o casamento

Senti meus olhos queimarem, quando segurei as lágrimas que estavam insistindo em descer em desacordo com meu orgulho ferido. A minha respiração se tornou mais irregular, e eu pude sentir alguns olhares em mim, ou era impressão? Não que eles tivessem realmente percebendo. Para eles eu era só a noiva feliz dançando com o sogro. Por alguns momentos deixei meus olhos se perderem pela festa, pessoas andavam por todos os lados, sorriam e conversavam. Olhei meus pais por um momento, as únicas pessoas que sabiam verdadeiramente o que estava acontecendo. Minha mãe se agarrou ao meu olhar e senti súplica e remorso neles. Talvez alguma lágrima escorrer dos seus olhos. Meu pai, em uma cadeira de rodas ainda em recuperação pela sua doença, por sua vez, não teve coragem de olhar em meus olhos. Desde que descobri tudo, ele nunca mais me olhou, ou tentou falar comigo. Estava com raiva, envergonhado? Apesar de tudo eu não lhe culpei, o motivo daquilo tudo não eram só dívidas, havia mais coisas em jogo. E minhas escolhas nos trouxeram até aqui.

Meus pensamentos foram interrompidos por um pigarro. Olhei para trás e vi um lindo homem que todas as mulheres deveriam venerar. Ethan Colleri.

— Com licença, será que poderia tomá-la em uma dança? — Sua voz era imparcial, rouca. Nicole era uma vadia sortuda.

Ufa.

Soltei uma respiração aliviada quando Ethan me embalou em seus braços para dançar.

— Estamos muito felizes por vocês. — Ele me encarou com aqueles olhos azuis investigativos. Não acho que ele fazia por mal. Era só oque era.

— Eu agradeço Ethan. — Sorri brevemente, não conseguindo encara-lo por mais tempo que deveria.

Ele parece notar a minha tensão, mas assume que seja por causa de Vivian.

— Sinto muito por Vivian, — Ele limpa a sua garganta. — Eu sei que vocês cresceram juntas, deve ser difícil não tê-la aqui.

— Está tudo bem, — Eu minto, porque maldição, não há nenhuma maneira de eu assumir isso sem querer deitar em posição fetal chorando igual um bebê. Vivian me deixou de lado com a mesma facilidade que um um ex namorado com ego ferido. E isso, porra, dói. Completo — E mesmo que eu sinta muita falta, ela às vezes pode ser difícil. E muito controlada. — Digo com falso desdém.

— Não imagino alguém diferente andando com você e Nicole. — Ele me guia durante a dança e sorri.

— Sim, nós somos mesmo almas gêmeas. — Afirmei sorrindo, mas meus lábios tremeram como seu eu fosse um bebê chorão e senti o nó enorme das lágrimas não derramadas apertarem minha garganta.

Ele junta suas sobrancelhas, talvez achando estranha a minha fisionomia. Como se eu estivesse com dor. Ele estava lendo a minha reação? Nicole me disse que entender sobre o comportamento das pessoas fazia parte do trabalho dele. Eu só não tinha certeza se ele fazia isso com facilidade ou não.

— Olha, eu só quero que saiba que se você precisar de qualquer coisa, se alguma coisa estiver errada, eu posso lhe ajudar. — Ele disse com a sua voz quase sumindo. Parecia envergonhado, extremamente envergonhado. Um rubor enorme subiu pelo seu rosto.

E cara, era estranho ver um cara daquele tamanho sem jeito. Isso arrancou um pequeno sorriso de mim. E ele parece relaxar um pouco.

Eu queria poder lhe dizer, eu queria poder lhe dar toda a verdade, queria fugir dali. Mas não seria justo depositar toda a merda nele, não seria justo não só com ele e meus pais, que mais do que nunca precisavam de mim, mas também com Nicholas e Nicole. Depois de quase seis anos ela finalmente pôde encontrar sua paz, ter sua família, ter o seu sossego. Eu nunca, nunca poderia pedir isso a ela. Há pouco mais de dois meses ela havia passado pelo inferno.

