meses antes ( Semana do aniversário da Alice) Eu fiquei parado perdido nos meus próprios pensamentos, enquanto a Atendente me perguntava pela terceira vez se eu deveria levar aquela pulseira. Na verdade, nem eu sabia. Eu vi o momento em que Alice admirou a pulseira e seus olhos castanhos brilharam, e momentos depois todo o brilho esvaiu-se quando o seu cartão não passou. Ela estava envergonhada. Eu não sei quando tive aquele acesso de loucura, mais acabei entrando na loja e escolhi a que ela estava namorando três dias atrás. Uma pulseira de ouro branco, com um pingente em forma de gota, uma safira vermelha, como os seus cabelos. — Sim — disse, por fim. Ela passou o cartão sem dificuldades e me entregou a pequena bolsa dourada. Eu ainda estava com a bolsa da Tiffanys dentro do carro quando Elisabeth me ligou, me explicando a situação. Alice estava sozinha, vagando pela cidade, provavelmente arrasada por causa do seu pai. Quando eu a encontrei em casa, ela estava aterrori
Alice Durante todos os meses antes do nosso casamento eu estive anestesiada, como se estivesse observando o desenrolar da história de outra pessoa. Eu era como um pássaro, uma pintura cara, feita apenas para admirar, para decorar, para ser vista, mas nunca tocada. Depois que noivamos na Itália, Jamie exigiu que eu fosse morar temporariamente com ele, porque assim poderia me observar de perto. Ele não confiava em meus pais. Eu deveria me tornar uma verdadeira dama, uma esposa troféu, para que ele desfilasse comigo nas gloriosas festas, onde pessoas tão ricas quanto eu posso imaginar tomariam seus coquetéis e comeriam seu caviar enquanto falavam de negócios. Como uma boa esposa, eu fingia extremamente bem, tão bem que às vezes me esquecia que estava atuando. Sorria para a sua família, participava das piadas grosseiras e acompanhava os assuntos fúteis das mulheres. Eu era uma garota de ouro, estaria sempre com beleza impecável, carregada das mais caras joias, vestida sempre com vest
Meu sono tranquilo foi interrompido quando Jamie tropeçou na cômoda e logo depois tirou a calça e se deitou ao meu lado. Claramente bêbado, eu podia sentir o cheiro de álcool à distância. Tentei controlar a minha respiração o máximo que pude, pois não queria que ele percebesse que eu estava acordada. Meu corpo tremia. — Eu sou tão repugnante assim? — sussurrou baixo. Como eu não respondi ele continuou. — Você acha que eu estou feliz com esse arranjo? Humm… Você não faz ideia. — Suspirou infeliz. — Você acha que alguma maldita vez quis isso? — gritou. Engolindo o sabor ácido que sobe na garganta sussurrei. — Deixe-me em paz — me virando e encarando seu rosto. Ele parecia bem bêbado e tinha estranhamente alguns pequenos brilhos de glitter no cabelo. — Deixá-la em paz? E o que mais eu tenho feito nesse tempo? Nós mal nos falamos, nem posso tocar em você! — se exaltou. — É isso o que você quer? — disse, cínica. — Transar comigo lhe satisfará ao ponto de me deixar em pa
Olhei para Victor amarrado a cadeira, e meu mundo desabou. Seus olhos mal estavam abertos, ele aparentemente tinha apanhado muito e estava lutando para manter a postura. Vi que havia sangue escorrendo no chão e — Engolindo o sabor ácido que sobe na garganta, — percebo que há alguns dedos faltando, além de cortes no rosto. Olhei para a mesa da sala de jantar. Aquela mesma mesa que eu tomava café da manhã, aquela que eu tinha a maior parte das minhas refeições. Vi sobre ela uma tesoura de cortar grama e seus dedos.Seus, DEDOS. Uma ânsia de vômito se formou novamente e eu tive que me controlar. Eu queria correr na sua direção, desamarrá-lo, tirar a fita que cobria sua boca e deixá-lo ir embora. Ele não merecia aquilo. Não mesmo. Ele era um homem bom, um bom marido, um bom pai. Olhei para ele e me surpreendi por não chorar. Ele tentou ser forte e não olhar para mim, mas seu cabelo foi agressivamente puxado para trás para que ele me olhasse. — Jamie, não! — falei mais alto que
