6. Destino

Amber Brown

No dia seguinte me levantei da cama sentindo meu corpo todo moído, chorei por incontáveis horas pensando no que eu faria para conseguir me manter, vasculhei todo o quarto que mamãe usava, na vã esperança de encontrar o anel que ela tinha conseguido salvar durante o assalto, talvez eu quisesse me iludir com a ideia de que ela pudesse ter dado algum mole e o esquecido.

Mas era claro que eu estava me enganando, contudo, a esperança é sempre algo muito forte em nós, eu quis acreditar, talvez me forçar a procurar para não me sentir tão abandonada como eu estava me sentindo nesse momento.

Depois de exatamente duas horas procurando por nada em lugar nenhum, resolvi descer, eu não podia mais ficar naquela situação, precisava encontrar soluções e procurar por esse maldito anel era basicamente fechar os olhos para a minha realidade atual, e ela não era nada favorável para mim, eu precisava de um emprego, e era isso que eu faria a partir de hoje, não pararia até encontrar um, não importasse em que ou aonde, eu só pararia quando conseguisse.

Saí de casa nesse dia, e em todos os trinta dias seguintes, e absolutamente nenhum lugar que eu deixava meu currículo me chamava, eu comia pouco, mas agora eu oficialmente não tinha mais nada para comer, a situação estava bem delicada, eu sentia que alguém estava me prejudicando deliberadamente, pois nada e nem ninguém em nenhum lugar me contratava.

Como isso era possível? Eu praticamente implorava por uma vaga, eu quase, por muito pouco me ofereci para trabalhar apenas para ter comida, e nem assim foi possível, estamos na América, emprego não é difícil assim por aqui.

Eu estava me controlando para não cair em desespero, mas a situação por si só já era bem desesperadora, completamente desesperadora, eu já tinha rodado todos os shoppings, lanchonetes, empresas de maquiagem, eu não sabia mais o que fazer, ou aonde procurar emprego, estava sentada no chão da sala pois ainda não tinha me acostumado com aquele sofá nojento, pensando no que eu faria para conseguir sair dessa, até que escuto alguém batendo na porta, me levanto lentamente e vou até ela para abri-la.

— Bob! — Senti vontade de chorar pela humilhação por deixá-lo me ver naquela posição.

— Posso entrar? — Ele me pergunta educadamente, e eu assinto com a cabeça, logo ele entra e se acomoda na banqueta da cozinha, eu vou para o outro lado afim de preparar algo para ele beber.

— Aceita café? — Pergunto e só então noto que o pó acabou, engulo as lágrimas, elas descem como pedras dentro da minha garganta — Ou água? — Mudo a oferta na esperança de que ele não perceba a situação em que me encontro atualmente.

— Estou passando aqui para saber como você está! Minha filha me disse que não ficou com o emprego, não sei se conseguiu alguma coisa... 

— Ainda não, mas bem em breve vou conseguir Bob, logo estarei trabalhando — Havia um suplício e um tom de desespero tão claro em minha voz que a expressão de Bob amenizou imediatamente.

— Você não precisa passar por isso sozinha Amber! Aceite o emprego! Clara me disse que a vaga ainda está em aberto, me pediu para te avisar que se você ainda a quiser, basta aparecer na empresa com seus documentos o quanto antes, e pronta para trabalhar, que você será contratada! — Olhei para ele me sentindo um lixo por depender da sua benevolência. — Não seja orgulhosa! 

— Eu vou conseguir um emprego — Falei insegura, me agarrando ao meu orgulho, eu não queria me render.

— Tem certeza? — O tom cético em sua voz não me passou despercebido — Você é adulta e sabe o que é melhor para você. mas saiba que essa vaga não estará disponível para sempre, se eu fosse você pensaria nisso com carinho e tomaria uma decisão positiva sobre o assunto, pense bem! — Ele falou calmamente, havia uma misericórdia velada em sua voz, algo muito próximo de pena, e eu tive que fazer o maior esforço da minha vida para não desabar ali na frente dele, era humilhante demais tudo isso.

Eu não havia notado, mas em suas mãos havia uma sacola de supermercado, ele colocou sobre a bancada assim que se levantou para ir embora, eu o segui e abri a porta para ele, Bob acenou para mim e saiu, sem mais explicações, ele deve ter deduzido que eu estava em uma situação como essa, só consigo pensar que aceitar trabalhar para ele é a melhor opção que eu tenho no momento, por mais que eu não quisesse, eu já sabia qual seria o meu destino.

Tranquei a porta de casa me sentindo um lixo, fui até a bancada e abri a sacola, nele havia um cartão de passagem para que eu pudesse usar o transporte público, e haviam alguns mantimentos, um pouco de carne, pães, queijo, feijões enlatados e uma garrafa de leite, algo suficiente para pelo menos uma semana sem passar fome, avistei um pote de iogurte e esse foi o meu fim, comecei a chorar novamente, abrindo o pote e o devorando com um prazer que eu já havia esquecido como era.

Quanto tempo fazia desde a última vez que eu bebi um misero iogurte? Abri a lata de feijões para comer, eu estava com fome, não tinha comido o dia inteiro, tirei todos os alimentos e fui guardando no armário, sentindo o quanto eu era miserável, mesmo sem a intenção Bob estava esfregando isso na minha cara, eu não tinha mais para onde correr, rendida subi para meu quarto para deitar e tentar dormir.

Amanhã eu precisaria acordar cedo, e precisaria passar por uma outra humilhação com Dylan ao retornar para pedir a vaga que desdenhei no mês passado, porém amanhã eu estaria indo para lá sabendo exatamente o buraco que eu estava me enfiando, consciente da minha situação e da necessidade que eu tinha de começar a trabalhar quase que imediatamente, preparei minha mente para o nosso inevitável encontro.

Não haviam escolhas para mim, o destino já estava traçado e eu sabia disso, essa consciência era assustadora e perturbadora, o que me fez ter uma noite péssima de sono rolando de um lado para o outro tentando entender como a vida estava sendo tão injusta comigo. De tudo que eu poderia imaginar para mim, definitivamente nenhuma delas era se quer próxima da situação em que eu me encontrava. O sentimento frustrante de saber que não haveria para onde correr ainda perpassava pelos meus ossos me trazendo grande lamento. 

Para o meu alívio eu dormi rápido essa noite, contudo tive sonhos eroticamente quentes e perturbadores com o meu futuro chefe.

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