Já faz alguns meses que tranquei a faculdade. E estou trabalhando numa pensão aqui na favela mesmo, como cozinheira. No começo a dona da pensão não leva fé da minha experiência na cozinha, mas quando me colocou para fazer um teste, depois desse dia sua pensão só vive cheia. Claro que me contratou. Trabalho das oito até às três e meia da tarde, me paga bem, mas ainda não dá para voltar para faculdade. Como tranquei a faculdade perdi o desconto que tinha antes. O pior é o meu pai. Agora ele vive na boca comprando aquela merda de droga, cheirando o tempo todo. Não para em trabalho nenhum por conta desse vicio, até vendeu as coisas dentro de casa, até meu notebook que tinha ganhado da dona Sheila, lá da faculdade. Me lembro como se fosse hoje…
***— Pai? Pai cheguei… O que aconteceu aqui? — Tinha acabado de chegar em casa. A geladeira estava vazia, decidi passar no mercado para comprar a comida e quando eu voltei nem acreditei no que vi. Não tinha a TV que ele tinha comprado com o trabalho de pedreiro. Joguei as sacolas no chão e comecei a procurar o meu pai. Passou mil coisas na minha cabeça, sei lá, achei que alguém entrou e roubou a TV. Se roubaram o meu notebook? Não, não. Fui para o meu quarto. Fiquei em choque com aquela visão. Estava na minha mesa com um pó branco e ele cheirando aquele pó. — Pai… — Ele ouviu a minha voz e virou o rosto.— Emma? O que está fazendo aqui? Não tinha que estar no trabalho? — Se levanta e vem até mim, mas me recuo para trás.— NÃO CHEGA PERTO DE MIM! — Ergo as mãos no ar para ele se afastar. E faz o que falei. Começa a fazer um barulho no nariz, puxando alguma coisa. Fico ruborizada vendo ele desse jeito. Dou uma olhada na minha mesa de estudo e noto que meu notebook não estava mais ali? Volto olhar para ele, cai uma lágrima no meu rosto. — Pai?— Sim filha… — Ele abaixou a cabeça. Não consegue olhar nos meus olhos.— Pai? — Levei a mão no rosto e enxugo a lágrima que não parava de cair. — Cadê a o meu notebook que estava ali em cima da mesa? — Ele virou de costas. Ficou calado. Me aproximo, quero ouvir da sua boca, não quero acreditar que ele fez isso. — Olha, precisei vender… Não tinha comida… — Levei a mão no seu ombro fazendo ele virar.— Para de mentir! Não é verdade! — Me afastei levando as mãos na cabeça. As lágrimas voltaram a cair. — Não tem nada na geladeira! O senhor vendeu o meu notebook que ganhei da diretora da faculdade para os meus estudos…— Faz dois meses que você trancou aquela faculdade. Estava precisando do dinheiro… — O corto.— PARA COMPRAR ESSA DROGA! ESSA MER… — Explodir de tanta raiva indo pra cima dele. Ele levantou a mão e me deu um tapa. Cai no chão, com a mão no rosto olho para ele, não acreditando no que ele fez.— Escuta aqui! Essa casa é minha eu faço que der vontade, não vou ficar aqui ouvindo desaforo de um piralha! — Ele dá um passo para frente, me encara. — Agora cala boca e me deixa em paz! — Se vira vai até a mesa, dar mais cheirada no restante que estava lá. Pega os outros e guarda no bolso da calça. Estava indo para a porta, se vira. — Já que você foi no mercado, não preciso comprar nada. Agora vou sair. Não tenho hora para voltar. — Ele fecha a porta com força. Me encostei no colchão da minha cama e comecei a chorar.***Depois ele voltou dois dias depois todo sujo e pancado. E ele vendeu as outras coisas dentro de casa por conta desse vício. Hoje estou aqui trabalhando para comprar comida e não passar fome, mas ele começou a me roubar também, tive que esconder o dinheiro para ele não ir na boca e comprar essa droga. Estou vivendo um inferno! As vezes peço pra o senhor me levar, que não estou aguentando mais. Estava limpando o salão quando veio a dona da pensão.— EMMA? EMMA? — Entra gritando com as sacolas, ela tinha ido para o mercado para comprar a comida do cardápio de amanhã. Estava suada. Acho que ela veio correndo.— O que foi dona Luíza? — Pergunto deixando a vassoura encostada em umas das mesas.— Nada. — Ela colocou as sacolas em cima da mesa e me puxou uma cadeira para recuperar o ar.— Vou pegar um copo d'água pra senhora. Espera aí. — Fui lá na cozinha, peguei um copo e abri a geladeira, depois a fechei e enchi com água. Vou até a sala e entrego para a dona Luíza. Que energia de uma vez.— Obrigada filha. — Ela colocou o copo sobre a mesa. — Agora posso falar.— O que aconteceu? Por que a senhora ficou assim? — Indago, puxo a cadeira para me sentar.