Capítulo 6

AIYANA

Assim que chego ao estacionamento, o ar frio b**e contra minha pele quente. Meus olhos encontram sua caminhonete. É azul como o céu antes do amanhecer, na verdade, exatamente como o céu, às três horas da madrugada. Ela parece tão deslocada quanto ele, robusta e sombria.

Maxim já está ao lado do veículo, os punhos ainda manchados de sangue, os músculos tensionados como se estivesse se segurando para não explodir novamente. Ele aponta para a caminhonete e me olha.

— Entra. — ordena.

Meu instinto me manda recuar. Ainda posso sentir a eletricidade no ar entre nós, a mesma energia bruta que vi em seus olhos quando ele estava socando Seth. Mas cruzo os braços e ergo o queixo, tentando disfarçar o fato de que minhas mãos ainda tremem.

— E Isabela? Ela não vai gostar nada de me ver no seu carro — provoco.

Maxim apenas solta um riso sombrio.

— Entra. Agora.

— Vou esperar por Alyssa. —  digo.

— Aqui? No meio de um estacionamento vazio, com o vestido sujo de sangue e rasgado?

Bufo, mas vou até a caminhonete e puxo a porta, hesitando por um segundo antes de entrar. O interior é escuro, e sinto o cheiro do perfume doce e enjoativo de Isabela assim que sento no banco. Torço o nariz e resmungo baixinho, abrindo a janela para deixar o ar fresco entrar.

Maxim entra no carro e b**e a porta com força. Ele liga o motor e a música preenche o espaço. É rock. Surpreendente, pensei que ele nem ouvia música. Talvez, em outra situação, eu gostasse, mas aqui, agora, só aumenta a tensão sufocante.

O silêncio entre nós é cortante, e ele ainda aperta o volante com tanta força que seus dedos estão brancos. Quando finalmente fala, sua voz é gélida, desprovida de qualquer traço de gentileza.

— Esse vestido não combina com você.

Arqueio uma sobrancelha, surpresa com o rumo da conversa.

— O quê?

Ele aperta os lábios, seus olhos brilhando sob as luzes intermitentes do painel.

— Você gosta de ser invisível. Mas esse vestido faz você ser vista.

— Talvez eu quisesse ser vista — retruco.

Isso parece irritá-lo. Ele franze a testa, a mandíbula travando.

— Eu não gosto desse vestido — diz, ríspido.

Cruzo os braços, desafiadora.

— E o que tem de errado com ele?

Maxim me encara por um longo momento.

— É melhor perguntar o que não tem de errado com ele. Mostra demais. Seus peitos, suas pernas. Isso não combina com você.

Meus peitos? Ele acabou de falar dos meus peitos?

— Eu nem sabia que você percebeu que eu tinha peitos. 

Ele bufa, me dando um olhar azedo.

— Estou falando sério, Aiyana.

— Eu também. 

—  E você não precisa de batom. Seus lábios já são carnudos e rosados o suficiente.

— Você não está fazendo sentido — rebato. — Está parecendo um lunático.  E não é batom, é gloss. De cereja, com glitter — esclareço.

Maxim aperta ainda mais o volante, os nós dos dedos brancos, a mandíbula travada.

Assim que ele para na frente da minha casa, antes que eu possa sair, ele aperta meu pulso com força, os olhos tempestuosos presos aos meus.

— Você está proibida de usar vestidos.

— O quê? — solto um riso sem humor. 

— Você quase foi estuprada essa noite por causa desse vestido.

Meu corpo inteiro enrijece. Uma fúria crua, quente e ardente, sobe pelo meu peito.

— Você só pode estar brincando. Minha roupa não tem nada a ver com isso!

Ele não solta meu pulso, mas sua mandíbula se trava ainda mais.

— Se não fosse esse vestido, talvez ele não ...

— Por favor, não termina essa frase. Eu não preciso de mais motivos para te odiar.

— Me odiar? Você não tem motivos para me odiar. Fui o único que teve a vida mudada.

— Cala a boca, Maxim! — grito, arrancando meu braço da mão dele. Meu sangue ferve. — Seth é um doente! Ele teria tentado mesmo se eu estivesse vestindo uma burca!

Ele soca o volante, o som ecoando no carro. Meu coração salta, mas me recuso a desviar o olhar.

— Eu quase fui estuprada hoje à noite, Maxim. E você quer colocar a culpa no meu vestido?

Ele aperta o maxilar, os olhos brilhando com uma fúria controlada.

— Eu deveria ter matado aquele desgraçado — ele rosna, o peito subindo e descendo de forma irregular. — Mas isso não muda o fato de que esse vestido fez todos os caras do baile olharem para você. Ficarem curiosos sobre o que mais você esconde.

Minhas mãos se fecham em punhos.

— Você é um idiota.

Maxim ignora minhas palavras, seus olhos percorrem meu rosto. 

— E essa maquiagem? Por que diabos você passou isso nos olhos? Você já tem cílios longos, e esses brilhos só fazem eles parecerem maiores. Como se estivesse tentando chamar atenção.— ele murmura, sombrio.

Eu respiro fundo, tentando conter a raiva, mas minha paciência se esgota.

— Você não manda em mim, Maxim!

Sem esperar resposta, abro a porta do carro e desço, batendo-a com força.

Mas antes que eu possa dar um passo para dentro de casa, ouço a porta do carro se abrir atrás de mim.

Entro em casa e tranco a porta, deixando Maxim batendo do lado de fora. Como não há ninguém, vou direto para o quarto e tomo um banho. Quando saio do banheiro, só de toalha e com o cabelo molhado, encontro Maxim sentado na minha cama, mexendo na minha coleção de facas. Fico boquiaberta e questiono como ele entrou. Ele ainda está estudando uma faca específica, minha favorita

— Você é estranha.

— Nenhuma novidade. Como entrou aqui? — pergunto, incrédula.

Sem tirar os olhos da lâmina, ele responde com naturalidade:

— Tenho uma chave. Isabela me deu.

Senti um nó se formar no estômago, mas não me dei ao trabalho de questionar. Isso era tão Isabela. 

—É claro. Bem,o que está fazendo no meu quarto? O dela fica no fim desse corredor.

— Eu sei, mas eu preciso falar com você. Quero me desculpar.

— Se desculpar? 

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