POV: Nathaniel
Minha ansiedade aumenta a cada minuto que passo esperando notícias sobre Carina.
A mulher está aqui, tão perto, mas ainda inatingível. Sentir o cheiro de baunilha misturado ao sangue quase me fez enlouquecer, e ainda agora, quando penso nele, sinto meu pau endurecer de imediato.
Designei um dos meus homens para tratá-la, pois não havia a menor possibilidade de um ritual como aquele ao qual ela foi submetida ser feito sem a autorização do alfa da cidade.
Papai teve dificuldade com vários governadores ao longo dos anos, mas se for o que estou pensando é a primeira vez em décadas que um deles fere a nova litania e ousa reviver hábitos do velho mundo.
Finalmente, meu curandeiro pessoal me chama, e eu me apresso para seguir até a direção indicada.
Chego à sala onde Carina está sendo tratada, meu olhar se prende imediatamente em seu rosto abatido.
Ela está pálida, há mais pele do que eu gostaria sendo exposta aos olhos dos outros.
O curandeiro, Embry, e eu trocamos olhares, ele faz um gesto coçando a nuca e eu confirmo.
Este homem cuida de mim desde que sou um menino e aprendi a manejar uma espada, é um dos poucos que conhece minha marca de nascença.
As lacerações das garras foram costuradas, mas as mordidas não, o que é bom, pois mordidas de cães e lobos infeccionam mais se as costuram.
O cheiro de ervas medicinais está por toda parte, ervas medicinais, sangue e um toque de baunilha, o cheiro dela é tão doce que me atordoa.
—Carina,— chamo suavemente, aproximando-me. —O que aconteceu? Como está se sentindo?—
Seus olhos encontram os meus, e por um momento, vejo a confusão e a angústia refletidas neles.
Carina só fala ao ver os estandartes da famíla real.
—Foi o Despertar Prateado, — responde, sua voz um sussurro frágil.—Meus pais... eles disseram que era para despertar minha força, mas foi terrível. Onde está meu irmão? Não o deixe subir, por favor.—
Minhas dúvidas se confirmam.
Como alguém poderia fazer algo tão cruel com a própria filha? Mas então, antes que eu possa dizer mais alguma coisa, os presentes na sala começam a murmurar entre si, seus olhares se voltando para Carina.
—Carina, você não tem irmão,— alguém diz, com uma nota de perplexidade na voz.
Essas palavras se instalam na minha mente, e um frio sobe pela minha espinha.
Há um rumor maldoso sobre os Starbane, todos eles.
Um rumor que após a paficicação foi usado para tentar tirá-los da administração de Celestial Spire, mas logo foi suprimido.
Loucura.
Eles passaram séculos praticando casamentos consanguíneos, o que ocasionou a nascimentos problemáticos e aumento dos casos de infertilidade na matilha. Razão pela qual não é mais permitido que casamentos sejam feitos entre lobos com o mesmo sobrenome.
Os pais dela são primos distantes, se bem me lembro, graças a isso o impedimento não foi considerado válido e a união celebrada.
—Alteza, podemos ter com vossa graça em particular?—
Os pais dela me chamam e eu confirmo com um aceno.
Caminhamos os três para o salão principal, agora vazio.
“Nós fizemos o Ritual do Despertar prateado, mas foi por medo. Carina, a mente dela não está bem, nunca esteve. Tentamos manter tudo sob controle criando-a da melhor forma possível escondida de todos, mas ainda não era suficiente. Ela adoece muito, o Ritual do Despertar Prateado era nossa última esperança. Como sabe, nossa família não é fértil, é minha única filha, talvez a única que terei.”
Mira está de joelhos, prostrada aos meus pés.
A pele imaculada, pálida, cabelos escuros e olhos violeta lembram tanto a filha, ainda assim enquanto uma me causa o desejo de possuir, proteger, a outra causa repulsa.
Meu lobo diz que não posso confiar nela.
É verdade que a transformação nos deixa mais fortes.
Se Carina tivesse se transformado, cada laceração em seu corpo desapareceria sem deixar cicatriz.
Todas as marcas deixadas pelo treinamento que tive sumiram, é uma dádiva da primeira mudança.
