ISABELLA
Mesmo não tendo que servir as bebidas e ficando só na cozinha, eu estava exausta. Ao menos a presença das minhas amigas deixava tudo mais leve. Eu estava com as bochechas doendo de tanto rir do que falamos enquanto enchíamos as taças e montávamos os canapés.Pelo que entendi o evento era organizado por um casal bilionário, tudo ali girava em torno de sexo, se tratava de uma orgia de ricos. Não me daria o trabalho de imaginar o que estavam fazendo no salão onde as garotas serviam as bebidas. Posso ser virgem, mas não sou leiga quando o assunto é sexo, sou leitora assídua de livros de romance do gênero hot, e também já vi um vídeo ou outro. Uma coisa é ler e ver pela tela, não tenho interesse algum em ver ao vivo. Não sou curiosa a esse ponto.Não via a hora de ir embora e dormir um pouco. Meus pés já estavam em carne viva e eu estava quase fazendo xixi na roupa porque Silvie resolveu ter uma DR com a namorada dentro do banheiro que podíamos usar.— Que cara é essa? — Eden pergunta deixando o celular sobre a mesa.Eden agiu a noite toda como se o episódio de ontem com Ben não tivesse acontecido e prefiro assim. Porque do jeito que ela me conhece, se perguntar alguma coisa eu vou acabar falando merda.— Estou cansada Eden — bocejo — E preciso ir ao banheiro.Pego um pedaço de queijo com geleia de pimenta usados para os canapés e enfio na boca. Pelo menos posso comer comida de rico sem precisar vender meu rim para pagar.— Meninas me ajudem aqui — Penélope coloca dois baldes com champanhes sobre a mesa — Preciso que levem um cada chalé.Franzo o cenho me lembrando dos dois chalés na parte externa do castelo.— Silvie ainda está no banheiro? — pergunta olhando ao redor.Assentimos e ela bufa visivelmente irritada.— Cadê o papai? — Eden pergunta colocando o celular no bolso.Pego o balde de prata levando um choque instantâneo por causa da temperatura.— Vão logo!Saímos da cozinha com Eden resmungando. Meus dedos estavam quase congelados, e a cada passo que eu dava sentia como se estivesse pisando em brasas por causa dessa droga de sapato. Falhei em ser elegante como minha mãe era.O salto enfia na grama, tento tirar e quase caio para frente.— Mas que merda! Argh! — digo bufando.Eden começa e rir, mas para quando a fuzilou com o olhar.— Essa galera é bizarra demais. Imagina a putaria que está rolando naquele salão, ou melhor nem imagine. Vai corromper a sua mente pura e casta — debocha.— Você é tão engraçada! Deveria tentar ser comediante — mostro a língua igual uma criança, as mãos ocupadas impedem de mostrar o dedo meio.Os chalés ficavam alguns metros um do outro, tiramos na sorte quem iria em qual. E como sou a sorte em pessoa fiquei com o menos iluminado.Bateria na porta, deixaria o champanhe que provavelmente custa um ano do meu salário e voltaria para a cozinha, esperando ansiosamente o momento de ir embora. Estou um verdadeiro trapo.Paro de frente a porta. Mesmo estando mal iluminado era extremamente luxuoso, a porta de madeira envelhecida tem adornos dourados, me pergunto se poderia ser ouro. Não é de duvidar, já que essas pessoas parecem podres de ricas. tento ouvir algo vindo de dentro, mas não tenho sucesso.Apoio o balde na cintura, está muito gelado. Respiro fundo e bato na porta.Uma...duas...três vezes. Ninguém abre.Imagino que o lugar esteja vazio, Penélope não disse nada sobre ter alguém ali. Com o balde apoiado ao corpo giro a maçaneta, deixaria a champanhe sobre algum móvel.Entro devagar e olhando o interior do chalé, só não estava preparada para o que estava prestes a presenciar.Diferente do que eu imaginei o lugar não estava vazio. Em um sofá enorme em tons terrosos havia duas mulheres loiras com o corpo esculturais usando apenas calcinha, e em meio a elas um homem, ele está completamente vestido, exceto pelos botões da camisa preta abertos. A sua beleza não me passa despercebida seus cabelos pretos estão alinhados, pele morena, lábios grossos, maxilar trincado coberto por uma camada espessa de barba escura. Ele está alheio a minha presença, está mais preocupado com o seu cinto sendo aberto por uma das mulheres, enquanto sua mão grande máscula se enrola aos fios do cabelo dela, tendo os olhos fechados.Meu rosto queima e sinto minhas pernas fraquejarem.Uma gota de água vinda da transpiração do balde gelado cai em meu pé e me traz de volta à realidade.Dou dois passos e colocando o balde sobre um aparador próximo, mas acabo esbarrando em uma pequena escultura a derrubando.Ouço um grito feminino.