Amber Brown
O dia amanhecera cinzento, combinava em muito com o meu estado de espírito, mas isso já não era importante, o que eu sentia, ou o que eu deixava de sentir não mudava em nada a minha realidade, e ela era muito pior do que eu gostaria de viver, ou do que eu acreditava que merecia viver, minha vida era completamente perfeita, eu não tinha o que reclamar, porém de uma hora para a outra tudo mudou da água para o vinho em questão do quê? Dias? Horas?
Levantei da cama com muito custo, pois sabia que seria a última vez que me deitaria nela, caminhei lentamente, desfrutando da visão do meu quarto, enquanto ele ainda era meu, até que cheguei a janela para observar o jardim, pensava que talvez eu pudesse vê-lo novamente no futuro, mas muito provavelmente, eu jamais o veria de novo. Desci as escadas e vi mamãe sentada no sofá com os olhos perdidos, olhando para um ponto fixo, ela com certeza deve estar muito mais desorientada do que eu com tudo que nos aconteceu.— Bom dia! Mamãe! — Chamei a sua atenção, tentando parecer animada — Já arrumou as suas coisas?Ela nem se dignou a responder-me, apenas apontou para as inúmeras malas da Balenciaga organizadas ao lado do chapeleiro bem próximo à porta, mamãe nunca precisou economizar, comprava absolutamente tudo que desejasse, e eu por inferência, tinha o mesmo direito e hábitos que ela, pelo menos os nossos pertences pessoais o banco não confiscou, minha mente trabalhava em busca de soluções, e eu só pensava que poderia vender essas malas no e-bay por um valor suficiente para nos manter por alguns meses, ainda mais os itens de grife dentro delas.Não tínhamos mais funcionários que pudessem nos ajudar a carregar tudo para o taxi, todos eles, sem exceção, debandaram assim que recebemos as notificações da justiça confiscando a nossa mansão localizada em Ridgewood, Nova Jersey, olhei ao redor admirando a propriedade incrível que possuíamos até semana passada, suspirei resignada, eu cresci nessa mansão, todas as minhas lembranças são oriundas daqui, dava-me um aperto imenso no peito ao saber que papai fez dívidas o suficiente para perdermos o nosso lar para quitá-las.— Vamos ficar bem! — Afirmei nada convencida do que eu mesma falava naquele momento, mamãe apenas assentiu.Sem demoras peguei o meu celular, que graças aos céus não fora confiscado quando o oficial de justiça veio tomar os carros de papai e abri o aplicativo do Uber para solicitar um transporte, visto que agora não tínhamos mais nenhum carro disponível, e assim seguir para o que seria agora a nossa residência temporária.Como não poderíamos ser simplesmente jogadas na rua, o advogado da família, amigo de anos de papai nos ofereceu sua casa no Bronx, que segundo ele havia passado recentemente por uma reforma, e era usada por ele como renda extra, pois ele alugava para trabalhadores e afins, o mesmo disse que o último locatário tinha saído da casa e ela estava vazia, com isso poderíamos ficar lá sem nenhum custo por cerca de seis meses.Depois disso ele passaria a nos cobrar um valor de aluguel, mas esse tempo nos daria um respiro até que nós achássemos um trabalho, ou vendêssemos as coisas de valor que possuíamos, eu já planejava mentalmente os bazares para os quais venderia cada coisa e assim poderíamos sem dificuldades custear o valor do aluguel, ou então encontrarmos um lugar melhor para viver, porém, como no momento estávamos sem dinheiro e se tivéssemos movimentações altas em conta o banco retiraria o dinheiro para quitação de dívidas de meu pai, apenas poderíamos0 ter valores baixos em conta e o restante precisaria ser dinheiro vivo.Eu tinha recém completado vinte e quatro anos, eu era bonita, então para mim, não seria difícil arrumar um emprego além do que, eu sabia que com tudo que tínhamos, talvez, isso nem se fizesse necessário, obviamente não teríamos mais tantos luxos, teríamos que economizar, mas ainda assim daria para vivermos bem por um longo tempo. Se considerasse o tanto de dinheiro que Bob, o advogado de papai ganhou nesse período trabalhando para nós, ele