— Estava saindo do mercado e estava um burburinho que tinha um morador devendo, não sei quantos para o senhor Di Lauro… Qual o nome do infeliz… Ah sim, Mattia. — Ela disse olhando para mim. Dei de ombros que não me interessava. Não gosto dessas coisas, já basta o meu pai está assim por causa dessa droga. Ela continuou. — Mas é do seu interesse sim.— Como assim? — Questiono, levanto a sobrancelha.— Menina, seu pai é o morador que está devendo para esse Mattia. — Dou um salto da cadeira.— O QUÊ? — Exclamo.— Sim e tem mais. O próprio Mattia e os outros caras que trabalham para ele estão na sua casa, nesse exato momento. — Olho para dona Luiza levando a mão no rosto. Não, não. Ele vai matar o meu pai!— Ai meu Deus! Ai meu Deus! — Com uma mão no peito e a outra sobre ela dando umas batidas. Ando para um lado e para o outro. Estou muito nervosa. Já não bastava o meu pai ser um viciado nessa droga nojenta, agora descobrir que está defendendo o dono… Não pode ser… — Emma para de andar assim. Está me deixando nervosa… — Disse a dona Luíza que continua sentada na cadeira. — Nervosa? Eu, que estou nervosa com isso tudo! Agora esse mafioso quer matar o meu pai… — Me viro, e encaro. Até esqueci que é a minha patroa. — Se acalme, não precisa ser grossa. — Ela ergue a mão fazendo o gesto para me acalmar. Olhei para ela com a cabeça baixa. Me aproximo e me apoio na cadeira. — Me desculpa… Mas estou nervosa… Meu pai pode morrer… — Olho para o lado. Tem que ter um jeito para ajudar o meu pai. De repente olho para ela. — Olha dona Luíza, vou ter que sair. — Me afastei e caminhei até a porta, porém, ela pega no meu braço e se levanta da cadeira. — Você vai aonde? Não me diga que vai para su
Me afasto daquele verme. Sim, depois o que ele me disse, era isso que ele era. Olho para ele mais uma vez. Só pode ser piada. É isso! Vou até ele e começo a gargalhar. O Riccardo e os caras me olharam não entendendo nada, continuo rindo. O Riccardo se aproxima de mim. — Andrea, qual é a graça? — Indaga me fitando segurando o fuzil. — Não sabe que esse merda me disse? — Ainda rindo olho para o meu braço direito. Que balança os ombros sem entender. — Ele ofereceu sua filha como pagamento! Fala que isso não é piada? — O quê? Ele fez isso? — O Riccardo olha para o infeliz todo sangrando tentando levantar, com muita dificuldade consegue ficar em pé. — Não é piada… Cof… Cof… — Ele cospe sangue. Depois limpa com as costas da mão e volta olhar para mim. — Estou oferecendo a minha filha como… Pagamento… — Está falando sério? — Dou um passo para frente, levanto a sobrancelha direita. — Está oferecendo sua filha como pagamento da dívida que me deve? — Isso… Ela é nova, tem vinte e um anos…
Cheguei na minha casa com a porta arrombada. E vi um homem forte, musculoso e alto, é bem alto. Meu pai estava todo machucado e sangue caindo do seu rosto. Meu Deus, coitado do meu paizinho… Ele fala algo no ouvido para aquele homem, ele se virou e deu um soco no estômago delei. Levou os braços no estômago, sentindo o soco. Em seguida o homem segurou o pescoço do meu pai e deu mais socos na cara dele que o jogou no chão como se fosse um nada. Noto ele levantar a perna. Acho que ele vai continuar batendo nele. Não posso deixar. — Nãoooo! — Me jogo na frente dele. — Pai? Está me ouvindo? Por favor, pai diga alguma coisa? — Estava ajoelhada com as mãos no rosto do pai. O chamo, mas ele está com os olhos fechados, me aproximo e consigo ouvir sua respiração, fraca, mas consigo. Ele está vivo. Graças a Deus! — Como você pode fazer isso com ele? Não tem coração? — Ele sacudiu a cabeça, acho que estava pensando em alguma coisa. Olhando melhor para mim, está bem diante de mim. Estava braba, f
Finalmente ela me obdeceu e entrou no quarto. Merda! Que garota abusada! Um dos vapor se aproxima e pergunta:— Chefe e sobre o coroa? Fazemos o quê?—Depois que eu sair com a garota leva ele pra qualquer canto. Dão uma surra e depois bota fogo! — Disse com as mãos no bolso da calça. Continuo olhando para a porta do quarto que a menina entrou. Vou levá-la para minha casa, não merece essa vida que esse desgraçado fez a passar. Por um lado ela é linda e não quero que nenhum filho da puta tente algo com ela, como o Andrea. Vou até o Riccardo. — Mattia, um dos caras me disse que ordenou acabar com o velhote? Não entendi, não vai levar a filha do coroa e ainda vai matá-lo? — Perguntou confuso. Virei meu rosto e olho para ele. — Sim. Ele vai ser um exemplo. Para terem noção que não se deve. — Concluí. — Então porquê vai levar a garota? — Indaga, o fito. — Não posso deixá-la desamparada. E também o Andrea pode tentar algo com ela. Nos meus olhos ela vai estar protegida! — Friso e Ric
