POV: NathanielOs seis meses após o acontecido passam depressa. A investigação que antecedeu o ataque dos vampiros nos levou a algo mais obscuro, tráfico de escravos humanos e lycans. Eles ofereciam propostas de empregos com vantagens acima da média para atrair as pessoas, que aceitavam. As vítimas costumavam ser plebeus sem família ou amigos, então era difícil perceberem a ausência, ou quando percebiam era tarde demais, pois tempo é crucial em casos de desaparecimento. Como sempre, escolhiam como alvo os indesejáveis. Órfãos. Sangue-fraco. Lycans exilados. Não havia vampiros além dos poucos colaboradores de Charles, todos jovens, e saber que não havia nenhum ancião sanguessuga envolvido na trama não deixou meu pai mais calmo, por isso atrasamos o casamento até agora, mas finalmente o dia chegou. Lucian e Embry não puderam vir, ambos estão trabalhando juntos no caso que não parece relacionado como um todo. Embry está aproveitando a longa viagem para coletar
POV: CarinaAs garras dele traçam meu queixo sem rasgar a pele, Charles repete o movimento e para na parte do meio da garganta, então a ponta do dedo sobe, forçando meu queixo para cima. Encontro seus olhos no mesmo tom violeta que os meus, o que é estranho, me lembro deles vermelhos. Todos os alfas tem olhos vermelhos. —Lembra da última lição?—Nego, e ele sorri, posso ver as presas brancas brilhando, e então a mão se fecha em minha garganta antes de me puxar para sentar em seu colo.Minhas costas estão pressionadas em seu peito, e ele aperta meu pescoço até interromper o fluxo de ar. Só para quando abro os olhos, encarando nossa imagem refletida no espelho. —Nunca desvie o olhar, nós gostamos que mantenham os olhos fixos em nós quando transformamos coisinhas lindas como você numa bagunça.—Obedeço assim que vejo para onde ele está olhando, o chicote com nós posicionado em cima da mesa. A mão dele desce pelo meu ventre ainda coberto pela chemise e um bolo se forma em meu estômago,
POV: CarinaO pânico toma conta de mim, esmaga qualquer resquício de racionalidade.Não confio nos meus pais, não tenho uma única lembrança de confiar neles desde que os sussurros começaram a invadir meus sonhos, dizendo para fugir.A única coisa boa é que Charles não está aqui, ele gosta de me ver assustada, e faz de tudo para que eu tenha mais medo ainda.O Rito do Despertar Prateado é algo que conhecemos das canções, escutava da torre as cantigas entoadas nos dias de festivais, mas hoje não é uma cantiga para assustar filhotes.É real, e vai me destruir.Eles planejam forçar minha primeira mudança com um ritual bárbaro que nem deve ser verdade.É ultrapassado, cruel, mas os dois discordam, veem a prática como uma forma de separar os fortes e os fracos da matilha.Sem a voz dizendo o quanto tudo é errado, eu teria continuado feito o bichinho dócil de sempre, mas ela começou, primeiro sozinha, depois todas ao mesmo tempo.Sei que o Alfa supremo de Lycanthara, o Rei Lycander Fenris, b
POV: CarinaA sensação de derrota ainda queima em meu peito enquanto meus pais me conduzem para uma passagem secreta da torre de olhos vendados.Isso já aconteceu antes algumas vezes, mas só quando meu irmão me levava para sair escondido dos dois.O terror que sinto parece se intensificar a cada segundo. A escuridão é sufocante, e não deve ser nem metade do tormento que o rei deve estar passando agora. Se formos pegos a morte será um presente adorável. Não passo de uma marionete arrastada para um destino que não escolhi.—Vamos, Carina,— ela sussurra, como se suas palavras pudessem acalmar meu terror, apagar toda a desonra dos seus feitos. —É para o seu bem, quando tudo der certo as aulas ficarão mais fáceis, seu corpo ficará mais forte, e então não precisará reprimir nada.—Odeio os livros, sempre odiei, pelo menos os que ela me forçava decorar e repetir em voz alta, mas quando ela usa a palavra aulas com aquela nota de aborrecimento na voz todo meu corpo treme. Ouvi essa mentira
