Leyla Ylmaz
Nascemos sem escolher nosso nome, e da mesma forma não escolhemos quem será nossa família, crescemos em meio a um mundo caótico, corrupto e muitas vezes, é no nosso lar que deveria ser um lugar de paz e um ambiente amoroso, onde acabamos sofrendo por um amor doentio, que ultrapassa o respeito e torna a vida de uma família em um pesadelo, essa é a minha lembrança familiar, hoje com meus vinte e oito anos, formada em advocacia, ainda tenho feridas que não foram curadas e a maior parte delas vem de um único homem, aquele que quando eu era criança costumava chamar de pai. A perda do meu pai ainda era algo que eu não conseguia assimilar completamente. Fazia pouco mais de um mês que ele havia falecido, mas a ausência dele não me afetava da mesma forma que talvez devesse. Não éramos próximos. Na verdade, a última vez que tive uma conversa decente com ele foi há anos, antes de tudo desmoronar de vez. — Com licença, senhorita — a voz grave e autoritária interrompeu meu pensamento. — Este é um hospital. Talvez você possa falar um pouco mais baixo. Tem gente aqui que precisa de silêncio. Eu me virei com o rosto ardendo de irritação, pronta para dar uma resposta à altura. O homem que estava diante de mim era... impressionante. Alto, com ombros largos e um terno que parecia custar mais do que meu salário anual. Mas aquele tom de voz? Quem ele pensa que é? — Ah, sério? Como se eu estivesse aqui de férias! — retruquei, cruzando os braços, deixando claro o meu descontentamento. — Você não faz ideia do que estou passando. Ele franziu a testa, mantendo a calma, mas seus olhos penetrantes me analisaram como se me conhecesse. Havia algo no jeito que ele me olhava que me deixava desconfortável, como se pudesse ver através de mim. — Não estou dizendo que seu problema não importa — ele respondeu, com uma firmeza que quase me fez recuar. — Mas aqui, todos têm suas lutas. Um pouco de respeito com o ambiente não faria mal. Tentei segurar a raiva, mas a tensão entre nós era palpável. Havia algo mais naquele homem além da frieza nas palavras. Uma parte de mim quis continuar aquela discussão, mas outra parte, talvez a mais sensata, decidiu que já bastava. Eu virei as costas sem dizer mais nada e me afastei, ainda sentindo a intensidade daquele encontro. Lá fora, o vento frio da manhã me atingiu em cheio. Eu precisava de um táxi. Olhei para os lados, mas, claro, nenhum estava à vista. A cidade parecia conspirar contra mim naquele dia. Quando eu estava prestes a explodir de frustração, o vi novamente. O mesmo homem. Ele estava parado perto de um carro de luxo preto, com o motorista ao lado, esperando. E, para meu espanto, ele caminhou até mim. Continua... Eu deveria sentir algum pesar? Talvez. Mas o que sinto é uma mistura de alívio e confusão. Ele era um homem complicado, distante e, acima de tudo, egoísta. Foi o grande responsável por tantas feridas que até hoje carrego. Minha mãe... ah, minha mãe. Ele quebrou o coração dela de um jeito que nunca mais poderia ser consertado. Quando ele a deixou pela amante, minha mãe nunca mais foi a mesma. No fim, ela desistiu. Tomou uma overdose de remédios e nos deixou sozinhas, quebradas, enquanto ele continuava sua vida como se nada tivesse acontecido. A minha irmã Nazli, era mais velha, quatro anos, nos tornamos inseparáveis, mas agora, ela não conseguia me perdoar, por eu ter aceitado a herança do meu pai, ele que foi o motivo da minha mãe ter tirado a própria vida. Mas a minha irmã não poderia entender, já que eu sou a única filha dele, quando minha mãe conheceu o meu pai, a minha mãe era viúva e Nazli tinha dois anos. Eu odiava meu pai por isso. Nunca o perdoei, e ele nunca se deu ao trabalho de pedir perdão. A vida dele seguiu como se nossas vidas fossem descartáveis. E agora, ironicamente, ele me deixa uma herança. A herança que por sua amante, deveria ter sido dela, da mulher que destruiu a minha família, e não minha. Isso me sufoca de uma forma que eu não sei lidar. Como se o dinheiro pudesse apagar o que ele fez. Como se eu quisesse qualquer parte daquilo. Ainda não sei o que vou fazer com essa herança. A cada vez que penso nisso, sinto um peso no peito. Porque, no fundo, a única coisa que eu queria não era dinheiro ou bens. Eu queria que ele tivesse escolhido minha mãe. Que tivesse lutado por ela. Por nós. Mas ele não lutou. E agora, tudo o que me resta é esse sentimento de vazio, de que, de algum jeito, fui forçada a carregar o legado de um homem que sempre esteve ausente. Não sei se algum dia vou superar isso, mas de uma coisa eu