Início / Romance / A Casa dos Segredos / 1 - A Jornada do Lembrar
A Casa dos Segredos
A Casa dos Segredos
Por: Di Alcantara
1 - A Jornada do Lembrar

Era noite, e a chuva caía forte quando uma mulher foi trazida ao hospital. Seu estado era grave. Passou por várias cirurgias, mas estava demorando para acordar.

Por sorte, seu marido também havia dado entrada no hospital e pôde contar um pouco do que aconteceu.

— A gente bateu o carro, ela saiu de um lado e eu de outro. Quando vi, já tinha acontecido. Foi muito rápido — disse ele, visivelmente abalado.

Dias se passaram até que, finalmente, ela abriu os olhos, com muito esforço. Olhou o ambiente com calma: quarto branco, janelas grandes com persianas. Lá fora, a chuva caía forte. Um trovão a fez levar um susto, e ela fechou os olhos por um instante, antes de abri-los lentamente novamente.

Começou a observar o local com mais atenção, tentando reconhecer onde estava. Viu uma porta. À frente da cama, uma cômoda. Acima, na parede, uma TV estava ligada, exibindo algum programa infantil. Virando-se um pouco, notou outra porta, desta vez aberta. Lá fora, algumas pessoas passavam — pareciam médicos. Ao olhar mais uma vez, viu uma janela de vidro, com persianas abertas, que dava para o outro lado. Havia um balcão e dois computadores. Quando seus olhos subiram um pouco mais, viu um homem debruçado sobre a cama, aparentemente dormindo. Ela ficou observando-o em silêncio, confusa.

O medo começou a crescer dentro dela. Não sabia onde estava, não reconhecia nada, e não se lembrava de nada.

Nesse momento, uma enfermeira passou pelo corredor, notou que ela havia acordado e entrou no quarto. Com gentileza, aproximou-se e começou a acalmá-la.

— Julia, está tudo bem.

— Onde eu estou? — falou apavorada.

— Está em um hospital. Calma, não precisa se preocupar.

A enfermeira se aproximou devagar, usando uma luz nos olhos de Julia enquanto começava a ler o prontuário. Era uma mulher magra, aparentando cerca de 40 anos. Seus cabelos eram curtos e castanhos, seu rosto redondo, com olhos castanhos escuros e pequenos, nariz delicado e lábios finos. Ela não era alta. A enfermeira parou por um momento, observando atentamente.

— Está sentindo alguma coisa?

— Dor de cabeça... estou confusa... eu não me lembro de nada.

— Está tudo bem, vamos te ajudar com isso. Vou chamar o médico, tá bom?

— Tá bom... — disse Julia, ainda assustada.

O homem que estava debruçado sobre a cama de Julia acordou, viu que ela estava acordada, abriu um sorriso e começou a chorar.

— Você acordou, meu amor. Achei que tinha te perdido — falou ele, entre lágrimas.

— Sr. Green, ela está um pouco assustada, não se lembra de nada. Vou chamar o médico.

— Tudo bem.

Ele passou a mão no rosto, tentando secar as lágrimas, depois segurou a mão de Julia e a acariciou com ternura.

— Não se lembra de nada? — perguntou ele, calmamente.

— Só do meu nome.

— Não se lembra de mim?

— Não... me desculpe, eu...

— Não, não se preocupe — ele a interrompeu suavemente. — O que importa é que você acordou.

— O que houve? Só consigo me lembrar de chuva e luzes fortes.

— Querida, você sofreu um acidente. Já faz dias que está aqui.

Julia levou a mão à cabeça, sua expressão era de dor.

— Acho que ainda precisa descansar.

— Estou aqui há quanto tempo?

— Bastante tempo. Pare de se preocupar. O médico já vem.

Quando terminou de falar, o médico entrou. Olhou Julia com atenção e abriu um sorriso. Caminhou até ela e tocou seu ombro com delicadeza.

— Bem-vinda de volta, Julia. Vou pedir alguns exames, tá bom? — falou ele suavemente.

— Onde eu estou?

— Não se lembra de nada do acidente ou antes dele?

— Não... só de luzes fortes e chuva.

— Você sofreu um acidente grave. Não se lembrar é normal. Com o tempo, suas memórias vão voltar.

Ele anotou algo no prontuário dela.

— Sr. Green, por favor, me acompanhe.

Eles saíram do quarto juntos, e Julia apenas observou os dois do lado de fora. Ainda sentia medo, mas tentava se acalmar.

— Sr. Green, é normal que ela não se lembre de tudo. Precisa de paciência, não a force.

— Tudo bem, doutor, mas pode demorar para as memórias voltarem, ou talvez não voltem?

— São possibilidades. O acidente foi muito grave. Vamos apenas seguir um dia de cada vez, tá bom?

— Está bem, doutor.

— Vou pedir alguns exames e começaremos a reabilitação dela.

O médico entrou novamente no quarto. Julia estava curiosa, observando tudo em silêncio.

— Ele vai pedir alguns exames. Pediu calma e disse que, com o tempo, as memórias vão voltar.

— E se nunca voltarem?

— Não vamos ser pessimistas. Estou aqui, amor. Vou te ajudar em todo o processo, não se preocupe.

— Desculpa... mas o que somos, exatamente?

— Somos casados há bastante tempo.

Julia olhou para sua mão e viu uma linda aliança dourada, com um diamante nela. Ficou ali, observando-a, tão bonita.

— Era da minha avó. — disse ele

Ela o olhou e sorriu. Ele fez o mesmo, um sorriso cheio de carinho.

— Eu sou o Otto, Otto Green. Nos conhecemos há bastante tempo, somos casados e resolvemos nos mudar. Você queria um lugar mais calmo, para poder escrever.

— Eu escrevo?

— Sim, querida, você trabalhava em um jornal local como colunista.

— Uau.

— Sim, você era muito boa. Não se preocupe, em casa tenho recortes. Vai poder ver tudo o que escreveu.

— É tão estranho não lembrar de nada.

— Julia, você acabou de acordar. Nem imagina tudo o que passou aqui, mas com calma, vou te contar, tá bom?

— Julia Green? Que bonito... — sorriu.

— Sim, meu amor. — Ele beijou seus lábios de leve.

Logo, uma equipe veio buscar Julia para fazer os exames. Demorou bastante, e ela se sentia cansada. O médico e a enfermeira a acompanhavam.

— Bom, Sr. e Sra. Green, os resultados não devem demorar a sair. Vamos ver como tudo está. Também vamos começar a reabilitação. Fizemos várias cirurgias e agora ela precisa se recuperar para voltar a andar logo.

— Foi muito grave? Porque está tão estranho... — Julia falava devagar, como se isso pudesse ajudá-la a lembrar de algo.

— Foi muito grave. É normal que não se lembre das coisas. Não force, está bem?

— Tudo bem. Mas e se não voltar?

— Julia, é uma possibilidade, sim. Pode voltar logo, pode demorar, ou pode não voltar. Mas só vamos saber com o tempo, e você terá toda a ajuda necessária. Agora, descanse. Mais tarde eu volto para te ver.

O médico saiu do quarto, deixando o casal a sós. Otto segurou a mão de Julia. Ela sorriu, se ajeitou na cama e fechou os olhos. Otto se acomodou na poltrona ao lado e também fechou os olhos. Logo, os dois adormeceram.

O médico voltou ainda naquele dia para verificar como Julia estava, já com os resultados em mãos.

— Está tudo bem com você, Julia — disse ele, com um sorriso. — Agora, você passará pelo processo de reabilitação. Já sabemos que será longo, e doloroso, mas com calma, logo você estará andando e, em breve, indo para casa.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App