Leyla Aksoy Os dias seguintes foram um teste de paciência, mas também de fé. Ver Ferman tão vulnerável, dependente de máquinas e medicação, era um contraste com o homem confiante e teimoso que eu conhecia. Ele recuperava lentamente, cada dia uma pequena vitória. — Sabes, Leyla,— disse ele numa manhã, enquanto os enfermeiros ajustavam a cama. — Não gosto de depender de ninguém. Sentei-me ao lado dele, segurando a mão que já começava a recuperar a firmeza. — E achas que eu gosto de depender de ti?— provoquei, tentando aliviar o ambiente. — Mas estamos juntos para tudo e por tudo. Ele riu baixinho, mas os olhos dele estavam sérios. — Me salvou, não foi? — Os bombeiros que ajudaram.— Evitei o olhar dele, mas sabia que não conseguiria fugir por muito tempo. — Não estou a falar dos bombeiros.— A voz dele era mais firme. — Eu te ouvi Leyla. Mesmo quando estava inconsciente. Eu sabia que estava lá. As palavras dele fizeram-me engolir em seco. Não esperava que ele se le
Leyla Ylmaz A felicidade parecia ter alcançado seu ápice. Era como se todo o sofrimento e as batalhas tivessem ficado para trás. Mas, no fundo, sempre soube que a vida tinha uma maneira cruel de testar até mesmo os momentos mais doces. Estávamos no salão de festas do meu casamento, cercados de amigos e familiares, brindando ao futuro. Ferman estava ao meu lado, segurando minha mão como se nunca mais fosse soltar. Eu estava prestes a me levantar para cumprimentar uma amiga quando os oficiais entraram. A conversa no salão parou abruptamente, e todos os olhares se voltaram para eles. — Leyla Aksoy? — perguntou o mais alto, com uma expressão indecifrável. Levantei-me, ainda tentando processar o que estava acontecendo. — Sim, sou eu. — Precisamos conversar. É sobre o incêndio na sua empresa. Senti como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Ferman, ao meu lado, ficou imediatamente tenso. Ele deu um passo à frente, colocando-se quase como um escudo entre mim e os oficia
Leyla Ylmaz Aksoy A viagem até a delegacia foi um silêncio absoluto. Ferman segurava minha mão com força, como se temesse que eu fosse desaparecer a qualquer momento. Eu, por outro lado, estava tentando manter a cabeça erguida, mas a verdade era que meu coração estava um caos. Cada palavra dita pelos oficiais ecoava na minha mente como um sino insistente. Chegando lá, fomos levados para uma sala fria e iluminada por uma luz artificial que parecia drenar qualquer resquício de calor humano. O oficial que falara comigo no salão abriu uma pasta e colocou algumas folhas sobre a mesa. — Antes de começarmos, quero que saibam que temos motivos para acreditar que o incêndio foi premeditado e que o alvo era específico. Senti o corpo de Ferman enrijecer ao meu lado. Ele nunca fora um homem paciente, e o tom evasivo do oficial estava claramente testando seus limites. — Vamos direto ao ponto, então — ele disse, com os olhos firmes. — Quem foi o responsável? O oficial suspirou, como se
Leyla Ylmaz Aksoy Depois de uma dança que parecia interminável sob os olhares atentos dos convidados, Ferman e eu deixamos a festa. Subimos no carro decorado com flores brancas, o silêncio preenchendo o espaço entre nós. Ferman dirigia calmamente, mas eu sabia que ele estava esperando que eu quebrasse o silêncio. Finalmente, respirei fundo e falei: — Ferman, eu não posso ir para a lua de mel agora. Ele olhou para mim, surpreso, mas sem tirar os olhos da estrada. — Leyla, você precisa de descanso. Depois de tudo o que passamos hoje... — Não. Eu preciso descobrir onde está o filho da Eliza. Ela estava grávida, Ferman, e ninguém mencionou o bebê depois do incêndio. Eu achei que ela estivesse viajando, mas ela morreu, e o bebê dela pode ser o meu irmão, apesar de tudo que ela fez, eu não posso fingir que não me importo com o bebê. Ele apertou os lábios, claramente contrariado, mas não discutiu. Em vez disso, assentiu lentamente. — Certo. Já sei por onde começamos! Na manhã
