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7 - Sob Proteção

Perdida em seus pensamentos, tentando imaginar como era sua vida, Julia acabou adormecendo. Pérola, após terminar de cuidar dos pacientes, retornou ao quarto como prometido. Aconchegou-se na poltrona e começou a preencher os prontuários.

Mesmo sendo muitos, conseguiu finalizá-los a tempo, encerrando seu turno com tudo em ordem.

Já passava das 9 horas da manhã quando Julia despertou. Ainda sonolenta, virou-se e procurou por Pérola na poltrona, mas ela já não estava ali. Do lado de fora, os médicos, o chefe da equipe e Otto conversavam animadamente. Doutor Cole apertava a mão de Otto com firmeza, num gesto que demonstrava certa amizade.

Ao perceberem que Julia os observava, acenaram e entraram no quarto.

— Bom dia! — falaram todos ao mesmo tempo, animados.

— Bom dia. — Julia respondeu com um sorriso.

— Como está se sentindo hoje? — perguntou Dr. Cole.

— Ainda sem memória. — respondeu de maneira amigável, mas logo seu tom mudou para um lamento. — A enfermeira Pérola ficou aqui esta noite. Conversamos bastante, mas ainda não consigo me lembrar de nada…

Otto se aproximou, trazendo um buquê. Com um gesto carinhoso, beijou o rosto de Julia.

— Sobre o que conversaram? — perguntou ele, curioso.

— Ah, ela me contou sobre a noite em que cheguei, disse que decidimos começar uma vida nova… mas eu simplesmente não consigo lembrar de nada. — Julia suspirou. — É tão estranho… todo mundo sabe mais sobre mim do que eu mesma.

Dr. Cole sorriu com suavidade.

— Não se cobre tanto, Julia. As lembranças vão voltar aos poucos. — fez uma breve pausa, então acrescentou em tom animador: — Para te alegrar um pouco, tenho boas notícias. Os resultados dos exames estão ótimos! Agora é só aguardar mais um pouco para começar a reabilitação.

Otto colocou o buquê ao lado da cama e se afastou um pouco enquanto Dr. Cole continuava ao lado de Julia.

— E se não voltar? — A pergunta escapou em um tom hesitante, revelando seu medo.

Dr. Cole a encarou com gentileza antes de responder:

— É uma possibilidade… — disse com honestidade. — Mas vamos pensar positivo, está bem?

Julia respirou fundo e forçou um pequeno sorriso.

— Está bem… — respondeu, sem muita convicção.

Dr. Cole assentiu, lançando-lhe um olhar tranquilizador antes de sair do quarto junto com os outros médicos.

Assim que ficaram a sós, Otto pegou uma mochila que havia trazido. De dentro, tirou um notebook, deixando-o ao lado da cama de Julia. Depois, retirou alguns livros e um porta-retrato com uma foto dos dois em uma praia. Enquanto ele organizava os objetos pelo quarto, Julia o observava em silêncio, como se tentasse, de alguma forma, puxar da memória alguma lembrança daquela imagem.

— Está com fome? — perguntou ele, quebrando o silêncio.

— Sim.

— Certo, já volto.

Otto saiu apressado do quarto e demorou alguns minutos para retornar. Quando voltou, trazia consigo rosquinhas, cappuccino e um pedaço de torta de frango. Com cuidado, elevou a cama de Julia, colocou a comida na mesinha e, em seguida, sentou-se ao lado dela.

Os dois começaram a comer em silêncio, mas havia algo reconfortante naquele momento compartilhado. Otto demonstrava delicadeza e calma em cada gesto. Era evidente o imenso carinho que sentia por Julia. Durante o dia, não se afastava dela, permanecendo sempre por perto. Apenas à noite se ausentava, cumprindo o acordo que havia feito com o chefe.

— E se minha memória não voltar? — perguntou ela novamente. — O que vai ser da minha vida?

Otto respirou fundo antes de responder.

— Julia, por favor… — disse com calma. — Os médicos já te explicaram que essa é uma possibilidade, mas você não pode se prender a isso. Dê tempo ao tempo.

