã criaram uma rotina confortável, onde apenas o conde viajava para Londres afim de tratar de assuntos políticos na câmara dos Lordes, e voltava assim que suas obrigações chegavam ao fim. Hellen permanecia em Crawford House em tempo integral, nas horas vagas aprendia por conta própria a tocar violoncelo na companhia da Srta. Reed, sua preceptora. Emilly Reed era sua melhor amiga, sua confidente e aquela que a ensinava a controlar seus impulsos. Killian fazia sua parte e tratava a irmã com carinho e lhe dava toda a proteção que ela poderia precisar, contudo, haviam determinados assuntos que apenas a Srta. Reed entendia. Como por exemplo, as regras de Hellen, que começaram logo após sua vinda para o campo. Ela não poderia conversar sobre aquele assunto com Killian, de jeito nenh
Hellen ficou assustada ao ver a mulher desmaiar em pleno salão de baile, ela rodopiava em um segundo e no outro estava caída aos pés de Killian banhado em ponche. Teria achado graça da cena se não estivesse nervosa pelos olhares que Lorde Desmonds lhe oferecia. Não entendeu qual fora o motivo para Killian confiar sua segurança ao barão, mas ela confiava no julgamento do irmão, então se deixou levar pelo homem que a guiava por uma das portas francesas que levavam aos jardins.— Não se preocupe, seu irmão nos encontrará assim que terminar de socorrer a dama desacordada. Mas, diga-me, Lady Seymour. Por que decidiu debutar este ano? Uma beldade como você podia ter debutado desde os dezesseis. — Chestter disse en
Roma, 1851Dois anos em Ravena; um ano em Berlin; um ano em Paris; um ano em Roma. Essa fora a jornada de Ravenna até agora. Manter-se longe da Inglaterra era um bálsamo para sua alma — se é que ela ainda possuía uma— e para sua mente.Vinte e seis anos.Ela completava mais uma primavera nesta noite. Estava cansada de completar primaveras, todavia, parecia impossível que permitissem a ela finalizar este ciclo. Ela vivia o tempo roubado de outra pessoa, alguém que merecia respirar, enquanto ela merecia nada mais do que vermes rasgando sua pele. Que ironia do destino, permitir que pessoas desalmadas andassem por este mundo enquanto os bons partiam para o além.Seu pai mantinha os olhos sobre ela, mesmo em outro país. Desde seu regresso da Escócia, ele a vigiava de perto para garantir que estava tudo bem. At&eac
Londres, 1851— Lorde Seymour, o prazo de dois anos está chegando ao fim, Hellen participou da temporada passada e participará desta. O que fará quando ela retornar decidida a firmar seu compromisso com meu primo?— Senhorita Reed, tenho certeza que este ano teremos sorte e Hellen encontrará um bom partido entre a nobreza. — Killian suspirou. Temia pelo futuro da irmã se decidisse seguir em frente e casar com o rapaz brasileiro.— Por que não aceita que os jovens estão destinados? O senhor mesmo presenciou durante este período, que meu primo fez tudo o que exigiu para provar que merecia a mão de Lady Seymour. Rivera humilhou-se para satisfazer suas exigências. O que mais pretende fazer para separá-los? — Emilly sentia-se frustrada pelo destino de Hellen, e por seu patrão não aceit
Cansada de dançar, Ravenna decidira se afastar antes que mais pedidos surgissem. O salão estava muito cheio. Por um segundo, ela pensou ter visto Anthony Manner acompanhado de uma mulher baixa e ruiva. Seu coração disparou e suas mãos começaram a tremer.Estava alucinando, certo? Anthony não estava ali.Ravenna olhou de novo para a mesma direção e lá estava ele, o homem que ajudara a destruir sua vida. Seu cúmplice no maior tormento que Ravenna trouxera para si. Ela não poderia vacilar, não naquele momento. Precisava se recompor e agir como fizera desde o início.Indiferente.Decidida a encontrar um lugar para respirar e colocar as emoções sob controle, Ravenna partiu para a biblioteca na ala leste, entrou e fechou a porta atrás de si. Assim que soltou a primeira baforada de ar, notou a presenç