Capítulo 8

Isabella

A qualquer sinal de desatenção desses brutamontes eu daria um jeito de sair desse maldito carro, onde eu estava enfiada.

Parei de me debater, eu precisava poupar minhas forças minha garganta estava doendo pelos gritos.

Estou aterrorizada. Fui jogada dentro desse maldito carro, e não consigo sequer assimilar os meus pensamentos. Pelo menos aquele homem não estava aqui. Imagino que deva esteja em outro carro junto ao homem dos cabelos ruivos e olhos gentis.

Não quero estar em sua presença, tudo nele me causa arrepios.

Eu não estava pensando direito quando disse que trabalharia para ele. Também não esperava que ele faria algo assim, me arrastando contra minha vontade.

Tomas  não pode ficar sozinho com as gêmeas ou meu pai, Emilie e Emma não conseguem ficar quinze minutos sem gritar com ele, e meu pai mal consegue falar com ele.

Não podia ficar longe do meu irmãozinho. Os seus olhinhos assustados acabaram comigo. Ele não tinha que passar isso. Ele não tem que pagar pelos erros do meu pai.

Nem eu tenho, e me sinto uma filha horrível por pensar isso, porque sei que meu pai passou por muitas coisas. As lagrimas descem pelo meu rosto e as limpo rapidamente com as costas das mãos. Ele tentou impedir que me trouxessem, e o machucaram.

Não posso permitir que esses homens me levem para sei lá onde. Aquele homem não pode estar levando a sério isso, ele não pode estar achando que vou trabalhar em sua casa pagando pelo que meu pai fez.

Não sabia praticamente nada sobre Timothy  Ritkson, somente que ele era bilionário e dono de uma marca de perfumes caríssimos. Nunca tinha visto o seu rosto até a noite anterior.  O seu olhar tem um reflexo de maldade, e ele estar cercado de seguranças me diz que ele não se trata só de alguém rico e poderoso, ele é perigoso. Ele teria matado o meu pai.

Por que alguém tão rico mataria por algumas joias?

Por que meu pai foi fazer algo assim?

Era na casa dele que meu pai estava trabalhando como segurança?

Eu tenho tantas perguntas. Levo as mãos a cabeça em uma tentativa inútil de acalmar meus pensamentos. Meu coração está batendo tão rápido que sinto a sua vibração em meus ouvidos.

Não posso entrar em pânico agora.

Tento virar o rosto minimamente para que os homens ao meu lado não percebam o meu objetivo. Eu preciso voltar para casa, eu preciso voltar para Tomas , eu preciso falar com meu pai e encontrar uma maneira de devolver o que ele roubou. Talvez buscar ajuda na polícia. Mesmo sabendo que meu pai era o errado na situação.

Ben com certeza poderia me ajudar. Ele não iria permitir que prendessem meu pai e muito menos que eu ficasse na casa de um maluco qualquer.

Silvie e Eden também fariam o impossível para me ajudar.

Eu só precisava correr e encontrar um telefone.

Pelo canto do olho observo os brutamontes, o silêncio desses homens me deixa ainda mais agoniada. Eles são algum tipo de robô?

Percebo que a velocidade do carro está diminuindo. Preciso pensar rápido, preciso agir rápido. Respiro fundo, calculando os meus movimentos enquanto olho para a trava da porta.

— Nem pense em fazer isso — o projeto de agente da MIB do meu lado direito diz segurando meu antebraço.

— Olha só você fala — verbalizo meu pensamento.

Ele dá um sorriso de canto, é a primeira demonstração de emoção vinda de algum deles. Digo no plural porque eles são tão iguais, não algo como gêmeos, mas as roupas  os gestos, e o corte de cabelo é claro. Posso dizer que são quase três clones mal feitos do ator Jason Statham quando ele fez a trilogia Carga explosiva.

Qual deles que atingiu meu pai na cabeça?

— Sim eu falo, sou Denzel a propósito, não é nada pessoal garota. Só estamos fazendo o nosso trabalho — diz de uma forma amigável.

Reviro os olhos. Eles estavam me levando contra a minha vontade, nenhum sorrisinho faria eu me sentir melhor.

— E o trabalho de vocês levar pessoas contra sua vontade para sei lá onde?

— Ele é o Calton — diz ignorando a minha pergunta e apontando para o cara do meu lado esquerdo que balança a cabeça em um cumprimento — E ele é o Jimmy — aponta para o motorista que levanta a mão em uma espécie de tchauzinho.

