Levo a minha mão no ombro do Carlinhos que vira e me fita.
— O que é? — Continua com o punho fechado sobre o ar que já ia voltar dá outro soco no Biel.
— Qual é o seu problema? — Questiono, o encarando. Fica em silêncio abaixando o braço.
— Que merda é essa aqui! — Ele olha para frente, depois também olho. Lá estava ela. E cara não estava boa, até entendo de está assim. Acho que no seu lugar também ficaria. Mesmo assim, não deixa de ser linda. Quero muito beijar essa boca! — Ei? — Aponta para o Carlinhos que desvia o olhar. — Estou falando com você mesmo!
— Eu? — Pergunta o Carlinhos com os ombros
Ouço um barulho? Porra, quem tá me ligando? Vai continuar tocando. Vou terminar o meu banho. Sai da minha hidro, vestir o meu roupão. Caminhei até a minha cama, peguei o celular e vi que a última chamada era do meu braço direito. Retorno a ligação.— E aí, Riccardo? — Qual é o problema?” Pergunto, me sentei. — Caraca que demora para atender, ein? Tô ligando a horas porra! — Resmunga no outro lado da linha. — Para de reclamar e fala logo! Não atendi porque estava no banho. — Aviso, sacudir o cabelo que estava molhado. — Fala logo que o que você quer?— Espero que seja da encomenda que estou esperando? — Ok. É sobre isso mesmo! Aqui não é só boniteza. — Levantei da minha cama, fui até o espelho lá no banheiro, me admirando. — Já que ocorreu tudo bem no bagulho, traz para eu ver. Ah, não esquece de trazer a minha grana e o caderno. Quero ver como anda as vendas. — O Riccardo ficou quieto. Não estou gostando disso. — Você me ouviu? — Sim… Vou fazer isso… Praguejo,desliguei em seguida.
— BORA RICCARDO! RESPONDA, POR QUE ESTÁ FALTANDO CINCO MIL NESSE CARALHO! — Balanço o caderno na sua frente, depois jogo na mesa. O desgraçado continua calado. Mas noto ele olhando para o Andrea, que por sua vez vira o rosto. Ah, eles estão escondendo algo de mim. Estico meu braço e pego no pescoço dele que me lança um olhar, o encaro, já puto! — Eu fiz uma pergunta, me explica por que está faltando dinheiro nessa porra? — Aperto seu pescoço, mas não tanto para ele poder falar. Porém, o filho da puta continua calado. O solto e ele leva a mão no peito para poder respirar. Me afasto. — Beleza. Tranquilo. — Faço sinal de positivo com as mãos. Numa questão de segundos vou até as caixas e pego um fuzil, carrego e miro bem na fuça do meu braço direito e levanta as mãos para o alto. Dou um passo para frente pro fuzil ficar bem pertinho dos cornos dele! — É a última vez que vou perguntar? Por que está faltando dinheiro?— Quer saber! — Riccardo olha para o Andrea, depois volta a olhar pra mim
Estava diante daquele desgraçado que estava no chão. Chorando que nem uma menininha. Que babaca. Eu achando, que essa merdinha estava me roubando, na verdade estava vendendo viado minhas drogas. AS MINHAS DROGAS! — Anda, Japa, explica essa merda! Estou esperando! — Me afasto e entrego o fuzil para o Riccardo, que segura. Depois volto para aquele babaca que não fala nada. Dou uma bufada. Pego pelos seus cabelos fazendo ele ficar em pé. Claro que ele começa a chorar. — Não, não… Por favor… Mattia… Dou um soco no seu estômago e o jogo no chão. — Puta que pariu! Como chora essa merda! — Olho para o Riccardo. — De onde que você arrumou esse cara? Sério? — Pergunto para o meu braço direito que abaixa a cabeça, ficando calado. Volto a olhar para o Andrea. Caminho até ele, ficando perto dele. Que continua no chão sentindo o soco que dei. Coloquei o pé nas suas costas, ele tenta levantar e começo a pisar com força. — Ai… Ai… Mattia, por favor… Não consigo me mexer… — Súplica com lágrimas no
Um mês antesFui para a diretoria da faculdade. Dei três batidas na porta e logo ouvi que podia entrar. Assim que entrei, fechei a porta e a diretora estava ali sentada na sua mesa. Olho pra cima para as lágrimas não cair. Vamos Emma! Coragem! Ela me chamou para me sentar. Puxei a cadeira e me sentei. — Bom dia Emma. Queria falar comigo? — Pergunta, a senhora Sheila. Fala com uma voz suave e tranquila. Não tenho o que reclamar dela, pelo contrário, tem me ajudado muito com os atrasos das mensalidades. Só de pensar que… Meu coração chega doer muito… Mas preciso… — Emma o que foi? Por que está chorando? — Olha dona Sheila… — Enxuguei a lágrima que estava caindo do meu rosto. — Sou muito, muito grata por tudo. — Fechei os olhos e as lágrimas caíram mais uma vez, de novo a enxugo. Enrolei o cabelo e joguei para trás. — Mas… Vou ter que trancar a faculdade de medicina… — Mas por que? Seu pai não vai conseguir pagar nesta semana, olha, se quiser pode pagar na outra… — A interrompi. — Nã