tenho certeza: não vou deixar que essa herança defina quem eu sou, e muito menos que a amante do meu pai, a mulher gananciosa, seja CEO da empresa de advocacia do legado da minha família, onde minha mãe lutou para tornar a empresa do meu pai reconhecida, quando ainda era uma criança, lembro dela se esforçando para que a pequena empresa de advocacia fosse reconhecida e é por ela que me tornei advogada e irei me tornar CEO. Minha cabeça estava prestes a explodir. O hospital, os exames, os problemas acumulados… tudo parecia girar ao meu redor, me puxando para um redemoinho de preocupações. Finalmente, eu tive o resultado dos exames em mãos, mas mal conseguia processar o que estava acontecendo. Para completar, meu telefone não parava de vibrar com a chamada da cliente mais ansiosa que eu já tive. — Eu entendo, senhora Mert, mas você precisa ter paciência! — tentei manter a calma enquanto falava ao telefone, mas minha voz começou a se elevar. A tensão estava tomando conta, e eu já não conseguia controlar o volume. Foi quando senti alguém se aproximar. Não precisei olhar para saber que era alguém intimidante, a presença dele fez o ar ao meu redor mudar.Leyla Ylmaz — Sem sorte com o táxi? — perguntou, a voz agora mais suave, quase brincando.Uma mudança desconcertante considerando como havíamos nos falado antes. Revirei os olhos, lutando contra a tentação de respondê-lo com sarcasmo. — Nenhuma. E eu não tenho tempo para esperar. Ele olhou para o motorista e fez um sinal com a cabeça, antes de abrir a porta do carro. — Eu posso te dar uma carona. Não precisa perder mais tempo. Eu hesitei. A última coisa que eu queria era aceitar ajuda dele, mas eu realmente não podia me dar ao luxo de recusar. O relógio estava contra mim, e eu precisava chegar ao tribunal o mais rápido possível. — Tudo bem — murmurei, finalmente cedendo. — Mas fique claro que estou aceitando por necessidade, não por simpatia. Ele soltou um riso baixo, como se estivesse achando graça na minha irritação. — Claro. Só uma carona. Entrei no carro, e o silêncio entre nós era tenso, quase palpável. Ele não disse nada, e eu também não estava com disposição
Leyla Ylmaz— Não é questão de achar, Eliza — respondi, com firmeza. — Eu sou a dona agora, e não importa quem você foi para ele. Nenhum de nós pode mudar o testamento. Nem mesmo você pode passar por cima de mim, e está empresa só foi criada, anos atrás, por causa da minha mãe, então não ouse falar novamente sobre isso. Eliza parecia prestes a rebater, mas mantive minha postura. Eu não estava ali para me encolher. A empresa agora era minha, e ninguém muito menos ela, iria me impedir de fazer o que fosse necessário. Assim que a reunião terminou, voltei para minha sala. Havia outros desafios para enfrentar, e o maior deles acabava de chegar. A minha secretária disse que era um dos meus clientes mais importantes que estava prestes a entrar. Olhei o nome no arquivo à minha frente: Ferman . Aksoy O nome soava familiar, mas nada me prepararia para o impacto de vê-lo pessoalmente. A porta se abriu e lá estava ele. Um homem impressionante, alto, com uma presença que tomava todo o ambien
Ferman AksoyLeyla entrou no carro batendo a porta com uma certa força, como se quisesse deixar claro que não estava exatamente feliz em estar ali. Ela se manteve rígida, braços cruzados, enquanto eu manobrava. Olhei para ela, e um sorriso surgiu sem que eu pudesse evitar.— Não esperava que a mulher que foi tão rude comigo mais cedo fosse minha advogada — provoquei, apenas para ver como ela reagiria.Ela manteve o olhar fixo à frente, mas senti o tom firme na voz dela.— Não estava sendo rude, Ferman. Estava apenas fazendo o meu trabalho.Ri. Ela era determinada, tinha uma presença impenetrável. Silenciosa, mas afiada. Após alguns minutos de silêncio, estacionei em frente à minha casa. Sabia que ela ia reagir.— Não vou entrar. Achei que era só um jantar, não uma visita à sua casa — disse, firme, me desafiando com o olhar.Saí do carro e fui até o lado dela, abrindo a porta e estendendo a mão com um sorriso leve.— É só para jantar, Leyla. E, para ser honesto, você não faz o meu tipo