— O que essa garota está fazendo aqui? — uma das mulheres pergunta.O homem olha para mim, um olhar frio e penetrante. Seu semblante se torna obscuro, e eu sinto algo que se assemelha ao medo.— Eu...eu sinto muito — minha voz sai trêmula — eu vim trazer a champanhe — aponto para o balde.O homem não diz nada, não se move, parece me medir com os olhos o que me fazer sentir um calafrio.— Então já pode sair lindinha — e a vez da outra loira falar — A não ser que queira participar. Ainda não começamos.Dou alguns passos para trás, batendo com as costas no batente da porta, causando uma dor horrível. Minha única reação é sair, fechando a porta atrás de mim, buscando fôlego e obrigando o meu cérebro a deletar a cena que tinha acabado de presenciar, mas em particular os olhos escuros daquele homem.Meu Deus!Eu nunca imaginei ver uma cena como essa assim na minha frente, ao vivo.Minhas bochechas estão pegando fogo.Percebo que estou a uma distância segura e paro apoiando as mãos no joelho e respirando fundo.TIMOTHYO cheiro de perfume se mistura ao da bebida e a dos charutos. Mulheres seminuas desfilam com bandejas cheias de taças de champanhe. Um verdadeiro banquete. Não é a primeira vez que frequento uma festa dos Bolths, eles conseguem fazer as melhores.Não gosto de participar desse tipo de festinha. Não precisa disso para foder quantas bocetas eu aguentar. Mas Carl insistiu muito para que eu o acompanhasse, e sabendo que se tratava de uma festa organizada pelos Bolths não poderia ser ruim.Tive um dia de merda, extravasar seria bom.Olho para as duas loiras gostosas conversando próximas a enorme escada. Elas percebem o meu olhar e sorriem, como se soubessem das obscenidades que fariam com elas assim que terminasse a minha bebida.Devido a minha posição e ao dinheiro que tinha, as mulheres praticamente se jogavam na minha cama. E eu não podia reclamar.Passo a mão pelo bolso, sentindo a ausência do celular, são estritamente proibido o uso de qualquer aparelho nesse tipo de festa.Pre
ISABELLA Cada centímetro do meu corpo doía. Mesmo exausta não consegui dormir direito, os calos no meu pé não pararam de doer e agora estão em carne viva.Ao menos o dinheiro que recebi pelo trabalho vai dar para conseguir comprar comida e guardar um pouco. Olho para a cama de Tomas que dorme um sono pesado. Ainda são sete da manhã, e não tenho força alguma para me levantar da cama. Pego meu celular e tento ligar para o meu pai, mas vai direto para a caixa postal.— Onde você se meteu papai? Mesmo sem força, me obrigo a levantar. Preciso comprar ovos, pão e leite, pois não tem nada para o café da manhã. Lavo o rosto, escovo os dentes e passo antisséptico nos calos. Procuro por um curativo, mas não encontro nenhum.A cada passo que dou sinto vontade chorar. Visto um conjunto de moletom surrado, pego minha bolsa, e tento andar o mais rápido que posso para sair e voltar antes que Tomas acorde. Assim que passo pela porta e atravesso o jardim tenho uma infeliz surpresa. Ben escorand
TIMOTHYSinto um misto de raiva e satisfação ao sentir que estamos próximos ao endereço do maldito rato.Samuel Weels pensou que poderia me roubar e não sofrer nenhuma consequência?Eu faria o desgraçado devolver tudo que me pertencia. E de agora em diante ele pensaria duas vezes antes de fazer algo assim. Isso se eu o deixasse vivo.O homem era um fracassado. Viciado em jogo e bebida. Meus homens estavam a dois atrás do filho da puta, que parecia ter se enfiado em buraco.Ontem de madrugada conseguiram encontrá-lo, mas o maldito rato conseguiu escapar. Mas foi burro o suficiente para voltar para sua casa. Lugar para onde estávamos indo.Não envolveria a polícia nisso. Como o filho da puta era ex-policial, não que eles aliviariam para ele, já que tinha sido expulso da corporação, mas com a polícia envolvida eu não poderia dar o corretivo que ele merecia.— Ele não é da equipe de segurança? Quem contratou esse cara mesmo? — Carl pergunta bocejando em seguida.Respiro fundo, tendo a cer
