Isabella
A qualquer sinal de desatenção desses brutamontes eu daria um jeito de sair desse maldito carro, onde eu estava enfiada.
Parei de me debater, eu precisava poupar minhas forças minha garganta estava doendo pelos gritos.
Estou aterrorizada. Fui jogada dentro desse maldito carro, e não consigo sequer assimilar os meus pensamentos. Pelo menos aquele homem não estava aqui. Imagino que deva esteja em outro carro junto ao homem dos cabelos ruivos e olhos gentis.
Não quero estar em sua presença, tudo nele me causa arrepios.
Eu não estava pensando direito quando disse que trabalharia para ele. Também não esperava que ele faria algo assim, me arrastando contra minha vontade.
Tomas não pode ficar sozinho com as gêmeas ou meu pai, Emilie e Emma não conseguem ficar quinze minutos sem gritar com ele, e meu pai mal consegue falar com ele.
Não podia ficar longe do meu irmãozinho. Os seus olhinhos assustados acabaram comigo. Ele não tinha que passar isso. Ele não tem que pagar pelos erros do meu pai.
Nem eu tenho, e me sinto uma filha horrível por pensar isso, porque sei que meu pai passou por muitas coisas. As lagrimas descem pelo meu rosto e as limpo rapidamente com as costas das mãos. Ele tentou impedir que me trouxessem, e o machucaram.
Não posso permitir que esses homens me levem para sei lá onde. Aquele homem não pode estar levando a sério isso, ele não pode estar achando que vou trabalhar em sua casa pagando pelo que meu pai fez.
Não sabia praticamente nada sobre Timothy Ritkson, somente que ele era bilionário e dono de uma marca de perfumes caríssimos. Nunca tinha visto o seu rosto até a noite anterior. O seu olhar tem um reflexo de maldade, e ele estar cercado de seguranças me diz que ele não se trata só de alguém rico e poderoso, ele é perigoso. Ele teria matado o meu pai.
Por que alguém tão rico mataria por algumas joias?
Por que meu pai foi fazer algo assim?
Era na casa dele que meu pai estava trabalhando como segurança?
Eu tenho tantas perguntas. Levo as mãos a cabeça em uma tentativa inútil de acalmar meus pensamentos. Meu coração está batendo tão rápido que sinto a sua vibração em meus ouvidos.
Não posso entrar em pânico agora.
Tento virar o rosto minimamente para que os homens ao meu lado não percebam o meu objetivo. Eu preciso voltar para casa, eu preciso voltar para Tomas , eu preciso falar com meu pai e encontrar uma maneira de devolver o que ele roubou. Talvez buscar ajuda na polícia. Mesmo sabendo que meu pai era o errado na situação.
Ben com certeza poderia me ajudar. Ele não iria permitir que prendessem meu pai e muito menos que eu ficasse na casa de um maluco qualquer.
Silvie e Eden também fariam o impossível para me ajudar.
Eu só precisava correr e encontrar um telefone.
Pelo canto do olho observo os brutamontes, o silêncio desses homens me deixa ainda mais agoniada. Eles são algum tipo de robô?
Percebo que a velocidade do carro está diminuindo. Preciso pensar rápido, preciso agir rápido. Respiro fundo, calculando os meus movimentos enquanto olho para a trava da porta.
— Nem pense em fazer isso — o projeto de agente da MIB do meu lado direito diz segurando meu antebraço.
— Olha só você fala — verbalizo meu pensamento.
Ele dá um sorriso de canto, é a primeira demonstração de emoção vinda de algum deles. Digo no plural porque eles são tão iguais, não algo como gêmeos, mas as roupas os gestos, e o corte de cabelo é claro. Posso dizer que são quase três clones mal feitos do ator Jason Statham quando ele fez a trilogia Carga explosiva.
Qual deles que atingiu meu pai na cabeça?
— Sim eu falo, sou Denzel a propósito, não é nada pessoal garota. Só estamos fazendo o nosso trabalho — diz de uma forma amigável.
Reviro os olhos. Eles estavam me levando contra a minha vontade, nenhum sorrisinho faria eu me sentir melhor.
— E o trabalho de vocês levar pessoas contra sua vontade para sei lá onde?
— Ele é o Calton — diz ignorando a minha pergunta e apontando para o cara do meu lado esquerdo que balança a cabeça em um cumprimento — E ele é o Jimmy — aponta para o motorista que levanta a mão em uma espécie de tchauzinho.
