O primeiro a entrar em ação foi o doutor Cole, o neurocirurgião. Ele analisou a tomografia rapidamente antes de começar. A pressão intracraniana estava alta, um risco que não podia ser ignorado. Com movimentos firmes e precisos, realizou uma descompressão para aliviar a pressão, enquanto sua equipe o assistia com total atenção. O suor começava a aparecer em sua testa sob o brilho intenso das luzes cirúrgicas, mas Cole mantinha o foco.
— Certo, isso deve estabilizar. Vamos verificar mais alguma coisa. — murmurou para si mesmo, enquanto inspecionava a área com cuidado. Após confirmar que não havia danos adicionais ao sistema nervoso central, Cole finalmente respirou aliviado. Ele se afastou da mesa cirúrgica e olhou para a doutora Martin, que já estava pronta para assumir a próxima etapa. Doutora Martin entrou em ação com a precisão de uma artesã. As fraturas expostas eram graves, mas não intimidavam a experiente ortopedista. Ela começou reconstruindo as estruturas ósseas da perna, utilizando placas e parafusos com cuidado milimétrico. — Isso vai segurar. Agora vamos para o braço. — comentou, enquanto ajustava suas ferramentas. A articulação do braço estava gravemente danificada, mas Martin trabalhou com calma, reparando os ligamentos e fixando o osso quebrado. O tempo parecia correr contra eles, mas a sincronia da equipe fazia tudo fluir como uma máquina bem ajustada. Horas se passaram, e finalmente o silêncio tomou conta da sala. Os dois cirurgiões se olharam, compartilhando um momento de alívio. Haviam conseguido estabilizar a paciente. — Boa parceria, como sempre. — disse Cole, retirando as luvas. — Sem dúvida. Agora, vamos respirar um pouco antes de encarar o caos lá fora. — respondeu Martin, com um sorriso cansado. Depois de se limparem e registrarem os detalhes da cirurgia, eles deixaram o centro cirúrgico e retornaram ao setor de emergência. O que antes era um local relativamente tranquilo agora estava em completo alvoroço. As macas ocupavam todos os cantos disponíveis, os sons de gemidos e instruções ecoavam pelo corredor. Enfermeiros corriam de um lado para o outro, tentando atender os outros envolvidos no acidente. Os cinco homens drogados e bêbados estavam sendo estabilizados, enquanto o motorista da ambulância organizava mais transferências de pacientes. Cole cruzou os braços, observando o caos à sua frente. — Bom, parece que nossa noite está longe de acabar. — comentou, com um misto de exaustão e determinação. Martin olhou ao redor, respirando fundo. — Bem-vindo ao plantão da tempestade, Cole. Pérola, que teve a oportunidade de assistir à cirurgia, estava impressionada com tudo o que presenciara. Sua expressão de fascínio era inconfundível enquanto caminhava de volta para o setor de enfermagem. — E aí? — perguntou Katy, a chefe dos enfermeiros, com um sorriso satisfeito no rosto, já sabendo exatamente o que Pérola responderia. — Katy, eles são deuses! — exclamou Pérola, ainda maravilhada. — O jeito como trabalham juntos... Eles resolviam tudo de forma tão rápida e clara, como se já soubessem exatamente o que o outro estava pensando. A moça estava em um estado crítico, parecia impossível, mas eles conseguiram! São incríveis, de verdade. Katy deu uma risadinha, balançando a cabeça. — Eu te disse, não disse? Eles são os melhores. Mas agora, é a nossa vez. Você e eu, mocinha, vamos trabalhar juntas a noite inteira. E adivinha só? Você vai ficar de olho nela durante toda a noite. — E os outros pacientes? — perguntou Pérola, ligeiramente preocupada com a carga de trabalho. Katy suspirou, mas manteve o tom firme e profissional. — Nossa prioridade é Julia. Descobrimos o nome dela enquanto estava em cirurgia. — Katy fez uma pausa e olhou nos olhos de Pérola. — Claro, você tem outros pacientes, mas ela é quem