— Está tudo bem Ethan, eu realmente agradeço a preocupação.

— Ehhrr… eu sinto muito. — Um sorriso tímido surge em seu rosto e ele coçou a ponte do nariz sem graça. — Eu não tive opção, — Ele pausa olhando a Nicole. — A Nicole achou que se eu falasse… sabe, a Vivian pediu… — Ele arruma apressadamente, com suas bochechas ficando quentes de vergonha. — Eu só queria dizer que se você precisar…você é importante para Nicole. — Termina.

— Eu sei… — Eu sorrio, embora não alcance os meus olhos. — Eu sei… — Olho para a minha amiga. Ela está olhando na nossa direção. Nicole ainda me encara preocupada, mas quando pisco sorrindo para ela, ela simplesmente retribui brilhantemente. Sua tensão sumindo ou sendo disfarça muito bem. Nunca saberei realmente.

Volto a minha atenção ao seu marido.

— Agradeço a preocupação Colle. Mas está realmente tudo bem. (Não, não está!). Eu vou ficar bem. (Deus, eu tô tão ferrada!). Se bem que… na verdade… — Me mexo desconfortavmente. — Há algo que você poderia fazer por mim, será que hum… você poderia distrair James por uns minutos? Sabe, eu preciso tomar um ar.

Ele novamente me dá um olhar estranho e dessa vez eu nem justifico.

— Claro. — Ele hesita um pouco, olhando para o lado. — Bom, acho que já está na hora de eu parabenizar o noivo. — Sorriu, enfiando as mãos no bolso do smoking.

Ele, me deixou Imediatamente.

Tentei sair o mais despercebida possível, apesar de ainda ser parada por algumas pessoas. Subi pelos fundos as escadas do luxuoso castelo que ficava em uma colina à beira mar na Itália, próximo a igreja onde havia acontecido o casamento. A passagem estreita possivelmente levava ao topo do terraço. Segurei com mãos firmes as bordas do grande vestido de tule branco para que não arrastasse no chão e corri o mais rápido que pude, subi a escadaria de pedra em espiral rezando para que me levasse o mais longe possível de tudo aquilo. Lágrimas quentes queimavam o meu rosto, as lágrimas que segurara desde cedo quando tive que mentir para a minha melhor amiga enquanto colocava o vestido de noiva. As lágrimas que contive quando soube que Vivian não viria. Mas ela não estava errada. Eu estava vivendo uma mentira. Meu coração doeu quando percebi que não tinha mais ninguém para contar, eu estava sozinha. Soltei as lágrimas guardadas desde quando descobri quem Jamie realmente era, desde quando descobri as mentiras de meus pais, quando tive que dizer “eu aceito”. Eu chorava por tudo, um soluço saiu do fundo da minha garganta quando finalmente cheguei ao terraço. Ele lembrava a sacada de um castelo medieval, um lindo terraço de pedra, provavelmente o único lugar naquele luxuoso local que não havia sido reformado.

A noite quente tinha um céu estrelado, o luar com toda a imensidão banhava o mar na minha frente, os únicos sons eram das ondas quebrando contra as rochas. O cheiro de maresia banhava meu nariz, tão puro e profundo. Era tão espesso que eu conseguia sentir o sal na base da minha língua. Me aproximei lentamente da beirada, peguei nas bordas do vestido e subi no parapeito do baixo muro. Algumas pequenas pedras foram empurradas pelo meu sapato desnecessariamente alto caíram e se perderam na imensidão da noite e do mar. Estremeci quando olhei a altura que estava, nunca tive medo de altura, mas do mar, sim. O mar estava veloz e cruel, as noites de verão eram assim, mar constantemente com ressaca. Fechei meus olhos e abracei meu próprio corpo enquanto chorava silenciosamente. Não seria tão ruim cair de uma altura assim, ter o corpo estirado ao mar, se sentir liberta de tudo. Balancei minha cabeça negativamente afastando esses pensamentos de mim. Eu não podia fraquejar, eu precisava ser forte.

— Se eu fosse você não ficaria aí.

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