— Acho que passou da hora de ser simpático, já que me arrastaram...
— Eles não são de falar — Ele está me ignorando?
Bato com os pés no assoalho do carro, buscando chamar a atenção.
— Ah tem o Frédéric, aquele que atingiu seu pai — b**e na cabeça — Ele está levando o chefe.
Então era esse o nome do desgraçado que tinha ferido o meu pai?
— Para de fingir que é legal e tentar me acalmar. Isso é praticamente um sequestro — afirmo.
— Isso está longe de um sequestro garota. Só estamos seguindo as ordens do Senhor Ritkson — seu tom de voz é firme agora.
Abaixo a cabeça olhando para os meus joelhos, cobertos pelo moletom manchado. Uma ideia surge na minha mente. Eles seguranças, pelo menos era o que pareciam. Meu pai também era segurança. E se eles tivessem sido colegas de trabalho?
— Vocês conhecem o meu pai? — pergunto.
Olho para os dois que tem a mesma reação, negar com a cabeça.
— Você sabe o que está acontecendo? — pergunto, voltando para Denzel, aparentemente era o único que estava se esforçando para ser sociável.
— Seu pai roubou o senhor Ritkson. É isso que está acontecendo — afirma, Denzel afirma olhando para a frente.
Quero gritar um palavrão.
— Como isso aconteceu? — pergunto, mas sou ignorada.
— Meu pai trabalhava como segurança...
— Todos os seguranças que trabalhavam com o seu pai foram demitidos — o homem da minha esquerda fala pela primeira vez.
— Eu sinto... muito — abaixo a cabeça envergonhada.
Meu pai não tinha só nos prejudicados. Eu sabia que em algum momento seus vícios iriam trazer consequências catastróficas, mas tentava enganar a mim a mesma, acreditando no amor que o amor que ele sentia por nós seria maior que seus vícios. Dói saber que estava enganada.
— Nenhum de nós trabalhou com seu pai, ele foi uma contratação fora da nossa empresa — Denzel completa com a voz calma — Também tínhamos turnos diferentes.
— Olha garota, o seu pai fez merda. Você não tem culpa, sabemos disso. Mas seguimos ordens, e se eu fosse você não testava a paciência do Ritkson. Ele fez muito não matando o seu pai — o homem que dirige diz sem tirar os olhos do trânsito, sua voz é firme e intimidadora.
— Só não faça nenhuma besteira. Ninguém mais quer perder o emprego — O outro diz a minha esquerda.
Engulo em seco, abaixando a cabeça novamente. Vergonha, medo e tristeza, sou um emaranhado desses sentimentos, que criam um nó gigante em minha garganta, me sufocando.
Meus olhos ardem pelo meu esforço em segurar as lágrimas. Não podem pensar que sou uma garotinha assustada, não posso ser fraca. Preciso de toda minha força para voltar para Tomas .
Respiro fundo, passo as mãos pela calça, sentindo o tecido entre os dedos. Tento ver algo através do vidro escuro do carro, mas estar sentada no meio não ajuda muito. Mas ainda assim consigo ver que estou em uma área desconhecida, nada que eu consiga identificar, para ter ao menos uma ideia de onde estou. Noto o interior do carro escurecer e percebo passando por uma espécie de corredor de árvores gigantes, como se eu estivesse adentrando uma floresta.
Meu coração volta a acelerar. Onde estava? Como voltarei para casa?
A lembrança de como Timothy Ritkson me olhou vem junto de um calafrio. Os seus olhos gélidos e negros me faz sentir algo que não consigo descrever, algo que se assemelha ao pavor.
Como eu pude ser tão burra? Como pude sugerir que trabalharia para pagar pelo que meu pai havia roubado?
— Chegamos! — Ouço Denzel dizer.
Vejo um portão enorme ser aberto, ao mesmo tempo que passamos por ele, então tenho o vislumbre de uma casa enorme, se é que posso chamar isso de casa, está mais para um castelo, tão alta, arquitetura parece uma mescla de clássico e moderno, é linda e ao mesmo tempo assustadora. Sinto um frio na espinha conforme fica mais próxima.
O jardim enorme é bem cuidado chama a minha atenção, tantas flores, minha mãe teria achado lindo.
