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2 - Déjà Vu e Pudim de Leite

A noite estava escura, e a chuva caía forte, como se nunca fosse parar.

Raios e trovões cortavam o céu, enquanto os galhos das árvores balançavam violentamente com a força do vento. A natureza exibia toda a sua fúria de maneira incansável.

Julia estava acordada, sozinha no quarto, observando a tempestade implacável pela janela. Deitada em sua cama no quarto de hospital, sentia-se pequena diante da força da natureza.

De repente, um raio caiu lá fora, iluminando todo o quarto. O clarão fez Julia sentir um arrepio subir pela nuca.

— Que sensação estranha... — falou Julia, pensativa. — Parece que já vi isso antes...

— Déjà vu. — Disse uma voz doce e feminina. — Quando temos a sensação de já ter visto ou vivido algo, chamamos de déjà vu. — concluiu.

A mulher entrou no quarto, verificou se a janela estava bem fechada e, em seguida, virou-se para Julia com um sorriso amigável no rosto.

— Eu sou a Pérola, sou nova aqui. Sou a enfermeira do turno da noite.

Pérola tinha cabelos longos, loiros como fios de ouro, que deslizavam suavemente por seus ombros e brilhavam sob qualquer luz, sempre bem cuidados. Seus olhos grandes e azuis, quase como duas pedras de safira, transmitiam uma mistura de doçura e curiosidade, enquanto seu olhar parecia captar cada detalhe ao seu redor. O nariz pequeno e arredondado dava um toque jovial ao seu rosto, e seus lábios bem desenhados, sempre com um leve sorriso, mostravam uma personalidade acolhedora.

Sua figura robusta transmitia força e confiança, mas também suavidade em seus gestos. Com 1,70 metro, Pérola se movia com uma postura que mesclava profissionalismo e leveza, característica de alguém que sabia a importância de estar sempre alerta, mas que também carregava a alegria de viver.

Pérola era o tipo de pessoa que iluminava qualquer ambiente em que entrasse. Sua personalidade alegre e contagiante fazia com que todos ao redor se sentissem confortáveis, como se estivessem sendo acolhidos por uma velha amiga. Muito observadora, raramente deixava passar algo despercebido, especialmente quando se tratava de cuidar das pessoas.

Ela tinha uma empatia natural que ia além do trabalho; cuidar era parte essencial de quem ela era. Pérola sentia uma profunda satisfação em ajudar, especialmente os idosos, cujas histórias e experiências ela adorava ouvir. Além disso, era muito atenta aos detalhes, do tom de voz de alguém até o menor sinal de desconforto, e sempre estava pronta para oferecer palavras de conforto ou simplesmente ouvir.

No tempo livre, Pérola gostava de ler romances clássicos, praticar jardinagem e fazer bolos, habilidades que herdou de sua avó. Ela também adorava plantas e mantinha um pequeno jardim de ervas medicinais em casa, que usava para preparar chás especiais para amigos e colegas.

Pérola se aproximou de Julia, ajeitando o cobertor sobre ela com cuidado.

— Está com frio? Posso arrumar outro lençol, se precisar.

— Não, está bom assim. — respondeu Julia, meio sem jeito. — Gosto do frio. Eu sou a Julia.

— Prazer, Julia. Soube que anda meio esquecida… — disse Pérola, num tom brincalhão, com um sorriso no rosto.

— As notícias correm rápido por aqui, né? — respondeu Julia, rindo também.

— Bom, do jeito que você chegou, minha amiga, é um milagre estar aqui. Alguém lá em cima gosta muito de você.

— Estava tão ruim assim? — perguntou Julia, curiosa.

— Muito ruim. — respondeu balançando a cabeça positivamente. — Você passou por várias cirurgias e está aqui há umas duas semanas.

Pérola segurou a mão de Julia e apertou levemente, como se quisesse testar algo. Julia, por sua vez, apertou de volta, demonstrando força.

— Pode ter certeza de que todos aqui estavam torcendo pela sua recuperação. Ver um paciente tão guerreiro como você nos dá ânimo e traz mais fé.

— Pode me contar o que aconteceu comigo? — perguntou Julia, com curiosidade no olhar.

— Claro que sim! Só deixa eu verificar meus outros pacientes, e já volto, tudo bem?

— Claro, obrigada.

As duas trocaram um sorriso antes de Pérola sair do quarto, deixando Julia sozinha, perdida em seus pensamentos. Ela tentava, em vão, se lembrar de algo, qualquer coisa que preenchesse o vazio em sua mente.

Demorou um tempo considerável até Pérola retornar. Quando entrou novamente no quarto, trazia dois potes pequenos nas mãos, exibindo um sorriso acolhedor.

— Voltei! E, para me desculpar pela demora, trouxe pudim de leite. A paciente do 320, Bernadete, não parava de falar. Sempre as mesmas reclamações... uma chatice.

Pérola colocou os dois potes na mesinha ao lado da cama e ajustou a posição de Julia, elevando levemente a cabeceira.

— Bom, pelo menos a Bernadete está com a cabeça boa... — disse Julia, com a voz carregada de tristeza. — Aposto que ela também pode se mexer à vontade.

— Na verdade, não. — respondeu Pérola com delicadeza. — Ela está com a clavícula quebrada, depois de uma queda.

Pérola falou num tom gentil, mas firme, como se quisesse animar Julia, embora seu esforço não tivesse surtido efeito imediato.

— Escuta aqui, Julia. Você passou por muita coisa. Tenha certeza de que a maioria das pessoas não aguentaria o que você enfrentou. — Pérola segurou a mão dela novamente. — Segurei sua mão, apertei, e você correspondeu. Isso é força. — sentou-se na beira da cama, encarando-a com seriedade. — Você só precisa de um pouco mais de fé e paciência.

Julia ouviu atentamente cada palavra. Sentiu-se tocada e, ao mesmo tempo, ligeiramente culpada por reclamar. Pérola tinha razão. Por muito menos, outras pessoas perdiam a vida. E ali estava ela, mesmo sem poder se mexer, viva e consciente. Talvez fosse hora de reconhecer sua força e valorizar a chance que tinha.

— Me desculpe... — lamentou Julia, com a voz baixa.

— Tudo bem. Vamos com calma, um dia de cada vez, combinado? — respondeu Pérola com um sorriso encorajador. — Agora, abre a boca e deixa eu te contar como você chegou aqui.

Com um ar divertido, Pérola começou a dar o pudim a Julia como quem alimenta uma criança com papinha. Julia não conseguiu conter o riso diante do jeito carinhoso da enfermeira.

— Assim está melhor! — disse Pérola, rindo junto com ela, enquanto enchia outra colher. — Bom, deixa eu te contar…

E então, Pérola começou a narrar a história do que havia acontecido, seu tom de voz suave e envolvente, enquanto as duas compartilhavam o momento.

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