Certa vez vi em uma revista que o fim do mundo poderia ser amanhã, ou daqui a cem anos. A verdade é que depois de muita refletir, percebi que o fim do mundo é individual. Não seria o fim do mundo, do seu próprio mundo, perder alguém que você ama? Ou algo como sua liberdade… ou alguém… um grande amigo? Eu estava em coma, eu era um zumbi, respirava apenas porque era necessário. Jamie afastou o último segurança com ordens apenas para que me seguisse na minha corrida matinal. Zumbi, eu era literalmente assim, quando não dormia demais ficava acordada tempo demais, chorando, me remoendo de culpa, apenas vivendo… por viver. Sem motivos, expectativas… Eu sempre via nos filmes a mocinha que se superava, que enfrentava seus medos, que queria vingança. Infelizmente aquilo não era um filme. E na vida real, eu estava presa, acorrentada, cada dia mais deprimida, rezando para que tudo acabasse. Sim, claro, eu queria justiça. Mas eu não era estúpida. Jamie cortou a garganta de um homem na
— Eu só acho… — minha voz saiu arranhada e muito baixa. —Eu não acho que… — Jamie interrompeu. —Calado Jamie. — O pai dele Rugiu. — Quero ouvir a garota. —Pai, eu não…— Jamie tenta de novo. —Calado, porra! — Seu pai bateu com o punho na mesa e os olhos de todos nós encontraram. Meu coração parecia que ia saltar pela boca, meu corpo tremia de pavor. Eu estranhamente procurei Jamie, seus olhos estavam distantes, mas sua boca voltou para aquela linha de desaprovação. Ele não estava feliz. Então pigarreei, e disse em voz alta. — Eu só acho que não deveriam atribuir a falta de caráter de vocês às suas esposas. — Shhh! Cale-se! — Jamie me interrompeu novamente. Seus olhos pareciam que pulariam de órbita. — Cale-se você, filho, — Falou divertido. Mas seu sorriso não alcancava seus olhos. — Deixe a moça terminar. — Ele afrouxou a gravata e continuou a me perfurar com os olhos. — Não é culpa nossa se não têm caráter e precisam de mais de uma pessoa para preencher a
— Qual é o seu maldito problema? — Jamie me pressionou na parede, mais tarde quando chegamos em casa. — Nenhum! — gritei de volta. — Nenhum?! Mas que porra foi aquela no jantar? Você me envergonhou na frente de todos! Na frente da minha família. — Algumas partículas da sua saliva voaram no meu rosto, me fazendo olhar para o lado enquanto ele terminava de gritar. — Foda-se Jamie! Ele arregalou os olhos claramente surpreso. —O que você disse? — perguntou abaixando o tom, tornando-o ainda mais mortal. — Foda-se! — gritei de novo formando um biquinho enquanto olhava dentro dos seus olhos. Ele estendeu a mão e eu recuei fechando os olhos pensando que me daria um tapa, mas apenas passou uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. — Eu te dou tudo, e é assim que você retribui? Você me envergonhou! — Falou mais calmo.— Você é louco? — desta vez eu ri. — Você me dá tudo? Aliás, você me dá tudo! Mas nada que eu realmente queira! Jamie, eu tô presa aqui, eu mal saio
Inferno! eu não era de me gabar. Mas eu era bonito. E podia dar a ela tudo. Eu a protegeria, a amaria… Por que ela não me queria? Eu sabia! Já dera bola fora quando a ignorei, abusei ou forcei a fazer o que não queria. Mas ela não entendia. Ninguém entendia. A Alice que eu conheci um tempo atrás, só era capaz de dizer sim e não. Ela não olhava nos olhos de ninguém. Ela tinha medo. Era fraca. A Alice que eu vejo hoje sabe lutar, ela aprendeu, aprendeu na marra. Mas a mulher de um futuro Capo tem que ser forte. A mulher de um Gambino tem que saber algo além de sim ou não. Ela tem que saber revidar. Tem que saber planejar, ser tática, ser forte. E eu a tornei forte porque no nosso mundo não há facilidade. Eu a treinei, ela esbanja elegância por onde passa, é inteligente, altruísta, perspicaz. E forte. Minha Alice é forte como o fogo que dança nos seus cabelos. Eu só queria que ela me olhasse como antes. Como antes de tudo. Queria que ela me visse, que ela enxergasse que eu não sei se