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3 - Chuva de Desafios

Era a primeira noite de Pérola como enfermeira no hospital, e coincidentemente, Julia havia dado entrada naquela mesma noite chuvosa. A tempestade era semelhante à de agora: muita chuva e ventos fortes.

No hospital, o clima era de expectativa. Com temporais assim, era comum o registro de várias ocorrências. Árvores caíam, a pista ficava cheia de poças e a visibilidade nas estradas era quase zero, criando condições perfeitas para acidentes.

Apesar disso, o hospital estava calmo no início da noite. Durante o dia, vários pacientes haviam recebido alta ou sido transferidos. Sendo um hospital especializado em traumas, ele era sempre a primeira opção para socorros emergenciais.

Pérola havia acabado de verificar alguns pacientes ao lado da enfermeira-chefe, que fazia questão de lhe apresentar o hospital e os colegas atarefados. A apresentação foi breve, pois, ao chegarem à emergência, notaram que o espaço começava a se encher de médicos e equipes aguardando a movimentação que o temporal prometia trazer.

— Pessoal, nosso primeiro acidente! É grave, quero todos atentos! — anunciou o chefe de cirurgia do hospital, sua voz forte e marcante ecoando pela sala. — Cadê meus cirurgiões de ortopedia e neuro?

— Aqui, chefe! — responderam em uníssono, os dois médicos se destacando na multidão.

— Ótimo. Vocês terão muito trabalho hoje. — afirmou, com um tom sério, enquanto os dois se aproximavam para ouvir as instruções.

Mesmo com a conversa direcionada a eles, o chefe continuava falando em voz alta, garantindo que todos na sala entendessem a gravidade da situação. A tensão no ambiente era palpável, mas o clima de profissionalismo mantinha a equipe focada e pronta para agir.

— Mulher, 28 anos, atropelada por uma van. O motorista perdeu o controle na chuva, mas, mesmo assim, a atingiu em cheio. A situação dela é bastante grave: perna e braço quebrados, fratura exposta. — O chefe fez uma pausa, olhando para os cirurgiões. — Preciso que a ortopedia e a neuro trabalhem juntos. Sabe lá Deus o que pode ter acontecido com essa mulher. — A última frase saiu mais baixa, quase como um desabafo.

— Deus sabendo ou não, vamos fazer o nosso trabalho, chefe. — disse o neurocirurgião com firmeza.

— Para mim está fácil, reconstruo ossos como mágica. — comentou a ortopedista, com um leve sorriso confiante.

O neurocirurgião olhou para ela, a determinação nos olhos.

— Pronta para trabalhar comigo novamente, doutora Martin?

— Com toda certeza, doutor Cole. — respondeu ela, sem hesitar.

A troca de palavras carregava um misto de profissionalismo e cumplicidade, enquanto ambos se preparavam para enfrentar mais um desafio juntos.

Os dois apertaram as mãos com grandes sorrisos no rosto, uma atitude que fez o chefe cruzar os braços e balançar a cabeça positivamente, aprovando a interação.

— Vamos mostrar o quanto esse hospital é bom. Cole, Martin, vou trabalhar com vocês hoje. — declarou o chefe, decidido.

— O trio de ouro está de volta! — comemorou o doutor Cole, com entusiasmo.

De longe, Pérola observava a cena. Apesar da aparente camaradagem, ela não pôde deixar de achar que os três tinham o ego um pouco elevado.

— Eles se acham os bambambãs, né? — comentou Pérola para a chefe dos enfermeiros, cruzando os braços e observando o trio.

— Eles não só se acham, como são deuses no que fazem. — respondeu a chefe, com um sorriso confiante. — Vai trabalhar com eles hoje, Pérola. Você vai ver do que são capazes. Depois me conta o que achou. — concluiu, piscando de forma descontraída.

Pérola esboçou um sorriso leve, ainda intrigada, mas curiosa para descobrir se toda aquela confiança era justificada.

O chefe passou várias orientações, montou a equipe e distribuiu as tarefas, deixando todos em posição de prontidão enquanto aguardavam ansiosamente a chegada da ambulância. Por conta do temporal lá fora, a espera foi mais longa do que o esperado. Quando o som da sirene finalmente ecoou, todos os que haviam sido chamados pelo chefe saíram apressados para a entrada da emergência.

No entanto, ainda não era Julia.

— Esse é o motorista da van. Está drogado e bêbado. A mulher está vindo logo atrás. E, para piorar, na van tinham mais cinco nas mesmas condições que ele. — informou o motorista da ambulância, enquanto cumprimentava o chefe.

A ortopedista, sempre ágil, entrou na emergência e imediatamente chamou a segunda equipe para ajudar com o homem. Após organizarem o transporte do paciente para dentro, ela voltou para o lado do chefe, ajustando a postura e mantendo o foco.

— Como está a situação, Kevin? — perguntou o chefe, a preocupação evidente em sua voz firme.

— Somente a mulher está em estado grave, chefe. A coisa está feia... sinceramente, não sei se ela vai conseguir... — respondeu o motorista da ambulância, o tom grave de suas palavras aumentando a tensão no ar.

— Tudo bem. — interrompeu o chefe, com um aceno rápido. — Obrigado, Kevin. Bom trabalho.

Kevin assentiu e se afastou, deixando o chefe e a equipe focados no próximo desafio que se aproximava.

O motorista da ambulância aguardou que seus colegas retornassem para se organizar. Assim que o paciente foi acomodado dentro do hospital, ele entrou novamente na ambulância e partiu para buscar os outros.

Minutos depois, o som das sirenes voltou a ecoar na estrada da emergência, chamando a atenção de todos. A equipe já em alerta, se posicionou enquanto a ambulância estacionava.

O motorista abriu rapidamente as portas traseiras, e uma maca foi retirada com cuidado.

A mulher estava coberta por um cobertor grosso, usado para tentar manter o corpo aquecido contra o frio e a chuva incessante.

Mesmo coberta, os ferimentos visíveis já contavam uma história de dor. Seu rosto tinha uma grande mancha roxa na lateral, provavelmente resultado do impacto. Acima da sobrancelha, um corte profundo sangrava discretamente, mas a equipe sabia que precisaria de pontos.

— Rápido, levem direto para o centro cirúrgico! — ordenou o chefe, movimentando a equipe em sincronia.

A maca foi empurrada com agilidade pelos corredores, o som dos passos e das rodas ecoando no ambiente tenso. Ao chegarem ao centro cirúrgico, retiraram o cobertor para avaliar a situação com mais clareza.

O que viram confirmou os temores do chefe. As fraturas expostas chamavam atenção: um dos ossos da perna atravessava a pele em um ângulo assustador, enquanto o braço apresentava cortes profundos, resultado do impacto e do arrasto na pista molhada. A chuva, por mais intensa que fosse, havia limpado parte do sangue, revelando a gravidade dos machucados.

O silêncio tomou conta da sala por alguns segundos, enquanto os olhos dos cirurgiões se encontravam em um acordo mútuo de determinação. O chefe respirou fundo, rompendo a pausa:

— Vamos lá, pessoal. Nós sabemos o que fazer.

E assim, com um misto de tensão e foco, a equipe começou a trabalhar, cientes de que cada segundo seria crucial.

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