Duas caras

— Puta merda! — falei um pouco alto demais. — Meu coração batia tão forte que eu sentia ele batendo na base da minha garganta. Aliás, parecia que eu poderia cuspi-lo a qualquer momento.

— Deus, Alice! — minha mãe chamou minha atenção novamente para um Jamie muito ajoelhado.

Olhei para Jamie ainda na posição na minha frente, o rosto embaraçado, parece deplorável, com seu olhar oprimido e cheio de vergonha.

— Eu… eu… sinto muito Jamie. — Tentei falar o mais baixo possível. Estiquei a mão para ajudá-lo a se levantar, mas ele não aceitou a minha ajuda.

O ar eletrificou. Tornou-se mais energizado.

Levantando-se sozinho, ele olhou para meu pai, um entendimento e uma conversa silenciosa se passou entre eles e eu não entendi nada.

— Porra Trevor, você tá tão ferrado. — Seu tom suave contrasta fortemente com a sua postura defensiva. Ele tem tanta ira dento de si que é palpável.

Em seguida, meu pai resmungou algo para ele que eu não pude entender.

Jamie saiu em seguida, marchando como um soldado infernal a caminho da saída.

A sala encolheu em torno dele.

— Pai, oque acabou de acontecer aqui?

Ele franze os lábios e algo parecido com melancolia brilha em seus olhos.

— Oque aconteceu foi que você acabou de ser pedida em casamento. — Minha mãe interrompe. Sua voz está rouca por causa do vinho e falhando.

— Eu não tô falando disso mãe. — Abaixo o meu tom, observando que as pessoas ainda nos olham. — É sério que você não achou nada estranho? — Eu falo com ela, mas meus olhos ainda estão no meu pai.

— A única coisa estranha é você não se importar com um homem que te ama tanto. — Eu posso sentir a cor deixando o meu rosto. — Minha mãe podia ser qualquer coisa, menos grosseira.

— Isso é ridículo, eu e Jamie não estamos mais juntos mãe. Não sabia que gostava tanto dele. — Resmungo. Enchendo a minha taça, fazendo um bom uso da garrafa caríssima que Jamie comprou.

— A conta, por favor. — Ouvi meu pai chamando.

— Pai. — Eu o encaro, mantendo a voz baixa. Ele ainda não me olha, parece doente. — Oque está acontecendo. Peço.

— Não há nada Alice. — suplica me olhando.

— Pai, se tiver algo errado. — Ele engole em seco e me olha por entre os cílios ruivos, tão laranjas quantos os meus.

— Não há nada! — Ele levanta um pouco a voz. Me assustando. Meu pai nunca gritava comigo, tipo, nunca. Com o meu olhar assutado ele parece arrependido. Porque ele justifica. — É claro que eu não sou o maior fã de Jamie? — Sua voz ficou baixa novamente. — Eu posso identificar um homem contestável quando vejo um. Mas isso não significa que ele não seja um bom homem. Você deveria repensar em sua decisão.

Meu coração b**e forte enquanto eu tento descobrir como diabos responder a isso.

— Eu vou pensar sobre isso pai. — com lágrimas frustradas ardendo em meus olhos, eu bebo mais um gole de vinho.

**

Três dias mais tarde, acordei tarde da noite com uma tremenda dor de cabeça, eu deveria ter ido jantar com a Vivian, mas meu voo atrasou, a equipe aérea só teria um voo reservado para o dia seguinte, então descontente e com uma terrível enxaqueca, preferi ficar em casa. Desci lentamente a escada, e pude ouvir parte da discussão.

— Você não passa de um mercenário aproveitador! — Reconheci a voz de meu pai.

Ouvi uma risada seca e em seguida a voz de Jamie.

— São negócios, meu velho amigo.

— Não são só negócios! Você se aproximou da minha família, se aproximou da minha filha!

— Não fiz nada que ela não aprovasse. — Disse em seguida, podia até sentir seu sorriso de escárnio.

— Como você pôde…? — A voz do meu pai ganha um tom de indignação. — Minha filha realmente gostava de você.

