AIYANA
Assim que chego ao estacionamento, o ar frio b**e contra minha pele quente. Meus olhos encontram sua caminhonete. É azul como o céu antes do amanhecer, na verdade, exatamente como o céu, às três horas da madrugada. Ela parece tão deslocada quanto ele, robusta e sombria.
Maxim já está ao lado do veículo, os punhos ainda manchados de sangue, os músculos tensionados como se estivesse se segurando para não explodir novamente. Ele aponta para a caminhonete e me olha.
— Entra. — ordena.
Meu instinto me manda recuar. Ainda posso sentir a eletricidade no ar entre nós, a mesma energia bruta que vi em seus olhos quando ele estava socando Seth. Mas cruzo os braços e ergo o queixo, tentando disfarçar o fato de que minhas mãos ainda tremem.
— E Isabela? Ela não vai gostar nada de me ver no seu carro — provoco.
Maxim apenas solta um riso sombrio.
— Entra. Agora.
— Vou esperar por Alyssa. — digo.
— Aqui? No meio de um estacionamento vazio, com o vestido sujo de sangue e rasgado?
Bufo, mas vou até a caminhonete e puxo a porta, hesitando por um segundo antes de entrar. O interior é escuro, e sinto o cheiro do perfume doce e enjoativo de Isabela assim que sento no banco. Torço o nariz e resmungo baixinho, abrindo a janela para deixar o ar fresco entrar.
Maxim entra no carro e b**e a porta com força. Ele liga o motor e a música preenche o espaço. É rock. Surpreendente, pensei que ele nem ouvia música. Talvez, em outra situação, eu gostasse, mas aqui, agora, só aumenta a tensão sufocante.
O silêncio entre nós é cortante, e ele ainda aperta o volante com tanta força que seus dedos estão brancos. Quando finalmente fala, sua voz é gélida, desprovida de qualquer traço de gentileza.
— Esse vestido não combina com você.
Arqueio uma sobrancelha, surpresa com o rumo da conversa.
— O quê?
Ele aperta os lábios, seus olhos brilhando sob as luzes intermitentes do painel.
— Você gosta de ser invisível. Mas esse vestido faz você ser vista.
— Talvez eu quisesse ser vista — retruco.
Isso parece irritá-lo. Ele franze a testa, a mandíbula travando.
— Eu não gosto desse vestido — diz, ríspido.
Cruzo os braços, desafiadora.
— E o que tem de errado com ele?
Maxim me encara por um longo momento.
— É melhor perguntar o que não tem de errado com ele. Mostra demais. Seus peitos, suas pernas. Isso não combina com você.
Meus peitos? Ele acabou de falar dos meus peitos?
— Eu nem sabia que você percebeu que eu tinha peitos.
Ele bufa, me dando um olhar azedo.
— Estou falando sério, Aiyana.
— Eu também.
— E você não precisa de batom. Seus lábios já são carnudos e rosados o suficiente.
— Você não está fazendo sentido — rebato. — Está parecendo um lunático. E não é batom, é gloss. De cereja, com glitter — esclareço.
Maxim aperta ainda mais o volante, os nós dos dedos brancos, a mandíbula travada.
Assim que ele para na frente da minha casa, antes que eu possa sair, ele aperta meu pulso com força, os olhos tempestuosos presos aos meus.
— Você está proibida de usar vestidos.
— O quê? — solto um riso sem humor.
— Você quase foi estuprada essa noite por causa desse vestido.
Meu corpo inteiro enrijece. Uma fúria crua, quente e ardente, sobe pelo meu peito.
— Você só pode estar brincando. Minha roupa não tem nada a ver com isso!
Ele não solta meu pulso, mas sua mandíbula se trava ainda mais.
— Se não fosse esse vestido, talvez ele não ...
— Por favor, não termina essa frase. Eu não preciso de mais motivos para te odiar.
— Me odiar? Você não tem motivos para me odiar. Fui o único que teve a vida mudada.
— Cala a boca, Maxim! — grito, arrancando meu braço da mão dele. Meu sangue ferve. — Seth é um doente! Ele teria tentado mesmo se eu estivesse vestindo uma burca!