deveria era nos dar a casa e não alugar, mas isso também não seria viável, a mansão foi vendida por dezesseis milhões de dólares, e nem todo esse valor foi capaz de quitar as dívidas que papai tinha, ainda perdemos os carros e nossa ações, ainda restavam algumas, mas eram poucas, se tivéssemos qualquer imóvel, seria vendido para quitá-las.Após cerca de oito viagens para trazer todas as malas, e notas que elas quase não couberam nele me senti melhor, realmente tivemos sorte de não terem confiscado os nossos bens pessoais.Como eu disse, nós duas juntas tínhamos muitas roupas de marca, malas, joias, a verdade é que dentro daquelas malas havia uma pequena fortuna, que tão logo estivéssemos acomodadas na casa emprestada eu faria questão de organizar para vendê-las para saber exatamente o quanto teríamos e como viveríamos com isso.Eu não fiz faculdade quando terminei o High School, pois eu e papai tivemos uma discursão muito séria sobre a profissão que eu queria seguir na época, ele exigia que eu me formasse em administração para assumir as empresas, mas eu sempre sonhei em trabalhar com maquiagens, eu disse a ele que me inscreveria no curso de química, tive um grande incentivador na época...Bem, eu falei a ele que trabalharia com cosméticos, mesmo que o meu maior prazer fosse criar maquiagens, de todos os tipos, inclusive aquelas escabrosas usadas em filmes, mas sabia que papai nunca aceitaria, então a química era um meio para um fim, mas ele era esperto, percebeu o meu intento e logo tirou de mim essa possibilidade.Ele não permitiu que eu me matriculasse na faculdade, me deixou presa em casa e com isso perdi os prazos na época, eu me senti tão atordoada que não dei a ele o que ele queria, e me recusei a ir trabalhar com ele, acabou que fiquei em casa durante os anos seguintes apenas gastando o dinheiro que ganhávamos, porém, eu era boa com contas, e entendia sobre investimentos, pois eu sempre lia sobre o assunto e acompanhava a bolsa de valores. A viagem até o Bronx foi longa, mamãe dormia aperta ao meu lado, eu estava me sentindo temerosa do que iriamos encontrar, mas estava tentando ser otimista, esperava de todo meu coração que a casa fosse minimamente confortável, tínhamos tanto em nossa mansão, e agora eu sabia que teríamos pouco, muito pouco nessa nova casa, ao menos teríamos um teto, pensei, tentando me consolar, mas isso só me trouxe mais raiva ao saber que a culpa por isso havia sido dos erros cometidos por papai.Tão logo o carro chegou ao destino eu saio do carro para avaliar com calma a nossa nova moradia, a casa era geminada e de dois andares, havia uma escada a frente que dava acesso à porta principal, olhei a largura dela, e era ridiculamente pequena, senti vontade de chorar ao notar o cubículo que teríamos que morar, meu quarto na mansão era maior que essa casa inteirinha, fechei meus olhos me contendo para não cair no choro, até que escuto a voz do motorista, deixando tudo ainda pior.— Deu oitenta dólares a corrida!Me senti miserável ao lembrar que eu tinha apenas duzentos dólares na carteira, e isso por pura sorte, pois eu iria sair e tinha sacado o dinheiro na semana anterior, porém minha amiga Lyn não pode ir por algum problema em casa, então desmarcou comigo em cima da hora, e com isso o dinheiro acabou ficando guardado, dei a ele a nota de cem com muito pesar e peguei os vinte dólares de troco, pensando em quanto tempo aquele valor ali duraria até eu precisar arrumar mais.Eu abracei mamãe que olhava desolada para nossa nova casa, estávamos tão perdidas com aquela situação que não notamos quando o motorista se foi, ficamos nós duas chorando silenciosamente enquanto olhávamos nossa nova casa com tristeza e algo muito parecido com ódio, papai havia feito besteiras e nós estávamos pagando o preço por isso, não era justo, nem um pouco, não sei quanto tempo se passou durante nossos delírios de sofrimento, apenas me dei conta da estupidez que estávamos fazendo quando mamãe começou a gritar.