— Eu estou certo que os planos do meu pai para a sua você e sua família eram os mais perversos possíveis. Tenha certeza que ela estar apaixonada por mim é o menor dos problemas que VOCÊ os envolveu.

— Já não basta o que me tiraram? Vocês levaram tudo!

Eu dou mais um passo, ainda escondida. A voz do meu pai se torna instável como se ele estivesse prestes a chorar.

Meu coração dispara, a adrenalina desse confronto fazem meu sangue correr em meus ouvidos.

— Tudo? — Jamie riu. — Isso não é nem metade do que você nos deve. Tudo tem juros, são negócios. — Afirma, como se fosse óbvio.

— Eu não tenho mais nada! O que querem que eu faça? Estou falido!

Enrijeço imediatamente e engulo o nó na garganta.

Santo Deus! Eu não podia acreditar em tudo aquilo. Jamie estava chantageando meu pai. Isso, de certa forma, explicava o sumiço do dinheiro da minha conta.

— Eu poderia matá-lo. — Ouvi Jamie falar.

E, é aí o problema. Ele literalmente falou, sua voz sedosa e calma. Totalmente indiferente. Como se estivesse escolhendo um sabor de sorvete.

Meu corpo estremeceu, cada raio de pelo em meu corpo ficou de pé. Matar meu pai? O Jamie que eu conhecia faria isso? Se bem que na verdade mal nos conhecíamos.

— Que seja! Meu pai cuspiu. — Eu morro! Me mate logo, acabe com isso. — Meu pai suplicou.

— Ah, — Jamie estala a língua. — Pobre homem! Que ganho teria matando uma velha raposa?

Pressiono minha mão contra o coração acelerado, tentando recuperar o fôlego.

— Nem pense nisso. — Meu pai aumentou o tom. — Eu dou qualquer coisa, menos isso. Qualquer coisa. — implorou.

— Nem pense nisso? — Jamie rosnou. — Tínhamos um trato! Você falaria com ela até o seu aniversário, a convenceria que eu sou o homem ideal, nós noivaríamos, casaríamos, e logo eu esqueceria as suas dívidas.

Sua fala me prende no lugar, eu tô quase botando meu almoço para fora.

— Esqueça! Eu já lhe disse, Alice é jovem, sonhadora, não merece um malfeitor como você!

Jamie ri.

— Não é isso que ela grita quando está embaixo de mim.

Ouvi um barulho alto e um gemido, provavelmente um soco. Eu queria interferir, gritar, pedir para ele ir embora, cobrar informações do meu pai. Mas eu estava em choque, meu coração pulando em meu peito, a respiração pesada.

— Nunca mais fale assim dela!

Jamie soltou uma gargalhada e em seguida falou.

— Não me importa que porra você vai falar para ela, eu a quero.

Uma onda de humilhação e raiva se abateu sobre mim. Eu era uma merda de moeda de troca para Jamie. O.TEMPO.INTEIRO.

— Então é melhor que você a convença que a melhor coisa a fazer é se casar comigo. — posso sentir os seus lábios se curvando a sua exigência. — Eu não vou lhe dar outra chance, você ferrou com um dos maiores cassinos do meu pai. Ele não vai fazer vista grossa. Eu estou te oferecendo uma bandeira branca, a sua filha.

Da onde estou posso sentir o gemido frustrado do meu

— E isso fica entre nós. Eu pago a sua dívida, você me dá a garota. Você tem três dias. Sabe onde me encontrar.

Em seguida ouvi o que seria a porta da sala batendo.

Tomei algumas profundas respirações, meu coração parecia que ia pular pela boca, minhas mãos suavam e meu corpo todo tremia. Mas tomei coragem e fui até o escritório do meu pai, certa de que se não o questionasse naquele momento, não o questionaria mais.

— Pai? Empurrei a porta devagar, ele estava sentado na sua poltrona, mãos apoiadas no rosto, cotovelos na mesa.

Assustou-se quando me viu. Linhas de expressão pesadas tomaram conta da sua face ao me ver. Estava claramente transtornado.

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