— Aproveite que ela não está. — Ele fala. — Do que está falando? — Questiono, descendo dois degraus. — Não se faça de burra. — Diz com arrogância. — Eu não sei do que fala. — Devolvo no mesmo tom. — Me ilumine. — Reviro os olhos passando o cesto para o primeiro degrau e me aproximando mais dele. — É visível que não quer estar aqui. Não precisa mais fingir. — Ele ergueu sua sobrancelha esculpida para mim. — Sério? Você acha que não gostaria de estar aqui?! Se eu não quisesse, eu não estaria. — Afirmo. — Olha... — Ele solta um sorriso sínico. — Onde você pensa que chegará com isso? Agindo como a boa samaritana, servindo chá, recolhendo roupas.... Vestida desse jeito. — Sua voz é amarga. Espio rápido minha roupa. Estou vestindo uma blusa cinza, escrita “NO BOYS” que bate na altura da minha coxa, e um short jeans pouco a baixo da blusa e chinelos de unicórnio. Meu cabelo é um coque bagunçado e não tenho alguma maquiagem. — Qual o problema?! — Rebato. — Voc
O amor cega as pessoas, é evidente. Mesmo que antes nunca acreditasse nisso, a realidade estava ali, mais clara que água cristalina. Na verdade, olhando para trás com mais cautela, percebi que realmente não havia jeito daquela situação ser de outra forma, eu sempre fora dele. Sempre. A tatuagem no meu pulso direito me dizia exatamente isso. Meu pensamento corria de forma diferente do tempo que passava à minha volta. O homem que eu olhava, meu Carrasco, queria correr em minha direção e me proteger, esse homem faria qualquer coisa por mim. Ouso afirmar que esse homem morreria por mim. Seus lábios mexiam, em confusão e nervoso, dizendo para que eu me abaixasse. Ele dava passos frenéticos em minha direção, mas foi baleado na barriga. Meu primeiro instinto foi correr para ele, ver se estava bem. Mas ele continuava a balear os homens, não prestava mais atenção em mim. Olhei para o lado, taças de cristal explodiam, assim como louças caríssimas. Eu realmente deveria me abaixar, me
Onde você está agora? Como está se sentindo nesse momento? Feliz? Está realizada e completa com as escolhas que fez? Está se sentindo acolhida e bem-vinda? Se sente segura? Estar segura não é algo que eu conheça. Eu não sei o que é estar segura em um lugar. Eu não sei o que é isso, desde muito pequena estive perdida, tão perdida…e quando me tornei adulta não consegui mais encontrar o caminho de volta. Todas as portas que eu bati se mantiveram fechadas, todas as esperanças que um dia tive foram roubadas de mim. Eu não posso culpá-lo também, lembro-me bem, esforço-me para lembrar todos os dias: eu pude escolher. E escolhi o caminho menos doloroso, não só para mim. É uma pena, as consequências que um simples “eu aceito” pode gerar são enormes. Infelizmente o caminho que eu pensei ser melhor, ou menos doloroso, hoje me transmite dores inimagináveis, e marcas que eu terei que tratar para o resto da vida. Ironicamente tocava Etta James ( Por favor, ouçam enquanto lêem)“Até que enfim m
Senti meus olhos queimarem, quando segurei as lágrimas que estavam insistindo em descer em desacordo com meu orgulho ferido. A minha respiração se tornou mais irregular, e eu pude sentir alguns olhares em mim, ou era impressão? Não que eles tivessem realmente percebendo. Para eles eu era só a noiva feliz dançando com o sogro. Por alguns momentos deixei meus olhos se perderem pela festa, pessoas andavam por todos os lados, sorriam e conversavam. Olhei meus pais por um momento, as únicas pessoas que sabiam verdadeiramente o que estava acontecendo. Minha mãe se agarrou ao meu olhar e senti súplica e remorso neles. Talvez alguma lágrima escorrer dos seus olhos. Meu pai, em uma cadeira de rodas ainda em recuperação pela sua doença, por sua vez, não teve coragem de olhar em meus olhos. Desde que descobri tudo, ele nunca mais me olhou, ou tentou falar comigo. Estava com raiva, envergonhado? Apesar de tudo eu não lhe culpei, o motivo daquilo tudo não eram só dívidas, havia mais coisas em jogo