Doenças que frequentemente matam humanos também não são um problema para nós.
—É proibido.—
—Nós sabemos, e estamos dispostos a aceitar o castigo. Só tenha em mente que foi por desespero, nós a amamos, mas não achamos que seu corpo fraco sobreviverá a mais dois invernos. Há um registro médico detalhado que mantivemos ao longo dos anos. Leia.—
O alfa Crator diz, num tom mais subserviente que sua natureza permite ser.
Um criado humano aparece, trazendo consigo um livro de capa de couro grossa e desgastada.
Deixo os dois, indo até o quarto de hóspedes designado para escrever uma carta para meu pai e examinar o diário.
As páginas são velhas, a costura está comprometida, a tinta varia de cor e é visível que não é recente.
Febres.
Desnutrição.
Paranoia.
Longos períodos de inconsciência seguidos de insônia.
Há também uma suspeita levantada após a data que deve ter sido o início e meio da puberdade sobre ela ser uma sangue-fraco.
Os dias se arrastam enquanto aguardo notícias sobre a recuperação de Carina.
Minha mente está constantemente inquieta, preocupada com seu estado.
Também dedico meu tempo a investigar os Starbane.
Mira não tem mais visões desde o nascimento de sua única filha.
A sacerdotisa mais jovem enlouqueceu durante uma cerimônia, forçando-os a contê-la.
O testemunho de vários humanos corroborou com a versão dos nobres.
Ao observar de perto como os pais de Carina a tratam, percebo que ela é verdadeiramente um tesouro para eles. Eles cuidam da garota pessoalmente, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.
Seu quarto é um reflexo disso, repleto de itens de alta qualidade, desde joias deslumbrantes até móveis luxuosos e livros raros.
É evidente que os Starbane estão determinados a proteger e mimar sua filha, mesmo que suas ações tenham sido questionáveis.
Uma carta do meu pai chega, trazendo consigo novas instruções.
Ele sugere que eu tome Carina como refém e a traga para a capital assim que os inspetores chegarem.
Não deve ter se recuperado ainda, ou a ordem seria para arrastar Crator até a capital, onde ele lidaria com o problema em poucos minutos.
É uma estratégia astuta, destinada a manter os Starbane sob controle durante a vistoria e garantir que não haja surpresas desagradáveis.
Ainda assim, enquanto leio as palavras de meu pai, uma mistura de emoções me domina.
Eu deveria contar logo sobre a marca.
Eu deveria contar sobre como o cheiro dela quase me enlouquece.
Eu deveria contar que morrerei, se não possuí-la.
O mais importante, eu deveria contar que ela é minha, mas desisto no último minuto, pois sei dos riscos que a escolha implica.
A viagem é longa, se qualquer inimigo souber o quanto a garota é importante para mim, o risco será maior.
Falarei com meu pai pessoalmente ao chegarmos.
O pensamento de usar Carina como um peão em nossos jogos políticos me perturba profundamente.
Vê-la lutar pela vida, seu corpo frágil e indefeso duelando contra os efeitos do Despertar Prateado também me destroça.
Quase um mês se passou desde que a encontrei na floresta, e ela permanece inconsciente, presa em um sono perturbado.
Isso corrobora com as anotações do diário que li e reli várias vezes.
Solicitei uma audiência com os pais para comunicar a decisão do Alfa Supremo, e foi concedida depressa.
Os olhares de Mira e Alfa Crator alternam entre preocupação e desespero.
Meu lobo ainda não confia neles, mas o povo de Celestial Spire sim.
—Mira, vocês violaram o édito, acharam que nada aconteceria?— A expressão desolada e submissa em nada combinam com a frieza de uma mãe que enviou sua própria filha para um ritual sangrento.
Suas lágrimas não me comovem, irritam.
—Mas ela é tão frágil, Nathaniel. Não vai suportar a viagem,— responde Mira, com os olhos marejados.
Ao meu lado, Crator permanece em silêncio.
