2. Assalto

Amber Brown

— SOLTA ISSO! ! ! ! NÃO É SEU! ! ! — Seu grito era estridente e apavorado, girei o corpo imediatamente para conseguir ver o que acontecia, e a cena era completamente assustadora.

Três homens enormes estavam catando nossas malas, e minha mãe tentava inutilmente puxar sua frasqueira onde eu sabia estarem guardadas suas joias mais caras, num impulso eu tentei ajudá-la, apenas para sentir um poderoso tapa em meu rosto que me fez perder completamente o eixo, fiquei tonta, já não escutava nada, minha cabeça rodava, eu não consegui ver muita coisa depois disso apenas sentia minha cabeça girar com força, continuei escutando os gritos de mamãe, os gritos dos homens, era tudo como um borrão, não dava para entender o que eles falavam.

Depois de alguns minutos, que eu não saberia estimar quanto, senti minha consciência voltando lentamente, então consegui enfim me erguer do chão e o que vi depois disso me deixou completamente desolada, mamãe estava caída ao chão, em prantos, segurando com força algo que eu não conseguia ver o que era, e nenhuma, absolutamente nenhuma das nossas malas estavam ali, todas nossas roupas, nossos pertences pessoais, nossas roupas de marcas, perfumes, bolsas, joias, calçados, não tínhamos mais absolutamente nada.

Nos tiraram tudo!

Minha respiração começou a ficar acelerada, eu ia sentindo o desespero me corroer profundamente, não era só questão dos itens mais íntimos, era uma questão de sobrevivência, só a venda de uma daquelas malas vazias já nos sustentaria por meses, se fossemos econômicas e vivêssemos apenas com o necessário, duas malas daquelas, nos daria algum conforto e alguns passeios ainda, somando as joias que estavam em nosso poder, nós ainda tínhamos uma pequena fortuna que nos sustentaria por alguns anos sem muitos luxos, não era possível que absolutamente tudo que tínhamos para nos salvar da desgraça que estávamos metidas havia sido levado em questão de segundos.

Segundos!

Olhei ao redor do bairro e avistei inúmeras janelas abertas, muitas pessoas nos olhavam, mas nenhuma delas se dignava a nos ajudar, quando notaram que eu já os tinha flagrado, alguns fechavam as janelas, outros continuavam nos olhando, me senti completamente humilhada por estar naquela posição, eu não era a pessoa que estava jogada no chão, eu era a pessoa que jogava os outros no chão, sempre foi assim, mas agora eu estava aqui, largada como um mendigo na rua, me levantei correndo, peguei nos braços de mamãe e a ajudei a se erguer, tão logo fiz isso corremos para dentro da casa a fim de fugirmos de mais olhares curiosos.

Depois que entramos tranquei imediatamente a porta, rindo da minha estupidez, já nos levaram tudo, o que mais poderiam nos levar. Respirei fundo tentando entender o tamanho da desgraça que nos assolava, eu tinha esperanças, e todas elas estavam naquelas malditas malas, eu não tinha mais nada agora, me virei para olhar para a sala, por sorte havia um sofá, não precisaríamos sentar no chão, mas era apenas isso, mamãe se sentou nele chorando, eu não sabia o que fazer.

Olhei em volta para tentar me situar, vi ao lado a cozinha, havia o básico, tinha uma geladeira, fogão e micro-ondas, segui até lá, haviam algumas louças e talheres velhos, senti nojo deles.

Olhei para uma porta que havia ali ao lado e constatei que era um lavabo, era tão feio que me encheu de mais tristeza ainda, sai dele e fui até outra porta que havia na sala, tinha um jardim na parte de trás. Depois vi uma porta debaixo da escada e notei que se tratava do compartimento para uma máquina de lavar velha, pensei imediatamente que não tinha nenhuma roupa para lavar ali, quase chorei ao perceber isso. 

Apertei os punhos com força, tentando manter meu desespero contido, eu não podia perder a cabeça agora, eu precisava pensar em alguma solução, duvido muito que mamãe me ajude com algo, ela provavelmente só vai chorar e chorar e chorar e me mandar arrumar um trabalho.

Subi a escada velha de madeira e vi acima dois quartos, logo entrei no primeiro e percebi que tinha uma cama de casal, uma escrivaninha, um closet pequeno e um banheiro, me encaminhei até a segunda porta, agradecendo aos céus que havia outro banheiro nele, pelo menos eu não precisaria dividir o mesmo com mamãe.

Dos males o menor, esse quarto era do mesmo tamanho do anterior e continha a mesma mobília, bem, pelo menos não dormiríamos no chão, retornei à sala e vi mamãe acariciando algo em sua mão, fui até ele para ver o que ela tinha conseguido salvar.