— E se minha memória nunca voltar? Como podemos continuar juntos se eu nem lembro quem você é? — Seu tom saiu mais elevado, carregado de frustração.

Otto manteve a voz firme, mas serena.

— Eu sempre vou ficar, Julia. Você lembrando ou não.

Ela ficou em silêncio por um instante, absorvendo aquelas palavras. Então, Otto tentou aliviar a tensão:

— Agora, me conta… sobre o que tanto conversou com a enfermeira?

Enquanto tomavam café, Julia contou sobre a noite anterior. Falou de como Pérola havia sido gentil, da companhia agradável que ela proporcionava e de como sua presença a fazia se sentir um pouco menos perdida. Também compartilhou o que a enfermeira lhe dissera sobre seu passado e desabafou sobre a frustração de não ter nenhuma lembrança.

— É estranho… — murmurou, pensativa. — Como se minha vida tivesse começado do nada.

Otto a ouviu com atenção, sem interromper, apenas deixando que ela colocasse para fora o que sentia.

— O que aconteceu para a gente largar tudo e querer recomeçar? — perguntou Julia, curiosa.

Otto respirou fundo antes de responder.

— Sempre falamos em viajar pelo mundo… Algumas coisas aconteceram e decidimos, enfim, fazer isso. — Sua voz era tranquila, mas carregava um peso. — Era um sonho nosso. Se eu soubesse que daria nisso… — lamentou, balançando a cabeça.

Julia o observou com carinho.

— A gente não podia imaginar, né? Não se culpe. — disse com doçura.

Otto abaixou a cabeça, a tristeza evidente em seu rosto.

— Eu pensei que podíamos esperar mais um pouco… Você estava começando algo novo, estava tão empolgada… Achei injusto dizer não.

Julia segurou sua mão e a acariciou suavemente.

— Olha, se era um sonho nosso, então não se lamente. Não tinha como a gente prever o que aconteceria. — Fez uma pausa e suspirou. — Só me preocupo em nunca me lembrar… Somos casados, e isso pode nos afetar. Você sabe.

Otto apertou levemente a mão dela.

— No momento, só me preocupo com você estar bem. O resto a gente resolve depois.

— Mas eu estou bem… Quer dizer, estou viva.

Otto desviou o olhar, sua expressão carregada de culpa.

— É minha culpa… — murmurou, antes de começar a chorar.

Nesse momento, dois homens entraram na sala.

— Bom dia, Julia, correto? — perguntou um deles, com um tom sério e autoritário.

Julia o olhou, confusa.

— Sim.

— Precisamos falar sobre o acidente.

— Mas eu não me lembro de nada… — respondeu, com a voz baixa, ainda desorientada.

— É necessário… — o homem insistiu, sem demonstrar muita empatia.

Foi então que a porta se abriu novamente. Um homem entrou com uma postura firme, sua voz forte deixando claro que era uma figura importante no hospital.

Ele era um negro alto, usando um jaleco, e estava acompanhado pelo chefe de cirurgia.

Otto, que estava sentado ao lado de Julia, imediatamente se levantou, já visivelmente alterado.

— Quem são vocês? — perguntou o homem, com os braços cruzados, encarando-os com desconfiança.

— Sou o Black, e este é o Wilson. Somos da polícia. E você, quem é? — o policial respondeu, mantendo o tom sério.

— Eu sou o doutor Alex Johnson, diretor deste hospital. E este é o doutor Marcos Garcia, chefe dos cirurgiões. — O tom de Alex foi elevado, marcando autoridade. — Quem permitiu a entrada de vocês no leito da minha paciente?

— Somos da polícia e… — o policial começou, mas foi interrompido.

— Isso não dá direito para que entrem aqui de qualquer forma. — Dr. Alex Johnson falou, sua voz firme, interrompendo-os. — Minha paciente tem apenas 24 horas que acordou de um trauma gravíssimo e ainda está muito debilitada.

— Mas precisamos… — o policial insistiu, mas Alex o cortou novamente.

— Precisa deixá-la em paz! — disse ele, apontando para a porta com um gesto claro de autoridade. — Vou ligar imediatamente para o tenente Smith. Ele precisa lembrar algumas coisas a seus homens.

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