AIYANA
Icarus me puxou mais para perto, o braço firme ao redor da minha cintura.
— Anjo, você não se parece com uma amante. — A voz dele escorria ironia, como se cada palavra fosse uma agulha. — Mas também não parece o tipo que divide. Ou será que divide?
— Solta ela. — Max rosnou. Seu corpo inteiro tremia de raiva. — Agora, Icarus.
— Ah, Max… — Icarus girou o rosto, como se estivesse entediado. — Eu tô tentando entender… quem é quem nessa história confusa.
Ele olhou para Isabela, caída a poucos metros, os olhos marejados e o rosto
AIYANAOs dois lobos se chocavam como sombras vivas. O lobo cinzento de Max, esguio e rápido, com as patas brancas como neve, girava e avançava em círculos calculados. O lobo negro como o abismo, Icarus, rugia com a fúria crua de alguém que não queria apenas vencer… queria destruir.Isabela estava ao meu lado, pálida, estática como uma árvore morta.— A gente precisa sair daqui — sussurrei, agarrando o pulso dela. Ela se virou para mim, os olhos arregalados.— Aiyana... e Max? Icarus vai matá-lo.— Então não vai adiantar estarmos aqui para assistir. Precisamos pedir ajuda.— Eu puxei ela com força, ignorando o estalo de galhos s
AIYANAA fogueira crepitava no centro do círculo, cuspindo brasas para o céu escuro. Maxim estava de pé, os braços cruzados, o queixo firme. Icarus do outro lado, como uma sombra elegante esculpida pela noite. Os homens de sua alcateia estavam logo atrás, a maioria com a expressão fechada, marcas de batalhas recentes visíveis nas roupas e nos olhos.Scott se adiantou, a voz grave cortando o silêncio.— Eu conversei com Icarus. E ele compreendeu que ninguém daqui teve envolvimento na invasão da alcateia dele.Meus dedos se enroscaram no tecido da calça. Senti o alívio raspar por dentro, como uma pedra soltando do peito.— A perda dos pais dele foi uma tragédia — continuou Scott, e sua voz vacilou por um instante. — Eles eram meus amigos. Mas agora… a verdade foi dita. E com isso, encerramos esta noite. Ninguém morreu em nossa alcateia. Feridos, sim. Mas sem mortes, sem mais derramamento de sangue. Cada um pode retornar para sua casa.Por um segundo, tudo pareceu prestes a acabar. Uma
AIYANAA multidão começou a se dispersar, mas eu não conseguia me mover. O ar ao redor da fogueira parecia espesso demais, como se me envolvesse em fumaça e incerteza. O calor era sufocante. As vozes, mesmo baixas, zuniam nos meus ouvidos.Precisei sair dali.Me afastei em silêncio, contornando as árvores, ignorando os olhares, a presença de Icarus me seguindo como um calor nas costas, a de Maxim... como uma corda puxando meu peito.Quando achei que finalmente teria um momento para respirar, ouvi passos atrás de mim.— Aiyana.A voz dele me alcançou como um sussurro grave. Max.Não me virei de imediato. Meu coração já batia rápido demais, confuso demais. Mas quando me virei… ele estava lá. Ferido, com a expressão marcada por algo entre culpa e hesitação. Os olhos verdes, que tantas vezes me invadiram os sonhos, agora me fitavam como se esperassem perdão.— Eu só queria saber se você está… — ele começou.Mas não terminou.— Max, aí está você!Isabela surgiu do nada, como uma tempestade
AIYANAA floresta sempre soube me acolher quando ninguém mais soube.As folhas, nunca julgam o peso dos meus passos. Os galhos altos não tentam me dobrar. Aqui, posso respirar sem sentir que devo alguma coisa a alguém.Corri sem rumo quando saí da casa. Fugi pela janela como uma adolescente rebelde, tropeçando nas botas mal calçadas e no orgulho ferido. O ar frio grudava no meu rosto como gelo, mas não me importei. Minha respiração saía em nuvens brancas e apressadas enquanto atravessava a neve.Nessa manhã, a neve chegava até quase meus joelhos em alguns pontos, e a floresta parecia um lugar saído de um sonho antigo. Galhos cobertos de branco arqueavam sobre mim como braços curvados, e o silêncio era espesso, cortado apenas pelo som dos meus passos.Quando cheguei ao lago, me sentei numa pedra quase escondida sob uma crost