Ferman Aksoy Assim que Leyla saiu com meu carro, algo em mim permaneceu parado naquele instante. Olhei para o portão da mansão, imaginando o quão complexa e desafiadora aquela mulher era. Leyla Ylmaz tinha um olhar que parecia atravessar qualquer um, uma determinação inquebrável que a tornava única. Mas não havia tempo para distrações. Voltei para dentro da mansão, e antes que pudesse subir as escadas, fui interrompido por meu irmão, Emir, que já me aguardava na sala. Ele estava ali de pé, braços cruzados, com uma expressão que misturava curiosidade e ceticismo. Sua postura e olhar eram suficientes para me dizer que ele sabia mais do que gostaria. Era óbvio que ele estava pronto para confrontar minhas intenções com Leyla. — Então… você realmente está namorando a senhorita Ylmaz? — a pergunta de Emir veio direta, como se quisesse ver minha reação. Sorri, tentando manter o tom despreocupado. — Ela é minha advogada, Emir. Mas… talvez eu tenha outros planos para ela. Emir lev
Ferman Aksoy O relógio na parede marcava o avançar da noite, mas eu sabia que ainda havia uma última batalha a enfrentar naquele dia. Fui chamado ao escritório de meu pai, Ferhat, o patriarca da nossa família. Entrar naquela sala sempre trazia uma carga de tensão, mas dessa vez parecia ainda mais intensa. Era quase como se o ar estivesse mais denso, me forçando a manter a calma diante do olhar penetrante de meu pai. Ferhat Aksoy, um homem impiedoso e sim, nossa família era da Máfia turca, que foi passado de geração em geração, meu irmão Erkan havia falecido a poucos meses e meu pai se culpava por isso, já que ele quem deveria resolver os assuntos pendentes da máfia Bozkut, nossos maiores inimigos. Sempre me mantive distante dos assuntos da empresa da minha família, apenas assumi o cargo como o CEO e médico do meu hospital, mas as vezes tive que de forma obscura salvar vidas de gangsters que trabalham para a máfia Aksoy, agora só preciso cumprir com o único pedido que meu irmão fez
Ferman Aksoy Subi até o meu quarto sentindo a pressão do dia pesar em meus ombros. As tensões do trabalho, a preocupação com meu sobrinho e... Leyla Yilmaz, a advogata que eu não conseguia tirar da minha cabeça. Joguei a camisa em um canto, liguei o chuveiro, e a água quente lavou a tensão, me permitindo um breve momento de tranquilidade. Depois do banho, vesti uma camisa escura, combinada com um blazer casual. Queria relaxar, e a boate da família era o melhor lugar para isso. Lá, eu poderia deixar de lado as formalidades e a rotina exigente do hospital, aproveitando a companhia de quem eu realmente considerava ser meus amigos. Assim que cheguei, pedi uma taça de vinho e me sentei, observando o movimento em volta. A segunda taça estava pela metade quando vi Lion chegando com sua irmã, Luna, e sua namorada, Nazli. Levantei a taça em saudação, sorrindo. — Então, virou um turco de vez, Lion? Não pode me deixar sozinho no hospital? — brinquei, sabendo que ele era o melhor neurocirurg
Leyla Ylmaz Senti o olhar de Lion me observando com curiosidade enquanto me aproximava. Cumprimentei-o e tentei ser cordial, embora a tensão ainda estivesse pairando no ar depois de minha conversa com Ferman. Lion parecia uma boa pessoa, e Nazli havia falado muito bem dele, o que me deixava mais à vontade. Trocamos algumas palavras sobre sua profissão e sobre sua experiência no hospital, enquanto eu tentava disfarçar a sensação incômoda de que Ferman me observava ao longe. Luna logo se juntou a nós, e começamos a conversar. Aproveitei para desviar a atenção, tentando ignorar Ferman e me concentrar na conversa. Depois de alguns minutos, relaxei um pouco, aliviada ao ver que ele parecia distraído, conversando com uma loira de olhos azuis. Suspirei internamente, contente com a ideia de que talvez ele me deixasse em paz finalmente. Mas minha paz durou pouco. Assim que virei o rosto de volta para Lion e Luna, senti um movimento ao meu lado. Ferman já estava ali novamente. A loira se apr
Ferman Aksoy Sinto o sangue fervendo dentro de mim enquanto caminho de volta para o salão. A cena do beijo dela com aquele cara,seja lá quem ele for, ainda lateja na minha cabeça. É insuportável, e pior ainda é o pensamento de que ela fez aquilo de propósito. Como se não bastasse ter que lidar com Zeynep e sua provocação mesquinha, agora Leyla decide trazer esse tal homem, como se eu não estivesse ali. Ela sabe como me irritar e parece se divertir com isso.Ao me aproximar, vejo que Luna e Nazli estão conversando animadamente, mas, assim que me veem, a conversa esfria. Lion nota minha expressão e fica em silêncio, como se esperasse alguma explosão. E então vejo ele, o homem que beijou a minha advogata, ainda ali, parecendo bastante à vontade. Perfeito.— Então você é o famoso Kerem? — digo, sem disfarçar o tom de sarcasmo na voz. — O que você é da Leyla?Kerem me encara com um sorriso que me irrita ainda mais. Ele é todo confiante, sem a menor ideia de onde está se metendo.— Sim,