—Eles dizem que você não existe. Charles revira os olhos, sua paciência claramente se esgotando. Se possui mesmo tantos escravos de sangue como alega, já está a par dos rumores acerca da sua inexistência. — Pare de falar com eles, seus pensamentos são meus agora, entendido?Minha comunicação com a matilha cessa no ato e uma dor de cabeça aguda recomeça. Minha loba está encolhida tão fundo na minha alma que a sinto tremer, como se estivesse atada a algum tipo de corrente.Não está certo, nada perto de Charles está. Vampiros podem controlar mentes de humanos, mas até um sangue-fraco possui mais resistência do que um humano sem ligação com algum lupino. Charles suspira suavemente, sua irritação aumenta e pelo semblante me acha a criatura mais estúpida da terra. Ele sempre me achou burra e fraca. —Os Starbane não gostam de assumir bastardos.., ainda mais um que nasceu vampiro. Nós já tivemos essa conversa antes, você não irá se lembrar de qualquer forma. Afaga o topo da minh
POV: NathanielO cheiro de Carina é fraco, quase imperceptível, misturado com o odor de fumaça e sangue dos becos fica mais difícil de rastrear. O cheiro do cio dos outros ômegas tentando chegar no templo é difícil de resistir, meu corpo quer persegui-los com tudo o que tenho, mas minha mente se volta para ela. O rastro de Carina está frio, mas não completamente apagado. Chego numa zona da cidade que dá para o rio, a parte funda. Os barcos atracavam aqui antes do porto mudar de lugar, agora só é usado em tempos de crise.Há um barco no meio do rio, e não há nenhuma iluminação nas cabines. Mergulho sem pensar duas vezes, desconsiderando que não sei nada sobre a tripulação. Sigo meus instintos, e meu lobo rosna comigo por não tê-la marcado, ou seria ainda mais fácil encontrá-la. Minhas garras cravam na madeira, cada músculo do meu corpo está tenso, pronto para o confronto. Os gritos vindos da cabine do barco confirmam minhas suspeitas. Carina está lá, e ela precisa de mim.Um va
POV: Nathaniel A escuridão do calabouço é intensa, não há nenhum resquício de luz além de tochas espalhadas pelos corredores. As paredes de pedra não ajudam com o frio, é tudo úmido demais, o que deixa os presos sempre doentes. O cheiro de mofo e sangue é intenso, misturando-se com o aroma de carne queimada. Charles está preso à parede, os pinos de prata atravessando suas extremidades e tronco, mantendo-o ereto como um macabro troféu e no limiar da morte. Ele está vivo, seus olhos semicerrados, alternam entre as expressões de dor intensa e uma fúria impotente. Descobrimos logo depois como provocaram o cio: incensos. Os incensos afrodisíacos que já existiam foram modificados para induzir ao cio, não era nada tão intenso como o verdadeiro, mas igualmente brutal. Passava muito mais rápido também se não continuassem expostos à substância. Há um novo problema no reino: a nova droga. Pelo pouco que investigamos já está sendo comercializada no mercado negro. Os nomes também
POV: CARINA Encaro o cadáver da minha mãe ao lado do meu e a visão é aterradora. Uma incisão em seus dois pulsos drenou boa parte do sangue contaminado pelo excesso do composto de ervas fabricado por Embry. Diferente dos outros culpados, ela foi envenenada só até deixá-la à beira do precipício, pois precisaríamos do sangue dela com as substâncias diluídas para preparar os antídotos, e claro, de um pouco do meu para terminar o teatro. — Onde diabos você estava com a cabeça, Carina? Nathaniel está praticamente se arrastando até a cama onde estou, seu rosto pálido indica que seguiu o plano e se envenenou também, todos o fizeram. Embry Valenwood fez o próprio irmão, o governador e alfa de Lupine Grove, passar pelo mesmo, embora ninguém além de nós soubesse. Lycander tinha sombras com a mesma habilidade de Lucian nascidos na minha lua dispostos na sala do trono. Ter a lealdade cega da casa Shadowfen, os únicos capazes de ficar completamente indetectáveis em seus ciclos lunares de