Olhei para trás e meu corpo bambeou. — Opa! — Thomas chegou rápido perto de mim. — Não! Não Thomas, não se aproxime. — Tentava manter meu corpo parado, ainda estava tremendo pelo susto. — Qual é o seu problema? O que você está pensando? Você precisa descer daí. — Ele parece nervoso. — O quê? Não! Não é isso que você está pensando, eu só queria tomar um ar. — Adimito, confusa. — Na beirada de um penhasco? — Ele deu mais um passo em minha direção, seu braço ainda esticado como se fosse me segurar. — Eu… eu… uhhr! — Um vento forte passou por mim, fazendo meu vestido exagerado de tule, embolar em minhas pernas. Gritei quando cambaleei pronta para desabar. Meu peito bombeia erraticamente à medida que o medo de realmente cair e me estralhaçar dolorosamente naquelas pedras se torna mais potente.Quando a queda não acontece, abro um dos meus olhos assutada e depois abro o outro. Thomas me segurou. Ele realmente havia me tomado em seu colo antes que eu caísse. Eu estava naqu
Nós tínhamos marcado em um restaurante luxuoso em San Diego, Califórnia, o George’s Ocean Terrace. Um restaurante com uma linda cobertura e vista panorâmica do oceano. San Diego era nosso novo endereço desde que tínhamos nos mudado do Texas. Meu pai não conseguia mais morar fixamente em um local, então nos convenceu que seria bom para mim conhecer outros lugares depois de passar grande parte da vida presa em uma escola para moças. Em cinco anos, moramos em oito cidades diferentes. No começo era até divertido, passei a metade da minha vida presa em uma escola. Mas depois, isso parecia loucura. Foi no momento em que questionei meu pai que ele resolveu nos estabelecer em uma cidade. Durante todo aquele tempo, fiz minha faculdade à distância, exceto o último período, onde entramos em um acordo de que seria melhor terminar a faculdade e eu poderia ter a minha formatura em uma cidade grande, então escolhemos a Califórnia, com a UCLA que era uma das melhores faculdades da cidade. Acabaria s
— Puta merda! — falei um pouco alto demais. — Meu coração batia tão forte que eu sentia ele batendo na base da minha garganta. Aliás, parecia que eu poderia cuspi-lo a qualquer momento. — Deus, Alice! — minha mãe chamou minha atenção novamente para um Jamie muito ajoelhado. Olhei para Jamie ainda na posição na minha frente, o rosto embaraçado, parece deplorável, com seu olhar oprimido e cheio de vergonha.— Eu… eu… sinto muito Jamie. — Tentei falar o mais baixo possível. Estiquei a mão para ajudá-lo a se levantar, mas ele não aceitou a minha ajuda.O ar eletrificou. Tornou-se mais energizado. Levantando-se sozinho, ele olhou para meu pai, um entendimento e uma conversa silenciosa se passou entre eles e eu não entendi nada. —Porra Trevor, você tá tão ferrado. — Seu tom suave contrasta fortemente com a sua postura defensiva. Ele tem tanta ira dento de si que é palpável. Em seguida, meu pai resmungou algo para ele que eu não pude entender. Jamie saiu em seguida, marchando
— O que faz aqui? Pensei que estaria na Vivian. — Ele nem consegue disfarçar que há algo muito errado— Eu não fui pai. A sua postura se tornou ainda mais rígida. — Eu ouvi tudo pai. Tudo! — soltei de uma só vez. Dei ênfase no “tudo”. — Eu sinto muito minha querida. — O pesar suave vem do outro lado da sala. A minha mãe. Ela estava aqui o tempo todo? Me virei e a encarei. Ela estava sentada do outro lado do escritório. Em silêncio, olhos inchados, provavelmente de tanto chorar. — Como assim sente muito, mãe? Você estava aqui o tempo todo? Você sabia? — Minha voz ficou baixa novamente.Ela prende os lábios tensos sobre o dente. —A gente não está tão bem quanto você pensa. Algo em meu peito aperta e torce violentamente.—Agora eu não acho nada mãe. — Eu tremo quando minha voz ecoa. — Não depois de ter ouvido oque eu ouvi. — Querida, eu sinto muito, esse não é o jeito certo para você descobrir tudo — Ela ia chorar de novo? A sua voz estava trêmula.Meu pai jogo