—Enviamos três corvos sobre profecia, três, talvez tenham sido abatidos. Há rogues fora dos muros fazendo isso por diversão, tenho homens tentando lidar com eles, mas não é fácil. Você promete que vai protegê-la?—
POV: NathanielTrês meses.A anotação mais preocupante do diário a respeito do histórico de saúde de Carina tem uma observação sobre seu maior período de inconsciência ser de três meses.Os Starbane são orgulhosos, não é estranho manterem uma filha enfermiça e sangue-fraco em segredo, mas isso rivaliza com todas as informações que tenho coletado. Por que pais que odeiam um filho investiram tantos recursos nele? Há volumes de livros raros na torre, e tesouros de valor inestimável. A harpa, que a julgar pelos calos nas pontas dos dedos, Carina toca com frequência, é um deles. O instrumento musical tem a assinatura de Galileu, o melhor luthier¹ de Glacial Watch, arriscaria dizer o melhor de todo o reino. O valor de um instrumento fabricado na fronteira com as terras geladas do norte custa mais moedas de ouro do que uma boa casa.Salvo os mapas e alguns livros de história, um pouco desatualizados, o ambiente está cheio de itens da melhor qualidade. A educação e conforto dentro dos mur
POV: CarinaUma mão gentil acaricia meus cabelos. Despertar dói. Sinto tudo ao mesmo tempo e numa intensidade anormal.O gosto amargo na boca, a sensação de vazio no estômago, a dor nas articulações mas não o repuxar da pele característico da cicatrização. Devo ter dormido muito tempo. O mundo ao meu redor ainda é uma névoa, dedos gentis acariciam meus cabelos e me relaxam. Meu coração se aquece ao pensar que é ele, o homem bonito dos meus sonhos, aquele que se parece com os príncipes dos livros que leio.Ainda devo estar sonhando.Abro os olhos com esforço, esperando um vislumbre daquele rosto encantador. Mas o que vejo me faz recuar imediatamente. Não é ele e estou desperta. É minha mãe, Mira, acompanhada de uma garota estranha de expressão apática. O medo aperta meu peito, e meu corpo, ainda fraco pela doença, reage por instinto.—Ah, você finalmente acordou, Carina,— diz minha mãe, seu tom doce e falso, como sempre. —Estávamos preocupadas.—Sei que é mentira. Seu olhar nunca
POV: NathanielA água fria atinge minha pele assim que afundo na banheira localizada no centro do quarto.É menor do que a casa privada de banho que possuo no palácio, além de não ser naturalmente aquecida, mas é perfeita agora.Meu corpo se acalma aos poucos, e a tensão que nublava meu juízo se transforma num incômodo suportável.Preciso me acalmar, focar em outra coisa que não seja Carina.—Senhor, devo buscar água quente para seu banho?— A voz da criada interrompe meus pensamentos. Sem olhar para ela, respondo depressa, na esperança que saia logo.—Não, vá embora e feche a porta.—Ela hesita, e então ouço passos se aproximando. Rosno de frustração, antecipando o que acontecerá a seguir. A hospitalidade das cidades frias tem certa fama na capital, só não esperava experimentar isso hoje. Sinto suas mãos deslizando pelo meu ombro, o toque da ponta dos dedos é suave, mas a esponja que segura é áspera. Sua pele é morna, mas seu toque não funciona para mim.Ótimo.Toda a excitação se dis
POV: CarinaO quarto está um desastre, e ao virar o rosto para contemplar meu reflexo no espelho percebo que eu também. Devo ter passado a mão com a atadura, pois há resquícios de sangue na minha bochecha e queixo. Meu cabelo está desgrenhado, a camisola branca imunda. No entanto, o aperto firme em minha cintura me deixa mais calma. Não, é o cheiro, ele tem cheiro de terra molhada e menta. Ergo a face para encará-lo, feliz por não ser um delírio, mas o que vejo em sua írises rubras é um misto de pena, dúvida e medo. Ele acredita que estou louca?Afasto-me dele a contragosto,e cada fibra do meu corpo sente a perda do calor e segurança que tive em seus braços. A possibilidade dele achar que sou maluca só me deixa mais irritada. Minha mente luta para processar tudo, mas o pânico que senti quando as duas chegaram com a comida distorceu meus pensamentos e agi por instinto. Não, a frustração acumulada de anos explodiu. Até um rato acuado é capaz de morder, e tenho sido um rato acu