POV: NathanielOs seis meses após o acontecido passam depressa. A investigação que antecedeu o ataque dos vampiros nos levou a algo mais obscuro, tráfico de escravos humanos e lycans. Eles ofereciam propostas de empregos com vantagens acima da média para atrair as pessoas, que aceitavam. As vítimas costumavam ser plebeus sem família ou amigos, então era difícil perceberem a ausência, ou quando percebiam era tarde demais, pois tempo é crucial em casos de desaparecimento. Como sempre, escolhiam como alvo os indesejáveis. Órfãos. Sangue-fraco. Lycans exilados. Não havia vampiros além dos poucos colaboradores de Charles, todos jovens, e saber que não havia nenhum ancião sanguessuga envolvido na trama não deixou meu pai mais calmo, por isso atrasamos o casamento até agora, mas finalmente o dia chegou. Lucian e Embry não puderam vir, ambos estão trabalhando juntos no caso que não parece relacionado como um todo. Embry está aproveitando a longa viagem para coletar
POV: CarinaAs garras dele traçam meu queixo sem rasgar a pele, Charles repete o movimento e para na parte do meio da garganta, então a ponta do dedo sobe, forçando meu queixo para cima. Encontro seus olhos no mesmo tom violeta que os meus, o que é estranho, me lembro deles vermelhos. Todos os alfas tem olhos vermelhos. —Lembra da última lição?—Nego, e ele sorri, posso ver as presas brancas brilhando, e então a mão se fecha em minha garganta antes de me puxar para sentar em seu colo.Minhas costas estão pressionadas em seu peito, e ele aperta meu pescoço até interromper o fluxo de ar. Só para quando abro os olhos, encarando nossa imagem refletida no espelho. —Nunca desvie o olhar, nós gostamos que mantenham os olhos fixos em nós quando transformamos coisinhas lindas como você numa bagunça.—Obedeço assim que vejo para onde ele está olhando, o chicote com nós posicionado em cima da mesa. A mão dele desce pelo meu ventre ainda coberto pela chemise e um bolo se forma em meu estômago,
POV: CarinaO pânico toma conta de mim, esmaga qualquer resquício de racionalidade.Não confio nos meus pais, não tenho uma única lembrança de confiar neles desde que os sussurros começaram a invadir meus sonhos, dizendo para fugir.A única coisa boa é que Charles não está aqui, ele gosta de me ver assustada, e faz de tudo para que eu tenha mais medo ainda.O Rito do Despertar Prateado é algo que conhecemos das canções, escutava da torre as cantigas entoadas nos dias de festivais, mas hoje não é uma cantiga para assustar filhotes.É real, e vai me destruir.Eles planejam forçar minha primeira mudança com um ritual bárbaro que nem deve ser verdade.É ultrapassado, cruel, mas os dois discordam, veem a prática como uma forma de separar os fortes e os fracos da matilha.Sem a voz dizendo o quanto tudo é errado, eu teria continuado feito o bichinho dócil de sempre, mas ela começou, primeiro sozinha, depois todas ao mesmo tempo.Sei que o Alfa supremo de Lycanthara, o Rei Lycander Fenris, b
POV: CarinaA sensação de derrota ainda queima em meu peito enquanto meus pais me conduzem para uma passagem secreta da torre de olhos vendados.Isso já aconteceu antes algumas vezes, mas só quando meu irmão me levava para sair escondido dos dois.O terror que sinto parece se intensificar a cada segundo. A escuridão é sufocante, e não deve ser nem metade do tormento que o rei deve estar passando agora. Se formos pegos a morte será um presente adorável. Não passo de uma marionete arrastada para um destino que não escolhi.—Vamos, Carina,— ela sussurra, como se suas palavras pudessem acalmar meu terror, apagar toda a desonra dos seus feitos. —É para o seu bem, quando tudo der certo as aulas ficarão mais fáceis, seu corpo ficará mais forte, e então não precisará reprimir nada.—Odeio os livros, sempre odiei, pelo menos os que ela me forçava decorar e repetir em voz alta, mas quando ela usa a palavra aulas com aquela nota de aborrecimento na voz todo meu corpo treme. Ouvi essa mentira