Capítulo Seis - Emma

Já faz alguns meses que tranquei a faculdade. E estou trabalhando numa pensão aqui na favela mesmo, como cozinheira. No começo a dona da pensão não leva fé da minha experiência na cozinha, mas quando me colocou para fazer um teste, depois desse dia sua pensão só vive cheia. Claro que me contratou. Trabalho das oito até às três e meia da tarde, me paga bem, mas ainda não dá para voltar para faculdade. Como tranquei a faculdade perdi o desconto que tinha antes. O pior é o meu pai. Agora ele vive na boca comprando aquela merda de droga, cheirando o tempo todo. Não para em trabalho nenhum por conta desse vicio, até vendeu as coisas dentro de casa, até meu notebook que tinha ganhado da dona Sheila, lá da faculdade. Me lembro como se fosse hoje…

***

— Pai? Pai cheguei… O que aconteceu aqui? — Tinha acabado de chegar em casa. A geladeira estava vazia, decidi passar no mercado para comprar a comida e quando eu voltei nem acreditei no que vi. Não tinha a TV que ele tinha comprado com o trabalho de pedreiro. Joguei as sacolas no chão e comecei a procurar o meu pai. Passou mil coisas na minha cabeça, sei lá, achei que alguém entrou e roubou a TV. Se roubaram o meu notebook? Não, não. Fui para o meu quarto. Fiquei em choque com aquela visão. Estava na minha mesa com um pó branco e ele cheirando aquele pó. — Pai… — Ele ouviu a minha voz e virou o rosto.

— Emma? O que está fazendo aqui? Não tinha que estar no trabalho? — Se levanta e vem até mim, mas me recuo para trás.

— NÃO CHEGA PERTO DE MIM! — Ergo as mãos no ar para ele se afastar. E faz o que falei. Começa a fazer um barulho no nariz, puxando alguma coisa. Fico ruborizada vendo ele desse jeito. Dou uma olhada na minha mesa de estudo e noto que meu notebook não estava mais ali? Volto olhar para ele, cai uma lágrima no meu rosto. — Pai?

— Sim filha… — Ele abaixou a cabeça. Não consegue olhar nos meus olhos.

— Pai? — Levei a mão no rosto e enxugo a lágrima que não parava de cair. — Cadê a o meu notebook que estava ali em cima da mesa? — Ele virou de costas. Ficou calado. Me aproximo, quero ouvir da sua boca, não quero acreditar que ele fez isso. — Olha, precisei vender… Não tinha comida… — Levei a mão no seu ombro fazendo ele virar.

— Para de mentir! Não é verdade! — Me afastei levando as mãos na cabeça. As lágrimas voltaram a cair. — Não tem nada na geladeira! O senhor vendeu o meu notebook que ganhei da diretora da faculdade para os meus estudos…

— Faz dois meses que você trancou aquela faculdade. Estava precisando do dinheiro… — O corto.

— PARA COMPRAR ESSA DROGA! ESSA MER… — Explodir de tanta raiva indo pra cima dele. Ele levantou a mão e me deu um tapa. Cai no chão, com a mão no rosto olho para ele, não acreditando no que ele fez.

— Escuta aqui! Essa casa é minha eu faço que der vontade, não vou ficar aqui ouvindo desaforo de um piralha! — Ele dá um passo para frente, me encara. — Agora cala boca e me deixa em paz! — Se vira vai até a mesa, dar mais cheirada no restante que estava lá. Pega os outros e guarda no bolso da calça. Estava indo para a porta, se vira. — Já que você foi no mercado, não preciso comprar nada. Agora vou sair. Não tenho hora para voltar. — Ele fecha a porta com força. Me encostei no colchão da minha cama e comecei a chorar.

***

Depois ele voltou dois dias depois todo sujo e pancado. E ele vendeu as outras coisas dentro de casa por conta desse vício. Hoje estou aqui trabalhando para comprar comida e não passar fome, mas ele começou a me roubar também, tive que esconder o dinheiro para ele não ir na boca e comprar essa droga. Estou vivendo um inferno! As vezes peço pra o senhor me levar, que não estou aguentando mais. Estava limpando o salão quando veio a dona da pensão.

— EMMA? EMMA? — Entra gritando com as sacolas, ela tinha ido para o mercado para comprar a comida do cardápio de amanhã. Estava suada. Acho que ela veio correndo.

— O que foi dona Luíza? — Pergunto deixando a vassoura encostada em umas das mesas.

— Nada. — Ela colocou as sacolas em cima da mesa e me puxou uma cadeira para recuperar o ar.

— Vou pegar um copo d'água pra senhora. Espera aí. — Fui lá na cozinha, peguei um copo e abri a geladeira, depois a fechei e enchi com água. Vou até a sala e entrego para a dona Luíza. Que energia de uma vez.

— Obrigada filha. — Ela colocou o copo sobre a mesa. — Agora posso falar.

— O que aconteceu? Por que a senhora ficou assim? — Indago, puxo a cadeira para me sentar.

— Estava saindo do mercado e estava um burburinho que tinha um morador devendo, não sei quantos para o senhor Di Lauro… Qual o nome do infeliz… Ah sim, Mattia. — Ela disse olhando para mim. Dei de ombros que não me interessava. Não gosto dessas coisas, já basta o meu pai está assim por causa dessa droga. Ela continuou. — Mas é do seu interesse sim.

— Como assim? — Questiono, levanto a sobrancelha.

— Menina, seu pai é o morador que está devendo para esse Mattia. — Dou um salto da cadeira.

— O QUÊ? — Exclamo.

— Sim e tem mais. O próprio Mattia e os outros caras que trabalham para ele estão na sua casa, nesse exato momento. — Olho para dona Luiza levando a mão no rosto. Não, não. Ele vai matar o meu pai!

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