mais vai precisar de você agora. É uma sobrevivente, mas o estado dela ainda é muito delicado. Pérola assentiu, absorvendo a responsabilidade que acabara de receber. Apesar de sentir o peso da missão, uma sensação de propósito tomou conta dela. — Certo, Katy. Vou dar o meu melhor. — Eu sei que vai. — respondeu Katy, sorrindo de forma encorajadora. Katy e Pérola demonstravam uma dedicação impressionante. Apesar do fluxo intenso na emergência, conseguiam se dividir de maneira organizada para garantir que nenhum paciente ficasse desassistido e, especialmente, que Julia recebesse atenção redobrada. O quarto de Julia foi estrategicamente posicionado em frente à pequena recepção onde os enfermeiros ficavam. Isso permitia que Katy e Pérola a monitorassem com facilidade. As persianas do quarto foram deixadas abertas, de modo que o monitor cardíaco e os sinais vitais de Julia estivessem sempre visíveis. Mesmo com essa boa visibilidade, era comum encontrar um enfermeiro dentro do quarto, seja revisando prontuários, seja ajustando medicamentos ou simplesmente verificando a estabilidade dela. O cuidado com Julia era constante e meticuloso. Durante os dias seguintes, essa rotina se repetiu. Todos ali pareciam determinados a dar o melhor para a jovem que sobrevivera a um acidente tão grave. Enquanto isso, no setor de triagem, o chefe da cirurgia, acompanhado dos doutores Cole e Martin, finalmente localizou o marido de Julia. Ele estava deitado em uma das macas, com o olhar perdido e a expressão de quem ainda processava os acontecimentos. — Podemos falar com o senhor? — perguntou o chefe, aproximando-se com um tom calmo e profissional. O homem ergueu o olhar lentamente, seus olhos marejados, revelando um cansaço profundo. — Sim... Por favor, me digam como ela está. — respondeu, sua voz embargada pela preocupação. — Sua esposa já está no quarto. — começou o chefe, com a voz firme, mas compassiva. — A cirurgia foi longa, e o quadro dela ainda é muito delicado. O homem engoliu seco, suas mãos tremendo ligeiramente enquanto segurava o lençol da maca. — Mas... ela vai ficar bem? — perguntou com hesitação, a voz embargada pelo medo da resposta. O chefe fez uma pausa breve antes de continuar, olhando-o diretamente nos olhos. — Apesar das dificuldades, a cirurgia foi um sucesso. Os danos mais graves foram tratados, mas a recuperação dela exigirá tempo e paciência. Ela está em boas mãos, e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance. O marido suspirou, como se um peso imenso fosse parcialmente retirado de seus ombros. — Obrigado... obrigado por salvarem minha esposa. Doutor Cole, que estava ao lado do chefe, interveio de forma prática: — Vamos colocá-lo no quarto com ela. Assim poderá fazer companhia e ajudar nesse processo. A presença de alguém próximo pode fazer toda a diferença. — Isso mesmo. — completou o chefe. — Ela ainda está sedada, mas será bom para ela saber que você está ao lado quando acordar. O homem assentiu rapidamente, os olhos marejados, claramente emocionado pela oportunidade de estar ao lado de sua esposa nesse momento tão difícil. — Eu só quero estar com ela. Obrigado, de verdade. Cole fez um sinal para uma enfermeira, que imediatamente se aproximou para conduzir o marido ao quarto de Julia. Enquanto isso, o chefe e Martin trocaram olhares, cientes de que a recuperação da paciente seria longa, mas esperançosos de que o pior já havia passado.Os dias se passaram e nada de Julia acordar. Teve que passar por mais cirurgias, e a torcida por sua recuperação era grande, embora se dividisse no medo de seu corpo não mais aguentar.– Vamos, querida, acorde. – falou Cole certa vez em uma de suas visitas a Julia.– Parece que ela precisa de mais descanso. – falou Martin, pensativa, para Cole.