O choro compulsório da mulher ecoa pela sala, cada soluço atingindo meus ouvidos de uma forma que vai acabando com a minha paciência. A irritação borbulha dentro de mim, misturada com um desprezo profundo por essa criatura patética. Como é possível que alguém seja tão fraco, tão miserável? Me pergunto se os bebês quando chorarem serão tão insuportáveis quanto o lamento dessa humana estúpida.
A sala de estar da casa da mulher é uma visão deprimente. As paredes estão cobertas de um papel de parede desbotado, antigo, com manchas que revelam anos de negligência. O cheiro acre de cigarro impregna tudo, das cortinas fechadas ao tecido surrado do sofá onde ela está sentada, chorando sem controle. A mobília barata e mal cuidada dá um ar de medio
Ao fim da festa, enquanto a música já não passa de um eco distante e o salão lentamente se esvazia, eu me dedico a conduzir os últimos convidados, os mais alcoolizados, até a saída. Cada movimento meu é quase ritualístico, algo que senti falta quando fiquei dentro de casa sem trabalhar. Sinto que sob a luz fraca que dá esse ar intimista, há alguém me observando. Olho ao redor procurando pelo olhar que me fita, entretanto, não consigo encontrar nada além de convidados animados que ainda insistem em continuarem na pista de dança, mesmo que a música já tenha parado há muito tempo.Mas havia algo mais, algo que eu não conseguia identificar. Sob aquela penumbra delicada, a sensação de ser observada não me abandonava, persistente como uma sombra colada aos meus
"Ah, meu Deus, oi... quero dizer, desculpa. O que você viu lá, bem, não era aquilo o que eu..." Minhas palavras saem atropeladas, a vergonha pingando de cada sílaba enquanto estendo a mão para cumprimentá-lo.“Não precisa se desculpar, senhorita,” Asher responde, sua voz carregada com uma educação que me deixa ainda mais nervosa. "O que o rei Caelum faz em particular, com qualquer pessoa, é totalmente do interesse dele e de ninguém mais." A neutralidade em seu tom é quase reconfortante, mas ao mesmo tempo, sinto uma pontada de pavor. Será que ele me vê como mais uma amante do rei? Uma mulher interesseira que busca ascensão social?“Senhor Asher, eu te garanto, que o que aconteceu naquele escritório, foi um acidente, nada mais respondo
Desperto com uma forte dor na cabeça, uma pressão latejante que parece ressoar dentro do meu crânio, e minha visão está turva. Lentamente, piscando com esforço, tento ajustar meus olhos à pouca luz do ambiente, mas o processo é lento e doloroso, como se eu estivesse nadando em neblina. O cheiro de poeira e mofo invade minhas narinas com brutalidade, um odor tão denso que sinto como se estivesse inalando anos de abandono e decadência. Minha garganta se fecha brevemente, e luto contra a ânsia de vomitar.Percebo que meus pulsos estão presos atrás do meu corpo, amarrados firmemente com cordas que se cravam dolorosamente na pele. Estou sentada em uma cadeira desconfortável, com o encosto duro e torturante que pressiona minha coluna em um ângulo que só intensifica a dor. Minhas mãos estão do
“Aquele filho da mãe merecia morrer,” ela afirma, sua voz carregada de ódio e uma satisfação doentia. “Graças a Deus ele está morto e eu estou finalmente livre.”Meus pensamentos se embaralham. Nada disso faz sentido. Como essa mulher que deveria estar em luto pode estar celebrando a morte do próprio marido?“Ele era um homem horrível, não só como seu chefe, mas também como meu marido,” ela continua, sua voz dócil e macia sendo um contraste gritante com o cenário. A suavidade da fala contrasta de maneira visceral com a realidade em que me encontro: amarrada, presa, indefesa. A expressão no rosto dela, porém, carrega uma mistura perturbadora de orgulho e malignidade, como se estivesse finalmente
O som do tapa ecoa no ambiente abafado, uma dor ardente que explode em meu rosto, me atordoando. Minha cabeça gira para o lado, e por alguns segundos, o mundo parece escorregar dos meus sentidos.Quando volto a mim, ouço sua voz, agora carregada de raiva.“Não é para você falar!” Ela cospe as palavras, a doçura em seu tom desaparecendo, substituída por uma dureza assustadora. “Não é nem para eu estar falando com você.” Seus olhos faíscam com intensidade perturbadora, e a ameaça em sua voz é clara como o dia. “A Senhorita deixou muito claro o que devo fazer. Para conseguir minha liberdade, você precisa levar a culpa, garota. Eu não faço as regras!”Seu tom é de frustr
Os dias se arrastam, cada um mais longo e torturante que o anterior. Perdi completamente a noção de tempo; sem um relógio ou qualquer referência, a única maneira de medir as horas é observar as pequenas frestas nas janelas tampadas, por onde a luz do sol entra e sai, traçando um ciclo de claridade e escuridão. Cinco vezes vi o sol nascer e desaparecer novamente, e com isso, concluo que estou presa neste inferno há cinco dias.As refeições são escassas e sem sustância. Quando a comida vem, é apenas um pedaço seco de pão que quase se desfaz em pó ao toque, acompanhado por um único copo de água, mal o suficiente para manter meu corpo funcionando, mas longe de satisfazer minha fome ou sede. A cada mordida, o pão arranha minha garganta, e a água parece evaporar assim q
“O que você vai fazer? Eu mudei de ideia, eu assumo a culpa!” A angústia enche minha voz, e sinto um frio no peito ao perceber que estou a um passo da morte.Ela me encara, o olhar frio como gelo, mas há um brilho de satisfação cruel em seus olhos.“É tarde demais para isso. ” O lamento falso em sua voz apenas aumenta o meu desespero. “A Senhorita está com pressa. Ela quer você morta. Eu tentei te ajudar, mas você demorou demais.”Cada palavra é um golpe certeiro, e o pânico toma conta de mim. Ela se vira, agitada, como se tivesse pressa em terminar o que começou. Seus passos ecoam pelo cômodo, rápidos, e ela coloca a bandeja sobre a cômoda, o som metálico vibrando no sil&ecir
“Para onde você vai?” A voz de Seraphina ressoa pelo salão, firme, cortando o ar pesado da manhã. Seu tom é sério, e seu olhar, aquele dourado profundo e penetrante, está fixo em mim enquanto me levanto da nossa mesa de café da manhã. O silêncio que segue a pergunta é quase ensurdecedor, e por um momento, me sinto desarmado, pego de surpresa. Seraphina raramente questiona meus movimentos, minha agenda ou decisões nos últimos anos, e essa súbita curiosidade me faz hesitar.“Vou administrar o novo empreendimento que adquiri no centro.” Minha resposta sai calma, calculada, com a habitual frieza que desenvolvi ao longo dos anos. "Estava uma zona a parte financeira," explico de forma sutil, mas no fundo, ambos sabemos haver mais. A verdade, aquela que queima como brasas sob a superfície de tud