— Acho que passou da hora de ser simpático, já que me arrastaram...

— Eles não são de falar — Ele está me ignorando?

Bato com os pés no assoalho do carro, buscando chamar a atenção.

— Ah tem o Frédéric, aquele que atingiu seu pai — b**e na cabeça — Ele está levando o chefe.

Então era esse o nome do desgraçado que tinha ferido o meu pai?

— Para de fingir que é legal e tentar me acalmar. Isso é praticamente um sequestro — afirmo.

— Isso está longe de um sequestro garota. Só estamos seguindo as ordens do Senhor Ritkson — seu tom de voz é firme agora.

Abaixo a cabeça olhando para os meus joelhos, cobertos pelo moletom manchado. Uma ideia surge na minha mente. Eles seguranças, pelo menos era o que pareciam. Meu pai também era segurança. E se eles tivessem sido colegas de trabalho?

— Vocês conhecem o meu pai? — pergunto.

Olho para os dois que tem a mesma reação, negar com a cabeça.

— Você sabe o que está acontecendo? — pergunto, voltando para Denzel, aparentemente era o único que estava se esforçando para ser sociável.

— Seu pai roubou o senhor Ritkson. É isso que está acontecendo — afirma, Denzel afirma olhando para a frente.

Quero gritar um palavrão.

— Como isso aconteceu? — pergunto, mas sou ignorada.

— Meu pai trabalhava como segurança...

— Todos os seguranças que trabalhavam com o seu pai foram demitidos — o homem da minha esquerda fala pela primeira vez.

— Eu sinto... muito — abaixo a cabeça envergonhada.

Meu pai não tinha só nos prejudicados. Eu sabia que em algum momento seus vícios iriam trazer consequências catastróficas, mas tentava enganar a mim a mesma, acreditando no amor que o amor que ele sentia por nós seria maior que seus vícios. Dói saber que estava enganada.

— Nenhum de nós trabalhou com seu pai, ele foi uma contratação fora da nossa empresa — Denzel completa com a voz calma — Também tínhamos turnos diferentes.

— Olha garota, o seu pai fez merda. Você não tem culpa, sabemos disso. Mas seguimos ordens, e se eu fosse você não testava a paciência do Ritkson. Ele fez muito não matando o seu pai — o homem que dirige diz sem tirar os olhos do trânsito, sua voz é firme e intimidadora.

— Só não faça nenhuma besteira. Ninguém mais quer perder o emprego — O outro diz a minha esquerda.

Engulo em seco, abaixando a cabeça novamente. Vergonha, medo e tristeza, sou um emaranhado desses sentimentos, que criam um nó gigante em minha garganta, me sufocando.

Meus olhos ardem pelo meu esforço em segurar as lágrimas. Não podem pensar que sou uma garotinha assustada, não posso ser fraca. Preciso de toda minha força para voltar para Tomas .

Respiro fundo, passo as mãos pela calça, sentindo o tecido entre os dedos. Tento ver algo através do vidro escuro do carro, mas estar sentada no meio não ajuda muito. Mas ainda assim consigo ver que estou em uma área desconhecida, nada que eu consiga identificar, para ter ao menos uma ideia de onde estou. Noto o interior do carro escurecer e percebo passando por uma espécie de corredor de árvores gigantes, como se eu estivesse adentrando uma floresta.

Meu coração volta a acelerar. Onde estava? Como voltarei para casa?

A lembrança de como Timothy  Ritkson me olhou vem junto de um calafrio. Os seus olhos gélidos e negros me faz sentir algo que não consigo descrever, algo que se assemelha ao pavor.

Como eu pude ser tão burra? Como pude sugerir que trabalharia para pagar pelo que meu pai havia roubado?

— Chegamos! — Ouço Denzel dizer.

Vejo um portão enorme ser aberto, ao mesmo tempo que passamos por ele, então tenho o vislumbre de uma casa enorme, se é que posso chamar isso de casa, está mais para um castelo, tão alta, arquitetura parece uma mescla de clássico e moderno, é linda e ao mesmo tempo assustadora. Sinto um frio na espinha conforme fica mais próxima.

O jardim enorme é bem cuidado chama a minha atenção, tantas flores, minha mãe teria achado lindo.

Denzel disse que tínhamos chegado. É claro que essa era a casa de Timothy  Ritkson, algo luxuoso, bonito e sombrio. Sombrio, como ele.

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