Capítulo 3

AIYANA

O amanhecer estava perto de chegar, mas eu já estava de volta à beira da floresta, caminhando devagar. Meu corpo cansado ainda sentia os efeitos da noite mal dormida, e minha mente estava um turbilhão. A caverna onde passei a noite, embora já fosse um lugar familiar para mim, não me trouxe a paz que eu procurava. Dormir na floresta já não era tão fácil quanto antes. 

As árvores começaram a clarear com os primeiros raios de sol, mas o ar ainda estava frio, e eu sentia meu corpo arrepiado, não só pela temperatura, mas também pela inquietação. Meu coração batia mais rápido a cada passo que dava em direção à aldeia. Eu não sabia o que iria enfrentar lá, mas sabia que não podia continuar fugindo. Eu precisava voltar.

De repente, alguém me pegou pela cintura, puxando-me com força para fora da trilha. Antes que pudesse reagir, uma mão cobriu minha boca, abafando meu grito. Meu corpo entrou em pânico, mas não pude fazer mais nada além de tentar me soltar. Estava sendo arrastada, forçada a caminhar em direção ao curral. O cheiro de feno e madeira me invadiu, misturado ao som de respirações pesadas e rítmicas.

Quando finalmente consegui virar o rosto para encarar quem me segurava, meu coração quase parou. Era ele. Maxim.

Os olhos verdes, penetrantes, estavam fixos nos meus com uma intensidade fria, rígida, como se eu fosse algo que ele não queria, mas não podia evitar. Sua pele bronzeada parecia brilhar ao primeiro toque de sol, e o cabelo loiro areia estava mais bagunçado do que de costume, com as laterais curtas e o topo liso, dando-lhe um aspecto selvagem, mas ainda assim imponente. Ele era alto, muito mais alto do que eu me lembrava, e seus músculos, visíveis mesmo sob a camisa de tecido grosso, pareciam estar prontos para explodir a qualquer momento.

Ele parecia um predador, o olhar fixo, como se eu fosse uma presa, uma ameaça a ser controlada, e a raiva em seu rosto, agora parecia ainda mais acentuada.

Maxim raramente sorria, e hoje não era diferente. Seu rosto, embora másculo e atraente, estava distorcido pela frieza, pela tensão, como se estivesse lutando contra algo. 

Fiquei paralisada por um momento, incapaz de dizer qualquer coisa. O que ele queria de mim agora? Por que estava me seguindo?

Maxim me olhou, seu olhar frio e distante, mas por um instante, eu vi algo diferente. Algo mais profundo, algo que não consegui compreender.

— Você fugiu ontem — ele murmurou, sua voz baixa, quase desinteressada, mas eu podia sentir a raiva em cada palavra. — Pensou que poderia se esconder da alcateia, de mim?

Eu não consegui responder imediatamente, o choque ainda tomando conta de mim. Mas a raiva se ergueu dentro de mim, e com isso veio a necessidade de falar, de expor tudo o que estava entalado em minha garganta.

— Não sou sua responsabilidade, Maxim — sussurrei com raiva, tentando me soltar de seu aperto. — Você não quer isso, não é? Foi o que você disse ontem. Então por que está aqui? Por que me seguiu?

— Não sei o que você é, Aiyana. Mas a chama não erra. — Ele parou, como se se arrepende-se de cada palavra que disse, seu olhar ficando ainda mais distante. — Não importa o que eu queira, a verdade é que não há como escapar disso.

Maxim me soltou lentamente, mas a tensão no ar permanecia.

O que ele queria de mim? 

Maxim virou o rosto para o lado, como se tentasse se afastar emocionalmente de tudo, mas seus olhos ainda estavam fixos em mim. E, antes de se afastar, ele disse em voz baixa, quase como se não quisesse que eu ouvisse:

— Não espere que eu aceite isso tão facilmente.

Maxim parou por um momento, a distância entre nós tornando-se ainda maior. Ele respirou fundo, como se estivesse pesando cada palavra que estava prestes a dizer.

— Eu amo Isabela, Aiyana. E não vou deixar isso. Não importa o que a chama tenha dito, ou o que você pense que isso signifique. Ela é a pessoa que eu escolhi, e eu não vou mudar de ideia. Não vai ser você que vai me fazer abrir mão dela.

Eu senti uma pontada no peito, mas fiz questão de manter os olhos firmes nos dele. Ele não estava falando para me agradar, e as palavras dele me cortavam como facas, mas eu não ia demonstrar fraqueza. Não diante dele.

— Eu sei disso — murmurei, a voz baixa, tentando não deixar transparecer o desconforto que sentia

— Você não deve esperar que eu pare de viver a minha vida, Aiyana. Não vou desistir dos meus sonhos. Não vou mudar por causa de uma chama idiota e de uma escolha que não faz sentido para mim. Eu não te amo, e nem quero você. Não espere que eu faça isso.—Maxim continuou, seu tom ficando mais ríspido, como se estivesse despejando tudo o que sentia. 

Eu não abaixei o olhar, embora suas palavras estivessem ferindo não apenas meu ego.

— Longe de mim pensar que o príncipe largaria sua princesa, nenhuma expectativa aqui.

Seu olhar estreitou e tive que revirar os olhos.

— Não seja mal-humorado, você está agindo como se eu quisesse isso. Mas eu não quero, fui pega de surpresa tanto quanto você. 

Seus olhos eram frios e duros, e cada palavra parecia ser mais uma muralha erguida entre nós. Mas, quando ele bufa impacientemente e chuta um pedaço de feno, um silêncio pesado se instala. 

— Eu nunca te vi como mulher, Aiyana. Nunca vi.

Aquelas palavras foram como um golpe no estômago. Eu tentei me manter firme, mas uma onda de calor subiu para minha face, e fez querer me encolher. Senti como se meu corpo estivesse em chamas, não de forma quente e reconfortante, mas de uma forma fria e cortante. Como se ele tivesse arrancado o pouco de dignidade que ainda restava.

Eu queria gritar, retrucar, dizer algo rude, mas as palavras ficaram presas na minha garganta.

Tudo o que eu consegui fazer foi recuar, o suficiente para que ele visse a angústia em meu rosto.

Mas ele não parecia se importar. Não com nada disso.

Ele virou-se para ir embora, sem mais uma palavra, me deixando ali, sozinha.

—Idiota! —gritei.

As palavras de Maxim ecoavam na minha mente, como um eco cruel e incessante. Eu simplesmente comecei a andar, sem rumo, como se o corpo soubesse para onde ir, mesmo quando minha mente estava completamente em caos.

Cheguei em casa e entrei pela porta, sem olhar para trás.

Fechei a porta do quarto com um estalo, trancando-me para o mundo lá fora. Não queria ver ninguém. Não queria ouvir ninguém. O que ele disse estava martelando na minha cabeça, e a dor que eu sentia era algo que eu não sabia como lidar.

Eu me atirei na cama, sem forças para fazer nada mais. O choro começou a tomar conta de mim, algo incontrolável, e eu simplesmente não conseguia parar. Lágrimas quentes e amargas escorriam pelo meu rosto, e eu me permiti chorar até que o cansaço tomasse conta de mim.

No silêncio do meu quarto,  meu corpo cedeu ao exaustão. Eu não sei quando, mas adormeci, mergulhando em um sono profundo e pesado, onde os sonhos pareciam distantes demais para alcançar.

Mas o sono não me trouxe paz.

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