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8 - Fragmentos de Esperança

Com o clima tenso, os dois homens saíram do quarto, seguidos pelo diretor do hospital. O chefe dos cirurgiões, Marcos Garcia, permaneceu no quarto.

— Vai ficar tudo bem. — disse Garcia, se aproximando de Otto, tentando oferecer alguma tranquilidade.

Otto, visivelmente irritado e descontrolado, virou-se para ele.

— Eles podem fazer isso? Minha esposa acabou de acordar! — Otto falou, o descontentamento evidente em sua voz.

Garcia tentou manter a calma.

— Otto, se acalme. Vamos ao refeitório, você precisa se acalmar. — disse ele com um tom suave, tentando controlar a situação.

Otto, com os olhos marejados de lágrimas, respondeu entre soluços:

— Calma como, Garcia? Ela nem sabe quem eu sou!

— Calma, Otto, vamos. — Garcia insistiu, tocando no ombro dele, tentando guiá-lo para fora. — Você precisa se acalmar.

Otto levantou-se rapidamente, enxugando as lágrimas com a mão, ainda visivelmente trêmulo.

— Katy está lá fora, não se preocupe, eles não vão voltar tão cedo. — disse Garcia, tentando acalmar Otto.

Sem esperar resposta, Garcia o guiou para fora do quarto.

Julia, que apenas assistiu a cena em silêncio, achou que a atitude do marido foi um exagero. Ela se sentiu um pouco distante daquela reação, mas ao mesmo tempo, compreendia o desespero dele.

Sentiu uma leve dor de cabeça e, ao olhar para a porta, viu Katy do lado de fora. Com um pequeno esforço, acenou para ela.

— Pode trazer água? Estou com muita sede. — Julia pediu, com um leve tom de cansaço.

— Pode deixar. — respondeu Katy, sorrindo gentilmente.

Alguns minutos depois, Katy retornou ao quarto, segurando uma jarra de água e um copo. Ela serviu Julia com cuidado e, em seguida, saiu silenciosamente do quarto.

Agora, Julia só podia esperar o retorno do marido, sentindo uma mistura de cansaço e ansiedade.

— Você está se sentindo bem, Julia? — perguntou Katy ao retornar ao quarto, notando sua expressão preocupada.

— Uma leve dor de cabeça. — respondeu Julia.

— Espera, vou te trazer algo.

Katy saiu do quarto e foi até a pequena recepção. Pegou um prontuário, analisou rapidamente e desapareceu por alguns instantes. Não demorou muito para retornar.

— Aqui, toma esse analgésico. — disse, entregando o comprimido com um copo d’água.

— Obrigada. — respondeu Julia, aceitando o remédio.

Julia tomou o remédio enquanto Katy verificava o monitor e, em seguida, sua pressão.

— Não está alta, que bom. — Katy suspirou, aliviada.

— O que vai acontecer se eu não souber responder as perguntas deles? — perguntou Julia, preocupada.

— Deles quem? — Katy perguntou, fechando parte da cortina para escurecer um pouco o quarto.

— Dos policiais.

— Não vai acontecer nada. Você, infelizmente, ainda não se lembra. Não perturbe sua mente por causa daqueles idiotas. — Katy praticamente suplicou. — Eles não vão voltar tão cedo e, quando voltarem, você já vai estar melhor e poderá contar tudo. — Sua voz era tranquila. — Agora tenta descansar, é isso que você precisa.

— E se eu não lembrar? — A pergunta saiu numa mistura de ansiedade e irritação.

— Você está parecendo um disco arranhado, chega disso! — respondeu Katy, como uma mãe repreendendo um filho. — Olha, mocinha, você está até parecendo um dos meus filhos adolescentes. — Ela sorriu. — Vou repetir o que todo mundo está falando desde que você acordou… tenha calma, entendeu?

— Vou tentar. — Julia revirou os olhos.

— Agora deixa de ser chata e vai descansar um pouco.

A última frase ficou ecoando na mente de Julia, despertando uma lembrança. Alguém já havia falado com ela daquela mesma forma… uma mulher.

— Katy. — chamou.

— Oi.

— Acho que me lembrei de algo… graças a você.

Katy notou a testa franzida de Julia e sua expressão séria.

— Graças a mim?

— Eu acho que minha mãe falava assim comigo.

Por um instante, as duas se entreolharam e sorriram. Então, sem hesitar, Katy abraçou Julia. Ficaram assim por um momento, compartilhando a felicidade genuína daquele pequeno avanço.

— Viu?! Falamos que ia voltar!

As palavras de Katy mal chegaram aos ouvidos de Julia antes que as lágrimas começassem a rolar por seu rosto. Ela cobriu a boca com as mãos, tomada por um turbilhão de emoções. Não podia acreditar… Depois de tanto medo, tanta incerteza, uma lembrança finalmente voltava. Pequena, simples, mas real.

— Eu… eu lembrei… — murmurou, entre soluços.

Era como se uma luz acendesse em meio à escuridão. Pela primeira vez desde que acordou, Julia sentiu que não estava completamente perdida. A esperança, antes tão frágil, agora pulsava forte dentro dela.

Katy apertou sua mão, sorrindo.

— E muitas outras ainda vão voltar.

Katy sentia uma felicidade enorme ao ver Julia começar a se lembrar. Para ela, aquilo não era algo pequeno. Cada lembrança, por mais simples que fosse, era importante. Ela sabia como era difícil. Já tinha visto antes pacientes receberem alta e retornarem às suas casas sem terem recuperado suas memórias. Era uma dor silenciosa, uma perda que ficava para sempre.

Mas, naquele momento, Katy soube que Julia não passaria por isso. Talvez levasse tempo, talvez fosse um processo longo e cheio de desafios, mas ela acreditava com todo o coração que Julia se lembraria. E esse pensamento a encheu de uma esperança renovada.

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