— Graças a Deus! — Exclamei quando vi que ela tinha ali uma de suas alianças cravejada com diamantes — Podemos penhorar ela, vai nos ajudar por algum tempo, não temos mais nada de valor, todas as bolsas, roupas, malas e joias se foram, ainda bem que conseguiu salvar algo — Falei me sentindo ligeiramente alivia, até minha respiração ficou mais leve nesse instante.

— Não vamos vendê-lo — Mamãe exclamou fechando as mãos em um gesto para proteger o anel. — É minha joia preferida, já não basta eu ter perdido absolutamente tudo que eu tinha? Não perderei isso também — Terminou me deixando incrédula e boquiaberta com a sua afirmação.

— Mas mamãe! Não sei se olhou ao redor — Disse enquanto andava circulando aquela sala absurdamente minúscula — mas não temos mais nada, a única coisa de valor que temos é esse bendito anel, e caso não o vendamos, não teremos se quer o que comer hoje.

— Você pode arrumar um emprego para nos sustentar — Falou já se levantando e indo em direção a escada — Mas não vou vender o anel — Meus olhos se arregalaram ao ver que ela não moveria uma palha por nós duas.

— Eu posso arrumar um emprego, mamãe, e vou, porém, até lá precisaremos de dinheiro —Tentei argumentar, para pôr algum juízo na cabeça dela.

— Você tem alguns dólares na sua carteira, eles não a levaram, não é? Tenho trezentos dólares no meu sapato, por precaução guardei aqui, dará para as primeiras compras até que você comece a trabalhar, pode usar esse dinheiro, mas não venderei a joia — Disse em seguida se abaixando para pegar o dinheiro escondido em seu sapato e jogando em cima do sofá, antes de dar ordens — Vá ao mercado e compre comida para o mês, quando retornar, nós vamos até alguma loja de pobre comprar algumas mudas de roupas baratas, pelo menos algo que dê para você ir em busca de um trabalho.

Assenti me sentindo derrotada, temos quatrocentos e vinte dólares, eu nem fazia ideia de como aquilo daria para comprar tudo que ela disse para comprar, e eu nem sabia como comprar mantimentos, o que eu precisava comprar? Eu nunca havia feito compras, eu nunca nem havia entrado em um super mercado na vida, como eu faria isso? Não era possível que ela fosse jogar toda a responsabilidade disso sobre as minhas costas, nós duas estávamos no mesmo barco.

Subi as escadas indo em direção ao primeiro quarto, notei que ela não estava lá, então fui em direção ao segundo, mamãe estava sentada na beira da cama, olhando perdida para um ponto qualquer, pensei em questioná-la, mas me senti apiedada dela, ela sempre teve pessoas para fazer tudo por ela, e agora perdeu tudo, não que diferisse comigo, mas eu era mais nova, era mais capaz de entender essa mudança, então ao invés de brigar com ela, perguntei o que eu deveria comprar de mantimentos para a semana.

— Não sei! Nunca fiz compras, as empregadas da mansão a faziam, eu apenas pedia o que queria comer!

Engoli em seco sabendo que de nada mais adiantaria aqueles questionamentos, desci até a sala e me sentei naquele sofá duro e velho, sentindo tanto nojo dele ao pensar em quantas bundas fedidas devem ter se sentado ali, a ânsia veio forte, então decidi ficar em pé, me apoiei no corrimão da escada e comecei a pesquisar no G****e listas básicas de compra.

Olhei uma que me pareceu interessante, lista semanal, custo de cento e vinte dólares, tinha uma quantia razoável de alimentos que me deram um norte, depois eu descobriria como prepará-los, mais consciente do que fazer, guardei a lista no celular, olhei no GPS para saber aonde tinha algum mercado próximo, constatei que tinha um há cerca de dois quilômetros da casa que estávamos, era uma caminhada curta, daria para ir andando.

Saí de casa e olhei ao redor, não havia mais pessoas nos vigiando, isso me deixou mais aliviada, segui na direção indicada pelo GPS, mantendo o celular escondido nas calças, não poderia me dar ao luxo de perdê-lo também, continuei andando por cerca de uns vinte e cinco minutos até chegar ao tal mercado que havia visto antes.

Tentei encarar aquilo como uma nova experiência de vida, entrei no mercado e fiquei olhando tantos corredores e prateleiras que haviam ali, avistei um carrinho de compras e peguei um, abri a lista do celular e me guiei ao primeiro corredor.

— Você consegue fazer isso Amber, basta pensar que é como uma loja de roupas, basta escolher, colocar no carrinho e ir até o caixa pagar, é moleza — Sussurrei para mim mesma, eu consigo, eu vou conseguir.

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