TIMOTHYA mulher da noite anterior, estava ali. Ao lado do maldito rato. Poderia ser alguém parecida, mas acredito que não exista outra como ela. A boca entreaberta, os olhos arregalados, a expressão assustada. O que difere é a ausência da roupa de copeira, pois agora está usando alguma espécie de conjunto em moletom que já viu dias melhores.Era algum tipo de piada? Alucinação?— Se...senhor Ritkson? Eu... — a voz trêmula de Samuel me trás de volta à realidade, me lembrando o real motivo de eu estar ali.Meu olhar carregado de ódio se volta para ele, que dá alguns passos ficando no meio do cômodo. O cheiro de bebida barata que emana dele, faz meu estômago embrulhar. Mas não me impede de partir para cima do maldito agarrando-o pelo colarinho.— Achou que podia me roubar e ficar por isso mesmo? — digo entredentes.Posso sentir o seu corpo tremer, não é capaz de erguer sua cabeça, não consegue me encarar. Ele está um caco, cabelos desgrenhados, com a roupa visivelmente suja.— Eu não qu
Isabella Tomas está parado na porta que liga a sala ao corredor, a forma como ele olha para toda cena corta o meu coração. — Tomas querido está tudo bem! Volta para o quarto! — peço, tentando me soltar.— Esses homens são maus? — pergunta com os olhinhos assustados, apertando o dinossauro de pelúcia com força.— Que droga! De onde esse moleque saiu? — ele pergunta em um rosnado, olhando para Tomas .— Ei carinha! E aí? — o ruivo que até o momento é o único simpático tenta uma aproximação.— Soltem a minha irmã! — ele aponta para os dois brutamontes.— Está tudo bem querido — minto.— Eu falei para você não sair pirralho... — Emilie surge com metade do cabelo loiro enrolado — O que está acontecendo aqui? — olha ao redor.— Emilie tira o Tomas daqui — peço.— Que merda! O que esse bêbado fez dessa vez? — olha com nojo na direção do meu pai, que sequer consegue deixar de encará-la já que o braço do maldito em seu pescoço o impede. Seu olhar reflete um misto de medo e vergonha.— TIRA O
IsabellaA qualquer sinal de desatenção desses brutamontes eu daria um jeito de sair desse maldito carro, onde eu estava enfiada.Parei de me debater, eu precisava poupar minhas forças minha garganta estava doendo pelos gritos.Estou aterrorizada. Fui jogada dentro desse maldito carro, e não consigo sequer assimilar os meus pensamentos. Pelo menos aquele homem não estava aqui. Imagino que deva esteja em outro carro junto ao homem dos cabelos ruivos e olhos gentis.Não quero estar em sua presença, tudo nele me causa arrepios.Eu não estava pensando direito quando disse que trabalharia para ele. Também não esperava que ele faria algo assim, me arrastando contra minha vontade.Tomas não pode ficar sozinho com as gêmeas ou meu pai, Emilie e Emma não conseguem ficar quinze minutos sem gritar com ele, e meu pai mal consegue falar com ele.Não podia ficar longe do meu irmãozinho. Os seus olhinhos assustados acabaram comigo. Ele não tinha que passar isso. Ele não tem que pagar pelos erros do
Timothy De alguma forma o percurso até minha casa estava demorando mais que o normal.O moralismo velado de Carl me irritou o suficiente, não aguento mais nenhum minuto dentro desse carro com ele. Ele pode ser extremamente insuportável quando quer, e parece que ele estava muito afim de me tirar do sério.Respiro aliviado ao ver os portões serem abertos.Sequestro? Não tinha nada haver com sequestro. A garota iria trabalhar para pagar a dívida do pai.Não sou politicamente correto, estou longe de ser.Busco conter a euforia instalada dentro de mim. Não tem motivo para que me sinta dessa forma. Não estou fazendo uma loucura, tenha total consciência dos meus atos, e não vou me arrepender deles. O roubo daquele homem, não iria ficar impune, ainda mais com o infeliz, tendo sumido com as joias. O viciado deve ter perdido ao apostar em algum dos seus jogos.Ter sua filha trabalhando em minha casa não era nada perto do que ele merecia.Vejo o carro com os seguranças e a estacionar ao lado do
Isabella Definitivamente esse homem não tem coração. E nada do que eu disser vai fazê-lo mudar de ideia. Segue caminhando com altivez em direção a porta da mansão. Diminui meus passos para manter uma distância segura para não voar no pescoço dele.Denzel e o filho da puta que machucou o meu pai me seguem praticamente colados a mim.Fugir? Não, eu não vou fazer isso agora. E nem se eu quisesse conseguiria. Preciso estudar esse lugar, ver a melhor maneira de sair e pedir ajuda. De nada adiantaria fugir e voltar para casa, ele iria me encontrar, e com toda certeza deixaria tudo ainda pior. Precisava de contatar Ben, Silvie e Eden, eles me ajudariam a sair daqui.Não menti quando prometi que se me deixasse ir embora eu viria trabalhar todos os dias, eu daria um jeito. Mas é claro que o poderoso Timothy Ritkson não facilitaria para mim.Respiro fundo olhando para o céu azul claro. Rezar e pedir uma solução para Deus agora adiantaria? Mas é bem provável que Ele esteja ocupado.Se meu pai