POV: Nathaniel, o príncipe herdeiroO festival de comemoração pelos cinquenta anos de paz estava em seu auge quando aconteceu a tragédia.Toda Silver Harbor estava reunida na praça principal, as ruas lotadas de carruagens decoradas com fitas.Papai, o alfa supremo, achou prudente suspender a queima de fogos e garantir que boa parte dos nossos guardas vigiassem o rio.Talvez por isso tenha demorado para ouvir o grito, da minha mãe e pai, e então da dama de companhia. Quem diria que a poderosa Alethea, a Lua do reino, acabasse ferida por uma cobra dentro de um cesta de pães doces. Após uma minuciosa investigação ninguém foi culpado pelo incidente. Silver Harbor é nossa maior cidade portuária fluvial, e cresceu para além dos muros de forma desordenada, invadindo extensas áreas antes ocupadas pelas florestas. Havia toda sorte de áspides e animais invadindo a área agora. A matilha responsável pela administração já estava lidando com isso, o governador, Alfa Raymond Silverbrook já tinha
POV: NathanielMinha ansiedade aumenta a cada minuto que passo esperando notícias sobre Carina. A mulher está aqui, tão perto, mas ainda inatingível. Sentir o cheiro de baunilha misturado ao sangue quase me fez enlouquecer, e ainda agora, quando penso nele, sinto meu pau endurecer de imediato. Designei um dos meus homens para tratá-la, pois não havia a menor possibilidade de um ritual como aquele ao qual ela foi submetida ser feito sem a autorização do alfa da cidade. Papai teve dificuldade com vários governadores ao longo dos anos, mas se for o que estou pensando é a primeira vez em décadas que um deles fere a nova litania e ousa reviver hábitos do velho mundo. Finalmente, meu curandeiro pessoal me chama, e eu me apresso para seguir até a direção indicada. Chego à sala onde Carina está sendo tratada, meu olhar se prende imediatamente em seu rosto abatido. Ela está pálida, há mais pele do que eu gostaria sendo exposta aos olhos dos outros.O curandeiro, Embry, e eu trocamos ol
POV: NathanielTrês meses.A anotação mais preocupante do diário a respeito do histórico de saúde de Carina tem uma observação sobre seu maior período de inconsciência ser de três meses.Os Starbane são orgulhosos, não é estranho manterem uma filha enfermiça e sangue-fraco em segredo, mas isso rivaliza com todas as informações que tenho coletado. Por que pais que odeiam um filho investiram tantos recursos nele? Há volumes de livros raros na torre, e tesouros de valor inestimável. A harpa, que a julgar pelos calos nas pontas dos dedos, Carina toca com frequência, é um deles. O instrumento musical tem a assinatura de Galileu, o melhor luthier¹ de Glacial Watch, arriscaria dizer o melhor de todo o reino. O valor de um instrumento fabricado na fronteira com as terras geladas do norte custa mais moedas de ouro do que uma boa casa.Salvo os mapas e alguns livros de história, um pouco desatualizados, o ambiente está cheio de itens da melhor qualidade. A educação e conforto dentro dos mur
POV: CarinaUma mão gentil acaricia meus cabelos. Despertar dói. Sinto tudo ao mesmo tempo e numa intensidade anormal.O gosto amargo na boca, a sensação de vazio no estômago, a dor nas articulações mas não o repuxar da pele característico da cicatrização. Devo ter dormido muito tempo. O mundo ao meu redor ainda é uma névoa, dedos gentis acariciam meus cabelos e me relaxam. Meu coração se aquece ao pensar que é ele, o homem bonito dos meus sonhos, aquele que se parece com os príncipes dos livros que leio.Ainda devo estar sonhando.Abro os olhos com esforço, esperando um vislumbre daquele rosto encantador. Mas o que vejo me faz recuar imediatamente. Não é ele e estou desperta. É minha mãe, Mira, acompanhada de uma garota estranha de expressão apática. O medo aperta meu peito, e meu corpo, ainda fraco pela doença, reage por instinto.—Ah, você finalmente acordou, Carina,— diz minha mãe, seu tom doce e falso, como sempre. —Estávamos preocupadas.—Sei que é mentira. Seu olhar nunca