— SOLTA ISSO! ! ! ! NÃO É SEU! ! ! — Seu grito era estridente e apavorado, girei o corpo imediatamente para conseguir ver o que acontecia, e a cena era completamente assustadora.Amber Brown — SOLTA ISSO! ! ! ! NÃO É SEU! ! ! — Seu grito era estridente e apavorado, girei o corpo imediatamente para conseguir ver o que acontecia, e a cena era completamente assustadora.Três homens enormes estavam catando nossas malas, e minha mãe tentava inutilmente puxar sua frasqueira onde eu sabia estarem guardadas suas joias mais caras, num impulso eu tentei ajudá-la, apenas para sentir um poderoso tapa em meu rosto que me fez perder completamente o eixo, fiquei tonta, já não escutava nada, minha cabeça rodava, eu não consegui ver muita coisa depois disso apenas sentia minha cabeça girar com força, continuei escutando os gritos de mamãe, os gritos dos homens, era tudo como um borrão, não dava para entender o que eles falavam.Depois de alguns minutos, que eu não saberia estimar quanto, senti minha consciência voltando lentamente, então consegui enfim me erguer do chão e o que vi depois disso me deixou completamente desolada, mamãe estava caída ao chão, em prantos, segurando
Amber Brown Havia se passado cerca de quinze dias desde que eu e mamãe nos mudamos para a casa nova no Bronx, eu estava começando bem aos poucos a me sentir familiarizada com a casa, não havia muito o que conhecer por aqui, era uma casa bem pequena, um dia foi mais que suficiente para ver tudo que havia nela, também aproveitei para conhecer parte do bairro.Conheci a localização dos mercados mais pertos da casa, o parque Crotona Park que era relativamente próximo, não fui muito a frente pois se fosse chegaria ao zoológico, e era um lugar que eu não queria retornar, provavelmente nunca mais na minha vida, mapeei todos os pontos de ônibus e as estações de metrô para quando fosse necessário me locomover gastando pouco eu saber exatamente aonde ir, conheci alguns barzinhos, e outras lojas que haviam por aqui, mesmo que não tivesse desfrutado dos serviços oferecidos por ele em prol da economia forçada.Tentei uma vaga de emprego em absolutamente todo o comércio existente nas redondezas, j
Amber Brown — Ele pediu para a você entrar, a reunião acabou — Sorri satisfeita, eu só precisava fazer um pouco de pressão, eu não iria embora de verdade, apenas queria saber se ele estava me testando, havia ouvido falar desses testes que fazem com novos empregados, para saber o quanto eles querem a vaga, com isso o deixam esperando sem necessidade, para saber o quanto aguentam, se ele me chamou ao invés de me deixar ir embora, eu realmente tinha alguma chance como Bob me disse mais cedo, essa Clara com certeza era bem vista nessa empresa.Agradeci a ela pela informação e segui em direção a porta, a abrindo e entrando no escritório formal e masculino que existia atrás dela. O homem estava de pé, olhando para o paredão de vidro que havia atrás de sua mesa.— Boa tarde sr...— Cooper — Sua voz era grave, e por alguma razão que eu não soube explicar naquele momento, eu senti medo ao ouvi-la, uma familiaridade estranha perpassando pelo meu corpo, ele estava em pé, de costas para mim, admi
Amber Brown — Dylan ... — Meus olhos não acreditavam no que eu via, isso não era possível, por que diabos de todos os malditos homens do mundo, tinha que ser justamente ele o homem que estava naquela posição a minha frente? quantos caras eu já namorei? Dez? Vinte? Nem eu sou capaz de numerar, e justo o relacionamento (não chegou a ser um namoro pois nunca oficializamos nada) mais conturbado, com mais consequências e situações completamente adversas, o que teve o fim mais trágico é o que está aqui, seu sorriso maldoso me fazendo desconfiar das condições as quais eu cheguei até aqui.Não! Não era possível, Bob pediu a filha dele para me ajudar, Dylan com certeza sabe tudo que passei, saíram nos jornais matérias sobre o meu pai, quando Clara me indicou ele deve ter se deliciado com a oportunidade de me colocar nessa posição.— Receio que não seja oportuna essa vaga, bem, acho melhor eu ir, vou retirar minha candidatura, de todo modo, muito obrigada pela oportunidade — Optei pela cordial
