9 - Ao Lado dela

Garcia e Otto, ao retornarem ao quarto, se depararam com a enfermeira-chefe e Julia abraçadas.

— O que houve? — perguntou Otto, apreensivo.

— Eu lembrei de uma voz — disse Julia, chorando.

— Meu amor, que ótima notícia! — exclamou Otto, emocionado.

Otto e Garcia se aproximaram das duas, que contaram o que havia acontecido. A felicidade tomou a todos.

A notícia se espalhou pelo hospital. Pessoas envolvidas na cirurgia de Julia foram dar uma espiada; outras, que não participaram, mas estavam curiosas, fizeram o mesmo. Até a doutora Martin a visitou naquele dia, mais animada que o normal.

— Agora vamos, deixem Julia descansar um pouco — disse Martin, colocando todos para fora e fechando a persiana para impedir a visão de quem passasse pelo corredor.

— Obrigada, Martin, eu já estava ficando zonza — falou Julia, aliviada.

— Você agora é uma pop star, tem que se acostumar — brincou Martin, piscando para ela.

Martin fechou a porta ao sair, deixando o casal a sós.

Otto segurou a mão de Julia e sorriu.

— É incrível você ter se lembrado de algo. Estou tão feliz.

— Foi algo tão bobo...

— Bobo? Você está louca? — Ele riu de leve. — Isso é incrível! Logo você vai lembrar de tudo. Só precisamos ter paciência.

Julia abaixou o olhar, a voz saindo mais baixa.

— Achei que nunca fosse lembrar de nada.

— Eu sei... Mas, dessa vez, você estava errada — disse Otto, beijando suavemente o rosto dela. — Agora descanse um pouco.

— Acho que vou... Estou me sentindo cansada.

— Durma, meu amor. Estou aqui com você.

Por um momento, o silêncio se instalou no quarto. Então, hesitante, Julia chamou por ele:

— Otto...

— O que foi?

Ela respirou fundo antes de continuar.

— Desde que acordei, ainda não me olhei no espelho. Eu queria...

Otto a observou por um instante, entendendo o que ela queria dizer antes mesmo que terminasse a frase.

— Já entendi — interrompeu ele, com um tom suave.

Otto pegou na mochila um espelho de mão, grande o suficiente para que ela visse o rosto inteiro.

Julia o segurou com cuidado e se olhou pela primeira vez desde que acordara. Mesmo com o curativo, conseguiu perceber seus traços: os cabelos bem negros, os olhos igualmente escuros, o nariz fino e os lábios rosados, bem desenhados. Um sorriso tímido surgiu em seu rosto.

— Mesmo remendada, eu sou bonita — disse, devolvendo o espelho a Otto.

Ele a observou com carinho, os olhos brilhando.

— Você é linda. A mulher mais bonita que já conheci.

— Não exagera... — murmurou ela, sem graça.

— Não é exagero. — Otto guardou o espelho na gaveta. — Vou deixá-lo aqui. Sempre que quiser, é só pegar.

Otto ajudou Julia a se acomodar melhor na cama, acariciou seu rosto com delicadeza e, em seguida, sentou-se na poltrona. Pegou outro notebook da mochila, abriu-o e começou a mexer, concentrado.

— O que está fazendo? — perguntou Julia, depois de um tempo observando Otto.

— Trabalhando — respondeu Otto, sem tirar os olhos do notebook.

— E o que você faz, exatamente?

— Sou advogado — disse ele, fazendo uma pausa e olhando para Julia, que continuava observando-o atentamente. — Preciso agilizar isso aqui. Quanto mais cedo terminar, mais cedo vou poder ficar com você. Você precisa descansar. Prometo que, quando acabar, vou ser todo seu.

— Podia me contar umas coisinhas...

— Combinado. Agora, vai dormir.

Otto voltou a se concentrar na tela à sua frente, os dedos ágeis movendo-se pelo teclado enquanto Julia, com a respiração tranquila, fechava os olhos e logo adormecia. O silêncio no quarto era interrompido apenas pelo leve som das teclas e a suave respiração de Julia.

Ela tivera um dia intenso, entre emoções e esforços físicos, e seu corpo finalmente pedia descanso. Otto, por sua vez, também sentia o peso da exaustão. Sabia que precisava terminar algumas tarefas antes de poder se permitir um descanso. O trabalho, que parecia interminável, estava exigindo sua atenção constante.

Horas se passaram, e Otto, apesar da pressão e das preocupações, conseguiu adiantar muitas coisas. O progresso foi suficiente para que ele sentisse que poderia dar uma pausa. Com um suspiro de alívio, ele fechou o notebook e olhou para Julia, que estava envolta na calma do sono.

Ele não iria embora naquela noite. Permaneceria ali com ela até o dia seguinte. Não queria deixá-la sozinha, especialmente após um passo tão importante na recuperação dela. O sentimento de proteção, de querer estar presente, dominava suas ações.

Então, sem se preocupar com mais nada, ele se acomodou na poltrona próxima à cama, puxou uma manta e ficou observando Julia dormir, sentindo a paz que a presença dela lhe trazia. O trabalho, as preocupações, tudo ficou para trás. Nada mais importava naquele momento, só estar ali, ao lado dela.

A noite seguiu em silêncio, e Otto se permitiu relaxar, envolvido pela tranquilidade do momento. Ele estava onde deveria estar.

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