O segredo infernal

Nós tínhamos marcado em um restaurante luxuoso em San Diego, Califórnia, o George’s Ocean Terrace. Um restaurante com uma linda cobertura e vista panorâmica do oceano. San Diego era nosso novo endereço desde que tínhamos nos mudado do Texas. Meu pai não conseguia mais morar fixamente em um local, então nos convenceu que seria bom para mim conhecer outros lugares depois de passar grande parte da vida presa em uma escola para moças. Em cinco anos, moramos em oito cidades diferentes. No começo era até divertido, passei a metade da minha vida presa em uma escola. Mas depois, isso parecia loucura. Foi no momento em que questionei meu pai que ele resolveu nos estabelecer em uma cidade. Durante todo aquele tempo, fiz minha faculdade à distância, exceto o último período, onde entramos em um acordo de que seria melhor terminar a faculdade e eu poderia ter a minha formatura em uma cidade grande, então escolhemos a Califórnia, com a UCLA que era uma das melhores faculdades da cidade. Acabaria sendo bom para todos nós.

Cheguei ao lindo restaurante e fui direto para a cobertura, encontrei meu pai dividindo uma taça de vinho com a minha mãe. Passamos todo o tempo conversando sobre tudo e nada. Nicole e Vivian me ligaram. A noite estava agradável.

Foram quando os olhos do meu pai se fixaram atrás de mim. E um arrepio subiu pela minha espinha, que percebi que havia algo errado.

— Jamie! — minha mãe chamou primeiro. — Querido, junte-se a nós! — Eu olhei primeiro para a minha mãe, ela parecia animada ao vê-lo, mas o seu sorriso era estranho. Quase robótico.

Eu a encarei com estranheza e depois virei, também surpresa pela sua presença. Nós tínhamos terminado há algumas semanas, bem eu terminei. De qualquer jeito, não nos falavamos mais há um tempo. Ele nem tem rede social e não conheço qualquer amigo ou pessoa da família. Jamie sempre foi muito discreto, silencioso, observador. Isso não me irritava, mas me trazia um certo desconforto. Algo em meu amago tremia quando ele estava perto e não de maneira positiva. Eu não sei, era apenas algo que ele carregava com ele. Como o seu cabelo ou algo assim. Ele não tinha culpa, era só oque era. Jamie, trazia consigo aquele tipo de energia raivosa mal contida, era tão espessa que quando ele andava as pessoas pareciam se curvar instantaneamente. Como se ele fosse a merda de um Deus. Oque eu sabia disso, era que homens com essa energia, em algum momento entram em combustão.

— Jamie! — exclamei. — Que surpresa, o que faz aqui? — Minha sobrancelhas ruivas levantam mal disfarçando meu espanto.

— Na verdade o seu pai me convidou. — Ele sorriu, mas mal alcancava os olhos e então puxou a cadeira ao lado para se sentar.

Olhei para o meu pai, que não expressou nenhuma opinião sobre isso. Mas uma linha fina de suor cobria a sua testa.

Ele estava passando mal?

Olhei para ele preocupada mas ele levou a taça enorme de vinho aos lábios e bebeu, demorando lá, como se a taça fosse esconder o seu rosto.

— Você está bem Trevor? — Jamie pergunta, — Seu tom é seco e não mostra realmente preocupação.

Meu pai meio que engasga, desce a enorme taça do rosto e reponde:

— Estou ótimo. Só com sede. — Ele nem olha na direção de Jamie quando reponde.

Isso é muito estranho.

— Bom. — Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. — O vinho mais caro da casa, por favor, — Pediu ao garçom. — Hoje vamos comemorar! — Ele usou a mão por baixo da mesa para segurar a minha.

Não sei porque não solto a sua mão. Não quero dar a ele falsas esperanças de um retorno para nós. Mas de alguma maneira não parece correto não fechar a minha mão sobre a dele.

Meu pai deve ter lido os nossos movimentos, porque ele se mexeu desconfortavelmente na cadeira.

— O-olha Jamie. — Meu pai limpa a garganta para firmar a sua voz fraca. Acho que ele já havia bebido demais . Aliás, ele estava bebendo demais desde o atentado a nossa casa. — Olha Jamie, eu não acho

que seja necessário. — Meu pai exclamou. — Peça apenas uma taça para você, eu e Elizabeth já bebemos o suficiente por hoje.

— Eles têm razão — disse para Jamie. Meus pais não bebiam muito, eu também não. Uma outra garrafa seria de extremo exagero para nós.

— Não tem problema! — Ele olhou para os meus pais e novamente sorriu. — Traga a garrafa do melhor vinho da casa!

O garçom assentiu e saiu em seguida.

Passamos grande parte da noite assim, um jantar que era para ser tranquilo, acabou se tornando em evento tenso.

Meu pai me apresentou Jamie há meses atrás. Eu se quer o vi antes . Segundo o meu pai Jamie era o filho de um amigo de infância. Foi uma porra de coincidência que de todas as cidades que paramos, ele nos encontrasse e também estivesse morando em San Diego.

Meu pai, nunca disfarçou muito bem as suas emoções, e quando me apresentou Jamie a coisa mais entranha aconteceu: Sua fisionomia parecia tão miserável que em qualquer momento vi na minha vida. Aliás, toda vez que ele vê Jamie, a sua reação era a mesma. Como o Jamie foi o meu primeiro namorado, atribuí o seu comportamento a isso. Hoje no entanto, meu pai estava em seu limite. Ele mal conseguia disfarçar sua aversão a Jamie. Enquanto eu e minha mãe tentávamos contornar a situação da forma mais educada possível.

— Então pretende se mudar da cidade em quanto tempo Jamie? — minha mãe perguntou, aquele sorriso tenso novamente em seu rosto.

— Não pretendo perder muito mais tempo. — As palavras foram ditas debaixo de sua respiração.

Oh, eu não sabia que ele estava indo embora.

— Na verdade, eu pretendia ir embora da cidade há muito tempo. — Ele bebeu seu vinho e limpou a garganta.

— Quando vim morar na cidade, vim pensando que ficaria um curto prazo, mas acabei mudando os meus planos conforme algumas coisas foram acontecendo.

— Que tipo de coisas? — Não sei porque perguntei. Mas a minha pergunta ficou no ar como algo incoveniente.

— Ah, veja! A sobremesa. — Minha mãe, com a felicidade de uma criança, alertou. E piscou nervosa em minha direção.

Mas que merda é essa? Batizaram a bebida da minha mãe?

— Esperem, — Jamie limpou a sua garganta. E passou a mão pelo smoking azul marinho perfeito. — Bom, antes de comermos a sobremesa tenho um brinde a fazer. — Jamie se levantou com a sua taça, chamando a atenção de todo o restaurante. — À mulher mais magnífica, linda e extraordinária que eu conheço.

Nos levantamos e então brindamos em uníssono.

— À Alice!

— Espere! — Jamie disse antes de se sentar. — Tenho ainda algo a dizer.

Jamie se ajoelhou na minha frente.

Oh não!

Minha mãe gemeu frustrada.

Meu pai resmungou.

Eu fiquei muda.

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