Dias atuaisEstava saindo do quarto e indo para sala, já tinha tomado café da manhã. Agora cedo eu e os caras, vamo para casa desse infeliz que deve. Quando chego na sala está o Riccardo junto dos caras e também está o Andrea. Todo ferrado da surra que dei nele ontem. Na verdade queria rir, mas o que ele fez é sério! O filho da puta fez isso só por causa de uma boceta. Ai, ai… Só de pensar a raiva volta e quero bater nele de novo! Chego na sala e Riccardo vem até a minha direção. — Chefe estamos prontos para ir pegar o seu dinheiro. O senhor vem? — Pergunta, levanto a sobrancelha do lado esquerdo. O filho da puta me deve e não ir lá cobrar? — Claro que vou cobrar o desgraçado! — Viro o rosto e encaro o Andrea que quando percebe que estou olhando para ele abaixa a cabeça na hora. Sabe que está no vacilo comigo. Se está vivo é porque fui misericordioso. — Vamos logo! Não quero esperar mais um minuto! — Beleza. — O Riccardo se vira e olha para os caras. — O RAPAZIADA, SIMBORA! VAMOS N
Já faz alguns meses que tranquei a faculdade. E estou trabalhando numa pensão aqui na favela mesmo, como cozinheira. No começo a dona da pensão não leva fé da minha experiência na cozinha, mas quando me colocou para fazer um teste, depois desse dia sua pensão só vive cheia. Claro que me contratou. Trabalho das oito até às três e meia da tarde, me paga bem, mas ainda não dá para voltar para faculdade. Como tranquei a faculdade perdi o desconto que tinha antes. O pior é o meu pai. Agora ele vive na boca comprando aquela merda de droga, cheirando o tempo todo. Não para em trabalho nenhum por conta desse vicio, até vendeu as coisas dentro de casa, até meu notebook que tinha ganhado da dona Sheila, lá da faculdade. Me lembro como se fosse hoje… ***— Pai? Pai cheguei… O que aconteceu aqui? — Tinha acabado de chegar em casa. A geladeira estava vazia, decidi passar no mercado para comprar a comida e quando eu voltei nem acreditei no que vi. Não tinha a TV que ele tinha comprado com o trabal
— Ai meu Deus! Ai meu Deus! — Com uma mão no peito e a outra sobre ela dando umas batidas. Ando para um lado e para o outro. Estou muito nervosa. Já não bastava o meu pai ser um viciado nessa droga nojenta, agora descobrir que está defendendo o dono… Não pode ser… — Emma para de andar assim. Está me deixando nervosa… — Disse a dona Luíza que continua sentada na cadeira. — Nervosa? Eu, que estou nervosa com isso tudo! Agora esse mafioso quer matar o meu pai… — Me viro, e encaro. Até esqueci que é a minha patroa. — Se acalme, não precisa ser grossa. — Ela ergue a mão fazendo o gesto para me acalmar. Olhei para ela com a cabeça baixa. Me aproximo e me apoio na cadeira. — Me desculpa… Mas estou nervosa… Meu pai pode morrer… — Olho para o lado. Tem que ter um jeito para ajudar o meu pai. De repente olho para ela. — Olha dona Luíza, vou ter que sair. — Me afastei e caminhei até a porta, porém, ela pega no meu braço e se levanta da cadeira. — Você vai aonde? Não me diga que vai para su
Me afasto daquele verme. Sim, depois o que ele me disse, era isso que ele era. Olho para ele mais uma vez. Só pode ser piada. É isso! Vou até ele e começo a gargalhar. O Riccardo e os caras me olharam não entendendo nada, continuo rindo. O Riccardo se aproxima de mim. — Andrea, qual é a graça? — Indaga me fitando segurando o fuzil. — Não sabe que esse merda me disse? — Ainda rindo olho para o meu braço direito. Que balança os ombros sem entender. — Ele ofereceu sua filha como pagamento! Fala que isso não é piada? — O quê? Ele fez isso? — O Riccardo olha para o infeliz todo sangrando tentando levantar, com muita dificuldade consegue ficar em pé. — Não é piada… Cof… Cof… — Ele cospe sangue. Depois limpa com as costas da mão e volta olhar para mim. — Estou oferecendo a minha filha como… Pagamento… — Está falando sério? — Dou um passo para frente, levanto a sobrancelha direita. — Está oferecendo sua filha como pagamento da dívida que me deve? — Isso… Ela é nova, tem vinte e um anos…