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6 - Descobrindo Quem Sou

– Não tem mais ninguém que possa te ajudar, Otto? – perguntou Katy em uma tarde.

– Não, somos só eu e ela. Julia foi adotada por um casal que não podia ter filhos, e eu sou filho único. – contou ele, com uma expressão distante. – Deixamos tudo para trás na Filadélfia para começarmos uma vida nova.

Katy ficou em silêncio por um momento, sentindo o peso da situação.

– Bom, agora tem a gente. Você também precisa descansar.

– Estou sem cabeça para nada. – Otto disse, com um suspiro, olhando para as mãos, como se buscasse respostas.

– E o trabalho, Otto? Desculpe perguntar.

– Não tem problema. – Otto sorriu levemente, tentando esconder a tristeza. – Sou advogado, pedi para ficar afastado por uns dias. – Ele respirou fundo, pensativo. – Sei que vou ter que voltar... mas como com ela aqui?

Katy o olhou com cuidado, suas palavras vindo com suavidade, mas também com firmeza.

– Como eu disse, Otto, você agora tem a gente. Precisa trabalhar, descansar... Julia vai ficar aqui por um longo tempo. Pode não ter ninguém lá fora, mas pode ter certeza de que todos aqui vão te ajudar.

Otto a olhou, os olhos carregados de gratidão, mas também de um vazio difícil de preencher.

– Eu nem tenho como agradecer... Está sendo muito difícil para mim.

– E vai ficar ainda mais difícil quando ela acordar. – Katy pousou a mão no ombro de Otto, com um gesto reconfortante. – Vai precisar de força e fé, Otto. Não vai ser fácil, mas você não está sozinho.

Otto escutou as palavras de Katy com atenção, absorvendo cada uma delas, quando percebeu que o chefe estava parado na porta, com um sorriso de satisfação no rosto.

– Katy tem razão, Otto. – disse o chefe, entrando no quarto com passos calmos, sua voz cheia de compreensão. – Se acha difícil agora, nem imagina o quão desafiador será quando ela acordar e começar a reabilitação.

Otto o olhou, os olhos cansados, mas sua postura ainda tensa. O chefe deu um sorriso suave, como quem já havia presenciado tudo isso antes.

– Soube que anda desanimado, já vi isso, cansei de ver, na verdade. – ele continuou, com um tom de firmeza e empatia. – Vamos ter fé, Otto. Sim, só mais um pouco.

Otto respirou fundo, balançando a cabeça, como se tentasse organizar os pensamentos.

– Eu sei que preciso descansar, trabalhar... Mas deixar ela aqui, sozinha, só parece tão errado. – ele murmurou, a voz baixa e cheia de preocupação.

– Parece que você não ouviu a Katy. – respondeu o chefe, com um sorriso acolhedor. – Ela não estará sozinha. E este hospital será seu lar por um período. Todos aqui são dedicados, e se dizemos que você pode confiar, é porque garantimos que tudo fique bem.

Katy se aproximou, com um olhar tranquilo e confiante.

– Vá para casa, descanse. Volte aos poucos à rotina. – ela falou suavemente, tentando aliviar a tensão dele. – Olha, temos uma enfermeira nova, a Pérola. Ela foi designada especialmente para a Julia desde a cirurgia. Ela fica aqui à noite, sempre atenta a tudo o que acontece. Você pode vir durante o dia e, à noite, ir para casa despreocupado.

Otto olhou para ela, o peso nos ombros um pouco mais leve, mas ainda assim relutante.

– Isso vai me ajudar... eu sei que vai. – respondeu ele, ainda com a voz um pouco rouca, mas demonstrando um sinal de aceitação.

Otto olhou para eles, ainda sentado na poltrona. Suas costas doíam, o pescoço também estava um pouco dolorido; dormir ali por dias realmente não era a melhor opção. Seus pés latejavam, resultado de tanto tempo usando sapatos apertados. Pensou em sua casa, que provavelmente estava bem empoeirada. Como receberia sua esposa naquelas condições? Ele sabia que teria que confiar nas palavras dos dois à sua frente.

– É... acho que vocês têm razão. – disse finalmente, com um suspiro, sua voz mais tranquila.

– Ela ficará bem, não se preocupe. Qualquer coisa, avisaremos você. – disse o chefe, com um sorriso tranquilo, tentando transmitir segurança.

Otto assentiu, um sorriso sem jeito se formando em seu rosto. Levantou-se da poltrona, sentindo o peso da decisão, e foi embora.

Desde então, Otto passava os dias no hospital, lendo livros e trabalhando no notebook para passar o tempo. À noite, ia para casa, confiando nos cuidados do hospital e nos profissionais que, ele agora sabia, estavam fazendo tudo o que podiam para cuidar de Julia.

– Por isso ele não está aqui agora. – disse Julia, após ouvir toda a história.

– Exato. E nas minhas folgas, outros enfermeiros ficam de olho em você. Então, você nunca ficou sozinha. Ah, e se olhar ali... – apontou para a janela que dava para a recepção. – Sempre vai ter alguém ali, então você nunca ficou só.

– Legal. – Julia sorriu, agora mais tranquila. – Então, deixamos tudo para trás e viemos para cá. – ela falou pensativa. – Então... onde estou?

– York, Reino Unido

– O quê?! – Julia exclamou, surpresa. – Que diabo vim fazer no Reino Unido?

– Olha, eu não sei, mas eu soube que vocês decidiram começar uma vida nova. Que você estava tentando uma nova carreira e vieram para cá.

– Carreira nova? – Julia continuou pensativa, tentando recordar algo.

– Escritora.

– Eu sou escritora? – ela perguntou, mais uma vez surpresa, tentando processar a informação.

– Sim, você era colunista em um jornal local.

– Uau! – exclamou Julia, com um sorriso no rosto. – Isso é muita coisa.

– Sim. Ele estava bem preocupado com seu braço justamente por isso. – Pérola disse, levantando-se da cama. – Bom, já te contei bem mais do que prometi, preciso dar uma voltinha... quase esqueci da minha ronda, se a Katy descobre…

Julia olhou para Pérola quase suplicando que ela não fosse, mesmo sabendo que a enfermeira tinha que trabalhar.

– Não se preocupe, eu volto. Prometo fazer da poltrona meu trono. – Pérola disse, saindo com uma risada, deixando Julia sozinha com seus pensamentos.

Julia ficou ali, refletindo sobre tudo o que acabara de descobrir. Ela era casada, morou na Filadélfia, era colunista em um jornal local e, de repente, havia decidido se mudar para começar uma nova carreira... escritora.

Será que agora se lembraria de mais coisas? Ela pensou, a mente ainda girando com tantas novas informações.

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