– Vamos levá-la para fazer exames. Temos que descobrir se há algo de errado, talvez tenhamos deixado algo passar. – disse Cole, com o temor evidente em sua voz.– Vamos ver, então, se há algo de errado com ela. – respondeu Martin.E levaram Julia mais uma vez para fazer exames.Os resultados mostraram que estava tudo bem, então só restava aguardar.Diante da preocupação crescente, o chefe dos cirurgiões decidiu convocar uma reunião com os médicos e o marido da paciente. Ele queria explicar que o hospital tinha feito tudo ao seu alcance, mas que o tempo agora era o principal aliado.– Senhor Green, sei que esta situação é extremamente difícil. –
– Não tem mais ninguém que possa te ajudar, Otto? – perguntou Katy em uma tarde.– Não, somos só eu e ela. Julia foi adotada por um casal que não podia ter filhos, e eu sou filho único. – contou ele, com uma expressão distante. – Deixamos tudo para trás na Filadélfia para começarmos uma vida nova.Katy ficou em silêncio por um momento, sentindo o peso da situação.– Bom, agora tem a gente. Você também precisa descansar.– Estou sem cabeça para nada. – Otto disse, com um suspiro, olhando para as mãos, como se buscasse respostas.– E o trabalho, Otto? Desculpe perguntar.– Não tem problema. – Otto sorriu levemente, tentando esconder a tristeza. – Sou advogado, pedi para ficar afastado por uns dias. – Ele respirou fundo, pensativo. – Sei que vou ter que voltar... mas como com ela aqui?Katy o olhou com cuidado, suas palavras vindo com suavidade, mas também com firmeza.– Como eu disse, Otto, você agora tem a gente. Precisa trabalhar, descansar... Julia vai ficar aqui por um longo tempo.
Perdida em seus pensamentos, tentando imaginar como era sua vida, Julia acabou adormecendo. Pérola, após terminar de cuidar dos pacientes, retornou ao quarto como prometido. Aconchegou-se na poltrona e começou a preencher os prontuários.Mesmo sendo muitos, conseguiu finalizá-los a tempo, encerrando seu turno com tudo em ordem.Já passava das 9 horas da manhã quando Julia despertou. Ainda sonolenta, virou-se e procurou por Pérola na poltrona, mas ela já não estava ali. Do lado de fora, os médicos, o chefe da equipe e Otto conversavam animadamente. Doutor Cole apertava a mão de Otto com firmeza, num gesto que demonstrava certa amizade.Ao perceberem que Julia os observava, acenaram e entraram no quarto.— Bom dia! — falaram todos ao mesmo tempo, animados.— Bom dia. — Julia respondeu com um sorriso.— Como está se sentindo hoje? — perguntou Dr. Cole.— Ainda sem memória. — respondeu de maneira amigável, mas logo seu tom mudou para um lamento. — A enfermeira Pérola ficou aqui esta noite
Com o clima tenso, os dois homens saíram do quarto, seguidos pelo diretor do hospital. O chefe dos cirurgiões, Marcos Garcia, permaneceu no quarto.— Vai ficar tudo bem. — disse Garcia, se aproximando de Otto, tentando oferecer alguma tranquilidade.Otto, visivelmente irritado e descontrolado, virou-se para ele.— Eles podem fazer isso? Minha esposa acabou de acordar! — Otto falou, o descontentamento evidente em sua voz.Garcia tentou manter a calma.— Otto, se acalme. Vamos ao refeitório, você precisa se acalmar. — disse ele com um tom suave, tentando controlar a situação.Otto, com os olhos marejados de lágrimas, respondeu entre soluços:— Calma como, Garcia? Ela nem sabe quem eu sou!— Calma, Otto, vamos. — Garcia insistiu, tocando no ombro dele, tentando guiá-lo para fora. — Você precisa se acalmar.Otto levantou-se rapidamente, enxugando as lágrimas com a mão, ainda visivelmente trêmulo.— Katy está lá fora, não se preocupe, eles não vão voltar tão cedo. — disse Garcia, tentando