Ele saiu e fechou a porta. Fiquei pensando no que ele acabou de falar. A mãe dele… Ele disse que sua falecida mãe o ensinou a não fazer isso com uma mulher… Será que estou exagerando… Não! Ele é um bandido! Emma não se comove com ele. Não esqueça que ele me trouxe a força! Estou de pé, um pouco longe da cama com a mão no queixo pensando que ele estava falando antes. Que vai mudar esse quarto, até vai colocar a mesa de estudo pra mim… Droga! Será, o que eu ouvir sobre ele é mentira? Estou confusa. Escuto alguém bater na porta. Me aproximo. — Quem é? Mattia? — Pergunto. Será que é ele? Ele veio me buscar para o almoço? — Não. Sou a Guilia. Pode abrir a porta, por favor. — Ouvir a voz de uma mulher. Deve ser a mulher que encontramos na sala assim que entramos nesta mansão. Coloquei a mão na maçaneta e abri em seguida. Ela já vai entrando no quarto. Encostei a porta e olhei para ela. — Mattia está chamando para você descer! — Faz um gesto apontando para lá embaixo. Deve ser onde fica a
Estava sentada na cama com a mão apoiada. Lágrimas caiam sem parar. Não pode ser verdade! O que homem estava falando. Meu pai me ofereceu… Como pagamento… Balanço a cabeça negando. Olho para o lado e ele tenta tocar no meu ombro, mas dou um tapa na sua mão. — NÃO ENCOSTA EM MIM! SEU BANDIDO! ISSO É MENTIRA! — Esbravejo. — Pode me chamar disso que não me envergonho. E sim, é verdade sim! Seu pai lhe ofereceu para não morrer! Ele mesmo me disse! — Enfatizou, me fitando. Ainda estou sentada na cama, viro meu corpo para o lado com as mãos no meu rosto. Seco as lágrimas com as costas das mãos. — Olha, entendo você está assim Emma. Mas estou falando a verdade e não fui o único que lhe ofereceu. — Como é que é? — Virei e olhei para ele. Com a mão apoiada na cama me levanto devagar. — Não vou mentir e pra você também parar de achar que está aqui como pagamento de dívida. — Vou até ele, o encaro. Ele continua. — Antes pra conseguir mais drogas, as minhas drogas. Ele lhe ofereceu para um dos
— VOCÊ ESTÁ FALANDO SÉRIO? — Dou um pulo da cadeira, encarando. — Se você tiver brincando… — Não estou. — Ele levantou-se vindo até mim e colocou suas mãos no meu ombro, olhando nos meus olhos. — Quando estava na sua casa, para cobrar a dívida… — Deu uma pausa. — Fui ao seu quarto e vi as apostilas. Como não tinha condições de comprar os livros, desculpe, mas vou ter que falar, mesmo que isso de machuca. Mas o desgraçado do seu pai, por conta do vício dele, você perdeu de continuar cursando. Mas não se preocupe, comigo eu priorizo os estudos em primeiro lugar. — Olho para ele, um bandido falando isso? Não imaginava. — O que foi? — Indaga. — Não imaginava que você… — Um mafioso fazer questão com os estudos? Acho que você ia dizer isso? — Ele vai na cadeira e se senta. Assenti, também sentei na cadeira, o fitando. — Eu… Eu… — Gaguejo, ele ergue a mão para eu não falar mais nada. Engulo a seco. — Faço questão dos estudos porque é assim que trabalho. Eu que administro as minhas cois
— AHH! QUE ÓDIO! NÃO POSSO ACREDITAR NISSO! ESTOU COM TANTO ÓDIO DAQUELA GAROTA! — Reclamo, já estou na cozinha. De raiva pego um copo de vidro que estava na pia e jogo na parede da cozinha. Nem fazendo isso chama atenção dele, está lá sendo atencioso e carinhoso com aquela idota! Pego um copo que estava na pia que tinha acabado de lavar, me viro e jogo na parede, mais uma vez, que vira pó de tanta raiva que estava sentindo. Mesmo fazendo um barulho e nem assim ele vem aqui pra saber! Droga! Ainda por cima ele a trouxe à mesa abraçado com ela. ABRAÇADO? MERDA! Vou onde tinha jogado os copos de vidros, me abaixo e começo a catar pedaço por pedaço. Lágrimas começam a cair de tanta raiva que estou sentindo. E não era pra está assim, mesmo eu ter falado aquilo, era pra está bravo com ela, mas vão pra mesa todo cuidadoso com aquela menina chata! Acabo apertando a mão esquecendo dos pedaços do copo na minha mão. — Ai… — Dou um grito, abro a mão e noto que estou sangrando. Merda, merda! Ime