POV: NathanielAbandonamos o quarto revirado assim que Carina adormeceu após tomar uma poção de valeriana. Não o fez de bom grado, dois guardas tiveram que segurá-la. Achei prudente não fazer isso pessoalmente para evitar adicionar mais uma ação na lista de animosidades entre nós, considerando que tínhamos uma longa viagem a fazer.O aspecto era de uma pessoa perturbada, perdida em meio a um frenesi de paranoia e medo. A dúvida cresce e se instala dentro de mim. As anotações falavam exatamente o que os rumores sobre a loucura dos Starbane. Mas é a verdade? Ou tudo isso é apenas um rumor que ganhou força com o tempo?Resolvi acompar Mira até o quarto, a garota interrogada ficou para organizar o quarto. Durante a caminhada silenciosa, minha mente era uma miríade de pensamentos conflitantes. É assustador observar agora quão semelhantes são as duas. A beleza exótica de Carina reflete a graça de sua mãe.Talvez eu estivesse deixando minha atração pela mulher e o fato do meu corpo r
POV: CarinaNão consigo acreditar no cinismo dos meus pais, mais especificamente na minha mãe, pois meu pai desapareceu desde que saiu para resolver sabe-se lá o quê.A forma como eles mentem, a maneira como tentam me fazer acreditar que sou louca deixa a situação ainda mais insana. Passada a noite, duvido que tenha sido coincidência a comida ser exatamente da mesma cor que o veneno da história, ela sabia quais cordas puxar para me tirar do controle.Charles existe, eu tenho certeza disso. Também tenho certeza que nunca vi a garota responsável por arrumar meu quarto na vida, entretanto, todos dizem ser minha criada.Maldição.Meu estômago ronca, meus lábios estão rachados, mas não me atrevo a beber nem comer nada aqui. As velas ou os incensários também seguem apagados.Permaneço sentada em meu quarto, esperando o forasteiro de cabelos loiros e olhos rubros. Sei que ele vem para me levar como refém, só preciso aguentar mais um pouco.É uma boa oportunidade de fuga, minha melhor chanc
POV: CarinaNathaniel inclina o rosto para baixo, seus olhos rubros fixos nos meus. Meu coração b**e descompassado, e sinto como se todo o ar tivesse sido roubado da carruagem, a expectativa não me deixa respirar. A carruagem balança, e nossos joelhos se tocam, enviando uma corrente elétrica pelo meu corpo. O olhar de Nathaniel não vacila, e a consciência de que estamos tão próximos me faz tremer. Seu nariz toca o meu, uma carícia leve que faz meu corpo inteiro se aquecer. O calor é irresistível, uma chama que me consome. Quando seus lábios roçam os meus, é como se um feitiço fosse lançado. Algo morno floresce em meu ventre e se espalha. Toda a minha resistência se desfaz, quero implorar pelo beijo, mas o que ele faz a seguir me faz vacilar. Entendi mal? Ele não quer? A mão de Nathaniel se move para a parte de trás do meu pescoço. O polegar dele acaricia minha marca, deixando meu corpo e mente ainda mais confusos Meus olhos se fecham, esperando o beijo.Mas então, tudo muda. Os d
POV: NathanielO maldito vestido que ela usou para abandonar a torre era perfeito, ao menos parecia, com cada centímetro do tecido púrpura aderido ao seu corpo. Assim, sentados de frente um para o outro eu podia ver o pingente ametista do colar desaparecendo no decote. Os cabelos escuros caídos de modo ordenado nos ombros estreitos completavam a pintura. Tão linda, linda e minha.Decidi na noite passada que não me importo tanto com a verdade, o resultado será o mesmo. Louca, má ou vítima do destino, vou mantê-la, apesar de não saber ao certo como. Tenho um castelo inteiro a minha disposição, todas as paredes e portas são grossas o bastante para aguentar os ataques de fúria de dessa mulher.Quero puxá-la agora, saquear seus lábios e comprimir os seios em meu peito até que a garota esteja suspirando em minha boca, sentindo a mesma necessidade devastadora que me atordoa. Meu pau está duro, e eu ainda não a beijei, mas estava tão perto. Fecho os olhos, ao abri-los vejo de relance uma