Garcia e Otto, ao retornarem ao quarto, se depararam com a enfermeira-chefe e Julia abraçadas.— O que houve? — perguntou Otto, apreensivo.— Eu lembrei de uma voz — disse Julia, chorando.— Meu amor, que ótima notícia! — exclamou Otto, emocionado.Otto e Garcia se aproximaram das duas, que contaram o que havia acontecido. A felicidade tomou a todos.A notícia se espalhou pelo hospital. Pessoas envolvidas na cirurgia de Julia foram dar uma espiada; outras, que não participaram, mas estavam curiosas, fizeram o mesmo. Até a doutora Martin a visitou naquele dia, mais animada que o normal.— Agora vamos, deixem Julia descansar um pouco — disse Martin, colocando todos para fora e fechando a persiana para impedir a visão de quem passasse pelo corredor.— Obrigada, Martin, eu já estava ficando zonza — falou Julia, aliviada.— Você agora é uma pop star, tem que se acostumar — brincou Martin, piscando para ela.Martin fechou a porta ao sair, deixando o casal a sós.Otto segurou a mão de Julia
Julia despertou e viu que Otto ainda estava lá. Ficou feliz em saber que não estaria só naquela noite. Ao olhar pela janela, viu o céu negro; não se podiam ver as estrelas, porém não chovia.Esticou o braço, pegou um dos livros que estavam ao lado da cama e o analisou, como se olhar algo de que gostasse pudesse fazer alguma lembrança retornar. Respirou fundo, lembrando-se de que precisava ter paciência.— Não seja ansiosa, tenha calma... Está indo bem — falou para si mesma.Apoiou o livro no braço engessado e começou a ler.Já havia se passado um bom tempo quando Otto despertou, mas ela nem percebeu, imersa na leitura. Ele ficou em silêncio, apenas observando-a. Havia algo hipnotizante na forma como seus olhos percorriam as páginas, como franzia levemente a testa quando encontrava algo que exigia mais atenção.Otto sentiu o peito aquecer. Seu amor por Julia era avassalador, uma força silenciosa que o dominava por completo. Não era apenas afeição ou carinho — era devoção. Tudo nela o f
Os dias foram passando, e a melhora de Julia era evidente. Seu corpo se fortalecia a cada dia, mesmo que sua memória ainda não tivesse voltado.Movimentos simples, como pentear o cabelo e levar a comida à boca, que antes pareciam impossíveis, agora eram parte de sua rotina. Cada pequena conquista era celebrada.— Em breve, você terá alta, mas precisará continuar com a reabilitação — disse o doutor Cole.— Aluguei uma casa aqui perto. Achei que seria o melhor para ela — respondeu Otto.— Isso vai ajudar muito! — Cole se aproximou e apertou a mão de Otto. — Vocês não precisam mais de mim, mas, mesmo assim, virei vê-la de vez em quando. Otto, sua dedicação faz toda a diferença.— Ela é o que eu tenho de mais precioso, Cole — disse Otto, com firmeza.O doutor Cole saiu do quarto, mas o dia continuou trazendo visitas para Julia. Entre elas, os policiais Black e Wilson. Dessa vez, a postura deles parecia diferente — mais amigável, talvez até mais receptiva.— Bom dia — disseram os dois ao e
— Eu não sabia como contar… Fiquei pensando o tempo todo em como você reagiria — Otto disse, entrando no quarto, a voz carregada de hesitação.Julia, tomada pela raiva e pela dor, atirou o livro que estava em seu colo para longe, fazendo-o cair no chão com um som seco.— Eu quase morri, Otto! Por causa de um bêbado desgraçado! — Ela não conseguiu esconder a frustração que transbordava.Ele se aproximou, a expressão de preocupação crescendo, tentando encontrar palavras que a acalmassem.— Julia, por favor, se acalme. Eles estão presos. Já estão pagando pelo que fizeram...Ela o interrompeu, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto as palavras saíam com a dor de uma ferida aberta.— Eu quase morri, Otto! Eu quase morri! Você sabe disso!Otto, sem saber o que mais dizer, sentou-se na cama e a puxou para um abraço, tentando envolver a dor dela com seu próprio corpo, desejando que pudesse fazer tudo desaparecer.— Me desculpe, você devia saber por mim... — Otto disse, a voz carregad