Denzel disse que tínhamos chegado. É claro que essa era a casa de Timothy Ritkson, algo luxuoso, bonito e sombrio. Sombrio, como ele.
Timothy De alguma forma o percurso até minha casa estava demorando mais que o normal.O moralismo velado de Carl me irritou o suficiente, não aguento mais nenhum minuto dentro desse carro com ele. Ele pode ser extremamente insuportável quando quer, e parece que ele estava muito afim de me tirar do sério.Respiro aliviado ao ver os portões serem abertos.Sequestro? Não tinha nada haver com sequestro. A garota iria trabalhar para pagar a dívida do pai.Não sou politicamente correto, estou longe de ser.Busco conter a euforia instalada dentro de mim. Não tem motivo para que me sinta dessa forma. Não estou fazendo uma loucura, tenha total consciência dos meus atos, e não vou me arrepender deles. O roubo daquele homem, não iria ficar impune, ainda mais com o infeliz, tendo sumido com as joias. O viciado deve ter perdido ao apostar em algum dos seus jogos.Ter sua filha trabalhando em minha casa não era nada perto do que ele merecia.Vejo o carro com os seguranças e a estacionar ao lado do
Isabella Definitivamente esse homem não tem coração. E nada do que eu disser vai fazê-lo mudar de ideia. Segue caminhando com altivez em direção a porta da mansão. Diminui meus passos para manter uma distância segura para não voar no pescoço dele.Denzel e o filho da puta que machucou o meu pai me seguem praticamente colados a mim.Fugir? Não, eu não vou fazer isso agora. E nem se eu quisesse conseguiria. Preciso estudar esse lugar, ver a melhor maneira de sair e pedir ajuda. De nada adiantaria fugir e voltar para casa, ele iria me encontrar, e com toda certeza deixaria tudo ainda pior. Precisava de contatar Ben, Silvie e Eden, eles me ajudariam a sair daqui.Não menti quando prometi que se me deixasse ir embora eu viria trabalhar todos os dias, eu daria um jeito. Mas é claro que o poderoso Timothy Ritkson não facilitaria para mim.Respiro fundo olhando para o céu azul claro. Rezar e pedir uma solução para Deus agora adiantaria? Mas é bem provável que Ele esteja ocupado.Se meu pai
Isabella O nó na minha garganta me sufoca. Sinto uma lágrima escorregar pelo meu rosto. Abaixo a cabeça rapidamente para que ele não me veja chorar.Ele disse que machucaria a minha família. Que tipo de monstro ele é?Não tinha dúvidas sobre ele ser uma pessoa perigosa. Mas agora sei que ele não é só perigoso, ele é cruel.Olho sua mão circulando o meu pulso, e sentindo minha pele sendo queimada ao seu toque. Tamanho o pavor que sinto nesse momento.— Você ouviu o que eu disse? — pergunta.Não consigo formular uma frase.— Não me faça perguntar de novo — rosna.— S...sim, eu ouvi — balbucio, sem encara-lo.Ele solta o meu braço e se afasta sem dizer mais nada.Sou tomada por uma sensação de alívio. Seguro o meu pulso, vejo que não ficou nenhuma marca.— Eu sinto muito por isso querida — Ouço a mulher dizer, e olho em sua direção, tendo o vislumbre de Timothy de costas chegando ao topo da escada.Me esforço para não desabar em lágrimas. Ensaio um sorriso falso antes de dizer para ela
Timothy Eu não quero descansar. Se quer estou cansado.Não digeri toda essa merda. Trazer aquela garota não me acalmou nenhum um pouco. E como se a presença dela me deixasse ainda mais irritado.Isabella! O que essa ratinha tem de especial? Nada, não passa de uma golpista assim como o pai.Olho para a tela do celular esperando uma resposta de Doug sobre tudo que ele conseguir encontrar sobre Samuel Weels e em especial o que encontrar sobre a ratinha.Não tinha acreditado na história dos filhos. Tudo que recebi a respeito desse homem estava incompleto, precisava saber mais. Até para conseguir recuperar as joias mais rápido.Aperto o punho olha do jardim pela janela.Meus domingos não costumam ser tão agitados, odeio domingos. Odeio finais de semana. Odeio estar em casa.Me sinto tentado em descer para ver o que a ratinha está fazendo.Será que ela sabe fazer algum serviço doméstico? Claro, alguém desprovida de educação e condições financeiras deve no mínimo saber fazer algo assim.Po