Amber Brown No dia seguinte me levantei da cama sentindo meu corpo todo moído, chorei por incontáveis horas pensando no que eu faria para conseguir me manter, vasculhei todo o quarto que mamãe usava, na vã esperança de encontrar o anel que ela tinha conseguido salvar durante o assalto, talvez eu quisesse me iludir com a ideia de que ela pudesse ter dado algum mole e o esquecido.Mas era claro que eu estava me enganando, contudo, a esperança é sempre algo muito forte em nós, eu quis acreditar, talvez me forçar a procurar para não me sentir tão abandonada como eu estava me sentindo nesse momento.Depois de exatamente duas horas procurando por nada em lugar nenhum, resolvi descer, eu não podia mais ficar naquela situação, precisava encontrar soluções e procurar por esse maldito anel era basicamente fechar os olhos para a minha realidade atual, e ela não era nada favorável para mim, eu precisava de um emprego, e era isso que eu faria a partir de hoje, não pararia até encontrar um, não im
Amber Brown A noite foi extremamente longa para mim, eu literalmente passei todos as horas que me afastavam da manhã observando o tempo e as compras deixadas por Bob na minha casa, contei e recontei cada alimento, calculei o tempo que aquilo poderia durar, e o quanto eu poderia guardar sem precisar me humilhar voltando até a empresa de Dylan e aceitando aquela maldita vaga para trabalhar com ele, apenas para perceber que eu precisava mudar minha situação o mais rápido possível, a quem eu queria enganar?Eu não tinha escolhas!Quando o alarme do celular me avisou que já eram seis horas da manhã, eu me dei conta de que meu tempo fora desse prelúdio de pesadelo havia findado, eu não tinha muito mais para onde correr, precisava agir e ir de encontro a ele. Talvez isso não seja tão ruim quanto eu penso, talvez, apenas talvez, Dylan ainda mantenha sentimentos puros por mim e queira me ajudar de forma genuína, sem segundas intenções.Que meus instintos estejam errados!Respirei fundo e tent
Amber BrownA tal da Clara que fazia uma questão de mostrar o quanto estava irritada em ter que me apresentar a empresa me fez questionar minha sanidade em ter aceitado tudo isso. Não demorou muito até que ela começou a me mostrar todo o prédio, iniciamos pelo térreo onde fui apresentada as recepcionistas e a todo o salão que havia ali, como era uma empresa de maquiagem tinham diversos totens expositivos com tipos diferentes de Makes.Pude notar que cada um ficava com uma menina que oferecia o serviço, e notei que haviam expositores ali também, fomos até a lateral e lá pude perceber que existia uma loja com acesso pelo outro lado do prédio, entrando por onde eu vim, apenas dava para ver a área burocrática, a secretária me explicou que ali eles vendiam os produtos e todas as funcionárias tinham acesso ao prédio.Fiquei encantada com a loja, entramos nela e tinha muitos expositores com inúmeras maquiagens, e me explicaram que os clientes que querem ser maquiados vão para a parte separad
Dylan Cooper Finalmente ela tinha decidido aparecer, confesso que quando a vi entrar por aquela porta pela primeira vez e descobriu que trabalharia para mim, se recusando em seguida e indo embora, tive certeza absoluta de que não voltaria mais. Apenas se não tivesse escolha!E eu fiz exatamente isso, tirei de Amber toda pequena escolha que ela tinha, não foi fácil! Não foi rápido! Foi demorado e cara, muito caro, mas valeu cada centavo para ver a expressão perdida e completamente surpresa que ela demonstrou ao me ver.Eu sou um cara que se dá bem com todos, tenho muitos conhecimentos e muitos parceiros em todo o ramo de cosméticos e vendas, comércio em geral, então com eles foi bem simples de resolver, bastou queimar a imagem dela no meio, eu nem precisava vigiar, no momento que ela levasse seu currículo seria descartada. Imaginei que esse seria exatamente o primeiro lugar que ela procuraria algo, Amber sempre quis trabalhar com maquiagens, se não fossem elas, seriam lojas.E não tive