Leyla Ylmaz Aksoy Só tinha um lugar que eu precisava ir, naquele momento, dirigi até lá sem pensar em nada. Assim que a porta se abriu, Kemal estava sentado em sua poltrona usual, o olhar frio e desconfiado. Não havia traço de arrependimento em seu rosto. Ele parecia mais irritado por eu estar ali do que preocupado com o que estava prestes a ouvir. — O que você quer, Leyla? — ele perguntou, a voz cortante como uma lâmina. Eu respirei fundo, sentindo o peso das palavras que estavam prestes a sair. Miguel estava em casa, sob os cuidados de Ferman, e seu sobrinho, e eu sabia que precisava de toda a coragem que tinha para enfrentar aquele momento. — Eu vim para te dizer que acabou, Kemal. Você nunca foi e nunca será meu pai. Ele franziu a testa, mas não disse nada. Talvez fosse a primeira vez que alguém ousava enfrentá-lo. — Eu descobri tudo. Seus segredos, suas mentiras... Tudo o que você fez para manipular minha vida e a de Nazli. Mas agora chega. Você não vai mais nos mach
Leyla Ylmaz Dois anos depois... A luz da manhã entrava suavemente pela janela da sala, iluminando a bagunça que agora era rotina em nossa casa. Brinquedos espalhados pelo chão, uma fralda esquecida sobre o sofá, e no meio de tudo isso, Marc, o nosso pequeno furacão de um ano e dois meses, e Miguel que já tinha quase três anos, rindo enquanto tentava alcançar o nosso cachorrinho que fugia dele com uma mistura de pânico e diversão. — Marc, não puxes o rabo do cachorro!— gritei da cozinha, mas sem conseguir segurar o riso. — Leyla! Ele está ganhando habilidade de estrategista!— A voz de Ferman ecoou pela sala enquanto ele entrava, carregando um copo de café e observando a cena com aquele sorriso de pura adoração que só um pai coruja consegue ter. — Estrategista ou terrorista?— perguntei, arqueando uma sobrancelha, mas não consegui manter o tom sério por muito tempo. A verdade é que a energia de Marc era contagiante, e por mais cansados que estivéssemos, ele e Miguel faziam
Ferman Aksoy A casa estava cheia de risos, e o cheiro de canela e maçã espalhava-se pela sala, vindo da cozinha, onde Leyla e Nazlı estavam ocupadas com a sobremesa. Era véspera de Natal, e a família Aksoy estava reunida como há muito não acontecia. Sentei-me no sofá, observando a cena com um sorriso que não conseguia esconder. Marc, agora com dois anos, corria de um lado para o outro, encantado com as luzes da árvore de Natal, que piscavam em tons de vermelho e dourado. O cachorro, coitado, tentava escapar dele mais uma vez, mas acabava resignado a esconder-se debaixo da mesa. Miguel sempre calmo, brincava com seus carrinhos. — Ferman, não vai ajudar?— gritou Leyla da cozinha, a voz carregada de humor. — Estou ocupado supervisionando o caos.— respondi, levantando o copo de vinho. Nazlı riu alto, a sua voz enchendo a sala como uma melodia. Era bom tê-la aqui. Desde que ela se casou com Lion, os natais eram quase sempre cheios. Ver Leyla e Nazlı juntas, a rir e a trabalh
Leyla Ylmaz Nascemos sem escolher nosso nome, e da mesma forma não escolhemos quem será nossa família, crescemos em meio a um mundo caótico, corrupto e muitas vezes, é no nosso lar que deveria ser um lugar de paz e um ambiente amoroso, onde acabamos sofrendo por um amor doentio, que ultrapassa o respeito e torna a vida de uma família em um pesadelo, essa é a minha lembrança familiar, hoje com meus vinte e oito anos, formada em advocacia, ainda tenho feridas que não foram curadas e a maior parte delas vem de um único homem, aquele que quando eu era criança costumava chamar de pai. A perda do meu pai ainda era algo que eu não conseguia assimilar completamente. Fazia pouco mais de um mês que ele havia falecido, mas a ausência dele não me afetava da mesma forma que talvez devesse. Não éramos próximos. Na verdade, a última vez que tive uma conversa decente com ele foi há anos, antes de tudo desmoronar de vez.— Com licença, senhorita — a voz grave e autoritária interrompeu meu pensament