Isabella Limpo as lágrimas com as costas das mãos. Não consigo conter o choro ao contar tudo que aconteceu para Catarina. A lembrança de meu pai caído desacordado, os olhinhos de Tomas. Me sinto lixo por ter permitido que me arrastassem para longe deles.Sinto que estou vivendo tudo de novo, em casa palavra que disse a Catarina.O nó em minha garganta me sufoca e tenho que fazer um esforço para respirar.Catarina é gentil, me disse que ela tinha dado a oportunidade do meu pai trabalhar ali, que ele disse que precisava do trabalho para cuidar dos filhos. Mas ele não cuidou. Se ele tivesse cuidado eu não estaria aqui.Me dói ver que tudo chegou a esse ponto. Dói tanto.— Querida, não chore. Eu sei que tudo isso é demais para digerir. Timothy estava muito nervoso, acredito que nem pensou direito quando te trouxe — diz fazendo o carinho na minha mão.Respiro fundo. Pensar que Tomas está longe me desespera. Será que ele tomou café da manhã? Será que ele almoçou? E se ele estiver com fom
Isabella Saio do quarto olhando ao redor, conferindo o caminho para não correr o risco de me perder, já que esse lugar é imenso. Fico aliviada ao entrar na cozinha que está vazia.Fico quieta, não vou me mover para não correr risco de quebrar algo e piorar ainda mais a minha situação. Sinto um cheiro de comida e meu estômago ronca. Não tenho vontade de comer nada, mas meu corpo não pensa da mesma maneira.Volto a pensar em Tomas e se ele comeu. As meninas brigam com ele por um pacote de biscoitos. Me dói pensar neles.— AAAAAH! — dou um pulo ao ouvir o grito e me viro dando de cara com a autora dele.Uma mulher um pouco mais jovem que Catarina, de pele clara, rosto marcante, usando um uniforme idêntico ao meu, me olha assustada com a mão no peito.— Oi? — digo levantando a mão.— Meu Deus garota! Quase me matou de susto. Te vi parada aí e pensei que fosse uma alma penada — ela fala muito rápido e a sua faz anasalada torna a situação engraçada.— Desculpa?— Você é garota que o senho
Timothy O olhar daquela mulher me incomoda de uma maneira que não sei explicar, e isso me deixa ainda mais irritado.Mesmo sabendo mais sobre ela, não sou imbecil a ponto de acreditar que ela não é como o pai. Ainda mais quando tenta me ludibriar com aquele olhar inocente.Não vou permitir ser enganado mais uma vez. Ela está aqui para pagar pelo que o maldito do pai roubou, e só vai sair daqui quando eu permitir.Perdi a fome.Bebo o vinho que Catarina me serviu em um único gole.Me levanto da mesa, e meu celular toca.O nome de Connor um dos meus homens de confiança na tela me faz imaginar do que pode se tratar. Mandei ele ficar de olho no maldito rato, para ver os seus passos e ter a certeza de que ele não vai fazer nenhuma merda.Também já tinha pessoas investigando para saber onde o filho da puta tinha perdido as minhas joias. Acredito que logo conseguirei recuperá-las.— Pronto — digo ao atender.— Senhor Ritkson, creio que não tenho boas notícias.— O que houve? — falo saindo
Timothy Ela parece ter visto um fantasma. Contenho o sorriso que quer brotar em meus lábios ao ver seu espanto e saber que sou o causador dele. Gosto de saber que ela me teme, isso vai ser importante para mantê-la aqui.Eu a quero aqui, assim como aquele ladrão me tirou as lembranças mais importantes da minha mãe, eu tirei a pessoa mais importante daquela família miserável.Dou alguns passos e ela se apressa em se abaixar e pegar o livro, abraçando-o junto ao corpo. E olhando para baixo.O uniforme ficou estranhamente bem nela, me fazendo recordar de como ela estava na noite anterior, quando pensei que nunca mais a veria outra vez.— Não respondeu a minha pergunta — me aproximo esperando que ela erga a cabeça e me olhe.E ela o faz. Seu lábio inferior treme, deixando nítido o seu nervosismo.Fiz certo em ameaçar sua família, isso a mantém, digamos que menos irritante.— Estava só dando uma olhada nesse livro — se aproxima da estante e tenta colocar o livro no lugar — É o meu livro fa