Ele soca o volante, o som ecoando no carro. Meu coração salta, mas me recuso a desviar o olhar.
— Eu quase fui estuprada hoje à noite, Maxim. E você quer colocar a culpa no meu vestido?
Ele aperta o maxilar, os olhos brilhando com uma fúria controlada.
— Eu deveria ter matado aquele desgraçado — ele rosna, o peito subindo e descendo de forma irregular. — Mas isso não muda o fato de que esse vestido fez todos os caras do baile olharem para você. Ficarem curiosos sobre o que mais você esconde.
Minhas mãos se fecham em punhos.
— Você é um idiota.
Maxim ignora minhas palavras, seus olhos percorrem meu rosto.
— E essa maquiagem? Por que diabos você passou isso nos olhos? Você já tem cílios longos, e esses brilhos só fazem eles parecerem maiores. Como se estivesse tentando chamar atenção.— ele murmura, sombrio.
Eu respiro fundo, tentando conter a raiva, mas minha paciência se esgota.
— Você não manda em mim, Maxim!
Sem esperar resposta, abro a porta do carro e desço, batendo-a com força.
Mas antes que eu possa dar um passo para dentro de casa, ouço a porta do carro se abrir atrás de mim.
Entro em casa e tranco a porta, deixando Maxim batendo do lado de fora. Como não há ninguém, vou direto para o quarto e tomo um banho. Quando saio do banheiro, só de toalha e com o cabelo molhado, encontro Maxim sentado na minha cama, mexendo na minha coleção de facas. Fico boquiaberta e questiono como ele entrou. Ele ainda está estudando uma faca específica, minha favorita
— Você é estranha.
— Nenhuma novidade. Como entrou aqui? — pergunto, incrédula.
Sem tirar os olhos da lâmina, ele responde com naturalidade:
— Tenho uma chave. Isabela me deu.
Senti um nó se formar no estômago, mas não me dei ao trabalho de questionar. Isso era tão Isabela.
—É claro. Bem,o que está fazendo no meu quarto? O dela fica no fim desse corredor.
— Eu sei, mas eu preciso falar com você. Quero me desculpar.
— Se desculpar?
AIYANAQuando Maxim se levanta, meu instinto me diz para recuar, mas não o faço. Não quero dar esse gosto a ele.— Eu vim me desculpar pelo que disse antes — ele continua, esfregando a nuca. — Eu não quis dizer que você era culpada pelo que o Seth estava prestes a fazer. Eu… eu me deixei cegar pela raiva. Isso sempre acontece quando estou perto de você. É mais forte do que eu. Mas eu sei que você não teve culpa e nunca deveria ter dito aquilo.As palavras dele me pegam de surpresa. Max raramente se desculpa. E, quando o faz, nunca parece realmente afetado. Mas agora… há algo na forma como ele não consegue ficar parado.—É, você não deveria.Ele evita meu olhar, os dedos inquietos tamborila
AIYANAMeu cabelo úmido grudava na pele, uma gota escorrendo lentamente pela minha clavícula antes de desaparecer sob a toalha apertada ao meu corpo.E então lá estava ele, parado no meio do quarto, o olhar sombrio e indecifrável.Meus olhos caíram para suas mãos manchadas de sangue seco. Seth. A lembrança do que aconteceu no baile passou na minha mente, mas eu a afastei. — Eu sei que estou sendo um idiota — ele quebrou o silêncio, a voz carregada de frustração. — Mas não consigo evitar. Você acha que eu queria isso? Você acha que eu queria sentir essa merda toda vez que olho para você?O riso que escapou de mim foi seco, amargo.— Ah, claro. Porque eu sou o seu grande problema agora. — Cruzei os braços, sentindo a umidade do meu cabelo escorrer em pequenas gotas. — A Chama Ancestral nos jogou nessa bagunça, Maxim, mas a diferença entre nós é que eu nunca te culpei.Ele passou a mão pelo rosto, como se tentasse organizar os pensamentos.— Não é assim tão simples…— Não? — dei um pass