AIYANAO dia amanheceu em tons dourados e rosados, mas a tensão no ar parecia tingi-lo de algo mais sombrio. O grande evento da noite lançava uma sombra sobre cada olhar e gesto da minha prima e tia, elas estavam reluzentes e tentei ficar minimamente feliz por elas.A aldeia estava em alvoroço desde cedo. As amigas de Isabela entravam e saíam do pequeno quarto de madeira, carregando vestidos, bijuterias brilhantes e potes de unguentos perfumados. O cheiro adocicado de jasmim e baunilha impregnava o ar, tornando tudo ainda mais sufocante. Eu me encostei no batente da porta, observando minha prima sentada diante de um espelho rachado, sorrindo de forma presunçosa enquanto uma de suas amigas trançava seu cabelo negro e sedoso, que descia como um rio escuro até sua cintura. Cada movimento dela era preciso, ensaiado. Ela sempre soube como cativar a atenção de uma sala inteira, e hoje não seria diferente.— Você está especialmente pensativa hoje, Aiyana. — A voz de Isabela tinha um tom quas
AIYANAA sensação de calor no peito, aquele fogo incontrolável que dançava dentro de mim, ainda estava lá, como se a chama ancestral tivesse se enraizado em meu corpo. Mas o que antes parecia ser um privilégio agora só me trazia agonia.A cada passo que dava, sentia os olhares da alcateia pesando sobre mim, frios, duros, implacáveis. O desprezo estampado em seus rostos me cortava mais do que qualquer palavra. Eles me viam como uma intrusa, uma ameaça. Não pertencente a eles. E, se já não fosse suficiente, eu tinha que enfrentar o ódio de Isabela e a rejeição estampada no olhar de Maxim.Isabela se aproximou com um sorriso venenoso nos lábios, seus olhos brilhando com um ódio latente. Eu podia quase sentir a tensão pulsando no ar.— Você realmente acha que pode simplesmente ser a "escolhida", Aiyana? — disse ela, a voz baixa e cortante, quase como se quisesse me ferir com cada sílaba. — Sua mãe era uma bruxa, e agora você acha que a chama te escolheu por acaso? Não engula essa mentira.
AIYANAO amanhecer estava perto de chegar, mas eu já estava de volta à beira da floresta, caminhando devagar. Meu corpo cansado ainda sentia os efeitos da noite mal dormida, e minha mente estava um turbilhão. A caverna onde passei a noite, embora já fosse um lugar familiar para mim, não me trouxe a paz que eu procurava. Dormir na floresta já não era tão fácil quanto antes. As árvores começaram a clarear com os primeiros raios de sol, mas o ar ainda estava frio, e eu sentia meu corpo arrepiado, não só pela temperatura, mas também pela inquietação. Meu coração batia mais rápido a cada passo que dava em direção à aldeia. Eu não sabia o que iria enfrentar lá, mas sabia que não podia continuar fugindo. Eu precisava voltar.De repente, alguém me pegou pela cintura, puxando-me com força para fora da trilha. Antes que pudesse reagir, uma mão cobriu minha boca, abafando meu grito. Meu corpo entrou em pânico, mas não pude fazer mais nada além de tentar me soltar. Estava sendo arrastada, forçad
AIYANAUma batida suave na porta me acordou, e eu levantei a cabeça, atordoada e ainda com a sensação de que a noite inteira tinha sido uma luta. A batida se repetiu, mais firme desta vez.Já se passou um ano desde que a chama revelou que Maxim e eu somos companheiros destinados, e as coisas só pioraram. Isabela se tornou mais cruel a cada dia, e ela fazia questão de transformar cada minuto que eu passava perto dela em um inferno. Não havia um só momento em que ela não fizesse questão de esfregar na minha cara o quanto ela e Maxim estavam juntos e felizes, com toques constantes e beijos sempre visíveis ou quando ela o fazia dizer que a amava. Ele, por sua vez, me ignorava na maior parte das vezes, mas não fazia nada para impedir Isabela em seus ataques maldosos.Às vezes, eu sentia o olhar dele. Um olhar que parecia me atravessar, e por um breve momento, eu via algo ali. Mas era tão efêmero, tão pequeno, que logo desaparecia. Maxim continuava distante, implacável, como se eu fosse ins