Capítulo 2

AIYANA

A sensação de calor no peito, aquele fogo incontrolável que dançava dentro de mim, ainda estava lá, como se a chama ancestral tivesse se enraizado em meu corpo. Mas o que antes parecia ser um privilégio agora só me trazia agonia.

A cada passo que dava, sentia os olhares da alcateia pesando sobre mim, frios, duros, implacáveis. O desprezo estampado em seus rostos me cortava mais do que qualquer palavra. Eles me viam como uma intrusa, uma ameaça. Não pertencente a eles. E, se já não fosse suficiente, eu tinha que enfrentar o ódio de Isabela e a rejeição estampada no olhar de Maxim.

Isabela se aproximou com um sorriso venenoso nos lábios, seus olhos brilhando com um ódio latente. Eu podia quase sentir a tensão pulsando no ar.

— Você realmente acha que pode simplesmente ser a "escolhida", Aiyana? — disse ela, a voz baixa e cortante, quase como se quisesse me ferir com cada sílaba. — Sua mãe era uma bruxa, e agora você acha que a chama te escolheu por acaso? Não engula essa mentira. Eu sei o que você é, e sei que fez algo para alterar o resultado.

—O q-quê? Eu não...

Minha garganta se apertou com a acusação. Minhas mãos tremiam levemente, mas eu apertei a mão de Alyssa com mais força, buscando um pouco de segurança. Eu já sentia o peso da herança de minha mãe, mas ouvir isso de Isabela... era como uma lâmina afiada, enterrada profundamente. Eu me lembrava tão pouco de minha mãe.

— Eu não escolhi isso! — minha voz saiu mais rouca do que eu esperava, mas eu a mantive firme, tentando controlar a raiva que se formava dentro de mim. — Eu não sou minha mãe.

Isabela deu uma risadinha sarcástica, cruzando os braços com um olhar de desprezo. Alyssa apertou minha mão ainda mais, como se me transmitisse coragem através do toque.

— Ah, claro. Como se fosse tão simples. Você não é sua mãe, mas é a mesma coisa. Uma bruxa. — Ela deu um passo em minha direção, a voz mais baixa agora, quase um sussurro, mas venenosa. — E agora você vai tentar roubar o que é meu, como sua mãe fez com o seu pai? Ela o roubou da minha mãe.

As palavras de Isabela me atingiram como um soco no estômago. Eu mal tinha uma lembrança da minha mãe, mas ela sempre foi o ponto de dor que eu carregava comigo. E agora Isabela estava misturando isso com uma mentira amarga, tentando fazer parecer que eu estava roubando algo que nunca quis.

Minha avó apareceu ao meu lado, como uma tempestade em forma de mulher. Ela estava firme, intransigente. Olhou para Isabela com uma fúria que eu raramente via nela.

— CALA A BOCA, ISABELA! — A voz da minha avó ressoou como um trovão, cortando o ar pesado entre nós. Ela colocou uma das mãos firmemente em meu ombro, me protegendo, e então, com os olhos como facas, fixou-se em Isabela. — Não ouse falar essas palavras a sua prima. Não ouse! Você não sabe o que está dizendo, e, se continuar, vai se arrepender de cada sílaba.

— Chega, Isa. — Maxim. Ele estava tenso, os punhos cerrados ao lado do corpo, o rosto tomado por uma raiva que queimava nos olhos. Eu podia ver a dor nele, mas ela não era dirigida a mim. Ele estava furioso consigo mesmo. E comigo. — Eu não preciso disso. Não preciso de você, Aiyana. Eu… amo Isabela, e vou ficar com ela. Não vou ignorar meus sentimentos por causa de uma chama idiota.

Eu não pude evitar. Meu coração se apertou, e um nó se formou na minha garganta. Ele... ele me odiava? Antes, ele nem sabia da minha existência, e agora parecia me ver como a responsável por todo o seu sofrimento. O desprezo nos olhos dele era como uma faca cravada em meu peito.

O ar estava espesso com tensão, e todos ao redor pareciam aguardar o desfecho. Scott Blackwood, o pai de Maxim, avançou, com sua postura rígida e cheia de autoridade. Quando ele falou, sua voz soou como uma sentença.

— A chama nunca erra, Maxim. — Ele olhou para o filho com uma frieza calculada, como se estivesse mais preocupado com a honra da família do que com qualquer outro sentimento. — Todos devem respeitar a força dos ancestrais. Ela escolheu Aiyana. Não há mais nada a discutir.

Maxim não respondeu de imediato, mas o desprezo transbordou de seus olhos enquanto ele olhava para mim. Ele deu um passo atrás, afastando-se de tudo o que representava essa escolha.

— A chama pode ter escolhido, mas eu não. Não vou deixar que isso me controle. — Ele estava desafiante, a voz tensa com raiva, como se sua última resistência estivesse quebrando a cada palavra.

Scott suspirou, resignado, como se já esperasse essa reação. Ele olhou para Maxim, então para mim, e sua voz soou como um decreto.

— A consulta será revista quando Aiyana completar 21 anos. Até lá, aguardaremos.

Aquelas palavras "aguardaremos" caíram sobre mim como uma maldição. Não era só uma questão de tempo; parecia que minha vida, meu destino, estavam sendo colocados em espera. Esperar o quê? Eu também não queria nada disso.

A sensação de ser vista como uma intrusa, alguém que não pertencia se intensificou. Meus olhos encontraram os de Alyssa. Ela sorriu suavemente para mim, como se dissesse que tudo ficaria bem. E, com isso, um pouco de alívio me invadiu, embora o peso da rejeição ainda estivesse em meus ombros.

Mas, então, eu olhei para Maxim mais uma vez. O ódio ainda estava lá, em seus olhos, e foi como se tudo dentro de mim se rompesse. Eu não podia suportar mais. Não mais os olhares, não mais as palavras, não mais aquela dor insuportável que estava surgindo no meu peito.

Eu olhei para a minha avó, senti o calor da mão dela no meu ombro, mas a dor dentro de mim ainda estava lá, afundando como uma âncora pesada. Era como se o peso do mundo tivesse se acumulado sobre meus ombros, e cada olhar, cada palavra, fosse um lembrete de que eu não era bem-vinda. Eu não sabia o que fazer com isso. 

Sussurrei, mais para mim mesma do que para qualquer outra pessoa:

— Eu vou para a floresta...

E então, sem olhar para trás, comecei a correr. Não sabia exatamente onde estava indo, mas sentia que, se ficasse ali, eu iria desmoronar. As vozes de Isabela, a raiva de Maxim, os olhares da alcateia... tudo isso me esmagava, e eu não podia suportar mais.

Corri sem direção, os pensamentos misturados, o coração pesado. Eu precisava de espaço, de ar, de algo que me desse alívio. Mas, mais do que tudo, eu precisava me afastar de todos eles. Se eu ficasse ali, na frente deles, eu ia afundar. Então, corri, sem olhar para trás.

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