AIYANAEu não esperava nada além de um dia comum. Trabalho, banho, cama. Era assim todo ano. Mas quando abri a porta de casa e vi todas aquelas pessoas reunidas, precisei de um segundo para entender o que estava acontecendo.Alyssa estava na frente, segurando um bolo coberto de chantilly e morangos, um sorriso largo estampado no rosto.— Feliz aniversário, sua loba rabugenta!Minha avó, Aldrich, estava ao lado dela, os olhos brilhando com aquele carinho que só ela conseguia transmitir. Azz pulava animado, segurando uma bexiga colorida, enquanto Chloé cruzava os braços e lançava um meio sorriso, como se dissesse: "Sim, eu estou aqui também."Luca assobiou.— A expressão dela tá ótima. Parece que viu um fantasma.Ele não estava totalmente errado.— O que…? — Minha voz falhou.Alyssa revirou os olhos.— O que parece? É uma surpresa!Minhas mãos ainda estavam presas às alças da bolsa, e eu percebi que meu corpo inteiro estava rígido. Eu nunca comemorava meu aniversário. Nunca quis.Mas al
AIYANAA respiração de Maxim era quente contra a minha boca, e algo dentro de mim se retorceu, uma força invisível me puxando para ele.E então, ele voltou.O segundo beijo não foi um toque.Foi algo mais profundo, mais faminto.Os lábios dele moldaram os meus, quentes e exigentes, como se quisesse me gravar nele. Sua mão deslizou da minha bochecha para a nuca, puxando-me mais para perto, enquanto sua outra mão segurava minha cintura.E foi aí que aconteceu.Algo dentro de mim rugiu.Era quente e instintiv
AIYANAO cheiro de fumaça e terra molhada grudava na minha pele como se o medo tivesse um perfume próprio. A noite era densa, opaca, e não tinha estrelas. Isabela tropeçava logo atrás de mim, praguejando baixinho entre os dentes. Minha vó ia à frente, com passos decididos demais para alguém da idade dela. Birguit vinha ao lado, os olhos atentos, farejando o perigo antes mesmo que ele nos alcançasse.— Por que Icarus faria isso agora? — perguntei em voz baixa, para ninguém em especial.— Porque ele acha que Maxim e o pai dele mataram os dele. — Isabela respondeu, fria como sempre. — E você não o conhece. Ele é violento e lunático.— Eu não sei de nada — resmunguei, apertando
AIYANAAlyssa se aproximou, a testa franzida de preocupação.— Você tem certeza disso?Olhei em direção à trilha escura de novo. A floresta me esperava.— Não. — Respondi. — Mas vou assim mesmo.Virei o rosto, procurando minha avó entre as mulheres. Ela estava sentada numa pedra, os dedos entrelaçados no colo, conversando com a mãe de Eli.Meu coração apertou.Inclinei a cabeça para o lado e me aproximei de Alyssa, falando baixo, só para ela ouvir.
AIYANA— Solta ela, Icarus. — Minha voz cortou o espaço entre nós com a precisão de uma flecha.Os olhos dele se ergueram devagar, como se não estivesse surpreso — apenas curioso.Isabela congelou. Max virou o rosto tão rápido que quase tropeçou no próprio impulso. Mas eu não olhei para ele. Meus olhos estavam colados nos de Icarus.E foi então que eu o vi de verdade.Ele era jovem, talvez um pouco mais velho que Max. Mas não havia nada inocente nele. Cabelo preto como o céu de uma noite sem lua, cortado rente ao couro cabeludo. A pele era pálida, quase translúcida sob a luz da lua, como porcelana viva.
AIYANAIcarus me puxou mais para perto, o braço firme ao redor da minha cintura.— Anjo, você não se parece com uma amante. — A voz dele escorria ironia, como se cada palavra fosse uma agulha. — Mas também não parece o tipo que divide. Ou será que divide?— Solta ela. — Max rosnou. Seu corpo inteiro tremia de raiva. — Agora, Icarus.— Ah, Max… — Icarus girou o rosto, como se estivesse entediado. — Eu tô tentando entender… quem é quem nessa história confusa.Ele olhou para Isabela, caída a poucos metros, os olhos marejados e o rosto